Esquema para a fase de implementação do Sínodo, 07.07.2025
Secretaria geral do Sínodo
Esquema para a fase de implementação do Sínodo, 07.07.2025
(tradução livre para português a partir da versão em inglês)
Estamos a viver uma época de grande intensidade espiritual. A morte do Papa Francisco tocou-nos profundamente e ainda rezamos ao Senhor para que o acolha em sua paz e lhe conceda a recompensa pelo seu serviço à Igreja. Ao mesmo tempo, damos graças a Deus pela eleição do Santo Padre Leão XIV, que imediatamente nos estimulou a continuar o nosso compromisso no caminho sinodal, lembrando-nos que somos “uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, diálogo, sempre aberta ao acolhimento, como esta praça, de braços abertos a todos, todos aqueles que precisam de nossa caridade, da nossa presença, do diálogo e do amor”[1].
É a mesma convicção que anima o documento final (DF) da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, “Por uma Igreja sinodal. Comunhão, participação, missão”, que foi aprovada no final da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, em 26 de outubro de 2024. A forma sinodal da Igreja está ao serviço da sua missão, e qualquer mudança na vida da Igreja tem como objetivo torná-la mais capaz de anunciar o Reino de Deus e de testemunhar o Evangelho do Senhor aos homens e às mulheres do nosso tempo. Esta é a chave para interpretar fielmente o DF e, acima de tudo, para colocá-lo em prática. Vivemos num mundo que está a entrar numa espiral de violência e de guerra sem fim, que tem cada vez mais dificuldade em construir oportunidades de encontro e de diálogo, com vista ao bem comum e à paz. Mais do que nunca, ela precisa de uma Igreja que saiba estar “em Cristo como sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano” (Lumen gentium, 1; cf. DF, nº 56). Na variedade dos contextos deste mundo, o Sínodo “constitui um acto de ulterior acolhimento do Concílio, prolonga a sua inspiração e relança a sua força profética para o mundo de hoje” (DF, 5).
É a urgência desta missão que nos impele no caminho da actuação do Sínodo, tarefa da qual todos os baptizados são co-responsáveis. Muitas Igrejas locais, em todas as partes do mundo, estão a segui-la com entusiasmo. Queremos agradecer-lhes e convidá-los a prosseguir o seu caminho com generosidade: estão a realizar um compromisso precioso para toda a Igreja. Este texto pode oferecer-lhes um horizonte com o qual se possa confrontar e, sobretudo, convida-os a partilhar as suas iniciativas, contribuindo para um discernimento eclesial mais amplo. Outras Igrejas ainda estão a perguntar-se como realizar a fase de implementação ou estão ainda nas etapas iniciais. Encorajamo-las a avançar com coragem, enfrentando resistências e dificuldades: também elas têm uma contribuição preciosa a oferecer e seria uma perda para toda a Igreja se a sua voz permanecesse calada.
A Secretaria geral do Sínodo permanece à disposição de ambos, para os ouvir, acompanhar, apoiar os seus esforços e, sobretudo, contribuir para animar o diálogo e o intercâmbio de dons entre as Igrejas, em benefício de toda a Igreja e da sua unidade. É assim que pretendemos realizar a tarefa de acompanhar a fase de implementação do Sínodo que nos foi confiado pelo Papa Francisco no último dia 11 de março e que o Papa Leão XIV confirmou no passado dia 26 de junho, por ocasião do seu primeiro encontro com o XVI Conselho Ordinário da Secretaria geral do Sínodo, encorajando-nos a prosseguir. A intenção é garantir que se prossiga com a unidade da Igreja no coração “harmonizando o acolhimento nos diversos contextos eclesiais“[2], sem diminuir de modo algum a responsabilidade de cada Igreja local. Em sintonia com as indicações do Documento final, o objectivo é concretizar a perspectiva do intercâmbio de dons entre as Igrejas e em toda a Igreja (cf. DF, nºs. 120-121)”[3].
As linhas de orientação aqui propostas são colocadas na perspectiva deste serviço. Dirigimo-los a todo o Povo de Deus, que é o tema do caminho sinodal, e em particular aos Bispos e Eparcas (Nota de tradução: bispos diocesanos nas Igrejas Orientais Católicas), aos membros das Equipas sinodais e a todos aqueles que, a vários títulos, estão envolvidos na fase de implementação, com o objetivo de os fazer sentir o nosso apoio e continuar o diálogo que caracterizou todo o processo sinodal. Com efeito, o seu conteúdo está enraizado nos estímulos recebidos das Igrejas ao longo dos últimos meses e nos frutos das experiências que partilharam. Com base nas contribuições e nas perguntas que receberá das Igrejas e no que parecer útil, o Secretariado oferecerá ulteriores estímulos e instrumentos para acompanhar e apoiar o esforço comum, na esperança de colaborar para tornar ainda mais fecunda a fase de actuação do Sínodo.
Confiemos à intercessão de Maria, Rainha dos Apóstolos e Mãe da Igreja, e dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, cuja solenidade celebramos hoje, esta ulterior etapa do caminho sinodal que nós, como Povo de Deus, estamos a empreender juntos.
Vaticano, 29 de junho de 2025
Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Cartão Mario. Grech
Secretário-geral
Apresentação
As presentes Orientações, preparadas pela Secretaria geral do Sínodo com o parecer favorável do seu Conselho Ordinário e aprovadas pelo Santo Padre Leão XIV, inserem-se no serviço de acompanhamento da fase de actuação do Sínodo pela própria Secretaria geral. Eles têm um duplo propósito. Por um lado, elas pretendem oferecer às Igrejas locais em todo o mundo um quadro de referência comum que facilite o caminhar juntos. Por outro lado, promovem o diálogo que conduzirá toda a Igreja à Assembleia Eclesial de outubro de 2028, de acordo com as seguintes etapas, já comunicadas na Carta de 15 de março passado:
- junho de 2025 a dezembro de 2026: caminhos de implementação nas Igrejas locais e seus agrupamentos;
- primeiro semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas Dioceses e Eparquias;
- segundo semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas Conferências Episcopais nacionais e internacionais, estruturas hierárquicas orientais e outros agrupamentos de Igrejas;
- primeiro trimestre de 2028: assembleias de avaliação continentais;
- outubro de 2028: Assembleia Eclesial no Vaticano.
O texto das orientações, que será seguido por outros com base nas necessidades que surgirem, traça um perfil da fase de implementação, dando respostas a algumas questões fundamentais que muitas vezes foram dirigidas ao Secretariado nos últimos meses. Está estruturado de acordo com o seguinte esquema:
- O que é a fase de implementação e quais são seus objetivos?
2.Quem participa na fase de implementação? Com quais tarefas e responsabilidades?
2.1. A responsabilidade do Bispo diocesano ou eparquial
2.2. A tarefa das equipes sinodais e dos organismos participativos
2.3. O papel dos agrupamentos eclesiásticos
2.4. O serviço da Secretaria geral do Sínodo
- Como utilizar o DF na fase de implementação?
3.1. Preservar a visão geral
3.2. Investir em práticas concretas
- Que método e ferramentas devem ser usados para prosseguir na fase de implementação?
4.1. Discernimento eclesial
4.2. Conceber e acompanhar os processos sinodais
- O que é a fase de implementação e quais são seus objetivos?
Esta é a última das três fases do Sínodo previstas no art. 19-21 da ConstituiçãoApostólica Episcopalis communio (CE, 15 de setembro de 2018); segue-se a fase de consulta e escuta do Povo de Deus (realizada em 2021-2023) e a fase celebrativa, que viu as duas Sessões da Assembleia do Sínodo dos Bispos (outubro de 2023 e outubro de 2024) e completou o discernimento realizado com base na escuta do Povo de Deus. Como explica EC: “o processo sinodal não tem apenas o seu ponto de partida, mas também o seu ponto de chegada ao Povo de Deus, sobre o qual devem ser derramados os dons da graça concedidos pelo Espírito Santo através da assembleia dos Pastores” (n. 7).
A fase de implementação foi aberta pelo Papa Francisco com a Nota de 24 de novembro de 2024, com a qual entregou o DF a toda a Igreja. Num acto inédito na história da instituição sinodal, declara que o DF “participa no Magistério ordinário do Sucessor de Pedro (cf. CE 18 § 1; CIC 892)” e pede que seja aceito como tal. É, portanto, o DF, na sua totalidade, o ponto de referência para a fase de implementação. Ao mesmo tempo, a Nota recorda que a sua aplicação requer várias mediações: “As Igrejas locais e os agrupamentos de Igrejas são agora chamados a implementar, nos vários contextos, as indicações autorizadas contidas no Documento, através dos processos de discernimento e decisão previstos pelo direito e pelo próprio Documento”.
A fase de implementação visa experimentar práticas e estruturas renovadas, que tornem a vida da Igreja cada vez mais sinodal, a partir da perspectiva de conjunto traçada pelo DF, com vistas a um desempenho mais eficaz da missão de evangelização. Este trabalho inclui o necessário estudo teológico e canónico e, sobretudo, o compromisso de discernir o que é mais apropriado e potencialmente fecundo nos diversos contextos locais. Concretamente, a prioridade é oferecer ao Povo de Deus novas oportunidades de caminhar juntos e refletir sobre essas experiências, a fim de colher os frutos de sua missão e compartilhá-los.
A ênfase na importância de adquirir experiência não significa que a fase de implementação consista em algum tipo de exercício ou uma tarefa adicional exigida por Roma: faz parte da vida ordinária das Igrejas e inspira suas práticas diárias. Cada Igreja local, cada comunidade paroquial poderá praticar a sinodalidade dentro da sua pastoral ordinária, melhorando o modo como realiza a sua missão através do discernimento eclesial que o Espírito Santo exige de nós hoje. O DF convida as Igrejas locais a identificar também “caminhos de formação para alcançar uma conversão sinodal tangível nas várias realidades eclesiais” (DF, n. 9). Portanto, a fase de implementação visa ter um impacto perceptível na vida da Igreja e no funcionamento de suas estruturas e instituições. Se se limitasse à formulação de hipóteses abstratas, não alcançaria o seu objetivo e, sobretudo, dissiparia o capital de entusiasmo e energia que o processo sinodal despertou até agora.
Além disso, a fase de implementação é uma oportunidade para manter viva aquela troca de dons que faz crescer a comunhão das Igrejas locais no seio da única Igreja, manifestando a sua catolicidade no respeito pela legítima diversidade. Deste último brota aquela criatividade que inspira novas formas de praticar a sinodalidade e fortalece a fecundidade na missão. Por isso, é necessário que os frutos das experiências realizadas nos diversos contextos sejam divulgados e compartilhados, alimentando o diálogo entre as Igrejas. Na fase de implementação, portanto, um novo processo de diálogo deve ocorrer em cada Igreja e entre as Igrejas, com base no DF.
Deve-se ressaltar também que a fase de implementação não é um retrocesso, nem propõe uma pura repetição do que já foi vivido: as etapas e os objetivos são muito diferentes. O ponto de referência é o DF, que exprime o consenso alcançado no final do discernimento dos Pastores de todas as Igrejas e que, como parte do Magistério ordinário do Sucessor de Pedro, compromete todo o Povo de Deus, indicando a direção a seguir. Pelo contrário, a experiência de várias Igrejas nos últimos meses mostra como é fecundo reconectar-se com o caminho percorrido nas fases precedentes e com o que foi aprendido através dele, com a finalidade de devolver à Igreja local os frutos do processo que envolveu as outras Igrejas e toda a Igreja.
Crescer como Igreja sinodal requer conhecimentos que só podem ser aprendidos através da experiência e abre um caminho para encontrarmos o Senhor. Foi o que os participantes na Assembleia sinodal experimentaram em primeira mão; não é por acaso que o DF começa por testemunhar como “vivendo o diálogo no Espírito, colocando-nos à escuta recíproca, percebemos a sua presença no meio de nós: a presença d’Aquele que, dando o Espírito Santo, continua a despertar no seu povo uma unidade que é a harmonia das diferenças” (DF, n. 1). Esta é também a experiência que foi e continua a ser vivida nas Igrejas locais e nos vários agrupamentos de Igrejas.
A fase de implementação começa durante o Jubileu da Esperança. Esta coincidência convidou-nos a colocar um encontro importante nos próximos meses: o Jubileu das Equipes Sinodais e dos Organismos Participativos, programado para 24 a 26 de outubro de 2025, cuja organização é confiada à Secretaria geral do Sínodo. Será uma graça poder viver juntos um profundo momento de espiritualidade, em união com todo o Povo de Deus, e será também uma oportunidade para tecer laços, trocar experiências e sintonizar-se melhor para os próximos encontros.
- Quem participa da fase de implementação? Com quais tarefas e responsabilidades?
A fase de implementação é um processo eclesial em sentido pleno, que envolve todas as Igrejas como sujeito do acolhimento do DF e, portanto, todo o Povo de Deus, mulheres e homens, na variedade de carismas, vocações e ministérios com os quais se enriquece e nas diversas articulações em que se realiza concretamente a sua vida (pequenas comunidades cristãs ou comunidades eclesiais de base, paróquias, associações e movimentos, comunidades de consagrados e consagradas, etc.). Sendo a sinodalidade “uma dimensão constitutiva da Igreja” (DF, 28), ela não pode ser um caminho limitado a um núcleo de “fãs”. Pelo contrário, é importante que este novo processo contribua concretamente “para ampliar as possibilidades de participação e exercício da corresponsabilidade diferenciada de todos os batizados, homens e mulheres” (DF, n. 36) em espírito de reciprocidade; além disso, é decisivo que ela pretenda envolver aqueles que até agora permaneceram à margem do caminho de renovação eclesial constituído pelo Sínodo, como «pessoas e grupos de diferentes identidades culturais e condições sociais, especialmente os pobres e os excluídos» (ibidem). Muitas Igrejas criaram caminhos que visam tornar comum nas suas vidas o compromisso de ser uma Igreja ouvinte, assim como muitos apontam que a escuta dos jovens é uma prioridade. Além disso, é necessário um cuidado especial para ouvir aqueles que expressaram perplexidade e resistência ao processo sinodal: para caminhar verdadeiramente juntos, não podemos perder a contribuição do seu ponto de vista.
Por isso, todas as Igrejas são convidadas a continuar a busca de instrumentos de escuta adequados à grande variedade de contextos em que a comunidade cristã vive e trabalha, não se limitando apenas à área paroquial, como em alguns casos aconteceu durante a fase de escuta, mas envolvendo também escolas e universidades, centros de escuta e acolhimento, hospitais e prisões, ambiente digital, etc. Ao mesmo tempo, a fase de implementação representa uma ocasião propícia para fortalecer as relações entre os diversos componentes da comunidade cristã, “para dar vida a um intercâmbio de dons ao serviço da missão comum” (DF, 65) que envolve as comunidades e realidades apostólicas ligadas aos Institutos de Vida Consagrada e às Sociedades de Vida Apostólica. bem como Associações, Movimentos e Novas Comunidades. «Muitas vezes, é a sua acção, juntamente com a de muitas pessoas e grupos informais, que leva o Evangelho aos lugares mais diversos» (DF, 118), e o caminho de uma Igreja sinodal precisa deste dinamismo.
2.1. A responsabilidade do Bispo diocesano ou eparquial
Precisamente por se tratar de um processo eclesial no sentido mais pleno do termo, o Bispo diocesano ou eparquial é o primeiro responsável pela fase de actuação em cada Igreja local: compete-lhe abri-la, indicar oficialmente o seu tempo, os seus métodos e objectivos, acompanhar o seu desenvolvimento e concluí-la, validando os seus resultados. Será uma oportunidade oportuna para praticar um exercício de autoridade de estilo sinodal, na esteira do que afirma o DF: “Aqueles que são ordenados bispos não estão sobrecarregados com prerrogativas e tarefas que devem realizar sozinhos. Pelo contrário, recebe a graça e a tarefa de reconhecer, discernir e compor na unidade os dons que o Espírito derrama sobre os indivíduos e as comunidades, actuando no vínculo sacramental com os presbíteros e os diáconos, que com ele são corresponsáveis pelo serviço ministerial na Igreja local” (DF, 69). Quem recebe este dom e desempenha esta tarefa pode reconhecer e confirmar com autoridade a qualidade sinodal do caminho percorrido juntos pela comunidade eclesial e dos frutos que ela produziu, promovendo assim aquela unidade da Igreja que, como já dizia São João Paulo II, «não é uniformidade, mas integração orgânica das legítimas diversidades» (Novo millennio ineunte, n. 46, citado em DF, n. 39), e manifestando a ação do Espírito, mestre da harmonia. O Espírito Santo age livremente, suscitando iniciativas no Povo de Deus onde Ele considera mais oportuno: a tarefa da autoridade é reconhecer estes dons, acolher o convite a alargar o olhar que eles sempre contém, promover a sua fecundidade e promover a diversidade, de modo a enriquecer as possibilidades de intercâmbio de dons que alimenta a comunhão eclesial.
Como “princípio visível e fundamento da unidade nas suas Igrejas particulares” (Lumen gentium, 23), os Bispos são chamados a inspirar e apoiar a participação no processo sinodal de todos os membros da porção do Povo de Deus que lhes foi confiada. De facto, em cada diocese e eparquia, há alguns que têm um desejo vivo por ela, que deve ser escutado, estão dispostos a comprometer-se com entusiasmo e também serão capazes de oferecer sugestões válidas. Outros, por outro lado, precisam ser ajudados a abrir-se à ação do Espírito, antes de tudo ouvindo sua resistência. Para desempenhar eficazmente esta tarefa, os Bispos diocesanos ou eparquiais não podem deixar de envolver, além do Bispo coadjutor e dos Bispos auxiliares que possam estar presentes:
- a) Sacerdotes e diáconos. Com efeito, compete-lhes colaborar com o Bispo “no discernimento dos carismas e no acompanhamento e guia da Igreja local, com particular atenção ao serviço da unidade” (DF, 72). Como recorda o DF, “a experiência do Sínodo pode ajudar os Bispos, os presbíteros e os diáconos a redescobrir a coresponsabilidade no exercício do seu ministério” (DF, n. 74) e a dimensão sinodal do seu ministério. Além disso, desta forma, também será possível promover um maior envolvimento dos sacerdotes;
- b) os organismos participativos a nível diocesano(Conselho Presbiteral, Conselho Pastoral e Conselho para os Assuntos Económicos), os quais, segundo o modo próprio de cada um, estão envolvidos nos processos de discernimento eclesial e na elaboração das decisões que a realização do Sínodo implica inevitavelmente. Como recorda o DF, “é oportuno intervir no funcionamento destes organismos, a partir da adoção de uma metodologia de trabalho sinodal” (DF, n. 105);
- c) a equipe sinodal diocesana/eparquial, que é responsável em particular pela animação do processo (ver o parágrafo imediatamente a seguir).
Em muitos lugares, a experiência demonstrou que a adopção de procedimentos sinodais para o discernimento eclesial e para a tomada de decisões de estilo sinodal, com base nos nn. 87-94 do DF, não diminui, mas consolida a autoridade do Bispo e facilita a aceitação e execução das decisões tomadas.
2.2. A tarefa das equipes sinodais e dos organismos participativos
A experiência da fase de consulta mostrou como foi precioso o trabalho das Equipas sinodais: nomeadas e acompanhadas pelo Bispo, elas são instrumentos fundamentais para a animação ordinária da vida sinodal das Igrejas locais. A sua contribuição também será fundamental na fase de implementação: por isso, as equipas existentes terão que ser aprimoradas e possivelmente renovadas, as suspensas terão que ser reativadas e integradas adequadamente, e novas terão que ser formadas onde não foram estabelecidas anteriormente.
Os critérios para a sua composição permanecem os já indicados na fase de consulta e escuta: leigos e leigas, sacerdotes e diáconos, consagrados e consagradas de diferentes idades e portadores de diferentes culturas e modelos de formação que representam os diversos ministérios e carismas da Igreja. Por esse motivo, não é possível definir regras de composição universalmente válidas. Para favorecer a ligação com a vida e a pastoral da diocese, seria bom que alguns dos responsáveis diocesanos fizessem parte dela. Assegurar a orientação missionária e evitar o risco de retiradas autorreferenciais, como para as organizações participativas (cf. DF, 106), seria bom prever que as Equipas sinodais incluíssem também pessoas comprometidas no testemunho e no serviço apostólico na vida ordinária e na dinâmica social. Poder-se-ia considerar também a oportunidade de convidar como observadores alguns representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs ou de outras religiões. Nada impede que o Bispo faça parte da equipa sinodal; Se isso não acontecer, ele deve ser informado regularmente sobre seu trabalho e encontrar-se com ela quando apropriado. Quanto às exigências de cada um dos membros, o conhecimento do DF é certamente fundamental, juntamente com a experiência direta das dinâmicas sinodais, em particular aquelas vividas durante a fase de consulta e escuta. Nos últimos anos, surgiram escolas ou iniciativas de formação em sinodalidade em nível nacional e internacional, que também podem ser usadas para tornar mais sólida a preparação dos membros das equipes sinodais.
As equipes sinodais com uma composição adequadamente variada poderão tornar-se mais facilmente laboratórios de sinodalidade, experimentando em si aquelas dinâmicas que são chamadas a promover no Povo de Deus. O seu papel na fase de implementação é, antes de tudo, promover e facilitar o crescimento do dinamismo sinodal nos contextos concretos em que cada Igreja local vive; identificar as ferramentas e metodologias adequadas, incluindo propostas de formação; e realizar as iniciativas apropriadas para que as medidas necessárias sejam tomadas. As equipas sinodais são ordinariamente constituídas em nível diocesano ou eparquial, mas, onde for possível, a sua presença também a nível decanal ou paroquial é desejável. Já estão a desenvolver-se experiências interessantes em vários contextos eclesiais, que mostram como estas equipas, devidamente ligadas entre si, podem contribuir para tornar o processo sinodal mais amplo e participativo. Além disso, faz parte da tarefa de animação promover a disponibilidade e a formação de facilitadores e coordenar seu trabalho.
A área de competência das equipas sinodais não se sobrepõe, mas articula-se com a dos órgãos participativos, na busca de sinergias. Equipas sinodais são constituídas ao serviço da animação e formação sinodal da Diocese ou Eparquia. Os órgãos de participação são chamados a desempenhar a tarefa propositiva e consultiva que lhes é atribuída pelo direito canónico. Por isso, é sua tarefa contribuir para a elaboração das decisões necessárias para a aplicação da sinodalidade, com o discernimento das prioridades pastorais ou a renovação das estruturas e dos processos de decisão. Uma conexão regular e uma circulação pontual de informações tornarão o trabalho de todos mais fluido.
Por fim, as equipas sinodais terão a tarefa de colher os frutos dos processos que animarão, também com vista à fase de avaliação e das Assembleias previstas para começar em 2027. Também neste caso, caberá ao Bispo reconhecer e confirmar a validade da síntese no que diz respeito ao caminho percorrido em conjunto pela comunidade diocesana.
2.3. O papel dos agrupamentos eclesiásticos
O DF, também enraizado no Concílio, tem o cuidado de sublinhar que as Igrejas locais não são entidades isoladas, mas estão inseridas nos vínculos de comunhão que as unem entre si, em particular através da comunhão dos Bispos entre si e com o Romano Pontífice.
Em muitos casos, os vínculos são informais, fruto da história, da proximidade geográfica, da geminação, das migrações, talvez de encontros ocasionais entre pessoas, hoje cada vez mais frequentes também de interações através dos meios digitais, etc. Na nossa sociedade fortemente conectada, nenhuma diocese ou eparquia pode pensar em viver isoladamente, sem ser afetada, para o bem ou para o mal, pelo que acontece nas outras. Estes vínculos espontâneos e informais, independentes de uma programação deliberada, são uma consequência do tempo em que vivemos, mas sobretudo constituem uma riqueza e um recurso a conhecer para favorecer uma experiência cada vez mais articulada do “nós” eclesial.
Noutros casos, estes vínculos assumem uma forma estrutural, regida pelo direito, dando origem a instituições como as metrópoles ou províncias eclesiásticas e, sobretudo, as Conferências Episcopais (nacionais e regionais) e os Sínodos das Igrejas sui iuris, assim como os Encontros continentais das Conferências Episcopais. Estas estruturas desempenham também um papel na fase de implementação, que o DF indica sucintamente da seguinte forma: “Sugerimos que as Conferências Episcopais e os Sínodos das Igrejas sui iuris dediquem pessoas e recursos para acompanhar o caminho de crescimento como Igreja sinodal em missão e para manter o contacto com a Secretaria geral do Sínodo” (DF, n. 9).
Trata-se, portanto, de um duplo papel. Em primeiro lugar, pede-lhes que: apoiem os processos em curso a nível local, particularmente onde ainda estão na fase inicial, estimulando as Igrejas locais; favorecer a coordenação e o trabalho em rede das equipas sinodais diocesanas; oferecer formação, levando em conta as propostas das escolas e iniciativas de formação em sinodalidade presentes nos diferentes territórios (em particular para os membros das equipes e para aqueles que estão mais diretamente envolvidos na animação do processo de implementação); promover a reflexão teológica e pastoral, em particular com vista a uma melhor inculturação no contexto local dos recursos preparados pela Secretaria geral. Realizar estas tarefas a nível local seria mais oneroso e implicaria uma duplicação de esforços: por isso, num espírito de subsidiariedade, elas podem ser melhor realizadas a nível de agrupamentos de Igrejas, sem que isso isente as Igrejas locais do protagonismo.
A segunda linha de ação diz respeito à interface de comunicação com a Secretaria geral do Sínodo, que crescerá em importância em determinados momentos, por exemplo, quando for necessário enviar as contribuições das Igrejas locais a Roma, organizando-as em sínteses nacionais de acordo com o modelo já testado. Serão fornecidas indicações mais práticas à medida que os contornos e prazos desta fase forem clarificados. As Conferências Episcopais podem, em todo o caso, contar com a disponibilidade da Secretaria geral para suavizar os obstáculos que possam surgir ao longo do caminho.
Para realizar esta dupla tarefa, será importante proceder à reativação e renovação das equipas sinodais nacionais e continentais, na linha do que já foi dito para as equipas locais. Caberá a eles realizar o trabalho concreto.
Acrescenta-se depois uma terceira tarefa: o DF reconhece nas Conferências Episcopais um instrumento para expressar e realizar a colegialidade episcopal e promover a comunhão entre as Igrejas. A sinodalidade, portanto, também questiona as formas concretas como funcionam. O nº 125 do DF contém algumas indicações específicas a este respeito, que claramente não podem ser retomadas por cada uma das Igrejas locais. Por isso, será importante que os agrupamentos de Igrejas ativem uma reflexão e experimentação de modos sinodais de proceder ao seu nível, cujos resultados contribuirão para a fase de avaliação.
2.4. O serviço da Secretaria geral do Sínodo
À Secretaria geral do Sínodo foi confiada pelo Papa Francisco, primeiro, e depois pelo Papa Leão XIV, um papel de animação e coordenação através de um caminho de acompanhamento ao longo do quadriénio 2025-2028.
Neste contexto, uma primeira tarefa da Secretaria geral é alimentar a comunhão no espírito do intercâmbio de dons e na perspectiva da “conversão dos vínculos” (DF, Parte IV) entre as Igrejas. Instrumentos importantes tendo em vista esta finalidade, são a escuta das experiências realizadas nos diversos contextos eclesiais e a promoção de uma reflexão partilhada sobre elas, para que juntos possamos reconhecer a voz do Espírito e orientar os nossos passos na direção que Ele nos indica. A Secretaria geral é chamada a promover um diálogo contínuo entre as Igrejas, facilitando a comunicação e a comparação recíproca, antes de tudo através dos agrupamentos de Igrejas, especialmente a nível continental. Para isso, ouvirá as Igrejas locais e recolherá as suas opiniões, com base nas quais preparará notas e ajudas, e divulgará informações e sugestões. Além disso, proporá momentos de encontro que favoreçam a escuta recíproca, a partilha do caminho e dos seus frutos, e a expressão partilhada de gratidão ao Senhor.
A primeira dessas nomeações é o já iminente Jubileu das Equipas Sinodais e dos Organismos Participativos (24-26 de outubro de 2025). Indicações mais precisas sobre como organizar outros eventos e coletar feedback serão enviadas à medida que avançamos no caminho. Por enquanto, para garantir um fluxo ordenado de comunicação e permitir uma coordenação mais eficaz, é essencial que cada Diocese ou Eparquia registe a sua própria equipa sinodal na base de dados da Secretaria geral do Sínodo[4]. Pedimos a todos os Bispos e Eparcas que verifiquem se isso foi feito.
Uma segunda tarefa do Secretariado é o acompanhamento dos Bispos diocesanos e eparquiais, e das equipas sinodais, principalmente através do diálogo com as estruturas apropriadas criadas pelos agrupamentos das Igrejas, especialmente a nível continental. No entanto, na medida do possível, a Secretaria geral está disponível também para acompanhar cada uma das Igrejas locais, bem como os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, as Associações, os Movimentos e as Novas Comunidades, ou outras instituições eclesiais que o solicitem, com atenção prioritária às Igrejas com menos recursos. A Secretaria geral está empenhada em permanecer “com a porta aberta”[5], a ouvir as necessidades, intuições e propostas que vêm das Igrejas locais, e a facilitar o seu trabalho, tentando responder às solicitações que chegarem sobre os conteúdos e metodologias da fase de implementação.
Um ponto de particular importância é o encorajar as Igrejas a realizar o seu caminho em estilo sinodal. A experiência daqueles que já iniciaram a fase de implementação confirma que o conteúdo e as decisões são importantes, mas também o são as formas como são abordados. Estruturas e normas adequadas são essenciais, mas não são suficientes. A perspectiva e a beleza de ser uma Igreja sinodal foram compreendidas na sua riqueza pelas comunidades que tiveram experiência direta de escuta e participação em processos de discernimento e tomada de decisão. É a esta experiência concreta e partilhada, sob a guia dos Pastores, muitas vezes marcada pela alegria do Evangelho, que o Secretariado deseja continuar a oferecer o seu serviço atento e pontual.
Uma terceira tarefa é continuar a coordenar os Grupos de Estudo, em colaboração com os Dicastérios competentes da Cúria Romana, nos quais participam também Pastores e especialistas de todos os continentes. O Papa Leão XIV confirmou esta tarefa e também a adição de dois novos Grupos de Estudo (respectivamente sobre “A Liturgia em perspectiva sinodal” e sobre “O Estatuto das Conferências Episcopais, Assembleias Eclesiais e Concílios particulares”). Também é responsabilidade da Secretaria garantir que as decisões do Papa, que também amadureceram com base nos resultados desses grupos, sejam harmoniosamente integradas no caminho sinodal em andamento. Ainda com o objetivo de aprofundar os temas que surgiram durante o processo sinodal, o Secretariado promoverá também conferências e seminários de estudo, favorecendo momentos de reflexão compartilhada e elaboração teológica e pastoral.
Por fim, será de particular importância a tarefa de acompanhar a organização das Assembleias Continentais de avaliação (1º trimestre de 2028) e de organizar a Assembleia Eclesial de outubro de 2028. Diante destas nomeações, é bom reiterar que a avaliação não é uma forma de juízo ou de controlo, mas uma oportunidade para nos interrogarmos sobre onde estamos no caminho da implementação e da conversão, iluminando os progressos realizados e identificando áreas de melhoria (cf. DF, n. 100): as Assembleias eclesiais previstas para 2027-2028 nos diversos níveis devem ser entendidas nesta linha e serão ocasiões para celebrar os dons recebidos, para continuar a crescer juntos como Igreja sinodal comprometida em cumprir a missão recebida de Cristo nas circunstâncias concretas do nosso tempo; Serão também uma oportunidade para colocar em prática formas concretas de combinar sinodalidade, colegialidade e primado, de forma fiel e criativa na perspectiva da corresponsabilidade diferenciada. Do caminho de diálogo que as precede, assim como dos resultados do Grupo de Estudo, que tem entre as suas tarefas a reflexão sobre as mesmas, surgirão indicações mais precisas sobre os métodos de realização e sobre os temas inscritos na agenda destas Assembleias. O que já se pode antecipar é que eles serão uma oportunidade para compartilhar experiências de renovação de práticas e estruturas num sentido sinodal que as Igrejas individuais consideram suficientemente consolidadas, de modo a submete-las ao Santo Padre para validação definitiva, e também oferecerão a oportunidade de começarmos a enfrentar juntos as questões que não deixarão de surgir ao longo do caminho.
- Como utilizar o DF na fase de implementação?
O DF é o ponto de referência da fase de implementação: por isso é tão abundantemente citado aqui. Por conseguinte, é essencial promover o seu conhecimento, especialmente por parte dos membros das Equipas sinodais e daqueles que, a diversos níveis, são chamados a animar o processo de actuação. Sendo o DF um texto rico e orgânico, será oportuno disponibilizar (a nível local, nacional ou regional) momentos e/ou ferramentas de formação, acompanhamento e orientação de leitura, que permitam apreender a inspiração que o anima e não apenas ter uma ideia das questões tratadas.
Antes de tudo, a leitura da DF deve ser sustentada e alimentada pela oração comunitária e pessoal, centrada em Cristo, mestre da escuta e do diálogo (cf. DF, n. 51) e aberta à ação do Espírito: não bastará uma análise abstrata do texto. Com efeito, o DF propõe a toda a Igreja e a cada baptizado a perspectiva de um caminho de conversão: “a chamada à missão é ao mesmo tempo a chamada à conversão de cada Igreja local e de toda a Igreja” (DF, 11). Como qualquer caminho de conversão, implica um caminho de aprofundamento e purificação interior, que será seguido a nível pessoal por uma mudança de escolhas, comportamentos e estilos de vida. No nível comunitário, a renovação das categorias de pensamento e cultura em sentido sinodal será o terreno sobre o qual novas práticas e estruturas renovadas podem germinar.
O DF é um texto orgânico, animado por um dinamismo interno próprio, como consequência do longo processo de escuta, discussão e discernimento do qual é fruto. Não pode, portanto, ser considerado um conjunto de indicações sobre temas díspares que podem ser levados em consideração, abstraindo-os do contexto em que foram formulados. Isso nos impediria de compreender o seu significado e, portanto, de direcionar corretamente a sua implementação. A sua própria estrutura evidencia isso.
Com efeito, a primeira parte exprime a compreensão comum da sinodalidade, fruto do caminho percorrido, e delineia os seus fundamentos teológicos e espirituais, radicados no Concílio Vaticano II. No outro extremo, a Parte V retoma a perspectiva de conjunto e recorda que crescer como Igreja sinodal missionária requer cuidar da formação de todos os membros do Povo de Deus; a Conclusão, portanto, recorda uma perspectiva escatológica que orienta a missão comum na qual todos os membros do Povo de Deus são chamados a colaborar.
Neste quadro de significado, as Partes II, III e IV enfocam alguns aspectos concretos da vida da Igreja, formulando propostas para a sua renovação. Em particular: A Parte II “é dedicada à conversão das relações que edificam a comunidade cristã e configuram a missão no entrelaçamento de vocações, carismas e ministérios” (DF, n. 11); A Parte III identifica três práticas cruciais para iniciar processos de “transformação missionária” (discernimento eclesial, processos de tomada de decisão, cultura de transparência, responsabilidade e avaliação) e destaca a urgência de uma renovação dos organismos participativos; A Parte IV “traça o modo pelo qual é possível cultivar através de novas formas o intercâmbio de dons e o entrelaçamento dos vínculos que nos unem na Igreja, num momento em que a experiência de estar enraizado num lugar está a mudar profundamente” (ibid.), reflectindo sobre o papel das Conferências Episcopais e das Assembleias eclesiais e sobre o serviço do Bispo de Roma.
3.1. Preservar a visão geral
Mais do que oferecer um resumo dos principais conteúdos da DQ, que podem até ser um obstáculo ao acesso ao texto na íntegra, parece preferível explicar aqui algumas linhas de força que o atravessam, conferindo-lhe um carácter orgânico e constituindo critérios para orientar e avaliar as decisões a serem tomadas. Nesta perspectiva, são chamados a enraizar-se os passos concretos que serão dados para implementar as indicações do DF:
- a) em primeiro lugar, o DF propõe uma perspectiva eclesiológica precisa, a que se baseia no Concílio Vaticano II: “Com efeito, o caminho sinodal põe em prática aquilo que o Concílio ensinou sobre a Igreja como Mistério e Povo de Deus, chamado à santidade através de uma conversão contínua que provém da escuta do Evangelho” (DF, 5), na consciência de que cada um dos seus membros, homem ou mulher, recebeu o dom do Espírito Santo;
- b) a missão de anunciar o Reino de Deus, inauguradopor Jesus e ao qual todos os baptizados são chamados, cada um com a especificidade dos próprios carismas, vocação e ministério, constitui a espinha dorsal do texto e o seu objectivo final. As reflexões sobre os instrumentos a adoptar ou as reformas a realizar devem ser sempre colocadas no horizonte da missão, que é o critério fundamental de todo o discernimento a este respeito. Em particular, o DF pressiona decididamente por uma Igreja cada vez mais corajosa na extroversão, a ponto de pedir que as comunidades sejam concebidas “principalmente a serviço da missão que os fiéis desempenham na sociedade, na vida familiar e profissional, sem se concentrar exclusivamente nas atividades que se desenvolvem dentro delas e nas suas necessidades organizacionais” (DF, nº 59);
- c) a perspectiva relacional e a lógica da troca de dons como expressão da catolicidade são duas outras linhas de força que atravessam todo o DF e, portanto, orientam sua compreensão e implementação. Isto manifesta-se claramente na apresentação das figuras dos ministros ordenados, numa relação orgânica entre si e com todo o Povo de Deus (cf. DF, nºs. 69-74), quer na descrição dos vínculos entre as Igrejas locais através da comunhão entre os Bispos;
- d) o impulso ecuménico representa o prolongamento da perspectiva relacional e da lógica da troca de dons. Não se trata, portanto, de um acréscimo facultativo, mas de uma necessidade, em relação à qual se verifica o dinamismo do próprio caminhar juntos;
- e) por fim, o DF faz sua a visão conciliar de uma Igreja no mundo, em diálogo com todos, com as outras tradições religiosas(cf. DF, n. 41) e com a sociedade no seu conjunto(cf. DF, 42). Crescer como Igreja sinodal capaz de dialogar tem um valor de profecia social que inclui um compromisso com a justiça social e a ecologia integral. Estas dimensões não podem ser negligenciadas na fase de implementação, levando à criação de oportunidades de diálogo a partir das necessidades concretas dos territórios e das sociedades em que se vive.
Além das linhas de força acima mencionadas, o dinamismo que anima o DF, e que a fase de implementação é chamada a assumir, deriva da articulação contínua de algumas polaridades e tensões que estruturam a vida da Igreja e a forma como as categorias eclesiológicas a expressam. Listamos aqui algumas dessas polaridades: toda a Igreja e a Igreja local; Igreja como Povo de Deus, como Corpo de Cristo e como Templo do Espírito; participação de todos e autoridade de alguns; sinodalidade, colegialidade e primado; sacerdócio comum e sacerdócio ministerial; ministerialidade (ministérios ordenados e instituídos) e participação na missão em virtude da vocação batismal sem forma ministerial. A implementação do DF requer enfrentar e discernir essas tensões à medida que surgem nas circunstâncias em que cada Igreja local vive. O caminho não é procurar uma configuração impossível que elimine a tensão em benefício de um dos postes. Pelo contrário, no aqui e agora de cada Igreja local, será necessário discernir qual dos equilíbrios possíveis permite um serviço mais dinâmico da missão. É provável que decisões diferentes sejam tomadas em lugares diferentes. Por isso, em muitas áreas, o DF abre alguns espaços para a experimentação local, por exemplo, no campo dos ministérios (cf. DF, nºs. 66, 76 e 78), processos de tomada de decisão (cf. DF, n. 94), relatório e avaliação (cf. DF, n. 101), os órgãos de participação (cf. DF, nº 104). As Igrejas individuais são convidadas a fazer uso dela.
Nas actuais circunstâncias socioculturais, uma destas tensões parece apresentar-se de formas particularmente novas e exige um esforço de sensibilização. Por isso, o DF dedica-lhe um parágrafo inteiro, significativamente intitulado “Enraizados e peregrinos” (cf. DF, nºs. 110-119). Tradicionalmente, é o vínculo com um lugar, entendido em sentido espacial e geográfico, que define as Igrejas locais como porções do Povo de Deus e constitui a base do sentido de pertença das pessoas. Fenómenos como a urbanização, o aumento da mobilidade e da migração e a disseminação da cultura digital mudam profundamente a maneira como as pessoas experimentam o pertencer a algo: isso refere-se a redes de relações e não a áreas espaciais, mesmo que a necessidade humana de laços comunitários permaneça firme. Com efeito, o seu enfraquecimento torna ainda mais urgente um esforço de criatividade missionária, que permita à Igreja ir ao encontro das pessoas e criar vínculos com elas onde quer que se encontrem (cf.ibid.).
Na fase de avaliação, será importante colher os frutos das experiências feitas pelas Igrejas locais em polaridades e tensões vivas, e os frutos dos esforços de criatividade missionária, com vista ao intercâmbio de boas práticas.
3.2. Investir em práticas concretas
Escutando o Espírito Santo, permanecendo dentro da visão eclesiológica que o DF recebe do Concílio Vaticano II, o objetivo da fase de implementação é discernir os passos de conversão da cultura, das relações e das práticas eclesiais e, consequentemente, da reforma das estruturas e instituições. Este é um ponto crucial de todo o processo: “Sem mudanças concretas a curto prazo, a visão de uma Igreja sinodal não será credível, e isto afastará os membros do Povo de Deus que tiraram força e esperança do caminho sinodal” (DF, n. 94).
O DF enfatiza em várias ocasiões que “cabe às Igrejas locais encontrar formas adequadas de implementar essas mudanças” (ibid.), de facto, esta é a tarefa a ser enfrentada durante a fase de implementação. Não é, portanto, possível indicar, entre as muitas áreas abrangidas pelo DF, aquelas que devem ser consideradas universalmente prioritárias. As circunstâncias locais podem tornar mais do que legitimamente indiscutível abordar um ponto particular que não tem a mesma prioridade noutros lugares: pode ser o caso das relações entre a Igreja latina e as Igrejas Orientais Católicas em alguns sectores, ou do impulso ecuménico ou do diálogo inter-religioso noutros, que exigirão uma forma particular. também estrutural e institucionalizado, ao compromisso de caminhar juntos.
Ao mesmo tempo – e aqui estamos a referir-nos à polaridade de toda a Igreja e da Igreja local mencionada acima – há também uma forte necessidade de proceder juntos como toda a Igreja. De facto, esta é a principal razão para lançar o processo de acompanhamento e avaliação.
Nesta linha, e sem prejuízo da responsabilidade de cada Igreja local no que diz respeito à implementação das indicações do DF em seu próprio contexto, a partir de agora, com base no processo do Sínodo 2021-2024, é possível prever que as Igrejas locais serão chamadas a compartilhar os passos dados em algumas áreas específicas, de acordo com os métodos e formas que parecerem mais adequados. Essas áreas incluem:
- a) a promoção da espiritualidade sinodal(cf. DF, nºs. 43-46);
- b) o acesso efectivo a funções de responsabilidade e de liderança que não requeiram o sacramento da Ordem por parte das mulheres e dos homens não ordenados, tanto leigos e leigas como consagrados (cf. DF, nº 60);
- c) a experimentação de formas de serviço e de ministério que respondam às necessidades pastorais nos diversos contextos (cf. DF, nºs. 75-77);
- d) a prática do discernimento eclesial(cf. DF, nº 81-86);
- e) a ativação de processos de tomada de decisão de estilo sinodal(cf. DF, nºs. 93-94);
- f) a experimentação deformas adequadas de transparência, de apresentação de relatórios e de avaliação(cf. DF, nºs. 95-102);
- g) a obrigatoriedade nas dioceses e paróquias dos organismos de participação previstos pelo direito, e a renovação dos seus modos de funcionamento em chave sinodal (cf. DF, nºs. 103-106);
- h) a realização regular de assembleias eclesiais locais e regionais(cf. DF, nº 107);
- i) a valorização do Sínodo diocesano e da Assembleia Eparquial(cf. DF, nº 108);
- j) a renovação das paróquiasem chave missionária sinodal (cf. DF, nº 117);
- k) a verificação do carácter sinodal dos caminhos da iniciação cristã(cf. DF, n. 142) e, em geral, dos cursos de formação e das instituições que lhes são atribuídas (cf. DF, nºs. 143-151).
Certamente não é uma lista exaustiva e será esclarecida ao longo do caminho, começando com o feedback das Igrejas locais.
- Que método e ferramentas devem ser usados para prosseguir na fase de implementação?
A experiência de todo o processo sinodal mostrou como é crucial ter um método adequado às questões a serem abordadas. De facto, para a construção de uma Igreja sinodal, conteúdo e método muitas vezes coincidem: encontrar e dialogar como irmãos e irmãs em Cristo sobre como viver melhor a dimensão sinodal da Igreja é uma experiência da Igreja sinodal que se abre a uma melhor compreensão do tema. Por conseguinte, o método sinodal não se reduz a uma série de técnicas de gestão dos encontros, mas é uma experiência espiritual e eclesial que implica crescer num novo modo de ser Igreja, enraizado na fé de que o Espírito concede os seus dons a todos os baptizados, a partir do sensus fidei (cf. DF, nº 81). Por não ser uma técnica, a metodologia não garante alcançar o resultado desejado, porque isso depende da abertura à escuta de quem participa da jornada e da sua disposição de se deixar transformar pelo Espírito de Cristo em comunhão com seus irmãos e irmãs. Esta é outra dimensão da conversão sinodal para a qual o DF convida toda a Igreja.
4.1. Discernimento eclesial
O espaço dos números 81-86 do DF traçam de modo conciso, mas incisivo, o perfil do discernimento eclesial, isto é, do método próprio de uma Igreja sinodal. Será necessário referirmo-nos a eles, na consciência de que “na Igreja há uma grande variedade de abordagens de discernimento e metodologias consolidadas” (DF, n. 86). A este propósito, é oportuno recordar que o diálogo no Espírito, que sem dúvida foi um traço distintivo e um factor de sucesso do processo sinodal, não é o único método sinodal e, sobretudo, não é sinónimo de discernimento eclesial, ao serviço do qual é colocado como instrumento e preparação.
Como recorda a DF no n. 85, o discernimento eclesial requer a contribuição de competências de vários tipos para uma leitura mais profunda do contexto e uma identificação mais clara do que está em jogo. Não é fácil para estas contribuições encontrar um lugar adequado na dinâmica do diálogo no Espírito, que é antes de tudo um instrumento de encontro, de crescimento nas relações e de passagem do “eu” ao “nós”. Por fim, dado que na fase de actuação será necessário chegar a deliberações concretas com vista à renovação das práticas e das estruturas, os processos de tomada de decisão a este respeito devem ser plenamente eclesiais, reconhecendo a função particular da autoridade, em particular dos Bispos diocesanos ou eparquiais, que são os primeiros responsáveis pela comunhão nas Igrejas que lhes são confiadas e entre as Igrejas.
Concretamente, entre as premissas para realizar um bom processo de discernimento, é fundamental uma definição clara dos objetivos, fazendo com que sejam realistas e proporcionais em relação ao tempo disponível, aos espaços utilizáveis e ao número de participantes envolvidos. Além disso, as disposições iniciais não podem ser negligenciadas: é crucial que cada participante chegue adequadamente preparado e que o contexto favoreça um clima de oração e disponibilidade interior para ouvir e discutir. Nesta perspectiva, vale a pena recordar o quanto a experiência evidencia a importância e a fecundidade de que os processos sinodais possam contar com formas adequadas de facilitação, envolvendo pessoas formadas que guardem e adaptem adequadamente o método, evitando curtos-circuitos e permitindo que os participantes se concentrem mais decididamente nas questões sujeitas ao discernimento.
4.2. Conceber e acompanhar os processos sinodais
Essas indicações metodológicas podem ser declinadas numa variedade de ocasiões e processos, caracterizados por objetivos diferentes, mas unidos pelo facto de ocorrerem em estilo sinodal. Para alcançá-los evitando o risco de improvisação e dispersão, é aconselhável investir na concepção e acompanhamento desses processos. Aqui ficam alguns deles, sem qualquer pretensão de exaustividade:
- a) processos de discernimento eclesial, tanto para identificar as prioridades da missão como para identificar formas e procedimentos de governo apropriados a uma Igreja sinodal. Cada uma das duas vertentes tem necessidades específicas que deverão ser tidas em conta na conceção do percurso. O desenho e acompanhamento desses processos exigirá a disponibilidade de pessoas especializadas, capazes de ajudar a implementar as indicações formuladas acima;
- b) processos de formação para a sinodalidade de acordo com os estímulos da Parte V do DF, também no que diz respeito à variedade de necessidades de formação a serem atendidas e, consequentemente, fazendo um esforço para esclarecer os objetivos específicos de cada caminho. Muitas vezes, a metodologia de formação mais eficaz é compartilhar e refletir em clima de oração sobre as experiências da Igreja sinodal feitas, deixando emergir as suas forças e fraquezas. Por isso, a reflexão sobre os processos de discernimento eclesial, os processos de tomada de decisão de estilo sinodal ou sobre o funcionamento dos organismos participativos pode ter um valor formativo mais forte do que um curso organizado segundo os modelos tradicionais. Também neste caso será crucial ter companheiros e facilitadores experientes. Portanto, também será necessário cuidar do treinamento dessas figuras;
- c) processos e experiências de escuta e diálogo nas comunidades, no território e em nível regional. A experiência tem demonstrado que as ferramentas digitais também podem revelar-se um recurso importante para este fim. Na lógica já mencionada, é importante realizar essas experiências em clima de oração e proporcionar um tempo de reflexão compartilhada que nos permita colher os frutos;
- d) momentos de celebração, encontro e troca de experiências entre comunidades dentro de uma Diocese ou entre Dioceses da mesma região. Também neste caso, as ferramentas digitais podem ser úteis, mas não devemos subestimar o potencial de eventos relacionados à piedade popular, como as peregrinações aos santuários, que muitas vezes reúnem um grande número de pessoas. Como eles podem ser animados de modo a adquirir um caráter sinodal mais explícito e favorecer o encontro e o diálogo entre as pessoas?
- e) processos e atividades de comunicação, dirigidos tanto às comunidades cristãs como às sociedades em que vivem, utilizando as ferramentas mais adequadas a cada contexto. Será oportuno também aprofundar as potencialidades dos novos canais de comunicação digital, que hoje constituem para alguns, especialmente para os jovens, ambientes reais de vida e de construção de vínculos, nos quais o anúncio do Evangelho pode ressoar como oportunidade. A experiência do Sínodo Digital é um recurso a este respeito;
- f) caminhos de renovação da ação pastoral num contexto concreto ou sobre um tema relevante para cada Igreja local (por exemplo, a promoção de uma participação mais viva na celebração dominical, os caminhos catequéticos, o diálogo ecuménico, a integração dos migrantes, o compromisso com o cuidado da casa comum, etc.), implementando iniciativas que tornem tangível o impacto de uma abordagem sinodal na verificação dos seus resultados. Isso pode ajudar a concretizar o horizonte da sinodalidade na vida das comunidades;
- g) percursos de investigação teológica, pastoral e canónica ao serviço da actuação do Sínodo nas especificidades do contexto local e no diálogo entre as Igrejas. Com este importante serviço, os teólogos “ajudam o Povo de Deus a desenvolver uma compreensão da realidade iluminada pela Revelação e a desenvolver respostas adequadas e linguagens apropriadas para a missão” (DF, 67). Daqui deriva também uma responsabilidade particular das instituições teológicas de acompanhar a Igreja para viver cada vez mais plenamente a dimensão sinodal.
O método sinodal permitiu-nos deixar-nos surpreender pelo Espírito Santo e colher frutos inesperados na fase de consulta e escuta, assim como durante o desenrolar das sessões da Assembleia sinodal, suscitando a admiração e o entusiasmo de muitos participantes, como testemunham muitas sínteses e documentos recebidos: a comunhão entre os fiéis, entre os Pastores e entre as Igrejas alimentou-se da participação nos processos e eventos sinodais, renovando o ímpeto e o sentido de corresponsabilidade pela missão comum. Isto autoriza-nos a olhar com elevada confiança para o caminho que nos espera nos próximos anos, a partir da nomeação jubilar das equipas sinodais e dos organismos participativos. Já estamos a trabalhar para organizá-la da melhor maneira possível, para que a oportunidade de caminhar juntos fisicamente rumo à Porta Santa se torne uma oportunidade para trocar dons e celebrar aquela esperança que não decepciona, a única capaz de alimentar o compromisso de levar adiante, como Igreja sinodal, a missão confiada pelo Senhor Jesus aos seus discípulos.
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[1] Leão XIV, Primeira saudação e bênção, 8 de maio de 2025.
[2] Carta sobre o processo de acompanhamento da fase de implementação do Sínodo, 15 de março de 2025, <https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2025/03/15/0186/00366.html#it>.
[3] Ibid.
[4]O registo das equipas sinodais na base de dados da Secretaria geral do Sínodo ocorre através do link a ser solicitado por escrito para o endereço synodus@synod.va. Este registo não coincide com o do Jubileu das equipas sinodais e dos organismos participativos.
[5] O endereço de e-mail para o qual escrever é: synodus@synod.va.