Domingo XXXIII do Tempo Comum-Ano C – 16 novembro 2025

IX Dia Mundial dos Pobres

“17e sereis odiados por todos, por causa do meu nome. 18Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. 19Pela vossa constância é que sereis salvos.» Lucas 21, 17-19.

Viver a Palavra

            A mensagem escatológica deste Domingo é um apelo à esperança e à confiança, mas também um apelo à vigilância e à perseverança. Jesus, Mestre da ternura e da bondade, não nos quer alarmar, e, por isso, dirige-se a cada um de nós para não nos deixarmos tomar pelo medo e pela angústia diante de tantas catástrofes e perseguições que hão-de acompanhar a história.

            Jesus convida-nos a lançar um olhar novo sobre as realidades presentes, quer sejam belas e preciosas como as ornamentações do Templo, quer sejam dramáticas e exigentes como as guerras e perseguições que hão-de acompanhar aqueles que aderem ao Seu projeto de amor.

            Diante do olhar contemplativo daqueles que admiravam «as belas pedras e piedosas ofertas» do Templo, Jesus parece iniciar um discurso pessimista e catastrófico: «dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Contudo, bem diferente é a Sua intenção. Ele recorda-nos que as mais belas construções, tais como as maiores desgraças são passageiras, caducas e frágeis e convida-nos a fazer uma leitura nova do tempo e da história, desafiando-nos a tomar consciência que a par destas realidades efémeras, há algo que permanece como garante de eternidade: o amor que oferecemos e recebemos, o amor que é sinal da presença de Deus na vida de cada homem e de cada mulher.

            Os anúncios catastróficos do fim do mundo não são novos e percorrem a história, sobretudo nas mudanças de milénio ou de século, onde as profecias do fim do mundo, próximo e iminente são recorrentes. Recordo, por exemplo, aquele episódio em que os discípulos de S. Agostinho se aproximaram dele lamentando a violência, as desgraças e as catástrofes e perguntavam: «estará a chegar o fim do mundo?» e S. Agostinho, cheio da esperança que brota do Evangelho, respondeu-lhes: «não é o mundo que está a acabar, mas um mundo novo que quer nascer».

            Na verdade, é precisamente esta a mensagem que brota do Evangelho deste Domingo. Jesus, consciente da caducidade e fragilidade das nossas vidas e conhecendo a violência e a maldade que pode brotar das nossas ações, propõe a perseverança no amor como caminho a seguir para uma transformação do mundo em que vivemos.

            Não percorremos sozinhos os trilhos da história e quando as dificuldades surgirem, quando as divisões acontecerem, quando formos traídos e desprezados até por aqueles que nos são mais próximos, haveremos de recordar que «nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá», isto é, que há um Deus que cuida de nós até ao mais ínfimo pormenor.

            Todavia, a caducidade e fragilidade da nossa existência não são um convite à quietude ou à ociosidade. Como nos recorda S. Paulo, é necessário o empenho e a dedicação para que trabalhando tranquilamente sejamos merecedores do pão que comemos e possamos ser construtores desse mundo novo que Deus quer fazer irromper no tempo e na história.

            É efetivamente necessário o fim do mundo, mas o fim de um mundo marcado pelo ódio, pela vingança, pela inveja e pelo egoísmo, para nascer um mundo novo, marcado pelo amor, pelo perdão, pela partilha e pela misericórdia. Cada dia e cada momento que Deus coloca em nossas mãos são uma oportunidade para nos tornamos construtores audazes da nova civilização do amor, semeadores de esperança num tempo de desencanto e testemunhas da perseverança quando tudo parece efémero e passageiro. in Voz Portucalense.

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Estamos quase a concluir o Ano Litúrgico – Ano C – onde somos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos – Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA IMalaquias 3,19-20a

Há de vir o dia do Senhor,
ardente como uma fornalha;
e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores.
O dia que há de vir os abrasará
– diz o Senhor do Universo –
e não lhes deixará raiz nem ramos.
Mas para vós que temeis o meu nome,
nascerá o sol de justiça,
trazendo nos seus raios a salvação.

 

CONTEXTO

            O nome “Malaquias” não é um nome próprio. A palavra significa “o meu enviado”. É o título tomado por um profeta anónimo, sobre o qual praticamente nada sabemos e que se apresenta como “enviado” de Javé.

            Esse profeta exerceu a sua missão em Jerusalém, no período pós-exílico. O Templo já havia sido reconstruído (cf. Ml 1,10) e o culto já funcionava — ainda que mal (cf. Ml 1,7-9. 12-13). No entanto, o entusiasmo pela reconstrução estava apagado. Desanimado ao ver que as antigas promessas de Deus (veiculadas por Ezequiel e pelo Deutero-Isaías) não se tinham cumprido, o Povo tinha caído na apatia religiosa e na absoluta falta de confiança em Deus. Duvidava do amor de Deus, da sua justiça, do seu interesse por Judá. Todo este ceticismo tinha repercussões no culto (cada vez mais desleixado) e na ética (multiplicavam-se as falhas, as injustiças, as arbitrariedades). Este quadro situa-nos na primeira metade do séc. V a.C. (entre 480 e 450 a.C.), muito próximo da época de Esdras e Neemias.

            Malaquias, o “mensageiro de Javé” reage vigorosamente contra a situação em que o Povo de Judá está a cair. Defende intransigentemente os valores judaicos e a fé dos antepassados; aponta o dedo aos sacerdotes, aos levitas e a outros responsáveis pelo culto, denunciando o seu desleixo e venalidade; profetiza a chegada do tempo em que se oferecerá a Deus um culto puro e santo; coloca cada pessoa diante das suas responsabilidades para com Javé e para com o próximo; exige a conversão do Povo e o afastamento da idolatria; condena veementemente os casamentos mistos (entre judeus e não judeus), que fazem perigar a fidelidade a Javé. A sua lógica é a lógica deuteronomista: se o Povo se obstinar em percorrer caminhos de infidelidade à Aliança, voltará a conhecer a morte e a infelicidade, como aconteceu num passado recente; mas se o Povo se voltar para Javé e cumprir os mandamentos, voltará a gozar da vida e da felicidade que Deus oferece àqueles que seguem os seus caminhos.

            Por detrás do texto que a liturgia deste domingo nos oferece como primeira leitura, está o ceticismo dos habitantes de Judá em relação à justiça de Deus, ao interesse de Deus em intervir na ordem do mundo. Eles sentem-se desiludidos, pois parece-lhes que Deus assume uma atitude de perfeita indiferença diante da sorte dos justos: “de que vale servir a Deus? Que lucrámos em ter observado os seus preceitos e em ter andado de luto diante do Senhor do universo? E agora temos de chamar ditosos aos arrogantes, pois eles fazem o mal e prosperam; põem Deus à prova e ficam impunes” (Ml 3,14-15). É a eterna interrogação sobre o sentido do mal que cobre a terra, sobre a prosperidade dos pecadores em contraste com o sofrimento dos justos. Deus não quer saber? Deus não faz nada para restabelecer a justiça? Ele alheou-se dos problemas dos homens e deixa que cada um faça o que quer?

            Malaquias procura responder a estas questões. Garante que Deus não esquece os justos, os que constam do livro onde estão inscritos “os que temem o Senhor e prezam o seu nome” (Ml 3,16). Mais: Deus terá compaixão deles “como um pai que se compadece do filho que o serve” (Ml 3,17). Por isso, Deus vai atuar. Então, todos verão “de novo a diferença entre o justo e o ímpio, entre quem serve a Deus e quem não O serve” (Ml 3,18). in Dehonianos

 

INTERPELAÇÕES

  • Em 1947 uma organização fundada por cientistas que trabalharam no Projeto Manhattan durante a Segunda Guerra Mundial, criou o “Relógio do Juízo Final”, ou “Relógio do Apocalipse”. É uma ferramenta simbólica onde está representado o risco da destruição global, com a meia-noite simbolizando a hora da aniquilação da humanidade. O ponteiro desse relógio é ajustado periodicamente por um grupo de cientistas e especialistas, com base em diversos fatores de risco. Atualmente, considerando tudo aquilo que constitui uma ameaça para a humanidade – a proliferação das armas nucleares, a instabilidade política internacional, o aumento da temperatura, a frequência de eventos climáticos extremos, o desenvolvimento de tecnologias como a inteligência artificial, a biologia sintética e outras tecnologias emergentes com potencial para usos destrutivos, o aparecimento de epidemias e doenças infeciosas globais – os cientistas colocaram os ponteiros do referido relógio muito perto da meia-noite, a “hora” fatídica em que a humanidade será destruída. Já não haverá esperança? Estamos condenados a acabar num inevitável cataclismo? E Deus? Fica indiferente ao ver os seus filhos a caminhar para um beco sem saída? Há 2450 anos um profeta anónimo garantia aos habitantes de Judá: Deus nunca nos abandona; Ele há de destruir, não a humanidade, mas sim aquilo que ameaça a vida dos seus filhos; o mal não triunfará, não terá a última palavra; a história que Deus está a construir connosco não é uma história de destruição, mas sim uma história de salvação. A nossa caminhada pela terra é ancorada nesta esperança?
  • A história da salvação escreve-se todos os dias. A cada instante Deus apresenta-se na nossa vida, dá-nos as suas indicações, convida-nos a “queimar” tudo aquilo que nos impede de caminhar em direção à vida plena, chama-nos à conversão, à renovação, à construção de uma vida mais feliz e mais realizada. Da nossa parte, temos de andar atentos às indicações de Deus, escutar os seus apelos, ter a coragem de cortar da nossa vida tudo o que nos paralisa e nos impede de caminhar, atirar ao “fogo” purificador todos os lixos que obscurecem a nossa condição de filhos e de filhas de Deus. Estamos disponíveis para acolher as interpelações e desafios purificadores que Deus nos traz? Quais são as coisas que Deus nos convida a “queimar” para que em nós possa concretizar-se a salvação?
  • O discurso sobre o fim do mundo e as catástrofes que esperam a humanidade pecadora é um discurso que alguns pregadores – muitas vezes da área das seitas, outras vezes de grupos ditos “cristãos”, mas que se movimentam em terrenos e conceções muito próximas das seitas – gostam de usar para incutir medo. Independentemente das boas ou más intenções desses pregadores, o medo não é uma boa base para construirmos a nossa experiência de fé e para nos aproximarmos do Deus que Jesus nos veio revelar. Usar certos textos – como este que a liturgia nos propõe hoje como primeira leitura – para fomentar o medo e para “forçar” à conversão poderá constituir uma grave distorção da Palavra de Deus. Como é que “ouvimos” discursos desse tipo? São discursos que nos impressionam e que condicionam a nossa visão de Deus e do seu projeto?
  • A profecia de Malaquias começou a concretizar-se quando Jesus entrou na nossa história e se apresentou no meio de nós. Jesus é o “sol de justiça” de cujos raios colhemos a salvação. As palavras que Ele nos disse convidam-nos à mudança, à renovação, à vida nova; os seus gestos propõem-nos uma maneira de viver radicalmente nova; o Seu amor até ao extremo, até ao dom total de si próprio, mostra-nos como devemos amar; o Espírito que Ele deixou aos seus dá-nos a força para testemunharmos Evangelho e para renovarmos a face da terra. Com Jesus começou a tornar-se realidade o Reino de Deus, esse mundo de justiça e de paz que, no entanto, só se concretizará plenamente no final dos tempos, quando a humanidade tiver ultrapassado a etapa terrena da finitude e da contingência. Jesus é, para nós, o “sol de justiça” que ilumina a nossa vida e que nos mostra o caminho? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)

Refrão 1: O Senhor virá governar com justiça.

Refrão 2: O Senhor julgará o mundo com justiça.

 

Cantai ao Senhor ao som da cítara,
ao som da cítara e da lira;
ao som da tuba e da trombeta,
aclamai o Senhor, nosso Rei.

Ressoe o mar e tudo o que ele encerra,
a terra inteira e tudo o que nela habita;
aplaudam os rios
e as montanhas exultem de alegria.

Diante do Senhor que vem,
que vem para julgar a terra;
julgará o mundo com justiça
e os povos com equidade.

 

LEITURA II – 2Tessalonicenses 3, 7-12

Irmãos:
Vós sabeis como deveis imitar-nos,
pois não vivemos entre vós desordenadamente,
nem comemos de graça o pão de ninguém.
Trabalhámos dia e noite, com esforço e fadiga,
para não sermos pesados a nenhum de vós.
Não é que não tivéssemos esse direito,
mas quisemos ser para vós exemplo a imitar.
Quando ainda estávamos convosco,
já vos dávamos esta ordem:
quem não quer trabalhar, também não deve comer.
Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade,
sem fazerem trabalho algum,
mas ocupados em futilidades.
A esses ordenamos e recomendamos,
em nome do Senhor Jesus Cristo,
que trabalhem tranquilamente,
para ganharem o pão que comem.

CONTEXTO

            Tessalónica (a atual Salónica) era, em meados do séc. I, a cidade mais importante da Macedónia. . Tendo obtido do imperador Augusto o privilégio de “cidade livre”, era administrada por um conselho eleito pela assembleia do povo (cf. Act 17,5) e presidida por magistrados denominados “politarcas” (cf. Act 17,6-8). Importante porto marítimo e cidade de intenso comércio, Tessalónica era uma encruzilhada religiosa, na qual os cultos locais e as religiões vindas do estrangeiro coexistiam lado a lado.

            A cidade foi evangelizada por Paulo durante a sua segunda viagem missionária, muito provavelmente no Inverno do ano 49 ou 50. Paulo chegou a Tessalónica acompanhado por Silvano e Timóteo, depois de ter sido forçado a deixar a cidade de Filipos. Essa primeira estadia de Paulo em Tessalónica foi curta, talvez de cerca de três meses; no entanto, do labor apostólico de Paulo nasceu uma comunidade cristã numerosa e entusiasta, constituída maioritariamente por pagãos convertidos. De acordo com a informação dos Atos dos Apóstolos, a obra missionária de Paulo teve a oposição de alguns membros da comunidade judaica. Na sequência, alguns cristãos da cidade foram acusados de agir contra os decretos do imperador e levados diante das autoridades da cidade (cf. At 17,5-9). Paulo foi obrigado a deixar a cidade à pressa, durante a noite. Dirigiu-se para a Bereia e, de seguida, para Atenas (cf. At 17,10-15).

            No entanto, o apóstolo estava preocupado com a situação da comunidade que tinha deixado em Tessalónica. Pressionados pelas autoridades da cidade, conseguiriam eles manterem-se fiéis ao Evangelho? Por isso, Paulo enviou Timóteo a Tessalónica para saber informações e para encorajar os tessalonicenses na fé (cf. 1 Ts 3,2-5). Timóteo, depois de cumprir a missão que lhe fora confiada, reencontrou Paulo em Corinto. As notícias trazidas por Timóteo eram boas: os cristãos de Tessalónica enfrentavam as adversidades e mantinham-se fiéis à fé recebida. Confortado pelas informações trazidas por Timóteo, Paulo decidiu escrever aos cristãos de Tessalónica, felicitando-os pela sua fidelidade ao Evangelho. Aproveitou também para esclarecer algumas dúvidas doutrinais que inquietavam os tessalonicenses – nomeadamente sobre a segunda vinda do Senhor – e para corrigir alguns aspetos menos exemplares da vida da comunidade. A Primeira Carta aos Tessalonicenses é, com toda a probabilidade, o primeiro escrito do Novo Testamento. Apareceu na Primavera-Verão do ano 50 ou 51.

            Uns meses depois dessa primeira Carta à comunidade cristã de Tessalónica, Paulo escreveu uma outra. O objetivo seria corrigir algumas interpretações erradas que a primeira Carta tinha suscitado.

            O texto da Carta aos Tessalonicenses que a liturgia deste domingo nos oferece como segunda leitura refere-se à forma como alguns cristãos de Tessalónica viviam, apenas ocupados em atividades inúteis. Não fica claro, pelo texto, se se trata de simples parasitismo e instalação numa vida fácil, ou se se trata de uma exaltação espiritualista resultante da convicção de que a segunda vinda de Jesus estava próxima e não valeria a pena preocupar-se com a luta diária pela existência. Mas Paulo, com uma dureza inesperada, chama à razão os cristãos de Tessalónica. in Dehonianos.

INTERPELAÇÕES

  • Poderá a experiência religiosa favorecer uma certa evasão do mundo e afastar as pessoas do seu compromisso com a história? O “homem” religioso poderá ser tentado a viver de olhos postos no céu, num espiritualismo alienado e inconsequente, negligenciando os seus deveres na terra e os desafios que a vida quotidiana lhe traz? Só uma compreensão deturpada da religião levará alguém a voltar as costas ao mundo e a viver desconectado com as realidades do dia a dia. Na verdade, quem vive de olhos postos em Deus e na verdade de Deus, rapidamente percebe que Deus lhe confia a missão de transformar o mundo. Até aqueles e aquelas que são chamados por Deus a uma vocação mais contemplativa têm a responsabilidade de serem sinais e testemunhas de um mundo novo. O cristianismo vivido com verdade, seriedade e coerência potencia um empenhamento sincero na construção de um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano. O Reino de Deus é uma realidade que atingirá o ponto culminante na vida futura; mas começa a construir-se aqui e agora e exige o esforço e o empenho de todos. A nossa atitude, enquanto discípulos de Jesus, é a de quem se comprometeu com o Reino e se esforça por torná-lo uma realidade no mundo?
  • Paulo fala também de cristãos que “vivem na ociosidade, sem fazerem trabalho algum, mas ocupados em futilidades”. Trata-se de gente preguiçosa e acomodada, avessa a qualquer esforço, que se aproveita da bondade dos irmãos para viver à custa deles. Paulo não está a referir-se, aqui, às pessoas fragilizadas e em dificuldades, àqueles que as circunstâncias da vida privaram de bens de subsistência e que têm o direito de serem ajudados e cuidados pela comunidade; mas está a referir-se àqueles que não querem esforçar-se, que vivem de esquemas, que se instalam na pedinchice, que se habituaram a depender dos outros e que não mexem um dedo para tomar nas próprias mãos as rédeas da sua vida. Paulo diz, a propósito: “quem não quer trabalhar, também não deve comer”. O que pensamos disto?
  • Nas nossas comunidades cristãs encontramos com frequência pessoas que, independentemente da sua condição, das suas qualificações, das suas qualidades, se limitam a ser “consumidores passivos” da religião: usufruem daquilo que a comunidade constrói, participam de alguns momentos celebrativos que lhes interessam, mas não estão disponíveis para colaborar na comunidade, para ajudar a construir a comunidade, para pôr ao serviço da comunidade os dons que Deus lhes concedeu. Acabam por não estar envolvidos na vida da comunidade e por não fazer uma verdadeira experiência de vivência comunitária da fé. Como é que nos situamos em relação à comunidade cristã? Damos o nosso contributo na construção da comunidade? Pomos a render os nossos dons, colocando-os ao serviço da comunidade? in Dehonianos

EVANGELHO – Lucas 21,5-19

Naquele tempo,
comentavam alguns que o templo estava ornado
com belas pedras e piedosas ofertas.
Jesus disse-lhes:
«Dias virão em que, de tudo o que estais a ver,
não ficará pedra sobre pedra:
tudo será destruído».
Eles perguntaram-lhe:
«Mestre, quando sucederá isso?
Que sinal haverá de que está para acontecer?»
Jesus respondeu:
«Tende cuidado; não vos deixeis enganar,
pois muitos virão em meu nome
e dirão: “sou eu”; e ainda: “O tempo está próximo”.
Não os sigais.
Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas,
não vos alarmeis:
é preciso que estas coisas aconteçam primeiro,
mas não será logo o fim».
Disse-lhes ainda:
«Há de erguer-se povo e reino contra reino.
Haverá grandes terramotos
e, em diversos lugares, fomes e epidemias.
Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu.
Mas antes de tudo isto,
deitar-vos-ão as mãos e hão de perseguir-vos,
entregando-vos às sinagogas e às prisões,
conduzindo-vos à presença de reis e governadores,
por causa do meu nome.
Assim tereis ocasião de dar testemunho.
Tende presente em vossos corações
que não deveis preparar a vossa defesa.
Eu vos darei língua e sabedoria
a que nenhum dos vossos adversários
poderá resistir ou contradizer.
Sereis entregues até pelos vossos pais,
irmãos, parentes e amigos.
Causarão a morte a alguns de vós
e todos vos odiarão por causa do meu nome;
mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá.
Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas.

CONTEXTO

            O Evangelho do trigésimo terceiro domingo comum situa-nos em Jerusalém, num dos dias que precedem a prisão, condenação e morte de Jesus na cruz. O programa de Jesus, nestes dias, é sempre igual: de manhã dirige-se ao templo e passa aí o dia, “a ensinar”; ao final da tarde sai da cidade, atravessa o vale do Cedron e vai até ao Monte das Oliveiras, onde passa a noite (cf. Lc 21,37).  Esses dias também vão ser marcados por diversas controvérsias entre Jesus e os líderes judaicos. A sombra da cruz paira, a cada instante, no horizonte próximo de Jesus.

            Tudo começa com os comentários “de alguns” sobre a beleza e a riqueza do templo de Jerusalém (cf. Lc 21,5). O templo era, na verdade, uma construção magnífica. Herodes, o Grande, tinha começado as obras de ampliação e de restauração do templo no ano 19 a.C.; mas, na época em que Jesus andava por Jerusalém, os trabalhos continuavam (só foram concluídos por volta do ano 63 d.C.).  A área do templo ocupava uma superfície de mil e quinhentos metros quadrados e as pedras utilizadas na construção chegavam a ter vinte metros de comprimento. Coberto de mármore branco, o templo refletia os raios do sol e brilhava como uma joia preciosa. As portas tinham incrustações de ouro e no interior havia tapeçarias de linho finíssimo de cor azul, escarlate e púrpura.

            Em resposta aos comentários sobre a grandiosidade e a beleza do templo, Jesus avisa que, um dia, toda essa construção desaparecerá (cf. Lc 21,6). Muito impressionados, os interlocutores de Jesus pedem-lhe explicações: quando será isso (cf. Lc 21,7)? Em resposta, Jesus deixa-lhes uma longa instrução que é conhecida como o “discurso escatológico” (cf. Lc 21,8-38).

            Na versão do evangelista Lucas, o “discurso escatológico” de Jesus refere três momentos, ou temas, da história futura: a destruição de Jerusalém (que veio a concretizar-se no ano 70, quando as tropas romanas sob o comando de Tito tomaram Jerusalém e destruíram o templo), as vicissitudes que os discípulos irão enfrentar ao longo do seu caminho histórico e, por fim, a vinda definitiva do Filho do Homem. De acordo com o texto de Lucas, Jesus recorre, para falar de tudo isto, a imagens estereotipadas de que os pregadores escatológicos da época se serviam quando discorriam sobre o fim dos tempos. A finalidade de Lucas, ao oferecer-nos o “discurso escatológico de Jesus”, não é tanto descrever os acontecimentos da história futura dos homens, mas sim transmitir aos crentes – aos crentes da década de oitenta do primeiro século e aos crentes de todas as épocas – a força para viverem o seu compromisso com Jesus no meio das dificuldades, incompreensões e perseguições que a história os obrigará a enfrentar. in Dehonianos.

 

INTERPELAÇÕES

  • Para onde caminha a história humana? Este universo que Deus criou com amor e que entregou nas nossas mãos terá um fim? Quando chegará ao seu termo essa magnífica aventura que a humanidade tem vindo a viver desde há milhões de anos? O que acontecerá quando a história dos homens já não tiver mais estrada para andar? Que acontecimentos catastróficos irão pôr um ponto final na história dos homens e nas conquistas de que tanto nos orgulhamos? A nossa curiosidade leva-nos a cada passo a colocar estas ou outras perguntas semelhantes. Certo dia, em Jerusalém, Jesus conversou com os seus discípulos sobre estas questões. Não deu pormenores, não se preocupou em saciar a curiosidade que devorava os discípulos. Garantiu-lhes que, aconteça o que acontecer, no final do caminho estará Deus à espera; pediu-lhes que caminhassem de olhos postos em Deus e que nunca se deixassem vencer pelo medo ou pelo desânimo; ensinou-os a viver com esperança. Não caminhamos em direção ao nada; caminhamos para os braços amorosos de Deus. N’Ele encontraremos vida definitiva, vida plena, vida verdadeira. Como é que nós vivemos e sentimos estas coisas? O “fim” é algo que nos preocupa e angustia, ou caminhamos serenamente, com o coração em paz, colocando em Deus a nossa confiança e a nossa esperança?
  • O caminho que os homens percorrem pela história será fácil e indolor? É claro que não. Será sempre um caminho marcado pela fragilidade do homem e, portanto, pela presença do mal. Sim, a história dos homens conhecerá a cada passo a violência, a guerra, a injustiça, a mentira, a ambição, a prepotência, as trevas. Mas nessa história também está Deus a apontar aos homens o caminho que leva ao mundo novo. Por isso, a história dos homens também conhecerá a justiça, a bondade, a verdade, o amor, a luz. Jesus lançou à terra a semente do mundo novo, do Reino de Deus; e todos os dias essa semente desenvolve-se e produz frutos abundantes. Esses frutos – os gestos que tantos homens e mulheres fazem, muitas vezes sem “dar nas vistas”, e que tornam o nosso mundo mais justo, mais humano, mais feliz – são os sinais da presença do Reino de Deus na história e na vida dos homens. Aos discípulos de Jesus pede-se que reconheçam os sinais do Reino de Deus, que se alegrem porque o Reino está presente e que se esforcem, todos os dias, por construí-lo. Quais são os sinais de esperança que vemos brilhar no mundo e que nos fazem acreditar na presença do Reino de Deus no meio de nós? O que podemos fazer, no dia a dia, para apressar a chegada do Reino de Deus?
  • Jesus avisou os seus discípulos que deveriam contar, ao longo da sua caminhada pela terra, com a contestação, a rejeição, as acusações injustas, as traições, o sofrimento, a perseguição. Isto é estranho e inesperado? Não. O próprio Jesus não foi rejeitado, preso, condenado e crucificado pelos líderes políticos e religiosos do Seu povo? A nossa experiência de todos os dias diz-nos que quem procura ser sinal de Deus e dar testemunho da justiça e da verdade sofrerá inevitavelmente a oposição dos que pretendem perpetuar as estruturas do mundo velho. O medo da perseguição, a perspetiva do martírio, o desejo de não perder benesses, a vida cómoda, serão razões suficientes para desistirmos do nosso testemunho? Estaremos sozinhos numa luta inglória contra os “senhores do mundo”? Jesus garantiu-nos que estaria sempre ao nosso lado e que cuidaria de nós (“nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá”). Essa certeza motiva-nos a ser testemunhas e arautos do mundo novo?
  • Jesus recomendou aos discípulos que não se deixassem enganar pelos falsos messias nem contaminar pelos discursos sem nexo dos pregadores afetados pela “febre escatológica”. Jesus deu a entender que os discursos aterradores sobre o fim do mundo e sobre os “castigos” que Deus teria “em agenda” para lidar com os maus é conversa de gente um tanto desequilibrada. Sobre esses “profetas da desgraça”, Jesus disse: “não os sigais”; e, sobre as suas pregações delirantes, disse: “não vos alarmeis”. Entretanto, passaram-se mais de dois mil anos…. Era suposto termos aprendido a lidar com tudo isto. Mas, em pleno séc. XXI, continuamos a difundir e a escutar discursos aterradores sobre cataclismos pavorosos que, segundo alguns “iluminados” irão pôr um ponto final na história dos homens e castigar a humanidade pecadora. O Deus da bondade do amor alguma vez utilizaria o medo para controlar os seus filhos queridos que caminham no mundo? Queremos escutar Jesus, ou queremos escutar discursos irracionais de gente que recorre ao medo para nos submeter? in Dehonianos.

 

Para os leitores

            As leituras propostas para este Domingo são de fácil proclamação, contudo, não devemos descurar a preparação de modo a um exercício mais eficaz do ministério do leitor.

            Na primeira leitura, deve ter-se em atenção a expressão «diz o Senhor do Universo» que se encontra entre travessões e uma vez que é indicação do autor da mensagem deve ser lido num tom diferente do resto do texto.

            Na segunda leitura, é necessário ter em conta o tom exortativo do texto com o cuidado para que não se torne um tom acusatório. Além disso, recomenda-se uma cuidada preparação das pausas e respirações sobretudo nas frases mais longas.

 

ANEXOS: