O que pensa o Papa Leão XIV sobre alguns temas ‘quentes’
Sínodo, abusos, mulheres na Igreja
O que pensa o Papa Leão XIV sobre alguns temas ‘quentes’
Manuel Pinto | 09/05/2025 – 7Margens
Leão XIV é um cosmopolita, mas o seu ‘rasto discursivo’ não é superabundante. Parece ser mais de escutar e de fazer. As poucas homilias disponíveis na internet dão para ver que ele sintoniza com Francisco no desafio de incentivar a Igreja Católica a “ampliar a tenda e fazer com que todos saibam que são bem-vindos”. Mas sobre outras matérias são escassas as pistas. Recuperamos aqui uma entrevista que deu há dois anos, a Andrea Tornielli, do Vatican News, quando o então arcebispo Robert Prevost, que não era ainda cardeal, acabara de assumir as funções de prefeito do Dicastério para os Bispos (daí que os tópicos de conversa, suscitados pelo entrevistador, estejam particularmente focados nessa função). Há muitos outros aspetos sobre os quais os católicos e muitas outras pessoas gostarão de saber o que pensa o novo Pontífice. Para já ficam aqui estes (o realinhamento e formulação dos títulos é nossa; o texto é o do então arcebispo).
O Sínodo sobre a Sinodalidade e o papel do bispo

Há uma grande oportunidade nesta contínua renovação da Igreja, que o Papa Francisco nos convida a promover. Por um lado, há bispos que expressam abertamente o seu medo, porque não entendem para onde a Igreja está a ir. Talvez prefiram a segurança das respostas já experimentadas no passado.
Acredito verdadeiramente que o Espírito Santo está muito presente na Igreja neste momento e está a empurrar-nos para uma renovação e, portanto, somos chamados à grande responsabilidade de viver o que eu chamo uma nova atitude. Não é apenas um processo, não é apenas mudar algumas formas de fazer as coisas, talvez realizar mais reuniões antes de tomar uma decisão. É muito mais.
Mas é também o que talvez cause certas dificuldades, porque no final do dia temos de ser capazes de ouvir em primeiro lugar o Espírito Santo, o que Ele está a pedir à Igreja.
Temos de ser capazes de nos ouvir uns aos outros, de reconhecer que não se trata de discutir uma agenda política ou simplesmente tentar promover os temas que me interessam a mim ou a outros.
Por vezes, parece que queremos reduzir tudo a querer votar e depois fazer o que foi votado. Em vez disso, é algo muito mais profundo e muito diferente: precisamos de aprender a ouvir verdadeiramente o Espírito Santo e o espírito de busca da verdade que vive na Igreja. Passar de uma experiência em que a autoridade fala e está tudo acabado, para uma experiência de Igreja que valorize os carismas, os dons e os ministérios que existem na Igreja.
O ministério episcopal desempenha um serviço importante, mas depois temos de colocar tudo isto ao serviço da Igreja neste espírito sinodal que significa simplesmente caminhar juntos, todos nós, e procurar juntos o que o Senhor nos pede, neste nosso tempo.
Os abusos na Igreja e as novas responsabilidades dos bispos

Estamos [a percorrer] um caminho no que diz respeito a isto.
Há lugares onde já se faz um bom trabalho há anos e as regras estão a ser postas em prática. Ao mesmo tempo, acredito que ainda há muito a aprender.
Estou a falar da urgência e da responsabilidade de acompanhar as vítimas. Uma das dificuldades que muitas vezes surgem é que o bispo deve estar próximo dos seus padres, como já disse, e deve estar próximo das vítimas. Alguns recomendam que não seja o bispo diretamente a receber as vítimas; mas não podemos fechar os nossos corações, a porta da Igreja, às pessoas que sofreram abusos.
A responsabilidade do bispo é grande, e penso que ainda temos de fazer grandes esforços para responder a esta situação que está a causar tanta dor na Igreja. Vai levar tempo. Estamos a tentar trabalhar em conjunto com os outros dicastérios.
Acredito que faz parte da missão do nosso dicastério acompanhar os bispos que não receberam a preparação necessária para lidar com esta questão. É urgente e necessário que sejamos mais responsáveis e mais sensíveis a isto.
Certamente, há muitas diferenças entre uma cultura e outra sobre como se reage nestas situações. Em alguns países, o tabu de falar sobre o assunto já foi um pouco quebrado, enquanto há outros lugares onde as vítimas, ou as famílias das vítimas, nunca quereriam falar sobre os abusos que sofreram.
Em qualquer caso, o silêncio não é uma resposta. O silêncio não é a solução. Temos de ser transparentes e honestos, temos de acompanhar e ajudar as vítimas, porque de outra forma as suas feridas nunca sararão. Há uma grande responsabilidade nisto, para todos nós.
Contributo das mulheres como membros do Dicastério para os Bispos

Em várias ocasiões, vimos que o seu ponto de vista é um enriquecimento. Duas são religiosas e uma é leiga, e muitas vezes a sua perspetiva coincide perfeitamente com o que dizem os outros membros do dicastério; enquanto noutras vezes, a sua opinião introduz outra perspetiva e torna-se um contributo importante para o processo.
Penso que a sua nomeação é mais do que um gesto do Papa para dizer que agora também há mulheres aqui. Há uma participação real, genuína e significativa que elas oferecem nas nossas reuniões quando discutimos os dossiês dos candidatos.
Sobre a identidade do bispo na Igreja do nosso tempo
Antes de mais, deve ser ‘católico’: por vezes, o bispo corre o risco de se centrar apenas na dimensão local. Mas um bispo deve ter uma visão muito mais ampla da Igreja e da realidade, e viver a universalidade da Igreja.
Também precisa da capacidade de escutar e de pedir conselhos aos que estão à sua volta bem como de maturidade psicológica e espiritual.
Um elemento fundamental do retrato de um bispo é ser pastor, capaz de estar próximo dos membros da comunidade, começando pelos padres, para quem o bispo é pai e irmão. Viver esta proximidade com todos, sem excluir ninguém.
O Papa Francisco falou de quatro tipos de proximidade: proximidade com Deus, com os irmãos bispos, com os padres e com todo o povo de Deus. Não se deve ceder à tentação de viver isolado, separado num palácio, satisfeito com um certo nível social ou com uma certa posição dentro da Igreja.
E não nos podemos esconder atrás de uma ideia de autoridade que já não faz sentido hoje. A autoridade que temos é para servir, para acompanhar os padres, para ser pastores e mestres.
Muitas vezes preocupamo-nos em ensinar a doutrina, a forma de viver a nossa fé, mas arriscamo-nos a esquecer que a nossa primeira tarefa é ensinar o que significa conhecer Jesus Cristo e testemunhar a nossa proximidade com o Senhor. Isto vem primeiro: comunicar a beleza da fé, a beleza e a alegria de conhecer Jesus. Significa que nós próprios estamos a vivê-lo e a partilhar esta experiência.
O serviço do bispo e a unidade da Igreja em torno de Pedro

As três palavras que estamos a usar no trabalho do Sínodo — participação, comunhão e missão — dão a resposta.
O bispo é chamado a este carisma, a viver o espírito de comunhão, a promover a unidade na Igreja, a unidade com o Papa. Isto também significa ser católico, porque sem Pedro, onde está a Igreja? Jesus rezou por isto na Última Ceia: ‘Que todos sejam um’, e é esta unidade que desejamos ver na Igreja.
Hoje, a sociedade e a cultura afastam-nos dessa visão de Jesus, e isso faz muito mal. A falta de unidade é uma ferida que a Igreja sofre, muito dolorosa.
As divisões e as polémicas na Igreja não ajudam em nada. Nós, bispos, especialmente, devemos acelerar este movimento em direção à unidade, à comunhão na Igreja.
o bispo é chamado a servir uma Igreja particular. Portanto, ouvir o povo de Deus também é importante.
Se um candidato não for conhecido por ninguém do seu povo, é difícil — não impossível, mas difícil — que ele se torne verdadeiramente pastor de uma comunidade, de uma Igreja local. Por isso, é importante que o processo seja um pouco mais aberto à escuta de diferentes membros da comunidade.
Isto não significa que seja a Igreja local que tem de escolher o seu pastor, como se ser chamado a ser bispo fosse o resultado de uma votação democrática, de um processo quase ‘político’. É necessária uma visão muito mais ampla, e as nunciaturas apostólicas ajudam muito nisto. Acredito que, pouco a pouco, precisamos de nos abrir mais, de ouvir um pouco mais os religiosos, os leigos.
Sobre os problemas económicos na vida da Igreja

O bispo também é chamado a ser um bom administrador, ou pelo menos [a ter] a capacidade de encontrar um bom administrador para o ajudar.
O Papa disse-nos que quer uma Igreja pobre e para os pobres. Há casos em que as estruturas e infraestruturas do passado já não são necessárias e é difícil mantê-las. Ao mesmo tempo, mesmo nos lugares onde trabalhei, a Igreja é responsável por instituições educativas e de saúde que prestam serviços básicos às pessoas, porque muitas vezes o Estado não consegue fornecê-los.
Pessoalmente, não sou da opinião de que a Igreja deva vender tudo e ‘apenas’ pregar o Evangelho nas ruas. No entanto, esta é uma responsabilidade muito grande, não há respostas universais. É necessário promover mais ajuda fraterna entre as Igrejas locais.
Perante a necessidade de manter estruturas de serviço com rendimentos que já não são o que eram; o bispo tem de ser muito prático. As religiosas de clausura dizem sempre: ‘Tenham confiança e entreguem tudo à Divina Providência, porque se encontrará uma forma de responder.’ O importante também é nunca esquecer a dimensão espiritual da nossa vocação. Caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos gestores e de raciocinar como gestores. Às vezes isso acontece.
A relação entre o bispo e as redes sociais [digitais]

As redes sociais podem ser uma ferramenta importante para comunicar a mensagem do Evangelho, chegando a milhões de pessoas. Temos de nos preparar para usar bem as redes sociais.
Receio que por vezes esta preparação tenha faltado.
Ao mesmo tempo, o mundo de hoje, que está em constante mudança, apresenta situações em que realmente temos de pensar várias vezes antes de falar ou antes de escrever uma mensagem no Twitter [atual X], para responder ou mesmo apenas para fazer perguntas de forma pública, à vista de todos. Por vezes, há o risco de alimentar divisões e polémicas.
Há uma grande responsabilidade em usar corretamente as redes sociais, a comunicação, porque é uma oportunidade, mas também é um risco. E pode causar danos à comunhão da Igreja. Por isso, é preciso ser muito prudente no uso destes meios.
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Versão integral da entrevista do Arcebispo Robert Francis Prevost, hoje Papa Leão XIV, a Andrea Tornielli –Vatican News – 04.05.2023
Prevost: “O bispo é um pastor próximo ao povo, não um gestor”
Em conversa com o prefeito do Dicastério para os Bispos: “Muitas vezes preocupamo-nos em ensinar a doutrina, mas corremos o risco de esquecer que nossa primeira tarefa é comunicar a beleza e a alegria de conhecer Jesus”. Sobre os abusos: “Devemos ser transparentes e acompanhar as vítimas”.
ANDREA TORNIELLI
Aos 67 anos vive o seu “noviciado” como prefeito do Dicastério para os Bispos: Robert Francis Prevost, nascido em Chicago (Estados Unidos), primeiro missionário e depois bispo em Chiclayo (Peru), é o frade agostiniano que o Papa Francisco escolheu para suceder o cardeal Marc Ouellet. Nesta entrevista à vatican news, ele traça uma identidade do bispo para os tempos em que vivemos.
O que significou passar de ser um bispo missionário na América Latina para o dicastério que ajuda o Papa a escolher os bispos?
Ainda me considero um missionário. A minha vocação como a de todo cristão é ser missionário, anunciar o Evangelho onde se está. Certamente a minha vida mudou muito: tenho a possibilidade de servir o Santo Padre, de servir a Igreja hoje, aqui, na Cúria Romana. Uma missão muito diferente da anterior, mas também uma nova oportunidade de viver uma dimensão da minha vida que sempre foi simplesmente responder “sim” quando me pedem um serviço. Com este espírito concluí a minha missão no Peru, depois de oito anos e meio como bispo e quase vinte anos como missionário, para começar uma nova em Roma.
Poderia desenhar-nos um retrato falado do ser bispo para a Igreja do nosso tempo?
Antes de tudo, é preciso ser “católico”: às vezes o bispo corre o risco de se concentrar apenas na dimensão local. Mas é bom para um bispo ter uma visão muito mais ampla da Igreja e da realidade, e experimentar esta universalidade da Igreja. É preciso também saber ouvir os outros e buscar conselhos, além de ter maturidade psicológica e espiritual. Um elemento fundamental do retrato falado é ser pastor, capaz de estar próximo aos membros da comunidade, começando pelos sacerdotes dos quais o bispo é pai e irmão. Viver esta proximidade a todos, sem excluir ninguém. O Papa Francisco falou das quatro proximidades: proximidade a Deus, aos irmãos bispos, aos sacerdotes e a todo o povo de Deus. Não devemos ceder à tentação de viver isolados, separados num edifício, satisfeitos por um determinado nível social ou por um certo nível dentro da Igreja. E não devemos esconder-nos atrás de uma ideia de autoridade que hoje não faz sentido. A autoridade que temos é servir, acompanhar os sacerdotes, ser pastores e mestres. Muitas vezes preocupamo-nos em ensinar a doutrina, o modo de viver a nossa fé, mas corremos o risco de esquecer que a nossa primeira tarefa é ensinar o que significa conhecer Jesus Cristo e testemunhar a nossa proximidade ao Senhor. Isto vem primeiro: comunicar a beleza da fé, a beleza e a alegria de conhecer Jesus. Significa que nós mesmos o estamos a viver e a compartilhar esta experiência.
Quanto é importante o serviço do bispo para a unidade em torno do Sucessor de Pedro num tempo em que a polarização aumenta também na comunidade eclesial?
As três palavras que estamos a usar no trabalho do Sínodo, participação, comunhão e missão, dão uma resposta. O bispo é chamado a este carisma, a viver o espírito de comunhão, a promover a unidade na Igreja, a unidade com o Papa. Isso também significa ser católico porque sem Pedro, onde está a Igreja? Jesus rezou por isso na Última Ceia: “Que todos sejam um”. Esta é a unidade que desejamos ver na Igreja. Hoje, a sociedade e a cultura levam-nos a ficar distantes daquela visão de Jesus, e isso causa muitos danos. Esta falta de unidade é uma ferida que a Igreja vive, muito dolorosa. Divisões e polémicas na Igreja não ajudam em nada. Nós bispos, especialmente, devemos acelerar este movimento rumo à unidade, rumo à comunhão na Igreja.
O processo de designação de novos bispos pode ser melhorado? Na “Praedicate Evangelium” lê-se que “também os membros do povo de Deus” devem ser envolvidos. Isso acontece?
Fizemos uma interessante reflexão entre os membros do Dicastério sobre este tema. Já há algum tempo não se ouvem apenas alguns bispos ou alguns sacerdotes, mas também outros membros do povo de Deus. É muito importante, porque o bispo é chamado a servir uma Igreja particular. Então, ouvir o povo de Deus também é importante. Se um candidato não é conhecido por ninguém do seu povo, é difícil – não impossível, mas difícil – que se torne realmente pastor de uma comunidade, de uma Igreja local. Então é importante que o processo seja um pouco mais aberto à escuta dos diferentes membros da comunidade. Isso não significa que seja a Igreja local a ter de escolher o seu pastor, como se ser chamado a ser bispo fosse resultado de um voto democrático, de um processo quase “político”. É preciso um olhar muito mais amplo e as nunciaturas apostólicas ajudam muito nisso. Creio que pouco a pouco devemos abrir-nos mais, ouvir um pouco mais as religiosas, os leigos e as leigas.
Uma das novidades introduzidas pelo Papa foi a nomeação de três mulheres entre os membros do dicastério para os bispos. O que pode dizer-nos sobre a sua contribuição?
Já vimos em várias ocasiões que o seu ponto de vista é um enriquecimento. Duas são religiosas e uma é leiga, e muitas vezes a sua perspetiva coincide perfeitamente com o que dizem os outros membros do dicastério, enquanto outras vezes sua opinião introduz outra perspetiva e torna-se uma contribuição importante para o processo. Penso que a sua nomeação seja muito mais do que um simples gesto do Papa para dizer que agora também há mulheres aqui. Há uma participação verdadeira, real e significativa que oferecem nas nossas reuniões e quando discutimos os dossiês dos candidatos.
As novas normas para a luta contra os abusos aumentaram a responsabilidade dos bispos, que são chamados a agir prontamente e a responder por atrasos ou omissões. Como é vivida esta tarefa pelo bispo?
Também estamos a caminho sobre isso. Há lugares onde um bom trabalho já foi feito há anos e as normas são colocadas em prática. Ao mesmo tempo, acredito que ainda há muito que aprender. Falo da urgência e responsabilidade de acompanhar as vítimas. Uma das dificuldades que surgem frequentemente é que o bispo deve estar próximo dos seus sacerdotes, como eu já disse, e deve estar próximo das vítimas. Alguns recomendam que o bispo não receba diretamente as vítimas. Porém, não podemos fechar o coração, a porta da Igreja, às pessoas que sofreram por abusos. A responsabilidade do bispo é grande e acho que ainda temos de fazer esforços consideráveis para responder a esta situação que causa tanta dor na Igreja. Levará tempo, estamos a trabalhar junto com outros dicastérios. Acredito que faz parte da missão do nosso dicastério acompanhar os bispos que não receberam a preparação necessária para abordar esse tema. É urgente e necessário que sejamos mais responsáveis e ainda mais sensíveis a este respeito.
As leis agora existem. É mais difícil mudar a mentalidade…
Claro, também há muita diferença entre uma cultura e outra em como se reage nessas situações. Em alguns países o tabu de falar sobre o assunto já foi um pouco quebrado, enquanto há outros lugares onde as vítimas, ou as famílias das vítimas, jamais gostariam de falar sobre os abusos sofridos. Em todo o caso, o silêncio não é uma resposta. O silêncio não é a solução. Devemos ser transparentes e sinceros, acompanhar e ajudar as vítimas, porque senão as suas feridas nunca cicatrizarão. Há uma grande responsabilidade nisso, para todos nós.
A Igreja está envolvida no processo que levará ao Sínodo sobre a sinodalidade. Qual é o papel do bispo?
Há uma grande oportunidade nesta renovação contínua da Igreja que o Papa Francisco nos convida a promover. Por um lado, há bispos que manifestam abertamente o seu receio porque não entendem para onde está a caminhar a Igreja. Talvez prefiram a segurança das respostas já experimentadas no passado. Eu realmente acredito que o Espírito Santo está muito presente na Igreja neste momento e está a impelir-nos para uma renovação e, portanto, somos chamados à grande responsabilidade de viver o que chamo de uma nova atitude. Não é apenas um processo, não é apenas mudar algumas formas de fazer as coisas, talvez organizar mais reuniões antes de tomar uma decisão. É muito mais. Mas é também o que talvez causa algumas dificuldades, porque no fundo devemos ser capazes de escutar sobretudo o que o Espírito Santo, está pedindo à Igreja.
Como se realiza isso?
Precisamos ser capazes de escutar uns aos outros, reconhecer que não se trata de debater uma agenda política ou apenas tentar promover temas que interessam a mim ou a outros. Às vezes parece que se quer reduzir tudo a querer votar para depois fazer o que foi votado. Ao contrário, trata-se de algo muito mais profundo e muito diferente: é preciso aprender a escutar realmente o Espírito Santo e o espírito de busca da verdade que vive na Igreja. Passar de uma experiência onde a autoridade fala e tudo se faz para uma experiência de Igreja que valorize os carismas, os dons e os ministérios que existem na Igreja. O ministério episcopal desempenha um serviço importante, mas depois é preciso colocar tudo isso ao serviço da Igreja neste espírito sinodal que significa simplesmente caminhar juntos, todos, e buscar juntos o que o Senhor nos pede, no nosso tempo.
Quanto e quais os problemas económicos que afetam a vida dos bispos?
Pede-se também ao bispo que seja um bom administrador ou, pelo menos, tenha a capacidade de encontrar um bom administrador que o ajude. O Papa disse-nos que quer uma Igreja pobre e para os pobres. Há casos em que as estruturas e infraestruturas de um tempo anterior já não são necessárias e é difícil mantê-las. Ao mesmo tempo, também nos lugares onde trabalhei, a Igreja é responsável por instituições educativas e de saúde que oferecem serviços fundamentais ao povo, porque muitas vezes o Estado não consegue garanti-los. Pessoalmente, não sou da opinião de que a Igreja deva vender tudo e “apenas” pregar o Evangelho nas ruas. É uma responsabilidade muito grande, não há respostas unívocas. Há necessidade de promover mais a ajuda fraterna entre as Igrejas locais. Diante da necessidade de manter vivas as estruturas de serviço com as propostas que já não são mais as que eram, o bispo deve ser muito prático. As monjas de clausura sempre dizem: “É preciso ter confiança e confiar tudo à Providência Divina, porque se encontrará a maneira para responder”. O importante é, também, nunca nos esquecer a dimensão espiritual da nossa vocação. Caso contrário, corremos o risco de nos tornar gerentes e pensar como gerentes. As vezes acontece.
Como vê a relação entre o bispo e as redes sociais?
As redes sociais podem ser um instrumento importante para comunicar a mensagem do Evangelho a milhares de pessoas. Devemos preparar-nos para usá-las bem, mas temo que às vezes tenha faltado essa preparação. Ao mesmo tempo, o mundo atual, que está em constante mudança, apresenta situações em que realmente temos de pensar várias vezes antes de falar ou antes de escrever uma mensagem no Twitter, para responder ou mesmo apenas para fazer perguntas de forma pública, à vista de todos. Às vezes, há o risco de alimentar divisões e controvérsias. Existe uma grande responsabilidade no uso correto das redes sociais, ou em toda a comunicação, porque é uma oportunidade, mas também é um risco. E pode prejudicar a comunhão da Igreja. Por isso, é preciso ter muita cautela no uso destes meios.
O que pensa o Papa Leão XIV sobre alguns temas quentes (PDF)