Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria – Ano C – 08.12.2024

Nota inicial

Segundo a ordem de precedência indicada na tabela dos dias litúrgicos, os Domingos do Advento têm precedência sobre todas as solenidades, devendo aquelas que ocorrem nesses domingos ser transferidas para a segunda-feira seguinte. É o que deveria acontecer este ano com a solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria. Porém, pelo significado desta solenidade em Portugal, a Comissão Episcopal de Liturgia obteve da Congregação do Culto Divino permissão para a celebrar no dia próprio, 8 de dezembro, com as seguintes condições: 1) «que, na Missa, a II Leitura seja a do domingo II do Advento; 2) que se faça menção deste domingo na homilia; 3) que a oração conclusiva da oração dos fiéis seja a oração coleta do mesmo domingo».

 

Viver a Palavra

Percorrendo o itinerário de Advento, somos convidados a colocar o nosso olhar em Maria, a Imaculada Conceição. Apesar dos Domingos do Advento terem precedência sobre todas as solenidades, dado o significado desta solenidade para Portugal, celebramos, neste segundo Domingo de Advento, a Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria.

Celebrar esta solenidade não significa fazer uma pausa no Tempo de Advento, mas viver este tempo ao jeito de Maria que, visitada por Deus, se deixa surpreender pelas maravilhas do Seu amor e se disponibiliza totalmente para aquilo que Deus quer realizar nela. Este tempo litúrgico que nos prepara para a celebração do Natal do Senhor é o tempo da espera alegre e confiante do Deus que em Jesus Cristo nos visita e que nos convida a ser instrumentos do Seu amor e da Sua graça para que Ele possa continuar a escrever em cada tempo e em cada lugar a história da salvação.

Deus visita-nos! Vem ao nosso encontro! Por isso, continua a ressoar no tempo e na história a primeira pergunta que Deus dirige à humanidade: «Onde estás?». E nós? Como respondemos a este Deus que nos procura? Adão, procurado por Deus, esconde-se, porque estava nu, porque reconhecia a sua fragilidade e o seu pecado. Tem vergonha de se apresentar diante de Deus porque reconhece a sua pequenez. Como Adão, também nós reconhecemos a nossa fragilidade e o nosso pecado e temos vergonha da nudez que revela as nossas fraquezas e misérias.

Porém, ao celebrar a solenidade da Imaculada Conceição, somos convidados a colocar o olhar na Jovem de Nazaré, que com toda a certeza, vivia cheia dos sonhos e projetos próprios da sua idade e que, visitada por Deus, não esconde o receio e a perplexidade: «como será isto, se eu não conheço homem?». Maria reconhece-se pequena para o projeto grandioso que o Anjo lhe comunica. Contudo, visitada por Deus, Maria não se esconde, mas coloca a sua vida nas mãos de Deus e disponibiliza-se totalmente: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

A nossa fragilidade e o nosso pecado não são um obstáculo à misericórdia de Deus nem um impedimento para que Deus realize em nós a Sua obra. A vocação de cada um de nós não é um mero desenvolvimento ou potenciamento das nossas capacidades e qualidades, mas o caminho através do qual nos disponibilizamos para o acontecer de Deus nas nossas vidas: «o Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra».

É o Espírito Santo que conduz a história e que opera em nós a obra de Deus. Nós somos convidados a colocar a nossa confiança em Deus e a abrir o nosso coração à Sua vontade. Somos convidados a superar os nossos medos e receios e, à pergunta «Onde estás?», colocada a Adão e a cada um de nós, somos chamados a responder com a generosidade e a disponibilidade de Maria. Somos desafiados a fazer o itinerário que nos conduz do medo à disponibilidade, do pecado e da fragilidade que nos envergonha e nos faz esconder, ao perdão recebido que nos faz partir na aventura do amor. «A Deus nada é impossível» e também não será para cada um de nós, se nos abandonarmos totalmente nas mãos Daquele que torna possíveis os impossíveis da nossa vida. in Voz Portucalense.

                                           + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +

Com o Tempo de Advento damos início a um novo Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, integrados na dinâmica de Advento, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA I – Génesis 3,9-15.20

Depois de Adão ter comido da árvore,
o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?»
Ele respondeu:
«Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
Disse Deus:
«Quem te deu a conhecer que estavas nu?
Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
Adão respondeu:
«A mulher que me destes por companheira
deu-me do fruto da árvore e eu comi».
O Senhor Deus perguntou à mulher:
«Que fizeste?»
E a mulher respondeu:
«A serpente enganou-me e eu comi».
Disse então o Senhor à serpente:
«Por teres feito semelhante coisa,
maldita sejas entre todos os animais domésticos
e entre todos os animais selvagens.
Hás de rastejar e comer do pó da terra
todos os dias da tua vida.
Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a descendência dela.
Esta te esmagará a cabeça
e tu a atingirás no calcanhar».
O homem deu à mulher o nome de ‘Eva’,
porque ela foi a mãe de todos os viventes.

CONTEXTO

O relato javista de Gn 2,4b-3,24 sobre as origens da vida e do pecado (ao qual pertence o texto que hoje nos é proposto como primeira leitura) é um texto do séc. X a.C., que deve ter aparecido em Judá na época do rei Salomão. Apresenta-se num estilo exuberante e vivo e parece ser obra de um catequista popular, que ensina recorrendo a imagens sugestivas, coloridas e fortes.

Não podemos, de forma nenhuma, ver neste texto uma reportagem realista de acontecimentos passados na aurora da humanidade. O seu autor não pretende deixar-nos uma informação factual sobre algo que ele viu ou que lhe contaram; mas está a dizer-nos, com a linguagem do homem de fé, que na origem da vida e dos seres humanos está Deus; e que na origem do mal e do pecado estão as opções erradas que todos os dias os homens fazem. Trata-se, portanto, de uma página de catequese.

Esta longa reflexão sobre as origens da vida e do mal que desfeia o mundo está estruturada num esquema tripartido, com duas situações claramente opostas e uma realidade central que aparece como charneira e ao redor da qual giram a primeira e a terceira parte… Na primeira parte (cf. Gn 2,4b-25), o autor descreve a criação do paraíso e do homem; apresenta a criação de Deus como um espaço ideal de felicidade, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão total com o criador e com as outras criaturas. Na segunda parte (cf. Gn 3,1-7), o autor descreve o pecado do homem e da mulher; mostra como as opções erradas do homem introduziram na comunhão do homem com Deus e com o resto da criação fatores de desequilíbrio e de morte. Na terceira parte (cf. Gn 3,8-24), o autor apresenta o homem e a mulher confrontados com o resultado das suas opções erradas e as consequências que daí advieram, quer para o homem, quer para o resto da criação.

Na perspetiva do catequista javista, Deus criou o homem para a felicidade… Então, pergunta ele, como é que hoje conhecemos o egoísmo, a injustiça, a violência que destroem o mundo e a felicidade do homem? A resposta é: algures na história humana, o homem que Deus criou livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu na criação boa de Deus dinamismos de sofrimento e de morte.

O nosso texto integra a terceira parte do tríptico. Adão e Eva – que representam os homens e as mulheres de todas as épocas, ávidos de autossuficiência e de liberdade absoluta – tinham tomado a opção de ir contra as indicações de Deus (cf. Gn 3,1-7). Agora, sentindo-se culpados, escondem-se envergonhados “por entre o arvoredo do jardim” (Gn 3,8b).in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • O mal é uma realidade omnipresente, que a cada instante enche de sombras a história do mundo e a vida dos homens. Apresenta-se na forma de egoísmo, de arrogância, de mentira, de opressão, de injustiça, de violência. Impede-nos de desfrutar de uma vida harmoniosa, pacífica, fecunda, verdadeiramente feliz e realizada. Quando o mal nos fere, sentimos incompreensão, frustração, desânimo, acusação, revolta… Magoados e indignados, reagimos de forma intempestiva e irracional. Por vezes culpamos Deus e acusámo-lo de não se importar connosco, de deixar que o mal se imponha e deixe feridas irreparáveis nas nossas vidas. Ao culpar Deus, estaremos a ser justos e razoáveis? A catequese bíblica garante-nos que o mal não vem de Deus e que Deus não se conforma com o mal. Deus criou-nos para a vida e fez tudo para que não nos tornássemos prisioneiros do mal. Deus ama-nos com um amor sem igual e só quer o nosso bem. Desde o início da história humana mostrou-nos, com paciência infinita, quais os caminhos que devíamos percorrer para chegar à vida plena. Faz algum sentido culparmos Deus, de alguma forma, pelo mal que desfeia o mundo e que traz sofrimento à nossa vida?
  • A catequese bíblica ensina, também, que o mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, da nossa arrogância, do nosso egoísmo e autossuficiência. Quando o homem escolhe ignorar as propostas de Deus e prescindir do amor, passa a construir a sua vida à volta dos seus projetos pessoais e dos seus interesses egoístas. O resultado de tudo isso traduz-se em injustiças, prepotências, mentiras, pecado… Não teremos, nós também, a nossa quota parte de responsabilidade no imenso caudal de mal que sufoca o mundo e afoga os homens? Procuramos conduzir a nossa vida de acordo com as propostas de Deus e seguir as indicações que Ele nos dá, ou preferimos fazer as nossas escolhas pessoais, à margem de Deus e até mesmo contra Deus?
  • A opção por caminhos de egoísmo e de pecado, contra as indicações de Deus, leva-nos ao confronto com os outros homens e mulheres que “viajam” ao nosso lado. Quando nos erigimos em centro e referência de tudo, os outros deixam de ser irmãos, para passarem a ser uma ameaça ao nosso bem-estar, à nossa segurança, ao nosso comodismo, aos nossos interesses pessoais. De tudo isso resulta o conflito, a violência, a exploração, a injustiça; criamos barreiras que nos separam uns dos outros; cortamos as pontes de entendimento e de colaboração; riscamos a fraternidade do dicionário da nossa vida; destruímos a união e a comunhão que nos deviam unir. Como é que nos situamos face aos meus irmãos? Como é que nos relacionamos com aqueles que são diferentes, que invadem o nosso espaço, que atrapalham os nossos interesses, que nos questionam e nos interpelam?
  • O nosso egocentrismo, além de afetar a nossa relação com os outros homens e mulheres, também afeta a nossa relação com o resto da criação. Quando só os nossos interesses pessoais comandam as nossas decisões e ações, a natureza deixa de ser a casa comum que Deus ofereceu a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar algo que usamos e exploramos em nosso proveito, sem considerar a sua dignidade, beleza e grandeza. O que é que a criação de Deus significa para nós: algo que podemos usar e explorar de forma egoísta, ou algo que Deus ofereceu a todos os homens e mulheres – inclusive àqueles que hão de vir depois de nós – e que devemos respeitar, guardar e cuidar com amor? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)

Refrão: Cantai ao Senhor um cântico novo:
o Senhor fez maravilhas.

 

Cantai ao Senhor um cântico novo,
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.

 

LEITURA II – Filipenses 1,4-6.8-11

Irmãos:
Em todas as minhas orações,
peço sempre com alegria por todos vós,
recordando-me da parte que tomastes na causa do Evangelho,
desde o primeiro dia até ao presente.
Tenho plena confiança
de que Aquele que começou em vós tão boa obra
há de levá-la a bom termo até ao dia de Cristo Jesus.
Deus é testemunha
de que vos amo a todos no coração de Cristo Jesus.
Por isso Lhe peço que a vossa caridade
cresça cada vez mais em ciência e discernimento,
para que possais distinguir o que é melhor
e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo,
na plenitude dos frutos de justiça
que se obtêm por Jesus Cristo,
para louvor e glória de Deus.

CONTEXTO

A cidade de Filipos, situada na Macedónia oriental, era uma cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição dos governantes das províncias locais e dependia diretamente do imperador. Gozava dos mesmos privilégios das cidades de Itália e os seus habitantes tinham cidadania romana. Paulo chegou a Filipos pelo ano 49 ou 50, no decurso da sua segunda viagem missionária, acompanhado de Silvano, Timóteo e Lucas (cf. At 16,1-40). Da sua pregação nasceu a primeira comunidade cristã em solo europeu.

A comunidade cristã de Filipos era uma comunidade entusiasta, generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da coleta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2Cor 8,1-5). Paulo nutria pelos cristãos de Filipos um afeto especial; e os filipenses, por seu turno, tinham Paulo em grande apreço. Apesar de tudo, a comunidade cristã de Filipos não era perfeita: os altivos patrícios romanos de Filipos tinham alguma dificuldade em assumir certos valores como o desprendimento, a humildade e a simplicidade.

Paulo escreve aos Filipenses numa altura em que estava na prisão (não sabemos se em Cesareia, em Roma, ou em Éfeso). Os filipenses tinham-lhe enviado, por um membro da comunidade chamado Epafrodito, uma certa quantia em dinheiro, a fim de que Paulo pudesse prover às suas necessidades. Na carta, Paulo agradece a preocupação dos filipenses com a sua pessoa (cf. Flp 4,10-20); exorta-os a manterem-se fiéis ao Evangelho de Jesus e a incarnarem os valores que marcaram a vida de Cristo (“tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus” – Flp 2,5).

O texto que a liturgia deste segundo domingo do advento nos propõe é, praticamente, o início da Carta aos Filipenses. Depois de saudar “os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos” (Flp 1,1), Paulo manifesta aos seus amigos de Filipos o apreço que eles lhe merecem e as expetativas que tem em relação à comunidade cristã da cidade. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • Em tempo de advento, a liturgia convida-nos a olhar para uma comunidade cristã que espera a vinda do Senhor: a comunidade cristã da cidade de Filipos. Como qualquer comunidade cristã, não é uma comunidade perfeita: continua a ter necessidade de crescer sempre mais no caminho que leva à santidade; mas é uma comunidade comprometida, empenhada, generosa, que sabe que é chamada por Deus, enquanto caminha na história, a viver de forma coerente com o Evangelho que acolheu. Como é que, nas nossas comunidades cristãs, se vive este tempo de espera do Senhor? Este tempo poderá ser, para as nossas comunidades cristãs, um tempo de purificação, de conversão, de discernimento dos desafios de Deus, de renovação da fé e do compromisso, de reforço da caridade, da generosidade, da partilha, do perdão, do entendimento?
  • A comunidade cristã de Filipos é uma comunidade que se interessa pela obra da evangelização. O apoio que dá a Paulo não resulta apenas de um sentimento de gratidão pessoal para com um apóstolo que trouxe à cidade de Filipos a Boa nova de Jesus; mas traduz o compromisso daquela Igreja com o esforço de evangelização que o missionário Paulo, na linha da frente do combate pelo anúncio do Evangelho, leva a cabo. Os cristãos de Filipos entenderam que a Igreja é missionária (“Ide pelo mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura” – Mc 16,15); e sentem que é ser dever participar da missão. As nossas comunidades cristãs sentem este imperativo missionário? Sentem a necessidade de fazer Jesus nascer para todos os povos? Estão atentas às necessidades e são solidárias com aqueles que dão a sua vida à causa do anúncio de Jesus? É com ternura e carinho que, nas nossas comunidades cristãs, se acolhem os que anunciam o Evangelho – os catequistas das crianças, dos jovens, dos adultos?
  • É possível que tenhamos queixas da Igreja e que não nos revejamos em algumas afirmações e testemunhos de pessoas que são referência na comunidade cristã; é possível que não nos identifiquemos com certas formas de celebrar a fé, ou com algumas atitudes de falta de misericórdia e de caridade que acontecem dentro dos espaços das nossas igrejas; é possível que nos sintamos desiludidos com a forma como, muitas vezes, os cristãos incarnam na história o testemunho de Jesus… Mas, em termos pessoais, estará cada um de nós a fazer tudo o que está ao seu alcance para que a nossa comunidade cristã seja a casa da comunhão, da fraternidade, do entendimento, da caridade? Neste tempo de espera do Senhor, que contributo podemos pessoalmente dar para que a nossa comunidade cristã se torne uma “casa” onde Jesus tem lugar? in Dehonianos.

EVANGELHO Lucas 1,26-38

Naquele tempo,
o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma Virgem desposada com um homem chamado José.
O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras
e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo:
«Não temas, Maria,
porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho,
a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
reinará eternamente sobre a casa de Jacob
e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo:
«Como será isto, se eu não conheço homem?»
O Anjo respondeu-lhe:
«O Espírito Santo virá sobre ti
e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso, o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então:
«Eis a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra».

CONTEXTO

O texto que nos é hoje proposto pertence ao chamado “Evangelho da Infância”. Ora, os “Evangelhos da Infância de Jesus (quer o de Mateus, quer o de Lucas) enquadram-se num género literário próprio, que recorre às técnicas do midrash haggádico (uma técnica de leitura e de interpretação do texto sagrado usada pelos rabis judeus) para nos apresentar o mistério de Jesus. A preocupação dos evangelistas que nos legaram os “Evangelhos da Infância” não é apresentar um relato factual dos acontecimentos dos primeiros anos de Jesus, mas sim oferecer às suas comunidades uma catequese que proclame determinadas realidades (que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o “Deus connosco”). Com recurso a tipologias (correspondência entre certos factos e pessoas do Antigo Testamento, e outros factos e pessoas do Novo Testamento), a manifestações apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) e a outros recursos literários, Mateus e Lucas tecem as suas catequeses sobre Jesus, o Filho de Deus que veio ao encontro dos homens. O Evangelho que nos é hoje proposto deve ser entendido a esta luz e neste enquadramento.

A cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a norte da Palestina, à volta do Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus uma terra longínqua e estranha, em permanente contacto com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que “da Galileia não pode vir nada de bom”. Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica e, portanto (de acordo com a mentalidade judaica), completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação.

Maria, a jovem de Nazaré que está no centro deste episódio, era “uma virgem desposada com um homem chamado José”. O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os “esponsais”); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimónias do matrimónio propriamente dito). Entre os “esponsais” e o rito do matrimónio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante os “esponsais”, os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27). E a união entre os dois “prometidos” só podia dissolver-se com a fórmula jurídica do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de “prometidos”: ainda não tinham celebrado o matrimónio, mas já tinham celebrado os “esponsais”. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • O mal de que falava a primeira leitura desta solenidade, constituirá uma inevitabilidade? Estaremos condenados a fazer escolhas erradas, a não fazer caso das indicações de Deus? A verdade é que, desde o primeiro instante da nossa existência, integramos a família humana, uma família onde o pecado existe. Fazendo parte dessa família, estamos marcados e até mesmo condicionados por essa realidade. Resta-nos encolher os ombros, com fatalismo, invocar como desculpa a nossa fragilidade e resignar-nos á mediocridade? Hoje somos convidados a olhar para Maria de Nazaré, aquela que a Igreja chama a “Imaculada Conceição”. Ao contrário de Adão e Eva, ao contrário de todos os homens e mulheres que cedem à tentação de dizer “não” às indicações de Deus, ela ousou dizer “sim” a Deus. Mostrou-se disponível – não apenas num momento particular, mas em toda a sua vida – para deixar em segundo plano os seus projetos pessoais e para abraçar os planos de Deus. Maria de Nazaré mostrou-nos que é possível fazer escolhas acertadas; mostrou-nos que é possível não nos deixarmos submergir pelo egoísmo e pela autossuficiência. O que significa Maria de Nazaré, a “Imaculada Conceição”, para nós? Ela é apenas a “mãe de Deus e nossa mãe do céu”, por quem temos muita devoção, ou é também – e sobretudo – uma referência de vida, aquela que nos ensina a dizer “sim” a Deus e aos seus projetos?
  • Deus tem, desde sempre, um projeto de salvação e de graça para os seus queridos filhos e filhas. Como é que Deus intervém na história humana e concretiza, dia a dia, a sua oferta de salvação? A história de Maria de Nazaré (bem como a de tantos outros “chamados”) responde, de forma clara, a esta questão: é através de homens e mulheres atentos aos projetos de Deus e de coração disponível para o serviço dos irmãos que Deus atua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu amor, que Ele convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. Já pensámos que é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus Se torna presente no mundo e transforma o mundo?
  • Outra questão é a dos “instrumentos” de que Deus se serve para realizar os seus planos… Maria era uma jovem mulher de uma aldeia obscura dessa “Galileia dos pagãos” de onde não podia “vir nada de bom”. Não consta que tivesse uma significativa preparação intelectual, profundos conhecimentos teológicos, ou amigos poderosos nos círculos de poder e de influência da Palestina de então. Apesar disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel primordial na etapa mais significativa na história da salvação. A história vocacional de Maria deixa claro que, na perspetiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância ou a visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das suas qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus. Estamos disponíveis – apesar da nossa pequenez, fragilidade e indignidade – para sermos colaboradores de Deus e testemunhas da sua salvação no meio dos nossos irmãos e irmãs?
  • É possível alguém entregar-se tão cegamente a Deus, sem reservas, sem medir os prós e os contras? Como é que se chega a esta confiança incondicional em Deus e nos seus projetos? Naturalmente, não se chega a esta confiança cega em Deus e nos seus planos sem uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus. Maria de Nazaré foi certamente uma mulher para quem Deus ocupava o primeiro lugar e era a prioridade fundamental. Maria de Nazaré foi seguramente uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente n’Ele. No meio da agitação de todos os dias, encontramos tempo e disponibilidade para ouvir Deus, para viver em comunhão com Ele, para tentar perceber os seus sinais nas indicações que Ele nos dá?in Dehonianos

 

Para os leitores:

A primeira leitura é composta pelo diálogo entre Deus e o primeiro casal humano. Deste modo, a proclamação desta leitura deve ter o cuidado de articular bem o discurso direto entre as diversas intervenções com uma especial atenção para as frases interrogativas.

A segunda leitura apresenta frases longas com diversas orações, requerendo uma acurada preparação nas pausas e respirações para que o texto seja bem proclamado.

I Leitura: (ver anexo)

II Leitura: (ver anexo)

ANEXOS: