Matrimónio – O sacramento e o rito

Todas as religiões deram um sentido sagrado à união do homem e da mulher, origem da vida e colaboração explícita com a obra criadora de Deus. No AT, o matrimónio foi visto a partir da perspectiva do amor de Javé a Israel, sua esposa. E no NT, a partir da chave do amor de Cristo à sua esposa, a Igreja.

Nos primeiros séculos, não parece ter existido um rito especial para o matrimónio dos cristãos. O bispo de Antioquia, Santo Inácio, por volta do ano 110, diz que seria bom que se casassem com a aprovação do bispo, mas não fala de ritos. Seguindo os costumes dos judeus e de outras culturas, «casam-se como todos», como dizia Diogneto, a partir do consentimento mútuo e, progressivamente, de algum sinal de oficialidade perante a sociedade.

Desde o século IV, temos indícios de uma bênção do sacerdote, em nome da Igreja. Ao mesmo tempo, foram-se desenvolvendo uns ritos simbólicos, tomados de entre os mais expressivos da Bíblia e das diversas culturas: anéis, coroas, vestes, arras, beijos, véu, prendas, esponsais prévios, união das mãos, etc. Também se foram criando textos eucológicos para que o matrimónio tivesse um sentido mais explicitamente cristão e eclesial, até se formarem, a pouco e pouco, os Rituais, diversos nos vários ritos ou famílias litúrgicas do Oriente e do Ocidente. Só a partir de Trento (com o decreto Tametsi, em 1563), se considera necessária a bênção do sacerdote como condição de validade.

O Concílio Vaticano II (cf. SC 77-78) deu orientações para a revisão do Ritual do Matrimónio, pondo-o mais em relação com a Eucaristia e a Palavra de Deus, e convidando as Conferências Episcopais a que o adaptassem às próprias culturas.

Em 1969, apareceu o novo Ritual oficial latino (edição portuguesa de 1970). Em 1990, publicou-se em latim a segunda edição típica, e, em 1993, a edição remodelada em português. Na sua introdução geral, expõem-se os valores teológicos e litúrgicos do sacramento: «A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão total de vida, recebe a sua força e vigor da própria criação, mas para os cristãos é elevada a uma dignidade ainda mais alta, visto ser enumerada entre os Sacramentos da nova aliança» (n. 1). Assim, o amor entre o homem e a mulher, sinal magnífico do amor de Deus à humanidade e da entrega total de Cristo pela sua Esposa, a Igreja, celebram-no os cristãos como um dos sacramentos em que Deus comunica a sua vida e a sua salvação.

«No rito latino, a celebração do Matrimónio entre dois fiéis católicos tem lugar normalmente no decorrer da santa Missa, em virtude da ligação de todos os sacramentos com o Mistério Pascal de Cristo. Na Eucaristia realiza–se o memorial da Nova Aliança, pela qual Cristo se uniu para sempre à Igreja, sua esposa bem-amada, por quem se entregou» (CIC 1621).

Na celebração sacramental, os elementos mais característicos são, depois da escuta da Palavra de Deus, o diálogo de consentimento dos contraentes, que pede e recebe aquele que a ele assiste, e a oração em que se invoca a bênção de Deus sobre os esposos, concluindo com a comunhão eucarística.

Fonte – José Aldazábal – Secretariado Nacional da Liturgia