Solenidade de Pentecostes – 19.05.2024

Vatican news (adaptado)

Com a Solenidade do Pentecostes somos conduzidos a compreender que o Espírito que conduziu Jesus para a sua missão de salvar a Humanidade é o mesmo que agora conduz a Igreja, comunidade dos seguidores de Jesus, na continuidade da mesma missão.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

            “Jesus sopra o Espírito sobre seus seguidores, gerando uma nova criação”

O autor do Evangelho deste domingo, João Evangelista, diz-nos que a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos aconteceu no dia de Páscoa.

Deseja fazer-nos compreender que o Espírito que conduziu Jesus para sua missão de salvar a Humanidade é o mesmo que agora conduz a Igreja, comunidade dos seguidores de Jesus, na continuidade da mesma missão. A Igreja torna presente, na História, o Cristo Redentor.

Quando os discípulos, na tarde do primeiro dia da semana, estão reunidos, o Senhor aparece no meio deles e comunica-lhes a paz. Mostra-lhes os sinais dos seus sofrimentos para lhes dizer que, apesar do seu aspeto glorioso, a memória da paixão não poderá ser deixada de lado, que a glória veio através da cruz.

Estamos no primeiro dia da semana, não nos esqueçamos. Exatamente com esse sentido do novo, do novo pós-pascal, isto é, do novo eterno, que não caduca, que não envelhece, Jesus faz a nova criação, soprando o Espírito sobre seus seguidores. É uma referência à criação do homem, relatada no capítulo 2º, versículo 7 do Génesis, quando se diz que Deus insuflou nas suas narinas o hálito da vida e o homem passou a viver. No relato desse facto, na tarde pascal, temos a criação da Comunidade Cristã.

A missão é dada logo em seguida: perdoar os pecados e até retê-los, se for o caso. Pecado é aquilo que impede a realização do projeto do Pai, que é a felicidade do ser humano. Ora, perdoar os pecados significa lutar para que os planos de Deus cheguem à sua concretização e, evidentemente, devolvendo àquele que está arrependido das ações contrárias a esse plano, a reconciliação.

Pelo batismo e pela crisma fazemos parte dessa comunidade que deve continuar a missão redentora de Jesus.

Que honra!

Que as nossas ações, seja na família, no trabalho ou no meio dos amigos, contribuam e potenciem a alegria e a felicidade daqueles que nos cercam. Assim estaremos dando glória a Deus, pois a glória de Deus é a felicidade do homem.

Pentecostes e seis símbolos em Atos 2,1-13.

O encontro do ontem com o hoje à espera do amanhã!

 

in IHU (adaptado)

“De símbolo em símbolo, a nossa vida segue em direção ao tempo que se renova sempre, ainda que pareça ser o mesmo. Roguemos ao Espírito Santo que transforme os nossos corações endurecidos pelas nossas atitudes não condizentes com o evangelho. Vem Espírito Santo e renova nossa fé”, escreve Frei Jacir de Freitas Faria, OFM.

Na celebração de Pentecostes, convido cada um a viajar no imaginário dos símbolos que compõem essa festa judaica e cristã. Em Jerusalém, celebrava-se a “Festa das Semanas”, isto é, de Pentecostes, sete semanas mais um dia, ou seja, 50 dias depois da Páscoa dos judeus.

Pentecostes, em grego, significa quinquagésimo. Era o dia 06 do mês de Sivan (no nosso calendário: 22 de maio), Jerusalém estava repleta de peregrinos. Todos traziam as primeiras colheitas para serem ofertadas no Templo de Jerusalém.

A peregrinação até Jerusalém era linda. Imaginem grupos de pessoas caminhando juntas com cestos de uvas, trigo, azeitonas, tâmaras, mel, e sendo acolhidos em Jerusalém ao som de harpa, flauta e recitação de Salmos. Todos carregavam dentro de si o desejo de agradecer a Deus pelas primeiras colheitas, e de comemorar o dom da Torá (Lei), dada ao povo no monte Sinai. Comemorar o recebimento da Torá era o mesmo que afirmar: “no dia da sua revelação eu também estava lá” (Dt 5, 24). Hoje, nós, os cristãos, podemos dizer o mesmo: “no dia de Pentecostes, eu também estava lá.”

O ontem da promessa de Jesus, a promessa de enviar o Espírito Santo como Defensor, estava prestes a realizar-se. Ninguém podia imaginar o que iria acontecer. Em Jerusalém estavam todos. E todos presenciaram a vinda do Espírito Santo, carregada de símbolos que marcariam para sempre a comunidade cristã, formada por judeus, gregos e tantos outros povos.

Símbolo é tudo aquilo que nos une a algo.

O Pentecostes acontece ao embalo de seis símbolos, a saber:

1) Casa em Jerusalém. A vinda do Espírito Santo ocorre, segundo a tradição, numa casa de dois andares, em Jerusalém, cidade situada no monte Sião. Esses dois detalhes evocam claramente o monte Sinai, local onde Moisés recebeu os Dez Mandamentos. Estavam reunidos todos no mesmo lugar (At 2,1).

2) Vento forte. “E de repente, veio do céu um barulho, como o de um vento forte, que ressoou por toda a casa onde se encontravam” (At 2,2). O vento evoca a teofania, isto é, a manifestação de Deus que ocorreu com Moisés, no Sinai. Ex 19,18 diz que quando Moisés recebeu as tábuas da Lei, “todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor havia descido sobre ele no meio de chamas. O fumo que se elevava era como o de um forno, e todo o monte estremecia violentamente.” Em Pentecostes, trata-se da violência do Espírito que leva a comunidade a ser profética e missionária.

3) Falar em línguas. A comunidade de Lucas substitui voz, que aparece na narrativa do Sinai, para língua. Esses termos são semelhantes e ambos se referem à Palavra. A Palavra é a presença de Deus. Língua e linguagem têm o mesmo sentido no texto. Alguém fala e o outro entende. São os apóstolos que começam a falar nos vários idiomas presentes em Jerusalém. O milagre de Pentecostes consiste no facto de que todos entendem os apóstolos na sua própria língua e cultura. É o mesmo que dizer: a evangelização realiza-se com sucesso. Falar numa língua que ninguém entende não tem sentido nenhum. Pentecostes ensina-nos que devemos falar a linguagem do evangelho, pois língua é diferente de linguagem. Língua é o idioma (português, inglês etc.). Linguagem é a comunicação de um modo de pensar, por exemplo, linguagem jurídica, médica, teológica etc. Dependendo do ambiente, usamos certo de tipo de linguagem. O grande segredo de Pentecostes é que os apóstolos falavam a linguagem do reino de Deus que Jesus lhes havia ensinado. Será importante salientar que Pentecostes não é o contrário de Babel (Gn 11,1-9). Nos dois casos, trata-se de linguagem.

4) De fogo. O fogo é modo apocalíptico para dizer que Deus se manifestou (Ex 3,2-3). Deus acompanha o povo pelo deserto numa coluna de fogo que iluminava a noite (Ex 13,20-22). Deus desce para falar com o povo e Moisés no Sinai por meio de um fogo (Ex 19,18). Nos Atos dos Apóstolos o Espírito Santo é o fogo da Palavra de Jesus que deve ser anunciada pelos seus seguidores.

5) Multidão. Estavam em Jerusalém: “partos, medos, elamitas; os que habitam a Macedónia, a Judeia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos, judeus ou prosélitos, cretenses e árabes” (At 2,9-11). A multidão simboliza o povo no deserto que recebeu as tábuas da Lei. Na celebração de Pentecostes eram três mil, número não exato, e provinham de 12 povos e 3 regiões. Um novo povo de Deus surge!

6) Estão embriagados de vinho doce. Essa acusação simboliza os que não estão abertos ao novo da comunidade cristã. Eles acusam os apóstolos e a mulheres que estavam com eles, no Cenáculo, de estarem bêbados com o vinho doce que tinham guardado, pois parecia que estariam delirando. A simbologia do vinho diz muito. Jesus, o melhor vinho da festa de Caná (Jo 2,1-11), continuaria na comunidade dos apóstolos, com a vinda do Espírito Santo. Vinho novo era produzido em dia de Pentecostes. O Espírito Santo é, agora, o vinho novo de Pentecostes que renova, embriaga a todos e todas as coisas.

Pentecostes tem relação direta com a narrativa do Sinai, quando o povo recebe os Dez Mandamentos. Um novo Sinai estava acontecendo na comunidade cristã de Jerusalém, por meio do Espírito Santo, prometido por Jesus. Pentecostes passa a ser o batismo da comunidade cristã, chamada a evangelizar. Mais do que um dado histórico, Pentecostes é uma profissão de fé. Sem Pentecostes, a Páscoa (Passagem) de Jesus não estaria completa. Igualmente, a nossa Páscoa!

De símbolo em símbolo a nossa vida segue em direção ao tempo que se renova sempre, ainda que pareça ser o mesmo. Roguemos ao Espírito Santo que transforme os nossos corações endurecidos pelas nossas atitudes não condizentes com o evangelho. Vem Espírito Santo e renova nossa fé! Dá-nos o dom de não mais ofender a natureza, os animais e o nosso semelhante. Dá-nos o dom da fraternidade que partilha o pão. Dá-nos o dom infinito capaz de promover a justiça social e ambiental.

Vem Espírito Santo e renova a nossa alegria e a nossa esperança!

Vem Espírito Santo e tira do marasmo e da desilusão todos aqueles que estão cansados de viver! Deus, Trindade de Amor, que o ontem da Sua revelação a Moisés, atualizado no hoje da vinda do Espírito Santo, renove sempre o nosso ser, na certeza de que o amanhã das nossas vidas será melhor que o hoje!

Amém! Amém! Amém!

Frei Jacir é doutor em Teologia Bíblica pela FAJE (BH), mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma e professor de Exegese Bíblica. É membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB), padre franciscano e autor de dez livros e coautor de quinze.

Solenidade de Pentecostes – 19.05.2024