Domingo III do Tempo do Advento – Ano A – 14.12.2025
Domingo Gaudete – Domingo da Alegria

Viver a Palavra
O itinerário proposto pela Liturgia da Palavra em Tempo de Advento faz ecoar uma mensagem de esperança e alegria pela certeza de um Deus próximo e presente na vida da humanidade pela incarnação de Jesus Cristo, o Filho muito amado do Pai, que assume a nossa natureza humana e revela a proximidade do Reino de Deus. Ao longo deste tempo litúrgico, desfilam diante de nós um conjunto de figuras como Isaías, João Baptista, a Virgem Maria, entre outras, que nos testemunham esta certeza alegre e jubilosa que o Senhor não abandona o Seu povo e que envia o Messias esperado para operar a salvação.
O terceiro Domingo de Advento, Domingo Gaudete (Domingo da Alegria), reforça esta nota da alegria e, por isso, a antífona de entrada da missa faz-nos cantar com as palavras de Paulo: “Gaudete in Domino semper” (Alegrai-vos sempre no Senhor, cf. Flp 4,4.5).
A alegria que ressoa neste Domingo nas nossas assembleias não é um mero sentimento superficial de contentamento ou uma alienação da realidade, convidando a um otimismo desencarnado ou a uma ingenuidade balofa de que tudo está bem. É a certeza que não obstante as dificuldades e os desafios da nossa vida pessoal e do contexto político e social em que vivemos, o nosso Deus está próximo, caminha connosco e nos convida a levantar a cabeça para que não percamos a esperança diante dos dramas da história.
Para nós cristãos, discípulos missionários de Jesus Cristo, esta alegria não é um conceito abstrato, mas tem um rosto, o rosto misericordioso de Jesus Cristo. Por isso, o Papa Francisco afirma no início da sua exortação apostólica Evangelii Gaudium: «a Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria» (EG 1).
Jesus é fonte perene de esperança e alegria para aqueles que depositam nele a sua confiança e o anúncio que Ele virá para salvar o Seu povo é a mais efusiva manifestação de júbilo e louvor como nos testemunha Isaías na primeira leitura: «Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria. (…) ‘Tende coragem, não temais: Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-vos’».
Os profetas anunciaram e a profecia realiza-se. João Baptista, estando preso ouve falar das obras de Cristo e envia mensageiros para lhe perguntarem: «És Tu Aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?». E como é belo o modo como Jesus responde. Não se perde em explicações abstratas, mas apresenta um elenco de factos: «os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres». Jesus é Aquele que podemos ver e ouvir, isto é, Aquele que se experimenta pelo encontro único e irrepetível que produz uma verdadeira transformação na vida daqueles que se encontram com Ele. A força transformadora do Seu amor é verdadeiro escândalo porque entre nós está o próprio Deus revelado na nossa natureza humana e adverte-nos: «bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo». Seremos bem-aventurados, isto é, felizes, se encontrarmos em Jesus a fonte da nossa alegria e se no meio das nossas dificuldades e desafios soubermos viver a paciente esperança que anuncia S. Paulo: «sede pacientes, vós também, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima». in Voz Portucalense.
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O terceiro Domingo de Advento é designado como Domingo Gaudete (Domingo da Alegria). Esta designação é retirada da primeira palavra da antífona de entrada da missa: “Gaudete in Domino semper” (Alegrai-vos sempre no Senhor). A celebração eucarística deste Domingo é a oportunidade de uma reflexão sobre a alegria cristã e que está tão ligada ao magistério do Papa Francisco (Evangelii Gaudium, Amoris Laetitia, Gaudete et Exsultate, Christus Vivit), onde podemos encontrar belíssimos textos e contributos sobre a alegria do Evangelho, a alegria do amor que se vive na família ou a alegria de percorrer a estrada da santidade. Inspirados nestes textos, poderá ser também oportuno nestes dias que antecedem o Natal dinamizar uma celebração ou momento de reflexão inspirado nesta temática da alegria.
Inspirados na Caminhada Diocesana do Advento e Natal, pode ser oportuno preparar um momento de oração comunitário que sintonize a alegria e a esperança como lugar inspirador da nossa caridade. in Voz Portucalense
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Estamos já no novo Ano Litúrgico – Ano A – onde seremos acompanhados pelo evangelista Mateus. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do Ano Litúrgico pôde ser acompanhado como uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.
Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2025/2026 – acompanhamos o evangelista Mateus em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, é, certamente, oportuna a proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Mateus. Há muita ignorância e confusão sobre o Evangelho de Mateus. Merece a pena tentar formar mais e melhor os cristãos da nossa comunidade.
E fizemos isso….
Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Mateus. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos – Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura. ~
LEITURA I – Isaías 35, 1-6a.10
Alegrem-se o deserto e o descampado,
rejubile e floresça a terra árida,
cubra-se de flores como o narciso,
exulte com brados de alegria.
Ser-lhe-á dada a glória do Líbano,
o esplendor do Carmelo e do Sáron.
Verão a glória do Senhor,
o esplendor do nosso Deus.
Fortalecei as mãos fatigadas
e robustecei os joelhos vacilantes.
Dizei aos corações perturbados:
«Tende coragem, não temais:
Aí está o vosso Deus,
vem para fazer justiça e dar a recompensa.
Ele próprio vem salvar-nos».
Então se abrirão os olhos dos cegos
e se desimpedirão os ouvidos dos surdos.
Então o coxo saltará como um veado
e a língua do mudo cantará de alegria.
Voltarão os que o Senhor libertar,
hão de chegar a Sião com brados de alegria,
com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto.
Reinarão o prazer e o contentamento
e acabarão a dor e os gemidos.
CONTEXTO
Os capítulos 34 e 35 de Isaías – designados como “pequeno apocalipse de Isaías”, para distinguir do “grande apocalipse de Isaías” dos capítulos 24-27 – são um caso particular no conjunto do livro. Os comentadores consideram que estes dois capítulos não vêm do primeiro Isaías (o profeta que atuou em Jerusalém entre 740 e 685 a.C., nos reinados de Jotam, Acaz e Ezequias), mas talvez do Deutero-Isaías, um profeta que exerceu a sua missão entre os exilados na Babilónia (entre 550 e 539 a.C.) e do qual provêm também os capítulos 40 a 55 do livro de Isaías. Por que razão os capítulos 34 e 35 de Isaías se apresentam separados do seu “ambiente natural” (Is 40-55)? Provavelmente, foram atraídos pelas peças escatológicas soltas de Is 28-33, em particular pelo capítulo 33.
Em meados do séc. VI a.C., a situação dos exilados na Babilónia era bem difícil. Crescia por todo o lado o desânimo e a frustração. Os anos iam passando e o exílio não terminava. Parecia-lhes que Deus os tinha esquecido. Nesse contexto, um profeta que conhecemos pelo nome de Deutero-Isaías propõe-se revitalizar a esperança de Judá e “consolar” aquele povo desanimado. Na sua mensagem, esse profeta garante aos exilados que, num futuro já não muito distante, Deus vai intervir. Como? Antes de mais, vai julgar e condenar as nações inimigas de Judá (cf. Is 34,1-4), especialmente os edomitas (cf. Is 34,5-15); em seguida, Deus vai derramar a sua bênção sobre o Seu povo e ordenar o regresso triunfal a Sião dos habitantes de Judá exilados na Babilónia (cf. Is 35,1-10). Esta temática será desenvolvida em profundidade pelo mesmo profeta nos capítulos 40-55 do Livro de Isaías. in Dehoniano
INTERPELAÇÕES
- Há formas diversas de olharmos para este extraordinário tempo histórico que nos tocou viver. Para os otimistas, o nosso tempo é um tempo de realizações notáveis, de descobertas maravilhosas, de conquistas inacreditáveis; é um tempo em que o ser humano parece estar a superar todos os limites e a preparar um futuro melhor. Para os pessimistas, no entanto, o nosso tempo é um tempo de superaquecimento do planeta, de subida do nível do mar, de destruição da camada do ozono, de eliminação das florestas, de risco de holocausto nuclear, de crise de valores fundamentais, de indiferença generalizada para com os sem voz e sem vez; é um tempo em que a humanidade, com total inconsciência, caminha a passos largos para a catástrofe… Para uns e para outros, o nosso tempo é um tempo paradoxal, cheio de interpelações, de desafios, de incertezas e de riscos. Como é que nós nos relacionamos com este mundo? Vemo-lo com os olhos da esperança, ou com as lentes negras do medo e da angústia?
- Os crentes, contudo, atravessam a vida ancorados numa certeza fundamental: “Deus está aí”, presidindo à história dos homens e conduzindo-a de acordo com o seu projeto de salvação. Ele conhece os sofrimentos e angústias dos seus filhos e não lhes vira as costas; Ele, quase sempre de forma discreta e sem espalhafato, aponta caminhos, desenha planos, faz nascer flores no deserto árido, infunde coragem aos fracos, abre os olhos aos cegos, desimpede os ouvidos dos surdos, faz o coxo saltar com desenvoltura e o mudo cantar a plenos pulmões; Ele coloca-se ao lado do pobre e do fraco para o sustentar no caminho, acolhe o condenado pela sociedade e pelas igrejas, bate à porta e entra na casa daquele que todos evitam e abandonam… Estamos conscientes da presença de Deus na nossa história? É com esta certeza da presença de Deus e com a convicção de que Ele não nos deixará abandonados nas mãos das forças da morte que caminhamos pela vida e que a enfrentamos os obstáculos que aparecem no caminho?
- O Advento é o tempo da espera do Senhor que vem. É um tempo de “gravidez”, durante o qual esperamos ansiosamente o nascimento do Deus-Menino que vem trazer uma esperança nova ao nosso mundo e às nossas vidas. Sabemos, no entanto, que o Deus-Menino só vem ter connosco se tivermos lugar para Ele, se estivermos dispostos a acolhê-l’O. Temos aproveitado esta “caminhada de advento” para limpar a nossa vida de toda a “tralha” inútil que se acumula no nosso coração e que não deixa espaço para o Amor, para o Perdão, para a Bondade, para a Justiça, para a Paz, para todos esses dons que o Deus-Menino traz para nos oferecer?
- No cenário desolador do exílio da Babilónia, o Deutero-Isaías é enviado por Deus para remar contra a maré. Por isso, apresenta-se no meio de um povo desanimado e descrente como a sentinela da esperança. O profeta, sinal vivo de Deus e voz de Deus no mundo dos homens, tem por missão ajudar os seus irmãos a ver, para além do sol que se põe, o novo amanhã que irá surgir. É este o testemunho profético que damos aos homens e mulheres que caminham ao nosso lado nos caminhos da história e da vida? Temos consciência de que somos enviados aos homens e mulheres do nosso tempo como testemunhas da alegria e da esperança de Deus? in Dehonianos.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146)
Refrão 1: Vinde, Senhor e salvai-nos.
Refrão 2: Vinde salvar-nos, Senhor.
O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.
O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta ao abatidos,
o Senhor ama os justos.
O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.
O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é rei por todas as gerações.
LEITURA II – Tiago 5, 7-10
Irmãos:
Esperai com paciência a vinda do Senhor.
Vede como o agricultor espera pacientemente
o precioso fruto da terra,
aguardando a chuva temporã e a tardia.
Sede pacientes, vós também,
e fortalecei os vossos corações,
porque a vinda do Senhor está próxima.
Não vos queixeis uns dos outros,
a fim de não serdes julgados.
Eis que o Juiz está à porta.
Irmãos, tomai como modelos de sofrimento e de paciência
os profetas, que falaram em nome do Senhor.
CONTEXTO
O autor da Carta de onde foi extraída a segunda leitura deste terceiro domingo do advento apresenta-se a si próprio como “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (cf. Tg 1,1). A tradição liga-o ao Tiago “irmão” (parente) do Senhor, que presidiu à Igreja de Jerusalém e do qual os Evangelhos falam acidentalmente como filho de Maria (cf. Mt 13,55; 27,56). De acordo com Flávio Josefo, teria sido martirizado em Jerusalém no ano 62. No entanto, a atribuição deste escrito a tal personagem levanta bastantes dificuldades. O mais certo é estarmos perante um outro qualquer Tiago, desconhecido até agora (o “Tiago, filho de Alfeu” – de que se fala em Mc 3,18 – e o “Tiago, filho de Zebedeu” e irmão de João – de que se fala em Mc 1,19 – também não se encaixam neste perfil). É, de qualquer forma, um autor que escreve em excelente grego, recorrendo até a recursos retóricos como a “diatribe” (um género muito usado pela filosofia popular helénica), a perguntas retóricas e a jogos de paradoxos e contrastes. Inspira-se particularmente na literatura sapiencial, para extrair dela lições de moral prática; mas depende também profundamente dos ensinamentos do Evangelho. Trata-se de um sábio judeo-cristão que repensa, de maneira original, as máximas da sabedoria judaica, em função do cumprimento que elas encontraram nas palavras e no ensinamento de Jesus.
A carta de Tiago foi enviada “às doze tribos que vivem na Diáspora” (Tg 1,1). Provavelmente, a expressão alude a cristãos de origem judaica, dispersos no mundo greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina – como a Síria ou o Egipto; mas, também pode referir-se, em termos metafóricos, à totalidade da comunidade de Jesus, dispersa pelo mundo greco-romano. Exorta os crentes a que não percam os valores cristãos autênticos herdados do judaísmo através dos ensinamentos de Cristo. Apela a que os cristãos vivam com coerência e verdade a própria fé.
O nosso texto pertence à terceira parte da carta (Tg 3,14-5,20). Aí, o autor apresenta, num conjunto de desenvolvimentos e de sentenças aparentemente sem ordem nem lógica, indicações concretas destinadas a favorecer uma vida cristã mais autêntica. in Dehonianos.
INTERPELAÇÕES
- Como acontecia no tempo de Tiago, também hoje muitos homens e mulheres continuam a ser vítimas da injustiça, da exploração, das humilhações, das agressões, da prepotência dos grandes da terra. Privados dos seus direitos e da sua indignidade, sentem-se impotentes, desvalorizados, abandonados, incapazes de sair da sua triste situação. Alguns sentem a tentação do desânimo; quem poderá salvá-los? Tiago, o “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (Tg 1,1), diz-lhes: “Tende esperança. Deus conhece a vossa situação. Ele não vos abandonou nem esqueceu. Ele vai libertar-vos. Aproxima-se o dia da intervenção salvadora de Deus em vosso favor”. Neste tempo de Advento, esta “promessa” de Deus tem um sabor especial. A próxima celebração do nascimento de Jesus é a celebração da presença de Deus na história e na vida dos homens para lhes oferecer a Sua salvação. Vivemos este tempo de Advento como um tempo de esperança? Acreditamos que Jesus vem libertar-nos de tudo aquilo que nos rouba a vida e a dignidade? Estamos disponíveis para acolher a libertação que Jesus nos vem oferecer?
- Tiago pede aos destinatários da Carta por si enviada às “doze tribos da Dispersão” (Tg 1,1) que esperem “com paciência a vinda do Senhor”. “Esperar com paciência” não é, na perspetiva de Tiago, instalar-se numa resignação que aliena e numa passividade que é renúncia à própria dignidade humana. “Esperar com paciência” é continuar a caminhar, com coerência e verdade, sem se deixar abater ou afundar no desespero; é enfrentar serenamente as vicissitudes e manter-se fiel a Deus, confiando sempre no amor de Deus e acreditando que Deus irá derrotar o mal e oferecer a salvação aos seus queridos filhos. É com essa confiança inquebrantável em Deus que enfrentamos as injustiças e as maldades que nos atingem ao longo do caminho?
- Tiago recomenda aos cristãos que não respondam com a violência, a agressividade, o ódio, o rancor, a vingança, as queixas, às injustiças e arbitrariedades que os atingem. Esses sentimentos violentos são destrutivos para quem os cultiva: envenenam o coração, roubam a paz, impedem de ter um olhar positivo e construtivo sobre a vida. Quando esses sentimentos tomam posse de alguém, destroem-no. Não deixam qualquer espaço na pessoa para o encontro com a ação libertadora e salvadora de Deus. Temos algum desse “lixo” a ocupar espaço no nosso coração? Estamos dispostos a livrar-nos dele a fim de arranjar espaço para o Senhor que vem ao nosso encontro? in Dehonianos
EVANGELHO – Mateus 11, 2-11
Naquele tempo,
João Baptista ouviu falar, na prisão, das obras de Cristo
e mandou-Lhe dizer pelos discípulos:
«És Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?»
Jesus respondeu-lhes:
«Ide contar a João o que vedes e ouvis:
os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados,
os surdos ouvem, os mortos ressuscitam
e a boa nova é anunciada aos pobres.
E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim
motivo de escândalo».
Quando os mensageiros partiram,
Jesus começou a falar de João às multidões:
«Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento?
Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas?
Mas aqueles que usam roupas delicadas
encontram-se nos palácios dos reis.
Que fostes ver então? Um profeta?
Sim – Eu vo-lo digo – e mais que profeta.
É dele que está escrito:
‘Vou enviar à tua frente o meu mensageiro,
para te preparar o caminho’.
Em verdade vos digo:
Entre os filhos de mulher,
não apareceu ninguém maior do que João Baptista.
Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele».
CONTEXTO
Depois de ter sido batizado por João, o “Batista”, nas águas do rio Jordão (cf. Mt 3,13-17), Jesus começou a “ver” claramente a missão que o Pai lhe confiava. Deixando João nas margens do rio Jordão, Jesus voltou para a Galileia e instalou-se em Cafarnaum, uma cidade situada na costa noroeste do Mar da Galileia. A cidade era ponto de passagem entre várias rotas comerciais, oferecendo um acesso fácil a todas as aldeias e cidades da região. A partir de Cafarnaum, Jesus passou a percorrer as aldeias e vilas da Galileia, dizendo a todos os que queriam escutá-l’O: “convertei-vos, porque está perto o Reino do Céu” (Mt 4,17). O Seu anúncio era completado por gestos poderosos (cf. Mt 8,1-4. 5-13. 14-17. 28-34; 9,1-8. 18-26. 27-31. 32-34), que mostravam como seria esse mundo cheio de vida que, na perspetiva de Jesus, Deus queria oferecer aos seus filhos.
Entretanto João, o “Batista”, continuou nas margens do rio Jordão a propor a sua mensagem de conversão e o seu batismo purificador. Com ousadia profética denunciava o pecado de todos, inclusive do próprio rei Herodes Antipas, tetrarca da Galileia e da Pereia, que tinha repudiado a sua esposa legítima e vivia com Herodíade, mulher do seu irmão Filipe. João denunciou publicamente a atitude de Antipas, considerando-a contrária à Lei. Herodes Antipas, com medo de que as palavras de João incendiassem os ânimos da população e causassem uma revolta, mandou prender o “Batista” na fortaleza de Maqueronte, situada a 24 quilómetros a sudeste da foz do rio Jordão, na costa leste do Mar Morto.
Foi de Maqueronte que João, o Batista”, enviou alguns dos seus discípulos a Jesus com uma questão que o incomodava e que ele desejava ver esclarecida: “és Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” A pergunta sugere dúvida; mas não é desprovida de sentido… João esperava um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao “juízo de Deus” (cf. Mt 3,11-12); mas, ao contrário, Jesus aproximou-Se dos pecadores, dos marginais, dos impuros, estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação (cf. Mt 9,10-13). João e os seus discípulos sentiam-se desconcertados: Jesus era o Messias esperado, ou seria preciso esperar um outro que viesse atuar de uma forma mais decidida, mais severa e mais justiceira?
Mateus tem um interesse especial pela figura de João Baptista. Apresenta-o como o precursor que veio preparar os homens para acolher Jesus. Mateus tinha deixado já claro, na cena do batismo (cf. Mt 3,14), qual dos dois era o mais importante; mas aqui regressa ao tema, exaltando João, mas, ao mesmo tempo, colocando-o no seu devido lugar. É provável que, ao fazer esta apresentação, o evangelista queira dirigir-se aos discípulos de João que, na segunda metade do séc. I, ainda mantinham viva a “memória” do “Batista”. Mateus pretenderia “piscar o olho” aos discípulos de João, convidando-os a aderir à proposta cristã e a entrar na Igreja de Jesus. in Dehonianos
INTERPELAÇÕES
- No belo texto de Mateus que a liturgia deste terceiro domingo do Advento nos propõe, o próprio Jesus apresenta-se como o Messias que veio ao mundo para cumprir as promessas de Deus, para derrotar o mal e para abrir para os homens um caudal de vida abundante. A sua presença inaugura uma nova era, um mundo onde se rasgam caminhos novos para os deserdados, os abandonados, os injustiçados, os que não conhecem a alegria, os que vivem mergulhados nas trevas, os que caminham sem esperança, os que não têm voz nem vez. Esta maravilhosa história do Messias de Deus, contada por Mateus, não é uma história vivida e cumprida num tempo já fechado, com princípio, meio e fim há mais de dois mil anos; mas é uma história que continua a escrever-se hoje, para nós que vivemos no séc. XXI. Jesus continua a vir ao nosso encontro, a inundar de vida nova o nosso mundo velho, a curar as nossas feridas, a oferecer-nos generosamente a salvação de Deus. Estamos disponíveis para O acolher? Estamos efetivamente interessados em romper as velhas cadeias que nos prendem para abraçar essa vida nova e plena que Jesus nos vem oferecer?
- Jesus, depois de ter terminado o Seu caminho na terra, reentrou na glória do Pai. No entanto, quando se despediu daqueles homens e mulheres que o tinham acompanhado desde a Galileia a Jerusalém e que tinham sido testemunhas de tudo o que Ele disse e fez, pediu-lhes que fossem, no mundo, os arautos da salvação de Deus. Hoje, mais de dois mil anos depois, isto é, connosco. Nós, discípulos e testemunhas de Jesus, dedicamo-nos a fazer as obras que Ele fazia? Os “cegos”, encerrados nas trevas do egoísmo e do erro, podem contar connosco para saírem da escuridão e encontrarem a luz libertadora de Deus? Os “coxos”, incapazes de caminhar sozinhos, podem contar connosco para se verem livres daquilo que os limita e os impede de ir em frente, em direção a uma vida com sentido? Os “leprosos”, marginalizados e excluídos por uma sociedade que não tem lugar para todos, podem contar connosco para serem novamente acolhidos à mesa familiar dos filhos de Deus? Os “surdos”, fechados no seu mundo de autossuficiência e de silêncio, podem contar connosco para descobrirem a beleza do diálogo e da comunhão? Os “mortos”, os que vivem mergulhados no desespero e já desistiram de viver, podem contar connosco para aprenderem a sonhar com um amanhã de esperança? Os “pobres”, privados de recursos necessários para terem uma vida digna, podem contar connosco para se defenderem da miséria que lhes rouba a dignidade? Deus pode contar connosco para curar as feridas do mundo?
- João, o “Batista”, aquele de quem Jesus disse que era “o maior entre os filhos de mulher”, reaparece-nos todos os anos neste tempo de Advento para nos ajudar a preparar a chegada do Messias. A sua verticalidade e coerência, a sua integridade e fortaleza, o seu compromisso firme com a verdade, o seu estilo de vida simples e desprendido, o seu desprezo pelos bens materiais, a sua indiferença pela vida cómoda e fácil, o seu “jeito” de remar contra a corrente, a sua decisão irrevogável de fazer a voz de Deus ecoar no mundo dos homens, interpelam-nos fortemente. João é um profeta, que recebeu de Deus uma missão e que procura cumpri-la com fidelidade. A nossa vida e o nosso testemunho profético cumprem-se com a mesma verticalidade e honestidade de João? Sentimos que o “estilo” de vida de João nos pode inspirar a viver de uma forma mais verdadeira? Captando a mensagem de João, estamos dispostos a uma mudança radical na nossa forma de estar na vida, a fim de que Jesus possa “caber” no nosso projeto?
- Talvez resulte um pouco chocante ouvirmos dizer que, a certa altura, João teve dúvidas sobre a messianidade de Jesus. Aquele Jesus que antes queria falar da misericórdia de Deus do que da Sua ira, que acolhia os pecadores e se sentava com eles à mesa, que não condenava ninguém nem ameaçava com castigos terríveis, não encaixava na conceção que João tinha do “ungido de Deus”. No entanto, ao questionar Jesus (“és Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”), João assumiu uma posição de profunda honestidade. Quis saber, quis perceber o projeto de Jesus. Devemos ter mais medo daqueles que têm certezas inamovíveis, que estão absolutamente certos das suas verdades e dos seus dogmas, do que daqueles que procuram honestamente, em diálogo com os seus irmãos, as respostas às questões que a vida todos os dias coloca. Como nos comportamos quando vemos que a realidade que nos cerca não coincide exatamente com as nossas ideias feitas? Entrincheiramo-nos atrás das nossas certezas e disparamos contra o mundo, ou procuramos sinceramente escutar aqueles que nos rodeiam, compreender as visões diferentes e encontrar, a partir daí, o caminho que conduz à verdade? in Dehonianos.
Para os leitores
Na preparação da primeira leitura deve ter-se cuidado com a pronunciação dos nomes próprios das cidades presentes no texto: «Líbano», «Carmelo» e «Sáron». Este texto possui um conjunto de imagens que evocam a alegria e é um convite ao júbilo e ao regozijo. Por isso, a proclamação desta leitura deve ser marcada pelo tom alegre e exortativo de quem convida ao louvor e à festa.
A segunda leitura é um texto fortemente exortativo marcado por um conjunto de formas verbais no modo imperativo. A proclamação deste texto deve ter em atenção as formas verbais no imperativo e aproveitar a força expressiva que elas possuem.
ANEXOS:
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- Leitura I do Domingo III do Tempo do Advento – Ano A – 14.12.2025 (Isaías 35, 1-6a.10)
- Leitura II do Domingo III do Tempo do Advento – Ano A – 14.12.2025 (Tiago 5, 7-10)
- Domingo III do Tempo do Advento – Ano A – 14.12.2025 – Lecionário
- Domingo III do Tempo do Advento – Ano A – 14.12.2025 – Oração Universal
- Domingo III do Tempo do Advento – Domingo Gaudete-Ano A – 14.12.2025 – refletindo
- Ano A – O ano do evangelista Mateus