Conversando … com o Pároco – Mês VII – abril 2025
Páscoa – Tempo Pascal 2025.
Depois da quarentena: Quaresma – mudança – luta – conversão – oração – jejum – esmola;
Segure-se o percurso dos cinquenta dias até ao Pentecostes.
O tempo da Páscoa, que dura 50 dias (sete vezes sete dias), é o Pentecostes, que não é apenas o último dia, mas todos os 50 dias, afirmava o monge beneditino alemão Odon Casel. ¹
¹Casel (Odon), La Fête de Pâques dans l’Eglise des Pères, 1964.
Uma leitura do tempo e dos números (do chronos ao kairós)
Ajude-nos a trazer, para os dias de hoje, com palavras de hoje:
1. O significado do Tempo Pascal
Vou tentar uma explicação breve, concisa e acessível à compreensão de todos, procurando uma abordagem pastoral sobre o seu significado no ciclo litúrgico da Igreja, as suas raízes teológicas na Ressurreição de Cristo, e a sua aplicação na vida pastoral da comunidade cristã.
O Tempo Pascal celebra a Ressurreição de Cristo e a sua obra salvífica. Para a fé cristã, este é o mistério central: “Jesus morreu pelos nossos pecados… ressuscitou ao terceiro dia e apareceu aos discípulos”. Como recorda o Papa Francisco, “a nossa fé nasce na manhã de Páscoa” porque a Ressurreição de Cristo confirma a nossa esperança de vida eterna. Cristo ressuscitado é “Senhor e Cristo na glória” que derrama o Espírito Santo sobre a Igreja. Por isso, a cruz e a ressurreição de Cristo derrotaram o mal (pacado) e a morte.
No Baptismo, somos sepultados simbolicamente na morte de Cristo e ressurgimos com Ele como nova criatura. Na Vigília Pascal, ao bendizer a água do batismo a Igreja faz memória dos grandes eventos salvíficos prefiguradores desse sacramento. A Eucaristia do domingo pascal atualiza o “único sacrifício de Cristo Salvador”, e em cada celebração de Páscoa a comunidade crê que participa do próprio “banquete pascal” de vida nova.
Os Padres da Igreja reforçaram essa fé pascal. São Clemente de Roma exorta a ver em Cristo ressuscitado “as primícias da nossa própria ressurreição futura”. Santo Inácio de Antioquia proclama que Jesus “sofreu verdadeiramente… e ressuscitou verdadeiramente”, rejeitando interpretações que negam a ressurreição corporal. Para os primeiros cristãos, a fé passa pela experiência de encontrar o Senhor vivo (cf. 1Cor 15) – “não é uma ideologia, nem sistema filosófico, mas um acontecimento, um facto”. Em suma, teologicamente o Tempo Pascal reafirma que o próprio Deus vence a morte em Cristo, garantindo a ressurreição dos fiéis e a plena esperança escatológica de participação na vida divina.
Da Vigília Pascal ao Pentecostes: um caminho liturgico
O Tempo Pascal estende-se por cinquenta dias do Domingo de Páscoa até Pentecostes, celebrado como um único grande Domingo pascal. Os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição até o domingo de Pentecostes devem ser celebrados com alegria e júbilo, como se fosse um único dia festivo.
Todo o Tempo Pascal é marcado pelo símbolo da luz pascal (Círio e velas), leituras e orações centradas na vitória de Cristo e na efusão do Espírito. Com ênfase litúrgica, a Igreja recomenda que os fiéis celebrem intensamente este tempo com louvor e festa.
Pastoralmente, o Tempo Pascal orienta a vida comunitária e a formação dos fiéis. Trata-se de um tempo de renovação interior e de envio em missão, porque o Cristo ressuscitado permanece “no meio de nós”. Entre as acções pastorais típicas destacam-se:
Liturgicamente alegres, as comunidades são incentivadas a exteriorizar a alegria pascal em serviço ao próximo, visita aos doentes, acções de partilha e confraternização testemunhando esperança e solidariedade inspiradas na Ressurreição.
Em todas as celebrações litúrgicas este tempo é regido pelo entusiasmo do Aleluia e pelo Círio Pascal aceso diariamente, símbolos do Senhor vivo e presente no meio do seu povo.
O Tempo Pascal inclui festas específicas:
Ascensão do Senhor (40 dias após a Páscoa, celebrado em quinta-feira, ou no domingo seguinte conforme costumes locais) recorda a exaltação de Cristo no céu;
Pentecostes (50º dia) celebra a vinda do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos, nascimento da Igreja em missão.
Como viver concretamente o Tempo Pascal nas comunidades
Envolver a comunidade nas celebrações festivas;
Estimular a aproximação ao sacramento da reconciliação;
Promover encontros de mistagogia (Catequese e formação);
Inspirar os fiéis a “servir com Cristo” através de acções de caridade.
2. Os 50 dias (do chronos ao kairós);
Cinquenta dias depois da Páscoa, a Liturgia convida-nos a celebrar a Festa de Pentecostes. Esses cinquenta dias representam muito mais do que a simples passagem de tempo (o chronos); apontam para um momento de compreensão e acção definitiva na vida espiritual (o kairós).
Explicando melhor:
Chronos = o tempo quantitativo, o nosso tempo
São os segundos, os minutos, as horas e os dias que se vão, as semanas, os meses e os anos que correm no calendário.
Nos cinquenta dias após a Ressurreição de Cristo, contamos: Domingo de Páscoa = dia 1; Domingo da Ascensão = dia 40; Pentecostes = dia 50.
Este é o “tempo cronológico”, rígido, possíveis de medir pelos ponteiros dum relógio…
Kairós = o tempo oportuno, o momento decisivo, o tempo de Deus
Não mede horas, mas reconhecimento de um sinal: o sopro do Espírito Santo sobre os apóstolos.
Na festa de Pentecostes (Shavuot, no judaísmo), celebra-se a colheita e a entrega da Lei a Moisés. Para os cristãos, simboliza a “colheita espiritual” e o início da missão apostólica.
É o momento em que a Igreja realmente nasce, galvanizada pelo Espírito. Não importa quantos dias passaram, mas que “algo aconteceu” – o kairós.
Da Páscoa a Pentecostes: transição de chronos para kairós
Chronos: após a Ressurreição, os discípulos ainda vivem na dúvida, medem o tempo, aguardam instruções.
Kairós: No dia de Pentecostes,os apóstolos recebem força e coragem, os dons do Espírito e começam a pregar sem medo. O tempo deixa de ser apenas cronologia; torna-se ocasião de graça e missão.
Implicações para hoje
Não basta contar “quantos dias” passamos em oração ou esperar que algo mude. É preciso estar alerta ao kairós: identificar quando Deus nos chama a agir, comunicar e servir.
O tempo cronológico (quantos anos de fé, quantas missas assistidas) só ganha valor se for convertido em tempo oportuno (quando ajudamos o próximo, abrimos a mente ao Espírito).
O Pentecostes ensina-nos que o tempo só tem valor quando é vivido com sentido. Passar do chronos ao kairós é deixar que o Espírito Santo transforme o tempo em oportunidade, covardia em coragem, medo em missão.
Fica a pergunta: Estás disponível para esse momento?
3. O Pentecostes
Vou partilhar uma explicação sobre o Pentecostes com base bíblica e teológica, mas com um enfoque prático para a vida cristã, numa comunidade multigeracional. Espero conseguir mostrar o sentido actual do Pentecostes, o que significa receber o Espírito Santo e como isso se manifesta na fé e nos compromissos do dia a dia.
Pentecostes: dom do Espírito Santo e nascimento da Igreja
Os profetas do Antigo Testamento já falavam num Espírito divino que renovaria a vida íntima do povo (cf. Joel 2/3, Ezequiel 36, Jeremias 31). O Pentecostes é a concretização dessa promessa: o Espírito Santo passa a habitar no coração de cada baptizado, trazendo uma conversão interior e a graça de viver de acordo com o projecto de Deus.
É por isso que Paulo diz que, no Espírito, somos filhos de Deus e recebemos um novo nascimento espiritual.
O Pentecostes era uma festa judaica (Shavuot) celebrada 50 dias após a Páscoa (libertação da escravidão do Egipto). Nesse dia, os discípulos de Jesus estavam reunidos no Cenáculo em Jerusalém. Em Actos dos Apóstolos (2,1-4) lemos que “de repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu toda a casa…
Então apareceram línguas como de fogo, que se espalharam e pousaram sobre cada um deles” Todos ficaram cheios do Espírito Santo (At 2,4) e começaram a falar em outras línguas, capacitados para anunciar o Evangelho a povos de diversas nações.
No Evangelho de João também vemos o início desse dom: no primeiro domingo após a Páscoa, Jesus ressuscitado “soprou sobre os discípulos, dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22) , como que recomeçando a criação da humanidade com um novo hálito de vida.
O episódio de Pentecostes cumpre a antiga profecia de Joel, que anuncia: “Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo o ser vivo… filhos e filhas profetizarão” (Joel 3,1). Em outras palavras, Deus prometeu dar o Seu Espírito a todos os fiéis, renovando o coração humano desde aquele dia glorioso de Pentecostes.
Significado teológico do dom do Espírito Santo
Cumprimento da promessa: Jesus prometeu aos discípulos que o Pai enviaria o Espírito Consolador (cf. Jo 14,16; At 1,8). Em Pentecostes essa promessa realiza-se plenamente: o próprio Cristo “envia o Espírito Santo” sobre os apóstolos, marcando o início da sua missão pública.
Nascimento da Igreja: Antes de Pentecostes, havia apenas o grupo dos seguidores de Cristo; depois, nasce a Igreja como comunidade. O Espírito une os crentes em comunhão viva e dá unidade à fé. Conforme o relato de Actos, após receber o Espírito Santo “todos ficaram repletos do Espírito” e formaram uma comunidade solidária (partilhavam bens e rezavam juntos). Portanto, o Pentecostes não é apenas uma experiência pessoal, mas o marco teológico do surgimento da Igreja – o Corpo de Cristo no mundo presente.
Implicações práticas na vida cristã
• Coragem no testemunho: O Espírito Santo dá ousadia aos cristãos para anunciar o Evangelho com clareza e simplicidade e viver coerentemente a fé.
• Vida comunitária e partilha: O Pentecostes mostra que o cristianismo não é uma religião solitária. O Espírito cria vínculos de fraternidade. No Cenáculo, após receberem o Espírito, os primeiros cristãos vendiam os seus bens, oravam e celebravam juntos e viviam na solidariedade.
• Dons e carismas para servir: O Espírito Santo concede diversos dons a cada um e cada uma de nós (cf. 1Cor 12). Na descida de Pentecostes, os apóstolos receberam dons especiais (carismas) para se santificar e servir. É tarefa nossa descobrir esses dons e colocá-los ao serviço da comunidade e do próximo.
• Conversão contínua e oração: O Espírito Santo continua a agir na conversão diária do cristão. Ele fortalecenos nas dificuldades e mantém-nos firmes na fé.