14.08.2025

Tradução livre para português

Curiosidades da Bíblia: Quem eram os Gentios?

A ação missionária de Paulo, conhecido como “o Apóstolo dos Gentios”!

 

Padre José Inácio de Medeiros, cssr – Instituto Histórico Redentorista

 “Conforme diz a Escritura: ‘Todo o que nele crê jamais será dececionado’.  Portanto, não há distinção entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam.  Porque: ‘Todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo!’ (Rom 10, 11-13)

Ao lermos a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, encontramos com frequência a palavra gentios, razão pela qual muitas pessoas perguntam sobre o seu significado.

A palavra, geralmente empregada no plural, designa as nações distintas do povo judeu. Originária do hebraico “goyim” e do grego “ethnos”, os termos significam nações ou povos e ao longo dos textos bíblicos, o termo gentio (s) é utilizado para descrever aquele (s) povo (s) que não fazia (m) parte do povo judeu escolhido por Deus.

Descendentes de Abraão, os judeus consideravam-se, antes da vinda de Cristo, como o povo escolhido por Deus. Como as nações não-judaicas não adoravam o verdadeiro Deus, tendo práticas religiosas diferentes, eram consideradas até mesmo idólatras ou imorais. O termo gentio (s) assumia muitas vezes nas Escrituras Sagradas um significado depreciativo.

Os hebreus estabeleciam uma divisão entre o povo, que definiam como eleito e os gentios, posteriormente denominados pagãos. Os povos asiáticos e europeus que se converteram ao cristianismo, nos seus primórdios, eram considerados gentios.

Podiam, porém, conviver com os judeus, fazendo negócios e habitando entre eles. A Lei de Moisés não permitia maltratar os estrangeiros (Lev 19,33-34). Mas um gentio não tinha o mesmo estatuto que um judeu, não podia casar com um judeu, nem entrar em seu templo. Porém, se um gentio se convertesse ao judaísmo e fosse circuncidado, ficaria mais integrado na comunidade e os seus bisnetos já seriam considerados judeus de pleno direito (Dt 23,7-8).

O Apóstolo dos gentios

No início de sua missão, aos poucos, a Igreja saiu do mundo judaico, entrando no mundo greco-romano. A unidade política chamada de Pax Romana e o contexto cultural do helenisxmo favoreceram em muito a sua expansão.

Num contexto religioso pluralista havia espaço para a propagação do cristianismo, até que começasse a ser considerada uma religião perigosa por desestabilizar o status quo reinante do império, com a pregação de um único Deus vivo e verdadeiro, advindo um processo de perseguição que duraria mais de 300 anos.

A religião popular do império era composta de formas variadas de superstição resultando em consultas à astrologia, crença no destino, magia, interpretação de sonhos, oráculos e profecias. E, acima de tudo, de via estar sempre o culto ao imperador considerado como Deus. O facto de o cristianismo não admitir essas práticas religiosas e pelo facto de a religião ser uma das bases de sustentação do império, as mudanças propostas pelo cristianismo não foram (bem) aceites.

A cultura helénica com a sua filosofia, provocou um sincretismo religioso e cultural que ajudou muito na difusão do cristianismo. O facto de existir uma língua comum chamada de Koiné que era o grego popular usado no comércio e no trato diário favoreceu enormemente a expansão do cristianismo.

É neste contexto que aparece Paulo, acertadamente denominado como “Apóstolo dos Gentios” Desenvolveu a sua missão, realizando diversas viagens missionárias. Em cada cidade visitada, primeiro pregava aos Judeus nas Sinagogas, mas como em geral a sua pregação não era bem aceita, buscava então os gentios e prosélitos.

A pregação de Paulo chamava à conversão. A partir dela acontecia a fundação de comunidades independentes das sinagogas. Depois da sua estadia numa comunidade ele animava-a com visitas e com cartas, das quais diversas e as mais importantes foram conservadas no Novo Testamento.

Não fosse a pregação de Paulo e de seus companheiros como Barnabé e a abertura aos gentios, o rosto da Igreja seria hoje bem diferente, não tendo a projeção geográfica que possui.

A evangelização dos gentios acaba normalizada

Inicialmente houve muita discussão entre os apóstolos se deviam ou não pregar o Evangelho de Jesus Cristo aos gentios e se o evangelho deveria ter ou não o colorido próprio da cultura e da religião dos judeus. Discutia-se com intensidade a necessidade de circuncisão.

Paulo, o “Apóstolo dos Gentios”, assumiu então a missão de evangelizar todas as pessoas, judeus ou gentios, e tinha como única intenção de que todos conhecessem a mensagem e a obra salvadora de Jesus Cristo. Tornou-se um dos primeiros a propor uma evangelização ‘inculturada”.

Inicialmente a salvação era vista como exclusiva do povo de Israel, mas ao longo dos textos bíblicos, foi ficando cada vez mais claro que Deus tem um plano de salvação para todos os povos, incluindo os gentios. No Novo Testamento, a vinda de Jesus Cristo é apresentada como o cumprimento desse plano de salvação e a mensagem do evangelho é estendida a todas as nações e não apenas aos judeus.

A queda de Jerusalém no ano 70 d.C. libertou o cristianismo do messianismo judeu favorecendo a expansão missionária da Igreja nascente junto aos gentios que não haviam conhecido Cristo.

Na sua pregação, Paulo dirige-se primeiro aos Judeus, depois aos pagãos e também ao povo e aos apóstolos em Jerusalém.

Aos poucos vai se constituindo um Kerygma (κήρυγμα) como núcleo central da evangelização dos apóstolos, tendo entre eles a Paulo. O ensinamento direto é feito como testemunho da vida e da ação de Cristo, acompanhado do testemunho de vida e de sinais sobrenaturais. E assim o cristianismo abre-se mais e mais aos gentios e a salvação é dada a conhecer a todos os povos!

 

Curiosidades da Bíblia 10 – Quem eram os gentios (PDF)