
26.09.2025
Tradução livre para português
Curiosidades da Bíblia: A história de Caim e Abel
Deus advertiu Caim, dizendo-lhe que o pecado estava à porta e que deveria dominá-lo. No entanto, Caim não deu ouvidos à advertência divina e chamando Abel para o campo num ato de violência brutal, matou o seu irmão.
Padre José Inácio Medeiros, cssr – Instituto Histórico Redentorista
Uma das mais intrigantes histórias da Bíblia é a que trata da diferença entre os irmãos Caim e Abel, colocada bem no começo da narrativa bíblica, no livro do Génesis, diretamente ligada com a origem da humanidade sobre a face da terra.
Caim e Abel eram filhos de Adão e Eva, o primeiro casal criado por Deus. Abel era pastor de ovelhas, enquanto Caim trabalhava como agricultor. Ambos decidiram oferecer sacrifícios a Deus como gratidão pelas suas colheitas e criações. Abel ofereceu o melhor do seu rebanho, enquanto Caim apresentou os melhores frutos da terra.
De acordo com a narrativa, Deus aceitou com agrado a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim. As razões exatas para isso não são explicitamente detalhadas, mas a tradição biblica interpreta que Deus preferiu a oferta de Abel devido à sua sinceridade e dedicação, enquanto Caim teria sido menos generoso ou de coração impuro aquando da sua oferta.
Tomado pelo ciúme e ressentimento, Caim, em vez de procurar melhorar o seu comportamento, deixou que a ira o consumisse. Deus advertiu Caim, dizendo-lhe que o pecado estava à porta e que deveria dominá-lo. No entanto, Caim não deu ouvidos à advertência divina e, chamando Abel para o campo, num ato de violência brutal, matou o seu irmão.
3Ao fim de algum tempo, Caim apresentou ao SENHOR uma oferta de frutos da terra. 4Por seu lado, Abel ofereceu primogénitos do seu rebanho e as suas gorduras. O SENHOR olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, 5mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta. Caim ficou muito irritado e andava de rosto abatido.
6O SENHOR disse a Caim: «Porque estás zangado e de rosto abatido? 7Se procederes bem, certamente voltarás a erguer o rosto; se procederes mal, o pecado deitar-se-á à tua porta e andará a espreitar-te. Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves dominá-lo.»8Entretanto, Caim disse a Abel, seu irmão: «Vamos ao campo.» Porém, logo que chegaram ao campo, Caim lançou-se sobre o irmão e matou-o.9O SENHOR disse a Caim: «Onde está o teu irmão Abel?» Caim respondeu: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» 10O SENHOR replicou: «Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim. 11De futuro, serás amaldiçoado pela terra, que, por causa de ti, abriu a boca para beber o sangue do teu irmão. (Génesis 4,3-11)
Após o assassinato, Deus confrontou Caim, perguntando: “Onde está Abel, teu irmão?”. Caim respondeu: “Não sei; serei eu o responsável pelo meu irmão?”. Então, Deus revelou que o sangue de Abel clamava da terra por justiça. Como punição, Caim foi amaldiçoado e condenado a vaguear pelo mundo como um errante, sem uma terra para cultivar.
Embora Deus tenha infligido uma punição a Caim, também o protegeu, marcando-o com um sinal para que ninguém o matasse durante seu exílio.
Aqui chegados, a narrativa bíblica provoca uma séria inquietação nos leitores: Nas suas andanças pela terra Caim encontrou outras pessoas fora do Paraíso, chegou a contrair matrimónio. Mas, perguntar-se-á: como, seria possível encontrar outras pessoas fora do paraíso que Deus criou?
16Caim afastou-se da presença do SENHOR e foi residir na região de Nod, ao oriente do Éden. 17Caim conheceu a sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Henoc. E começou, depois, a edificar uma cidade, à qual deu o nome de seu filho Henoc.(Génesis 4,16,17)
O drama das relações humanas
A história de Caim e Abel é frequentemente interpretada como uma lição sobre os perigos da inveja, a importância da sinceridade no relacionamento com Deus e as consequências da violência. Também podemos considerá-la uma reflexão sobre a fragilidade das relações humanas e a responsabilidade de cada indivíduo em cuidar de seu próximo. A frase “Sou eu o cuidador do meu irmão?” tornou-se emblemática, destacando o dever moral que os seres humanos têm uns para com os outros.
A história de Caim e Abel narrada no Livro de Génesis, é, também, um dos primeiros relatos de um conflito humano, representando o drama da inveja, do ciúme e da violência entre irmãos.
O célebre biblista Carlos Mester escreveu um livro intitulado “Paraíso terrestre, saudade ou esperança” no qual retoma a narrativa bíblica do paraíso e da criação dos primeiros seres humanos, não numa versão literal, com as suas múltiplas contradições como aquela que terá levado Caim a encontrar pessoas fora do éden, mas numa versão simbólica dos primórdios da humanidade.
O povo hebreu sustentou durante muito tempo uma tradição na qual as histórias eram passadas de geração em geração de forma oral. Até que os primeiros textos bíblicos passassem a ser redigidos, receberam muitas influências dos povos vizinhos. Certas “lendas” e mitos são repetidos nas páginas da bíblia para tentar explicar as perguntas fundamentais que a humanidade sempre se fez: Quem sou eu? de onde vim? para onde vou? como se explica o mal à face da terra?
A história da criação, o fratricídio entre Caim e Abel, o dilúvio e outras narrativas bíblicas são chamados de “mitos originais”, uma tentativa de resposta a estas perguntas fundamentais.
Primeiramente, falar do paraíso designa não um espaço geográfico, mas um lugar de paz e felicidade, que pode ser encontrado em qualquer lugar. Depois, expressa o mundo espiritual pós-morte reservado para todos os que serão salvos.
17Olhai, Eu vou criar um novo céu e uma nova terra; o passado não será mais lembrado e não voltará mais à memória.
18Alegrem-se e rejubilem para sempre por aquilo que vou criar. Olhai, vou criar uma Jerusalém cheia de alegria
e um povo cheio de entusiasmo. (Is 65,17-18).
Curiosidades da Bíblia 17 – A história de Caim e Abel (PDF)