04.07.2025
Tradução livre para português
Curiosidades da Bíblia: Para conhecer melhor o povo Filisteu
Josué, ao chegar à Terra de Canaã, deparou-se com alguns povos que passaram a concorrer pela posse da nova terra. Alguns deles, como os filisteus, tornaram-se inimigos mortais dos judeus.
Padre José Inácio Medeiros, cssr – Instituto Histórico Redentorista
Vivendo no sul da Mesopotâmia, na região da Caldeia, o povo judeu vagueava pelo meio de outras civilizações, algumas bem mais desenvolvidas do que ele. Ao chegar à Terra de Canaã, deparou-se com alguns povos que passaram a concorrer com ele pela posse da nova terra. Alguns deles, como os filisteus, tornaram-se inimigos mortais dos judeus, mas a sua existência somente é conhecida por causa das narrativas bíblicas.
Uma inimizade duradoura
Assim contam as sagradas Escrituras, no Primeiro Livro de Samuel:
David, contudo, pensou: Algum dia eu serei morto por Saul. É melhor fugir para a terra dos filisteus. Então Saul desistirá de procurar-me por todo o Israel, e escaparei dele. Assim, David e os seiscentos homens que estavam com ele foram até Aquis, filho de Maoque, rei de Gate. David e seus soldados estabeleceram-se em Gate, acolhidos por Aquis. Cada homem levou a sua família, e David, as suas duas mulheres: Ainoã, de Jezreel, e Abigail, que fora mulher de Nabal, de Carmelo. Quando contaram a Saul que David havia fugido para Gate, ele parou de persegui-lo. Então David disse a Aquis: Se me contas como amigo e eu conto com a tua simpatia, dá-me um lugar numa das cidades desta terra onde eu possa viver. Naquele dia Aquis deu-lhe Ziclague. Por isso, Ziclague pertence aos reis de Judá até hoje. Primeiro Livro de Samuel, capítulo 27, versículos de 1 a 6.
De Josué até Jeremias, o Antigo Testamento descreve os filisteus como inimigos mortais dos hebreus. Eles são apresentados como guerreiros que combatem e humilham cruelmente os israelitas, oferecendo ao deus Dagan todos os bens que são saqueados.
Numa das muitas lutas travadas entre os dois povos, os cadáveres degolados do rei Saul e de seus filhos foram expostos diante das muralhas da cidade de Beth Shean. Porém, foi grande a vingança dos israelitas. Segundo a narrativa bíblica, o povo inimigo sofreu moléstias, ulcerações e chagas atribuídas como castigo do Deus Javé, dos judeus.
Nos tempos em que pastoreava as ovelhas de seu pai Jessé, David foi o protagonista de um célebre embate, em que demonstrou ao amedrontado exército israelita que bastava uma funda (Uma funda ou fundíbulo é uma arma de arremesso constituída por uma correia ou corda dobrada, em cujo centro é colocado o objeto que se deseja lançar) para dobrar a força filisteia, encarnada no gigante Golias.
Outro personagem conhecido desta luta foi Sansão que, escolhido de Deus, viveu a amarga experiência de que nem sempre é vantajoso desposar uma mulher da tribo inimiga.
Origem e organização dos filisteus
O termo “filisteu” tem origem no vocábulo hebraico “plishtim”. Na verdade, não se tratava de um povo, mas sim de uma confederação de pelo menos cinco cidades-estado diferentes, cujos originários vieram do Mar Egeu, estabelecendo-se no leste do mar Mediterrâneo (século XIII a.C.).
As primeiras referências aos filisteus são encontradas em alguns escritos egípcios dos reinados dos faraós Mineptah e Ramsés III. Ao que tudo indica, este povo estava integrado nos chamados “povos do mar” também designados como “povos habitantes das ilhas” ou ainda “povos do Norte”. Num vasto ciclo de invasões, devastaram a ilha de Chipre e a cidade de Ugarit, no Norte da atual Síria, levando à queda dos Hititas. Segundo alguns historiadores esse ciclo de invasões sinaliza o fim da Idade do Bronze.
Os filisteus constituíram várias cidades-estado que, localizadas na costa sul do mar mediterrâneo, são também conhecidas como pentápole filistina. Dominaram os Cananitas vindos da cidade de Kefitiu, localizada na atual Turquia, então conhecida como Ásia Menor. A pentápole daria origem ao núcleo da atual Palestina.
Depois de muito lutar e já no século X a.C., a unificação das tribos israelitas sob o comando do rei David, levou ao enfraquecimento dos filisteus que também sofreram a dominação de povos mais fortes e organizados como os assírios e os babilónios.
As suas cidades desapareceram após os ataques realizados pelo rei Nabucodonosor, no século VI a.C. Estas cidades, cada uma delas governada por um “senhor”, não voltaram a ser edificadas nem habitadas pelos filisteus que, a partir de então, deixaram de ser mencionados em documentos da época ou posteriores. Por volta do século VII a.C. os relatos sobre este povo tornam-se escassos, até não se encontrar mais nenhuma notícia.
Mas, … o conflito continua
Não fossem as narrativas bíblicas os filisteus seriam hoje muito menos conhecidos tal como acontece com inúmeros povos desta e de outras épocas. Mas os escritores sagrados falam deles colocando-os sempre em referência à rivalidade com os judeus. Tanto assim é que gozam da inglória fama de incultos e bárbaros e a palavra filisteu tem sempre uma conotação pejorativa. Os achados arqueológicos mais recentes ajudaram a trazer mais luz sobre a cultura filistina ou filistéia, comprovando um avançado grau de organização onde era claro que a tribo sabia portar-se como povo civilizado.
Inimigos “figadais” do povo judeu no passado, os filisteus controlaram um território que atualmente corresponde ao centro e sul de Israel e à Faixa de Gaza, razão pela qual a rivalidade continua. Assim o atesta o continuado conflito entre Israel e os Palestinos.
Curiosidades da Bíblia – 6 Para conhecer melhor o povo Filisteu (PDF)