Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor – Ano C – 20 abril 2025

Viver a Palavra

Como testemunha S. Pedro, Jesus que durante a vida passou fazendo bem, curando aqueles que Dele se aproximavam, anunciando a Boa Nova da Paz e do Perdão e foi condenado à morte injustamente. Ele que procurou levantar os caídos, Ele que procurou libertar os que estavam prisioneiros, foi crucificado, preso a um madeiro como um condenado. Descido da cruz, foi depositado num sepulcro novo cavado na rocha e aos olhos do mundo tinha acabado ali a sua história. Estava calado o Profeta da Galileia! Tinha dito coisas bonitas, mas tinha morrido; tinha curado muitas pessoas, mas deixou-se morrer!

Porém, a manhã de Páscoa irrompeu na história como tempo novo que abre as portas da eternidade. As mulheres acorrem ao sepulcro e veem removida a pedra. Pedro e João, alvoraçados pelas palavras daquelas que se fizeram as primeiras anunciadoras da ressurreição, contemplam um sepulcro vazio, contendo apenas os panos que envolveram o Seu corpo.

Mas, na verdade, o sepulcro não está vazio, está cheio de sinais da vida ressuscitada Daquele que é a verdadeira vida e o doador de sentido para a humanidade. A pedra removida, os panos, os Anjos, a Boa notícia da Ressurreição fazem ecoar no tempo e na história a certeza de que a morte não consegue calar a Voz que anuncia o amor, pois como afirma o livro do Cântico dos Cânticos: «o amor é mais forte do que a morte» (Ct 8,6).

«Cristo Ressuscitou! Aleluia! Aleluia». Estas palavras cheias de alegria e de esperança são repetidas mundo fora por milhões de homens e mulheres, trazendo a certeza de que nem a morte, nem a pedra do sepulcro, por mais pesada que seja, conseguiu conter o grito do amor que brotou do coração de Deus e que em Jesus Cristo quer abraçar o coração da humanidade.

Dois mil anos depois, Deus continua a manifestar os seus sinais e prodígios, continua vivo e atuante na história, irrompendo como luz que desfaz as nossas trevas, como amor que destrói o ódio, como paz que dissipa a guerra, como esperança que nos aponta o caminho da eternidade.

Mas afinal, que tem a Ressurreição de Jesus a ver com a nossa vida? Jesus Ressuscitou, mas que implicação tem essa notícia no nosso quotidiano?

Na verdade, a Ressurreição de Jesus tem tudo que ver com a nossa vida. O mistério pascal transfigura a nossa existência e convida-nos a viver o nosso quotidiano a partir deste horizonte de esperança que brota da ressurreição. S. Paulo recorda-nos: «se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra».

A meta que Jesus nos aponta configura os nossos passos. Chamados à santidade, somos chamados a viver no aqui e agora do tempo e da história, a alegria que um dia será plena e definitiva no Céu. De olhos postos na meta da nossa existência e de pés bem assentes na terra, somos desafiados a ser testemunhas da ressurreição, através de gestos concretos de proximidade e encontro, que geram vida nova e oferecem uma esperança renovada. A luz que brota da Páscoa de Jesus tem de chegar a todos os lugares, sobretudo às periferias existenciais ainda marcadas pela marginalização e pela indiferença, pela dor e pelo sofrimento, pela humilhação e o desprezo. Por isso, façamos das nossas vidas lugares de anúncio da vida nova que brota da Páscoa, pois como escreveu o Papa Francisco na exortação apostólica pós-sinodal aos jovens: «Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida» (CV 1). in Voz Portucalense      

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A alegria que brota da Ressurreição do Senhor prolonga-se ao longo de cinquenta dias na celebração do Tempo Pascal. Os diversos sinais litúrgicos, como o círio pascal, os ritos da aspersão, entre outros sinais e gestos, favorecem a tomada de consciência de que o Tempo Pascal se prolonga até ao Pentecostes. Porém, ao contrário do Tempo Quaresmal onde se propõem tantas atividades e dinâmicas, frequentemente o Tempo Pascal aparece desprovido de uma proposta de reflexão e vivência além da Eucaristia Dominical. Por isso, seria de grande proveito para os fiéis, a valorização deste tempo com a proposta de momentos de oração e reflexão como a Via Lucis, as Catequeses ou celebrações mistagógicas, entre outras propostas criativas e dinâmicas, em jeito de saída missionária, que estimulem a comunidade a testemunhar a alegria do Ressuscitado. in Voz Portucalense      

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Em dia de Páscoa, continuamos o Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

E faremos isso….

Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA IAtos dos Apóstolos 10,34.37-43

Naqueles dias,
Pedro tomou a palavra e disse:
«Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia,
a começar pela Galileia,
depois do batismo que João pregou:
Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré,
que passou fazendo o bem
e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio,
porque Deus estava com Ele.
Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez
no país dos judeus e em Jerusalém;
e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz.
Deus ressuscitou-O ao terceiro dia
e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo,
mas às testemunhas de antemão designadas por Deus,
a nós que comemos e bebemos com Ele,
depois de ter ressuscitado dos mortos.
Jesus mandou-nos pregar ao povo
e testemunhar que Ele foi constituído por Deus
juiz dos vivos e dos mortos.
É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho:
quem acredita n’Ele
recebe pelo seu nome a remissão dos pecados.

CONTEXTO

Todos os anos a liturgia propõe-nos, ao longo dos domingos do tempo pascal, a leitura dos Atos dos Apóstolos. Obra de Lucas (que também foi o autor do 3.º Evangelho), os Atos é o livro “pascal” por excelência: conta-nos como os discípulos, depois de terem feito a experiência de encontro com o Ressuscitado e animados pelo Espírito que lhes foi enviado, abriram as portas da casa onde se encontravam escondidos e tornaram-se testemunhas de Jesus e do seu projeto. Deram assim cumprimento ao mandato que Jesus lhes tinha deixado quando se despediu deles e partiu ao encontro do Pai (cf. At 1,8).

O “tempo” dos Atos é o “tempo” da Igreja (a comunidade que nasceu de Jesus e que continua a viver de Jesus) e o “tempo” do Espírito. Nesta nova fase da história da salvação, compete aos discípulos, animados e conduzidos pelo mesmo Espírito que ungiu Jesus e o acompanhava na sua missão, levarem ao mundo a salvação de Deus. Os discípulos são nesta nova fase, como Jesus o tinha sido enquanto andou pelas aldeias e vilas da Galileia, o rosto visível do Deus salvador e libertador. O seu testemunho deve percorrer um “caminho” que vai de Jerusalém – no Antigo Testamento, o lugar onde devia manifestar-se definitivamente a salvação de Deus – até “aos confins da terra”. É esse, precisamente, o “percurso” que o livro dos Atos nos apresenta.

A execução de Estevão (um dos diáconos da Igreja de Jerusalém) e a perseguição que se abateu, logo depois, sobre os cristãos de Jerusalém fez com que diversos membros da comunidade saíssem da cidade e buscassem refúgio nas regiões vizinhas (cf. At 8,1). Assim, o Evangelho de Jesus chegou à Samaria, a Damasco e a Antioquia da Síria. Mais tarde, sobretudo por ação de Paulo, a Boa Nova de Jesus foi anunciada na Ásia Menor e na Grécia. Os Atos terminam com Paulo a chegar a Roma: o anúncio da salvação de Deus tinha alcançado o coração do mundo gentio; era uma proposta de salvação para todos os homens e mulheres que a quisessem acolher.

Um dos episódios importantes desta saga missionária aconteceu em Cesareia Marítima (cf. At 10,24-48), a cidade da costa mediterrânica que era a sede do poder romano na Palestina. Os protagonistas desse episódio foram o apóstolo Pedro e um centurião romano chamado Cornélio. Pedro, convocado pelo Espírito (cf. At 10,19-20) e respondendo a um pedido de Cornélio (cf. At 10,22), foi a Cesareia, entrou em casa do centurião, expôs-lhe o essencial da fé cristã e batizou-o, bem como a toda a sua família (cf. At 10,23b-48). Cornélio foi o primeiro pagão a ser acolhido na Igreja de Jesus. É a primeira vez que um dos membros proeminentes da comunidade cristã (Pedro) admite que o Evangelho de Jesus é uma Boa Notícia destinada a todos os homens e mulheres, de todas as raças e culturas.

O texto que, neste dia de Páscoa, nos é proposto como primeira leitura, é parte da “instrução” de Pedro a Cornélio e sua família. Trata-se de uma composição de Lucas onde aparecem os elementos fundamentais do kerigma cristão sobre Jesus. in Dehonianos.

INTERPELAÇÕES

  • A ressurreição de Jesus é a consequência de uma vida gasta a “fazer o bem e a libertar os oprimidos”. Isso significa que, sempre que alguém – na linha de Jesus – se esforça por vencer o egoísmo, a mentira, a injustiça e por fazer triunfar o amor, está a ressuscitar; significa que, sempre que alguém – na linha de Jesus – se dá aos outros e manifesta, em gestos concretos, a sua entrega aos irmãos, está a construir vida nova e plena. Estamos a ressuscitar, porque caminhamos pelo mundo fazendo o bem e libertando os oprimidos, ou a nossa vida é um repisar os velhos esquemas do egoísmo, do orgulho, do comodismo?
  • A ressurreição de Jesus significa também que o medo, a morte, o sofrimento e a injustiça deixam de ter poder sobre a pessoa que ama, que se dá, que partilha a vida. Ela tem assegurada a Vida plena – essa Vida que os poderes do mundo não podem destruir, atingir ou restringir. Ela pode, assim, enfrentar o mundo com a serenidade que lhe vem da fé. Estamos conscientes disto, ou deixamo-nos dominar pelo medo, sempre que temos de agir para combater aquilo que rouba a vida e a dignidade, a nós e a cada um dos nossos irmãos?
  • Aos discípulos pede-se que sejam as testemunhas da ressurreição. Nós não vimos o sepulcro vazio; mas fazemos, todos os dias, a experiência do Senhor ressuscitado, que está vivo e caminha ao nosso lado nos caminhos da história. A nossa missão é testemunhar essa realidade; no entanto, o nosso testemunho será oco e vazio se não for comprovado pelo amor e pela doação, as marcas da vida nova de Jesus. O nosso testemunho da ressurreição é coerente e credível e traduz-se em gestos concretos de amor, de partilha, de serviço? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)

 

Refrão 1: Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.

 

Refrão 2: Aleluia.

Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.

Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.

A mão do Senhor fez prodígios,
a mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei de viver
para anunciar as obras do Senhor.

A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.

 

LEITURA II – Colossenses 3,1-4

Irmãos:
Se ressuscitastes com Cristo,
aspirai às coisas do alto,
onde está Cristo, sentado à direita de Deus.
Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
Porque vós morrestes
e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.

CONTEXTO

Colossos era uma cidade da antiga Frígia (Ásia Menor), situada a cerca de cento e oitenta quilómetros de Éfeso, a dezasseis de Laodiceia e a vinte de Hierápolis. Pertencia à Província romana da Ásia. Em tempos recuados tinha sido cidade rica e populosa; mas no tempo de Paulo tinha perdido o seu esplendor e importância.

Não foi Paulo que evangelizou Colossos. Durante a longa estadia de Paulo em Éfeso, no decurso da sua terceira viagem, Epafras, discípulo de Paulo e colossense de origem (cf. Col 4,12), fundou a comunidade (cf. Col 1,7), enquanto as de Hierápolis e Laodiceia (cf. Col 4,13). A maior parte dos membros da comunidade cristã de Colossos tinham vindo do paganismo; mas havia também um bom grupo de judeo-cristãos.

Quando escreveu a Carta aos Colossenses, Paulo estava na prisão (em Roma?). Epafras visitou-o e falou-lhe da “crise” por que estava a passar a Igreja de Colossos. Alguns doutores locais ensinavam doutrinas estranhas, que misturavam elementos cristãos, judaicos e pagãos: especulações acerca dos anjos (cf. Col 2,18), práticas ascéticas, rituais legalistas, prescrições sobre os alimentos e a observância de determinadas festas (cf. Col 2,16.21). Tudo isso deveria (na opinião desses “mestres”) completar a fé em Cristo, comunicar aos crentes um conhecimento superior de Deus e dos mistérios cristãos e possibilitar uma vida religiosa mais autêntica. Contra este sincretismo religioso, Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo: Ele é a imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criatura, o mediador da Criação, aquele que Deus enviou para reconciliar todas as coisas, a cabeça do Corpo que é a Igreja, o Senhor de todos os poderes e dominações (cf. Cl 1,15-20).

O texto que a liturgia deste domingo de Páscoa nos propõe como segunda leitura é a introdução à reflexão moral da carta (cf. Col 3,1-4,6). Depois de apresentar a centralidade de Cristo no projeto salvador de Deus (cf. Col 1,13-2,23), Paulo recorda aos cristãos de Colossos que é preciso viver de forma coerente e verdadeira o compromisso assumido com Cristo. in Dehonianos.

INTERPELAÇÕES

  • O Batismo introduz-nos numa dinâmica de comunhão com Cristo ressuscitado. A partir do Batismo, Cristo passa a ser o centro e a referência fundamental à volta da qual se constrói toda a vida do crente. Qual o lugar que Cristo ocupa na nossa vida? Temos consciência de que o nosso Batismo significou um compromisso com Cristo e uma identificação com Cristo?
  • A identificação com Cristo implica o assumir uma dinâmica de Vida nova, despojada do pecado e feita doação a Deus e aos irmãos. O cristão torna-se então, verdadeiramente, alguém que “aspira às coisas do alto” – quer dizer, alguém que, embora vivendo nesta terra e desfrutando das realidades deste mundo, tem como referência última os valores de Deus. Não se pede ao crente que seja um alienado, alguém que viva a olhar para o céu e que se demita do compromisso com o mundo e com os irmãos; mas pede-se-lhe que não faça dos valores do mundo a sua prioridade, a sua referência última. A nossa vida tem sido uma caminhada coerente com essa dinâmica de Vida nova que começou no dia em que fomos batizados? Esforçamo-nos, realmente, por nos despojarmos do “homem velho” e por nos revestirmos do “Homem Novo”, do homem que se identifica com Cristo e que vive no amor, no serviço, na doação aos irmãos?
  • Paulo, a partir do exemplo de Cristo, garante-nos que esse caminho de despojamento do “homem velho” não é um caminho de derrota e de fracasso; mas é um caminho de glória, no qual se manifesta a realidade da Vida eterna, da Vida verdadeira. Neste dia de Páscoa, diante do túmulo vazio e da certeza de que Jesus triunfou da morte e do pecado, reconhecemos a verdade do testemunho de Paulo?
  • Quando, de alguma forma, estou envolvido na preparação ou na celebração do sacramento do Batismo, tenho consciência – e procuro passar essa mensagem – de que o sacramento não é um ato tradicional ou social (que, por acaso, até proporciona fotografias bonitas), mas um compromisso sério e exigente com Cristo? in Dehonianos.

SEQUÊNCIA PASCAL

 

À Vítima pascal
ofereçam os cristãos
sacrifícios de louvor.

O Cordeiro resgatou as ovelhas:
Cristo, o Inocente,
reconciliou com o Pai os pecadores.

A morte e a vida
travaram um admirável combate:
Depois de morto,
vive e reina o Autor da vida.

Diz-nos, Maria:
Que viste no caminho?

Vi o sepulcro de Cristo vivo
e a glória do Ressuscitado.
Vi as testemunhas dos Anjos,
vi o sudário e a mortalha.

Ressuscitou Cristo, minha esperança:
precederá os seus discípulos na Galileia.

Sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos:
Ó Rei vitorioso,
tende piedade de nós.

EVANGELHO João 20,1-9

No primeiro dia da semana,
Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro
e viu a pedra retirada do sepulcro.
Correu então e foi ter com Simão Pedro
e com o discípulo predileto de Jesus
e disse-lhes:
«Levaram o Senhor do sepulcro
e não sabemos onde O puseram».
Pedro partiu com o outro discípulo
e foram ambos ao sepulcro.
Corriam os dois juntos,
mas o outro discípulo antecipou-se,
correndo mais depressa do que Pedro,
e chegou primeiro ao sepulcro.
Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou.
Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira.
Entrou no sepulcro
e viu as ligaduras no chão
e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus,
não com as ligaduras, mas enrolado à parte.
Entrou também o outro discípulo
que chegara primeiro ao sepulcro:
viu e acreditou.
Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura,
segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

CONTEXTO

O Quarto Evangelho (cf. Jo 4,1-19,42) apresenta duas partes. Na primeira, João descreve a atividade criadora e vivificadora do Messias, no sentido de dar vida e de criar um Homem Novo – um homem livre da escravidão do egoísmo, do pecado e da morte (para João, o último passo dessa atividade destinada a fazer surgir o Homem Novo foi, precisamente, a morte na cruz: aí, Jesus apresentou a última e definitiva lição – a lição do amor total, que não guarda nada para si, mas faz da vida um dom radical ao Pai e aos irmãos). Na segunda parte do Evangelho (cf. Jo 20,1-31), João apresenta o resultado da ação de Jesus e mostra essa comunidade de Homens Novos, recriados e vivificados por Jesus, que com Ele aprenderam a amar com radicalidade e a quem Jesus abriu as portas da Vida definitiva. Trata-se dessa comunidade de homens e mulheres que se converteram e aderiram a Jesus e que, em cada dia – mesmo diante do sepulcro vazio – são convidados a manifestar a sua fé no Filho de Deus que “ergueu a sua tenda no meio dos homens” para lhes dar Vida em abundância.

Jesus tinha sido crucificado na manhã de sexta-feira (por volta das nove horas) e tinha morrido na cruz por volta das três horas da tarde desse mesmo dia. No final da tarde, o seu corpo morto tinha sido descido da cruz e depositado, à pressa, num “túmulo novo”, situado num horto, perto do lugar da crucificação (cf. Jo 19,41). Como era habitual, na tradição judaica, uma pedra redonda tinha sido rolada para tapar a entrada do sepulcro. Os rituais fúnebres não tinham sido observados em pormenor, uma vez que nesse dia, ao pôr do sol, começava o sábado e também a celebração da Páscoa judaica (cf. Jo 19,42). Aqueles que lidaram com o sepultamento de Jesus queriam voltar a casa, rapidamente, porque queriam “comer a Páscoa”, nessa noite, em família. Precisavam de se afastar do corpo morto de Jesus para não ficarem “impuros” e serem ritualmente impedidos de celebrar a Páscoa.

Passado o dia festivo da Páscoa, no “yom rishon”, o primeiro dia da semana, Maria Madalena – uma das mulheres que tinha seguido Jesus desde a Galileia até Jerusalém e que tinha estado junto da cruz de Jesus até à sua morte – dirigiu-se ao túmulo. Presumivelmente levava perfumes para ungir o corpo morto de Jesus (cf. Mc 16,1). Perguntava-se como iria conseguir afastar a enorme pedra que tinha sido rolada, na sexta-feira, para tapar a entrada do sepulcro de Jesus. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • A ressurreição de Jesus é a resposta de Deus aos que pretenderam, de forma injusta e criminosa, calar Jesus e banir da história o seu projeto do Reino de Deus. Deus não permitiu que o mal vencesse; Deus não permitiu que a violência, a injustiça, a maldade e a morte tivessem a última palavra; Deus não aceitou que o mundo ficasse refém daqueles que queriam continuar a viver na escuridão. Ao ressuscitar Jesus, Deus deu-Lhe razão; afirmou, alto e bom som, que o caminho proposto por Jesus – o do amor que se dá até às últimas consequências, o do serviço simples e humilde aos irmãos, o do perdão sem limites – é o caminho que leva à Vida. Neste dia de Páscoa, diante do túmulo de Jesus vazio, tenho alguma dúvida em abraçar tudo aquilo que Jesus me disse, com as suas palavras e com os seus gestos, sobre a forma de chegar à Vida definitiva, à Vida eterna?
  • A vitória de Jesus sobre o egoísmo, a violência, a maldade e a morte muda a nossa perspetiva sobre a forma de encarar tudo aquilo que, de forma objetiva, faz sofrer os homens e mulheres que caminham ao nosso lado. Ficar do lado dos que são magoados e crucificados, combater a injustiça e a opressão nas suas mil e uma formas, gastar a vida a servir os mais frágeis e abandonados, recusar um mundo que se constrói sobre violência e prepotência, lutar até ao dom da própria vida para vencer tudo o que gera morte não é algo absurdo. É, segundo Deus, o caminho que fará com que a nossa vida valha a pena e tenha pleno sentido. Talvez essa opção nos deixe cheios de feridas e cicatrizes; mas serão feridas e cicatrizes que Deus curará. Estamos dispostos a dar a vida para que outros tenham Vida? Estamos dispostos a correr riscos para levar a libertação ao mundo e aos nossos irmãos? Cremos firmemente, com toda a nossa alma e com todas as nossas forças, que uma vida gasta a servir não é uma vida fracassada, mas é uma vida que termina em ressurreição?
  • Pedro parece ter sentido dificuldade, diante do túmulo vazio, em “acreditar” que Jesus estivesse vivo e que aquele caminho de cruz tivesse conduzido à Vida. Na verdade, em muitos passos do caminho que percorreu com Jesus, Pedro manifestou dificuldade em sintonizar com Jesus e com a sua lógica. Ele estava habituado a funcionar de acordo com outros valores e padrões, numa lógica muito “do mundo”. Os interesses de Pedro nem sempre coincidiam com a visão de Jesus. Parece estranho, para alguém que andava com Jesus? Teoricamente, sim. Na prática, talvez reconheçamos, nas hesitações e recusas de Pedro, as nossas indecisões, a nossa dificuldade em arriscar, a nossa dificuldade em abandonarmos os critérios “do mundo” para abraçarmos a lógica de Deus. Será assim? O que podemos fazer para sermos menos “Pedro” e mais discípulos que vão, sem hesitar, atrás de Jesus?
  • A fotografia que o evangelista João nos apresenta do “discípulo predileto” é a fotografia de um discípulo que vive em comunhão com Jesus, que se identifica com Jesus e com os seus valores, que interiorizou e absorveu a lógica da entrega incondicional, do dom da vida, do amor total. Por isso, não tem qualquer problema em aceitar que o caminho seguido por Jesus conduz à ressurreição, à Vida nova. Ele “acredita” em Jesus. Revemo-nos nesta figura? Vemo-la como uma proposta com a qual gostaríamos de nos identificar? O que podemos fazer para sermos verdadeiramente “discípulo predileto”?
  • A ressurreição de Jesus é a vitória da Vida sobre a morte, da verdade sobre a mentira, da esperança sobre o desespero, da justiça sobre a injustiça, da alegria sobre a tristeza, da luz sobre as trevas. Abre-nos perspetivas completamente novas e garante-nos o triunfo de Deus sobre as forças que querem destruir o mundo e os homens. Nós, que acreditamos e celebramos a ressurreição de Jesus, somos testemunhas da vitória da Vida junto dos nossos irmãos paralisados pelo medo e pelo pessimismo? A mensagem que levamos ao mundo é uma mensagem de alegria e de esperança que tem as cores da manhã de Páscoa? in Dehonianos.

 

Para os leitores:

A primeira leitura é marcada por um longo discurso de Pedro anunciando a ressurreição de Jesus. A proclamação desta leitura deve ter em atenção as longas frases com diversas orações que exigem um especial cuidado na respiração e nas pausas.

A brevidade da segunda leitura, tirada da Carta aos Colossenses, não deve diminuir o cuidado na sua preparação. A ressurreição de Cristo é fonte de transformação da vida dos fiéis. Deste modo, a proclamação desta leitura deve ser marcada pelo tom exortativo, valorizando as formas verbais no imperativo: «aspirai» e «afeiçoai-vos».

 

I Leitura: (ver anexo)

II Leitura: (ver anexo)

 

ANEXOS: