Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro de 2021)

«Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos»

(Jo 15,5-9)

Ver Subsídios para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e para todo o ano 2021

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos em 2021 foi preparada pela Comunidade Monástica de Grandchamp [1] . O tema que foi escolhido – Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos – está baseado em João 15,1-17 e expressa a vocação para a oração, reconciliação e unidade na Igreja e na família humana, presente na Comunidade de Grandchamp.

Nos anos da década de 1930 um grupo de mulheres da Reforma que vinha de uma parte da Suíça de língua francesa, conhecido como “Damas de Morges”, redescobriu a importância do silêncio na escuta da Palavra de Deus. Ao mesmo tempo, elas reviveram a prática de retiros espirituais para alimentar sua vida de fé, inspiradas no exemplo de Cristo que se retirava para rezar em um lugar isolado. Elas foram logo seguidas por outras pessoas que participavam regularmente de retiros organizados em Grandchamp, uma pequena povoação perto das margens do Lago Neuchâtel. Tornou-se necessário providenciar um ambiente permanente de oração e acolhimento para o crescente número de hóspedes e pessoas desejosas de se retirarem em oração.

Hoje a comunidade tem cinquenta irmãs, cinquenta mulheres de diferentes gerações, tradições eclesiais, países e continentes. Na sua diversidade as irmãs são uma parábola viva de comunhão. Elas permanecem fiéis a uma vida de oração, vida em comunidade e acolhimento de hóspedes. As irmãs partilham a graça da sua vida monástica com visitantes e voluntários que vão a Grandchamp para um tempo de retiro, silêncio, cura e em busca de sentido de vida.

As primeiras irmãs experimentaram a dor da divisão entre as Igrejas cristãs. Nessa dificuldade foram encorajadas por sua amizade com o abade Paul Couturier, um pioneiro da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Portanto, desde seus mais distantes inícios, a oração pela unidade dos cristãos estava no coração da vida da comunidade. Esse compromisso, juntamente com a fidelidade de Grandchamp aos três pilares – oração, vida comunitária e hospitalidade – está nos fundamentos destes subsídios.

Permanecer no amor de Deus é estar reconciliado consigo mesmo

As palavras francesas para monge e monja (moine/moniale) vêm da palavra grega µónos que significa sozinho e um. Os nossos corações, corpos e mentes, longe de estarem em unidade, estão muitas vezes dispersos, impelidos em direções opostas. O monge ou a monja desejam ser um consigo mesmo e estar unidos em Cristo. «Permanecei em mim como permaneço em vós», diz-nos Jesus (Jo 15,4a). Uma vida bem integrada pressupõe um caminho de autoaceitação, de reconciliação com as nossas histórias pessoais e herdadas.

Jesus disse aos discípulos «permanecei no meu amor» (Jo 15,9). Ele permanece no amor do Pai (Jo 15,10) e tudo o que deseja é partilhar connosco esse amor: «Chamo-vos amigos, porque tudo o que ouvi junto de meu Pai vo-lo fiz conhecer» (Jo 15,15b). Simbolizado na vinha, que é o próprio Jesus, o Pai torna-se o nosso vinhateiro, que nos poda para nos fazer crescer. Isso descreve o que acontece na oração. O Pai é o centro de nossas vidas, ele nos poda e nos plenifica para darmos frutos. Seres humanos assim dão glória ao Pai.

Permanecer em Cristo é uma atitude interior que gera raízes em nós com o correr do tempo. Ela pede espaço para crescer. Pode ser superada pela luta diante das necessidades da vida e é ameaçada por distrações, ruídos, atividades e desafios da vida.

Na difícil situação da Europa de 1938, Geneviève Micheli, que mais tarde se tornaria Madre Geneviève, a primeira mãe da comunidade, escreveu estas linhas que permanecem relevantes ainda hoje:

«Vivemos numa época que é perturbadora e, ao mesmo tempo magnífica, um tempo perigoso onde nada preserva a alma, onde rápidas conquistas totalmente humanas parecem varrer pessoas para longe… E penso que a nossa civilização morrerá nessa loucura coletiva de barulho e velocidade, onde ninguém consegue pensar… Nós, cristãos, que conhecemos o pleno valor de uma vida espiritual, temos uma imensa responsabilidade e precisamos de tomar consciência de a união e a ajuda mútua são fonte de serenidade e criam refúgios de paz, centros vitais onde o silêncio das pessoas clama pela criativa palavra de Deus. É uma questão de vida ou morte».

Permanecer em Cristo para produzir fruto

«O que glorifica meu Pai é que produzais fruto em abundância» (Jo 15,8). Não podemos produzir fruto só por conta própria. Não podemos dar fruto separados da vinha. É a seiva, a vida de Jesus fluindo em nós, que produz fruto. Permanecer no amor de Jesus, sendo um ramo da vinha, é o que permite que sua vida flua através de nós.

Quando ouvimos Jesus, essa vida flui em nós. Jesus convida-nos a deixar a sua palavra permanecer em nós (Jo 15,7) e então tudo o que pedirmos ser-nos-á concedido. Pela palavra dele produzimos fruto. Como pessoas, como comunidade, como Igreja inteira, desejamos unir-nos a Cristo a fim de guardar o seu mandamento de nos amarmos uns aos outros como ele nos tem amado (Jo 15,12).

Permanecendo em Cristo, fonte de todo amor, o fruto da comunhão cresce

A comunhão com Cristo exige comunhão com os outros. Doroteu de Gaza, um monge da Palestina do século VI, expressou-o da seguinte maneira:

«Imaginai um círculo desenhado no chão, isto é, uma linha circular desenhada com um compasso e um centro. Imaginai que esse círculo é o mundo, o centro é Deus e os raios são os diferentes caminhos ou maneiras de viver do povo. Quando os santos, desejando ser desenhados perto de Deus, caminham em direção o meio do círculo, à medida que penetram no seu interior, vão ficando mais próximos uns dos outros; e quanto mais próximos uns dos outros estiverem, mais próximos ficarão de Deus. Compreendereis que a mesma coisa se aplica de modo inverso quando nos afastamos de Deus e vamos para a parte de fora do círculo. Então se torna óbvio que quanto mais nos afastamos de Deus mais nos afastamos uns dos outros e, quanto mais nos afastamos uns dos outros, mais longe de Deus vamos ficando».

Buscar proximidade com outros, viver juntos em comunidade com outros, pessoas às vezes bem diferentes de nós, pode ser um desafio. As irmãs de Grandchamp conhecem esse desafio e para elas o ensinamento do irmão Roger de Taizé [2] é muito útil: «Não há amizade sem sofrimento purificador. Não há amor ao nosso próximo sem cruz. Só a cruz nos permite conhecer a incompreensível profundidade do amor» [3].

As divisões entre os cristãos, que se afastam uns dos outros, são um escândalo porque nos afastam também de Deus. Muitos cristãos, movidos pela tristeza dessa situação, rezam fervorosamente a Deus pela restauração daquela unidade pela qual Jesus orou. A oração de Jesus pela unidade é um convite para voltarmos a ele e assim ficarmos mais próximos uns dos outros, alegrando-nos com a riqueza da nossa diversidade. Como aprendemos vivendo em comunidade, os esforços para a reconciliação são custosos e pedem sacrifícios. Estamos sustentados pela prece de Jesus, que deseja que possamos ser um como ele é um com o Pai para que o mundo creia (Jo 17,21).

Permanecendo em Cristo, cresce o fruto da solidariedade e do testemunho

Embora nós, como cristãos, permaneçamos no amor de Cristo, também vivemos numa criação que geme enquanto espera ser libertada (cf. Rom 8). No mundo percebemos os males do sofrimento e dos conflitos. Através da solidariedade com aqueles que sofrem permitimos que o amor de Cristo circule através de nós. O mistério pascal gera fruto em nós quando oferecemos amor aos nossos irmãos e irmãs e alimentamos esperança no mundo.

Espiritualidade e solidariedade estão inseparavelmente ligadas. Permanecendo em Cristo, recebemos a força e a sabedoria para agir contra as estruturas de injustiça e opressão, para nos reconhecermos por completo como irmãos e irmãs na humanidade, e para sermos criadores de um novo modo de vida, no respeito e em comunhão com toda a criação.

O sumário da regra de vida [4] que as irmãs de Grandchamp recitam juntas, em cada manhã, começa com as palavras «rezemos e trabalhemos para que Deus possa reinar». Oração e vida diária não são duas realidades separadas mas destinam-se a estar unidas. Tudo o que experimentamos é destinado a tornar-se um encontro com Deus.

Para os oito dias da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2021, propomos um itinerário de oração:

Dia 1 – Chamados por Deus: «Vós não me escolhestes, eu vos escolhi» (Jo 15,16a).
Dia 2 – Amadurecendo interiormente: «Permanecei em mim, como permaneço em vós» (Jo 15,4a).
Dia 3 – Formando um corpo: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei» (Jo 15,12b).
Dia 4 – Orando juntos: «Já não vos chamo servos… chamo-vos amigos» (Jo 15,15).
Dia 5 – Deixando-se transformar pela Palavra: «Vós já estais purificados pela Palavra» (Jo 15,3).
Dia 6 – Acolhendo outros: «Ide produzir frutos, frutos que permaneçam» (Jo 15,16b).
Dia 7 – Crescendo na unidade: «Eu sou a vinha, vós sois os sarmentos» (Jo 15,5a).
Dia 8 – Reconciliando-se com toda a criação: «Para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita» (Jo 15,11).

[1] Ver também a apresentação da comunidade no final destes subsídios.

[2] A Comunidade de Grandchamp e a dos Irmãos de Taizé na França estão unidas em primeiro lugar pela a história de suas origens, mas também pelo facto de as irmãs de Grandchamp basearem a sua Regra no livro mencionado na nota 3.

[3] Irmão Roger de Taizé, Les écrits fondateurs, Dieu nous veux heureux (Taizé, Les Ateliers e Presse de Taizé, 2011), 95.

[4] Durante a celebração ecuménica, sugerimos que este texto seja recitado por todos. ver página 6 dos Subsídios para que a seguir se remete.

Subsídios para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e para todo o ano 2021

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