ANO A – O Ano do evangelista Mateus
ANO LITÚRGICO 2022/2023
ANO A – O Ano do evangelista Mateus
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- Quem é Mateus e onde foi escrito o seu Evangelho?
- O estilo literário de Mateus;
- O “Jesus” da comunidade de Mateus;
- Data dos escritos de Mateus;
- Estrutura e desenvolvimento dos Evangelhos;
- Divisão e conteúdo do Evangelho de Mateus;
- Exemplos e comentários sobre alguns capítulos do Evangelho de Mateus;
- “Narrativas” de catequese.
- Quem é Mateus e onde foi escrito o seu Evangelho?
1.1.1. Quem é Mateus?
- a) Terá sido Apóstolo de Jesus de Nazaré com o nome de Levi – 5º na escolha de Jesus junto ao Mar (lago) da Galileia – como é contado em Mc 2, 13-14; Mt 9, 9 ou Lc 5, 27-28?
Mc 2, 13-14: Chamamento de Levi – 13Jesus saiu de novo para a beira-mar. Toda a multidão ia ao seu encontro, e Ele ensinava-os. 14Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me.» E, levantando-se, ele seguiu Jesus.
Mt 9, 9: Chamamento de Mateus – 9Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o.
Lc 5, 27-28: Chamamento de Levi– 27Depois disto, Jesus saiu e viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado no posto de cobrança. Disse-lhe: «Segue-me.» 28E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-o.
- b) Importância da escolha depois de Simão e André, filhos de João, e de Tiago e João, filhos de Zebedeu. Dois conjuntos de irmãos. Terá sido um solitário (Levi) trazido para a “irmandade”?
- c) Terá sido um judeu convertido a Jesus que sempre foi instruído na fé judaica e, portanto, conhece bem as escrituras – o Antigo Testamento, portanto um escriba bom conhecedor do grego e nascido em Antioquia ( cidade Síria do Século I)?
É para esta terceira hipótese que hoje quase todos os exegetas se inclinam.
1.1.2. Onde foi escrito?
- a) Tudo apontou, durante mais de dezoito séculos, para ter sido escrito na Judeia e em Jerusalém;
- b) Embora considerado como sendo o primeiro evangelho a ser escrito, todavia, e desde meados do século XIX, que se tem certeza que não foi. Esta confusão nasceu da ideia de que o Evangelho de Mateus era uma tradução para grego (todo o NT foi escrito em grego) duma versão em aramaico e hebraico. O uso do método de investigação histórico-crítico esclareceu a dúvida. Não há nenhum evangelho escrito, anteriormente, em aramaico ou hebraico. Mais, esclareceu-se que o primeiro evangelho a ser escrito foi o de Marcos, sendo que a estrutura dos Evangelho de Mateus e Lucas resultam do pós-conhecimento do Evangelho de Marcos. Além disso, hoje é quase certo que o Evangelho de Mateus foi escrito em Antioquia (Síria) e não na Judeia.
- Estilo literário de Mateus
Nenhum dos outros 3 evangelistas trazem, de forma tão marcada para o evangelho, os conteúdos proféticos e a mensagem bíblica contida no Antigo Testamento como Mateus. Este escreve para judeus aderentes a Jesus de Nazaré e procura mostrar Jesus como o Messias profetizado nas escrituras dos pais na Fé. É um evangelho facilmente entendível por judeus – habitantes da Judeia ou na diáspora – mas com exigência grande para quem não viveu/percebe a simbologia e a simbólica judaica/hebraica/aramaica.
Sempre remete para os profetas e antepassados na Fé. É recorrente em Mateus: “Isto aconteceu para se cumprir a(s) escritura(s)”. Pelo menos 130 passagens no Evangelho de Mateus são referências ao Antigo Testamento, das quais 43 são citações concretas.
- O “Jesus” da comunidade de Mateus
Não parecerá estranho este título?
Jesus não é o mesmo para os 4 evangelistas? Sim, mas visto por olhos e vivências diferentes;
O novo Moisés (em Lucas Jesus é pensado como o novo Elias). Lê-se na carta aos Hebreus que Moisés era o “servo” na Casa de Deus, enquanto Jesus é o “Filho”;
O Filho de Deus – com o sentido forte que tem entre nós porque Mateus vivendo numa comunidade cristã nascente quer distanciar-se do judaísmo não crente na chegada do Filho de Deus – Māšîaḥ (Messias) em hebraico/ Khristós – Cristo em grego/ Ungido em português;
Filho do Homem – A ressurreição é, para Jesus, a Sua entronização como Filho do Homem;
Mateus é o único que aplica explicitamente a Jesus os oráculos do Servo sofredor de Isaías (Is 42,1 = Mt 12,18, Is 53,4 = Mt 8,17, Is 53,12 = Mt 26,28);
É Mateus que vê mais claramente a existência da Comunidade através dos discípulos. É partindo sempre da experiência do Senhor vivo na comunidade (foi apóstolo (?) e acompanhou (?) Jesus) Mateus empreende a sua exposição evangélica baseada nas tradições relativas a Jesus;
O Jesus do Sermão da Montanha: diz Jesus de Nazaré:” Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição”.
- Data e conteúdos geográficos dos escritos de Mateus
1.4.1. O Evangelho de Mateus, transmitido em grego pela Igreja, pensou-se durante muitos séculos, ter sido escrito originariamente em aramaico, a língua falada por Jesus. Hoje sabe-se que não foi assim. Todos os evangelhos foram apenas escritos em grego. O texto atual reflete tradições hebraicas, mas ao mesmo tempo testemunha uma redação grega. O vocabulário e as tradições fazem pensar em crentes ligados ao ambiente judaico; apesar disso, não se pode afirmar, sem mais, a sua origem palestinense. Hoje é praticamente seguro que foi escrito na Síria, em Antioquia, onde viviam muitos judeus, por deixar entrever uma polémica declarada contra o judaísmo farisaico. Mas há quem situe a sua escrita na Judeia e em Jerusalém, principalmente os que defendem que este autor com nome de Mateus é um dos 12 apóstolos do Mestre. Atendendo a elementos internos e externos ao livro, o atual texto pode datar-se dos anos 80, ou seja, algum tempo após a destruição de Jerusalém. Esta datação levanta/confirma a dúvida do seu autor ter sido o apóstolo Mateus/Levi.
- Estrutura e desenvolvimento dos Evangelhos e as particularidades de Mateus.
Todos tratam daquilo que poderemos identificar como “Ditos e feitos de Jesus de Nazaré”
Todos os evangelhos estão estruturados em 3 grandes capítulos:
- Ensinamentos – grandes leis/ensinamentos para chegar ao Reino dos Céus;
- Parábolas – estórias para pôr o Reino à vista. Como “funciona” o Reino dos Céus;
- Sinais – O Reino a acontecer entre nós.
Nota:
Apenas no Evangelho de Mateus aparece a expressão Reino dos Céus. Em todos os outros aparece, sempre, Reino de Deus. Mais à frente perceberemos a razão.
Apenas Mateus e Lucas, cada um à sua maneira, relatam o nascimento de Jesus;
Todos registam o encontro fulcral de Jesus com João Baptista;
Todos narram milagres/sinais que Jesus realizou;
Todos contam as circunstâncias da sua morte;
É o Evangelho maior – 28 Capítulos (mas não o mais extenso);
Como já se disse foi construído sobre o Evangelho de Marcos. O Evangelho de Mateus leva-nos até Abraão.
Escrito por um judeu cristianizado é escrito para judeus que aderem a Jesus. É um Evangelho muito centrado na chegada do Messias anunciado no AT;
É um dos 2 Evangelhos – o outro é Lucas – que trata a infância de Jesus;
Onde Jesus está quase sempre a falar, a fazer longos e belos discursos;
Veja-se o Sermão da Montanha: começa no Capítulo 5 e só termina no final do Capítulo 7.
É o Evangelho do Jesus que mais ligações faz ao A.T.
É o Evangelho de Jesus em modo de utilizador do A.T. versus a Nova Aliança.
Todos afirmam que Jesus ressuscitou fisicamente – o evangelista Marcos e o final do seu evangelho;
Nenhum dos 4 evangelistas diz a data que Jesus nasceu, nem ao certo a data que Jesus morreu; Jesus terá começado a sua pregação no 15º ano reinado de Tibério – ano 29 da nossa era; nascido por volta do ano 6/7 a.C. terá morrido com 35/36 anos.
Mateus, sendo judeu convertido a Jesus, sabe bem como escrever sobre o Programa de Jesus destinado a quem sabe ler bem (ou conhece pelo menos) o AT. Por isso, o seu evangelho esquematiza-se a partir de 5 grandes eixos – refratando os 5 livros da Torah/Pentateuco (Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio). Assim, são também 5, os discursos de Jesus ao longo deste Evangelho.
- O Discurso/Sermão da Montanha, o projeto de Deus e o programa de Jesus (cap. 5, 6e 7);
- O Discurso Missionário, a respeito da missão que Jesus deu a seus doze apóstolos. (10);
- O Discurso das Parábolas do Reino, histórias que ensinam sobre o Reino dos Céus. (Capítulo 13);
- O Discurso sobre a Igreja, sobre as relações entre os discípulos. (18);
- O Discurso Escatológico: sobre sua segunda vinda, o julgamento das naçõese fim dos tempos. (24–25).
- Divisão e conteúdo do Evangelho de Mateus
O esquema geral do Evangelho de Mateus.
in Para ler o Evangelho Segundo S. Mateus – Difusora Bíblica – página 17.
I – PRÓLOGO – O MISTÉRIO DE JESUS
- A importância do Prólogo e boa-notícia da infância de Jesus – (Capítulos 1-2)
– O seu Ser e a Sua missão à luz da ressurreição e da vida da Igreja – ou os relatos da Infância:
Iª PARTE – JESUS PROCLAMA O REINO DE DEUS E PREPARA A IGREJA (Cap. 3 a 16)
Episódio-chave: Do Antigo ao Novo Testamento (Capítulos 3 e 4)
No batismo, Jesus é revelado pelo Pai como Seu Filho. Nas tentações do deserto, torna a orientar a vida de Israel para o Reino dos Céus. Proclama, então, a chegada deste Reino (o Reino dos Céus) e escolhe os discípulos.
1º Chegou o Reino dos Céus! (Capítulos 5 a 9)
Jesus manifesta-o com as Suas palavras e as Suas ações/obras:
– Sermão da Montanha (capítulos 5,6 e 7);
– Dez milagres (capítulos 8 e9).
2º Jesus envia os Seus discípulos a pregar. E Ele próprio parte a pregar o Reino dos Céus (capítulos 10 a 12)
– Discurso do envio missionário (capítulo 10;
– Jesus parte a pregar o Reino (capítulos 11 e 12)
3º A opção decisiva perante a pregação do Reino dos Céus (capítulos 13,1 a 16,12)
– Discurso em 7 parábolas (capítulo 13, 1-52);
– A caminho da confissão de Cesareia (capítulos 13,53-16,12).
IIª PARTE – A COMUNIDADE no REINO DOS CÉUS (Capítulos 17 a 28)
Episódio-chave: A comunidade confessa seu Senhor (capítulos 16,13-17,27)
Através da comunidade, o Pai revela o seu filho. Mas esta comunidade é também Satanás que tenta Jesus. (Satãn em hebraico/diábolo em grego/ diabolus em latim/demónio em português) – força do acusador/ separador/ opositor/divisor)
4º O Reino dos Céus passa do povo Judeu para as Igreja (capítulos 18 a 23)
– Discurso sobre a vida na comunidade (capítulo 18);
– Da Galileia a Jerusalém (capítulos 19 a 23)
– Rompe com os chefes judeus e dedica-se a ensinar os Seus discípulos. Grandes controvérsias em Jerusalém. Parábola dos vinhateiros homicidas.
5º A inauguração do Reino dos Céus no Mistério Pascal (capítulos 24 a 28)
– Anúncio da vinda definitiva do Reino em Jesus (capítulos 24 e 25);
– O Mistério Pascal inaugura o Reino (capítulos 26 a 28).
– O “sismo” anunciado por Jesus como sinal do fim dos tempos, abre os túmulos aquando da sua morte e o Seu próprio túmulo. O Senhor pode então enviar a sua comunidade ao mundo para ser aí sinal deste Reino.
- Exemplos e comentários sobre alguns capítulos do Evangelho de Mateus:
Evangelho da infância:
– Longa genealogia de Jesus;
– Jesus nasce em Belém de Judá – de onde são os pais, José e Maria?
– Porque nasce Jesus em Belém? Formalidade do recenseamento romano – “colisão histórica”;
– Mateus e os Magos (ver Lucas – pastores);
– Mateus e José (ver Lucas, Isabel e Maria);
– Mateus – Zacarias e José (ver Lucas).
– Zacarias e Isabel – o episódio da surdez-mudez – (ver Lucas e a remissão para Abraão e Sara
– a gravidez impossível;
– Os homens em Mateus e a ausência das mulheres em Mateus
As Parábolas em Mateus – capítulo 13 – 7 (sete) parábolas:
– Parábola do semeador;
– Parábola do trigo e do joio;
– Parábola do grão de mostarda;
– Parábola do fermento;
– Parábola do tesouro;
– Parábola da pérola;
– Parábola do peixe.
1.8 “Narrativas” de catequese:
- Só em Mateus:
– Forma de apresentação da genealogia de Jesus até Abraão com 14 + 14 + 14 gerações
devidamente identificadas. O simbolismo do 14 e do 3×14
– Milagres/sinais só de Mateus:
– Moeda no peixe;
– “Dois” cegos inominados;
– Mudo endemoniado;
– Magos do Oriente – ouro incenso e mirra;
– Fuga para o Egito;
– Martírio dos inocentes;
– Sermão da montanha – Capítulos 5,6 e 7: A Carta Magna do Cristianismo;
– Jesus, Servo de YAHWEH /Javé
– Correção fraterna e oração comunitária;
– Os trabalhadores da vinha na explicação do Reino dos Céus;
– Os 2 filhos: o que diz sim e não vai; o que diz não e acaba por ir na explicação do Reino;
– O Juízo Definitivo e a ligação com o Sermão da Montanha;
– Remorso de Judas e a devolução das 30 moedas;
– Sepulcro guardado;
– Mãe de Jesus nunca é referida no Evangelho e depois do nascimento;
– Últimas palavras de Jesus na cruz: “Eloí, Eloí, lamá sabactâni” (Mt 27:46).”
Meu Deus, porque me abandonaste” – Salmo 22
- Em Mateus, como noutros evangelistas:
– Muitas etapas do percurso da vida pública de Jesus;
– 2 mulheres como testemunhas da ressurreição – Maria Madalena, a outras Maria (Maria mãe de Tiago. Diferente de Lucas e de Marcos: 3 mulheres como testemunhas da ressurreição: Maria Madalena, Maria (mãe de Tiago) e Joana (em Marcos refere-se Salomé)
Nota final:
Apoio ao texto a partir de:
a)Papa Francisco; b) Papa Bento XVI; c) Boff, Leonardo; d) Borges, Anselmo; e) Carrilo, José Maria; f) Couto, António; g) Domingues, Bento; h) Godoy, Pope; i) Gomes, Anderson; j) Ibarrondo, Xabier Pikaza; k) Linda, Manuel; l) Lourenço, João Duarte; m) Marcos, Fray; n) Martin, James s.j.; o) Mendonça, José Tolentino; p) Moore, Thomas q) Pagola, José António; r) Piñero, António; s) Ricardo, Paulo; t) Santiago, Rui; u) Sicre, José Luis; v) Valdés, Ariel Álvarez;