‘C’est la confiance’, a nova exortação apostólica do Papa Francisco sobre a confiança no amor misericordioso de Deus, por ocasião do 150.º aniversário do nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. “Só a confiança e ‘nada mais’… Não há outra via que devamos percorrer para ser conduzidos ao Amor que tudo dá”, afirma o Santo Padre. “Com a confiança, a fonte da graça transborda na nossa vida, o Evangelho faz-se carne em nós e transforma-nos em canais de misericórdia para os irmãos.

No último domingo, 15 de outubro de 2023, o Papa Francisco divulgou a Exortação Apostólica “C’est la Confiance”, dedicada ao 150º aniversário do nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face.

Em conversa com o Vatican News, o carmelita brasileiro, Frei Juliano Luís da Silva, aprofundou o conteúdo e a importância deste documento, que destaca, como indica o titulo traduzido em português: “Só a Confiança”, a essência da vida e da espiritualidade de Santa Teresinha.
O carmelita destaca que a mensagem do Papa Francisco, através da frase notável de Santa Teresinha: “só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor“, retirada da carta 197 de Teresa, escrita para sua irmã e madrinha de batismo, Maria do Sagrado Coração, ilustra a essência da doutrina da Santa e faz referência à sua total entrega nos braços de Deus.

Os Papas e Santa Teresinha

Frei Juliano mencionou a relação estreita de vários papas com Santa Teresa do Menino Jesus ao longo dos anos. Destacou a afeição especial do Papa Pio X, que afirmou que ela se tornaria a maior Santa dos tempos modernos, e a admiração do Papa Pio XI, que presidiu a beatificação e a canonização de Teresa. O Papa Bento XVI também apresentou a figura de Teresinha em diversos discursos, e o Papa Francisco foi quem canonizou os seus pais, São Luís e Santa Zélia, em 2015, e que muitas vezes já declarou que nutre por Santa Teresinha um carinho particular.

“A pequena via”

O Frei ainda abordou a “Pequena Via”, uma expressão espiritual associada à Santa Teresa do Menino Jesus, que enfatiza o abandono e a confiança em Deus, e que o Papa Francisco ilustra com a analogia que a própria Santa fez, do elevador, representando a confiança em Deus, que é o único caminho para a salvação, e destacando que não são os méritos próprios que nos conduzem ao céu, mas sim o abandono no amor de Cristo:

“«O ascensor que me há de elevar até ao Céu são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena». Vê-se pequena, incapaz de fiar-se em si própria, embora firmemente certa da força amorosa dos braços do Senhor” (16). 

A misericórdia infinita de Jesus

A notável história de Henrique Pranzini, que Teresa o conheceu antes da sua entrada no Carmelo, demonstra a singular proximidade espiritual com um criminoso e impenitente, condenado à morte por triplo homicídio. Ao mencionar este testemunho, o Pontífice oferece um exemplo da ação da Misericórdia Divina, ressaltando que mesmo diante de atos cruéis, o amor e o arrependimento podem abrir as portas da salvação, sublinha Frei Juliano. Através deste testemunho, é possível notar que a vida de Teresa também foi repleta de caridade, refletindo seu profundo amor e compaixão por aqueles ao seu redor, um sentimento que ela mesma afirmou não ser apenas sobre suas emoções, mas também sobre ações concretas.

“Teresinha também nos deixou narrações que testemunham alguns momentos de graça vividos no meio da simplicidade de cada dia, como a sua inspiração repentina enquanto acompanhava uma irmã doente com um temperamento difícil. Mas trata-se sempre duma caridade mais intensa vivida nas situações mais ordinárias” (37).

A confiança que conduz ao Amor

O frei brasileiro ainda enfatizou a importância de não perder de vista a profundidade da teologia de Teresa, que assim como o Papa apresenta em sua exortação apostólica:

“Às vezes, de Teresa, citam-se apenas expressões que são secundárias ou mencionam-se coisas que ela pode ter em comum com qualquer outro Santo: a oração, o sacrifício, a piedade eucarística e muitos outros belos testemunhos, mas assim poderíamos privar-nos daquilo que é mais específico do seu dom à Igreja, esquecendo que «cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho»” (51).

O Papa Francisco também menciona a chuva de rosas, que não é um mero devocionismo, mas é uma grande graça de Deus por pelas mãos de Santa Teresinha, ressalta o carmelita.

“Assim, Teresinha exprimia a sua resposta mais convicta ao dom único que o Senhor lhe estava a oferecer, à luz surpreendente que Deus derramava nela. Desta forma chegava à última síntese pessoal do Evangelho, que partia da plena confiança para culminar no dom total aos outros. Não duvidava da fecundidade desta entrega: «Penso em todo o bem que quereria fazer depois da minha morte»; «Deus não me daria este desejo de fazer o bem sobre a terra depois da minha morte, se não quisesse realizá-lo». «Será como uma chuva de rosas»” (44). 

Frei Juliano Luiz da Silva, O.Carm, pároco da Paróquia Santa Maria Regina Mundi, em Roma, Itália

O legado da Santa Doutora da Igreja

A exortação apostólica “C’est la Confiance” do Papa Francisco, ressalta Frei Juliano, é repleta de referências às obras de Teresa e à tradição da Igreja, e representa um convite inspirador para toda a comunidade cristã a mergulhar mais profundamente no legado e nos ensinamentos desta amada Santa. Este evento marca uma celebração significativa não apenas para os Carmelitas, mas para toda a Igreja de Cristo, ressaltando a importância duradoura da mensagem de amor, confiança e misericórdia de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face

“O que devemos contemplar é o conjunto da sua vida, o seu caminho inteiro de santificação, aquela figura que reflete algo de Jesus Cristo e que sobressai quando se consegue compor o sentido da totalidade da sua pessoa». E isto vale com maior força de razão para Santa Teresinha, senda ela uma «Doutora da síntese»” (51).