Ano Litúrgico C – Ano de Lucas

ANO LITÚRGICO 2021/2022

Evangelho de Marcos:

– É o primeiro a ser escrito. Ainda há muita memória da história e vida de Jesus de Nazaré histórico;
– É o Evangelho que começa no Batismo de Jesus;
– É o Evangelho mais pequeno – 16 Capítulos;
– Este Evangelho foi escrito, quase seguramente, em Roma;
– Onde Jesus é de poucas palavras… mais de ações;
– É o Evangelho do Jesus que toca, que diz quero – que vejas, que andes, que fales e ouças, que fiques sem lepra, que fiques sem os demónios que te apoquentam, etc…

Evangelho de Mateus:

– É o Evangelho maior em capítulos – 28 Capítulos (mas não o mais extenso);
– Foi construído sobre o Evangelho de Marcos. Leva-nos até Abraão;
– É um dos 2 Evangelhos – o outro é Lucas – que trata a Infância de Jesus;
– Onde Jesus está quase sempre a falar, a fazer longos e belos discursos;
– Veja-se o Sermão da Montanha: começa no Capítulo 5 e só termina no final do Capítulo 7;
– É o Evangelho do Jesus que fala para os hebreus/judeus cristãos;
– É o Evangelho do Jesus que mais ligações faz ao A.T.;
– É o Evangelho de Jesus em modo de utilizador do A.T. versus a Nova Aliança.

Evangelho de Lucas:

– É o Evangelho do meio – 24 Capítulos (mas o maior em extensão);
– Foi, também, construído sobre o Evangelho de Marcos – Leva-nos até Adão;
– É um dos 2 Evangelhos – o outro é Mateus – que trata a Infância de Jesus;
– Onde Jesus está quase sempre a contar estórias – as Parábolas;
– As Parábolas nos Evangelhos Sinóticos – ao todo são 40. Só no Evangelho de Lucas encontramos 29 e destas 16 só estão no Evangelho de Lucas;
– É o Evangelho do Jesus que fala para os pagãos, como nós, mas fundamentalmente para os gregos/ helenistas;
– É um Evangelho literariamente muito bem elaborado.

Evangelho de João:

– É um Evangelho não Sinótico – 21 Capítulos;
– Foi construído fora dos Sinóticos e vendo mais longe – leva-nos até Deus;
– É um Evangelho onde Jesus “adora” conversar. Começa sempre em forma de diálogo e termina em monólogo ensurdecedor. É um Jesus de catequeses;
– É o Evangelho dos Sinais – São 7, como não podia deixar de ser:
– As Bodas de Caná;
– A cura do filho do funcionário real;
– A cura do paralíptico junto à piscina de Betzata;
– Jesus caminha sobre as águas;
– A mulher adúltera; 
– A cura do cego de nascença;
– A “ressurreição” de Lázaro (o sinal dos sinais);
– Hoje há poucas dúvidas que o seu autor não foi o apóstolo João, mas o autor procurou fontes nele – no discípulo amado;
– É um Evangelho “perfeito” em termos de catequese.

ANO LITÚRGICO 2021/2022 – Ciclo

O ano litúrgico do Evangelho de Lucas

1.1 Quem é Lucas?

Citando o destinatário do Evangelho (Teófilo), o autor omite qualquer menção de quem é e a quem o escreveu.
Teófilo remete-nos para o significado grego – amigo de Deus. Portanto foi, afinal, escrito para ti e para mim.
Por ser citado por Paulo na Carta a Timóteo, na Carta a Filémon, na Carta aos Colossenses, permite-nos chegar a uma conclusão (provisória) que Lucas:
– Era amigo de Paulo;
– Era médico;
– Não era circuncidado, portanto não era judeu;
– Natural de Antioquia.
Precisamos saber se Lucas é o autor dos Atos dos Apóstolos para confirmar a sua origem não judia.
Também precisamos saber, se as Cartas referidas foram escritas por Paulo.

1.2 Estilo literário de Lucas

Nenhum dos 4 evangelistas mostra um amor tão grande por Israel e pelas suas tradições como Lucas.

Vejam-se os capítulos 1 e 2. É um entusiasta do estilo e da temática da Escritura judaica em versão dos LXX (setenta). Verdadeira obra-prima do estilo arcaizante, com o seu modo de tornar presente o passado pela própria materialidade literária. É um Evangelho cultíssimo (S. Jerónimo). Todos os materiais da tradição estão marcados pelo trabalho do autor, que se reflete quer na sua ordenação, quer no vocabulário, quer no estilo. A arte e a sensibilidade de Lucas manifestam-se na sobriedade das suas observações, na delicadeza de atitudes, no dramatismo de certas narrações, na atmosfera de misericórdia das cenas com pecadores, mulheres e estrangeiros.

Cerca de 45% do que lemos no Evangelho de Lucas (541 versículos) é exclusivamente lucano. Com menos 4 capítulos que o Evangelho de Mateus é, todavia, o mais extenso. Se juntarmos os Atos dos Apóstolos, pertence a este escritor/redator (Lucas) quase 30% do Novo Testamento.

1.3 O tempo de Jesus e o Tempo da Igreja: uma ideia-chave de Lucas

Uma das ideias-chave de Lucas é distinguir o tempo de Jesus e o tempo da Igreja. Sem esquecer a singularidade única do acontecimento salvífico de Jesus Cristo, põe em relevo as etapas da obra de Deus na História. Mais do que Mateus e Marcos, ao falar de Jesus e dos discípulos, Lucas pensa já na Igreja, cujos membros se sentem interpelados a acolher a mensagem salvífica na alegria e na conversão do coração.

É isso que faz deste livro o Evangelho da misericórdia, da alegria, da solidariedade e da oração. No respeito pelo ser humano, a salvação evangélica transforma a vida das pessoas, com reflexos no seu interior, nos seus comportamentos sociais e no uso que fazem dos bens terrenos.

Jesus anuncia a sua vinda no fim dos tempos, o qual, segundo Lucas, coincidirá com o termo do tempo da Igreja. Mas a insistência de Lucas na salvação presente, na realeza pascal do Senhor Jesus, na ação do Espírito Santo na Igreja, contribui para atenuar a tensão relativa à iminente Parusia. A própria destruição de Jerusalém, vista como um acontecimento histórico, despojando-o da sua projeção escatológica, presente em Mateus e Marcos, é sinal de uma consciência viva do dom da salvação presente no tempo da Igreja. (Bíblia dos Capuchinhos)

1.4 Data dos escritos de Lucas

1.4.1. Atos de Jesus – 1ª parte do Evangelho de Lucas

A composição deste Evangelho é situada por volta dos anos 75/80, porque Lucas deve ter conhecido o cerco e destruição da cidade de Jerusalém por Tito, no ano 70. Hoje é seguro afirmar serem 3 as fontes do Evangelho de Lucas: Marcos – (400 versículos), Fonte/Documento Q – (230 versículos) e informação particular – (521 versículos). Lucas não conheceu Mateus nem o seu Evangelho.

1.4.2. Atos dos Apóstolos – 2ª parte do Evangelho de Lucas

Tendo em conta o estado da crítica atual, o livro terá sido escrito por volta do ano 80, ou seja, depois do terceiro Evangelho. Um dos elementos a favor dessa datação é a abertura e indeterminação do epílogo, cujo resumo da estadia de Paulo em Roma mostra como o anúncio do Evangelho já chegava de Jerusalém às extremidades da terra, como esta era conhecida naquele tempo (1,8; 28,30)

1.5 Estrutura e desenvolvimento dos Evangelhos

Todos tratam daquilo que poderemos identificar como “ditos e feitos de Jesus de Nazaré”

Todos os evangelhos estão estruturados em 3 grandes capítulos:

  1. Ensinamentos – grandes leis/ensinamentos para chegar ao Reino de Deus;
  2. Parábolas – estórias para pôr o Reino à vista. Como “funciona” o Reino de Deus – só nos sinóticos;
  3. Sinais – O Reino a acontecer entre nós.

Apenas Mateus e Lucas, cada um à sua maneira, relatam o nascimento de Jesus;

Todos registam o encontro fulcral de Jesus com João Batista;
Todos narram milagres/sinais que Jesus realizou;
Todos contam as circunstâncias da sua morte;
Todos afirmam que Jesus ressuscitou fisicamente – o evangelista Marcos e o final do seu evangelho;
Três, entre eles Lucas, oferecem relatos de como a sua ressurreição foi confirmada por testemunhas;

Nenhum dos 4 evangelistas diz a data que Jesus nasceu, nem ao certo a data que Jesus morreu;

Lucas – Jesus terá começado a sua pregação no 15º ano reinado de Tibério – ano 28/29 da nossa era;

1.6 Divisão e conteúdo do Evangelho de Lucas

O esquema geral do Evangelho de Lucas:

I – A importância do Prólogo e da dedicatória: Teófilo: quem é? (Lc 1,1-4)
– Um mecenas;
– O afilhado do batismo;
– Eu, tu, … Teófilo significa – “amigo de Deus”

II – Evangelho da infância Lc 1,5-2,52)
-Lucas, com Mateus, trata a infância de João Batista e Jesus, mas de forma muito diferente;

III – Prelúdio da missão messiânica de Jesus (Lc 3,1-4,13)

IV – Ministério de Jesus na Galileia (Lc 4,14-9,50)
– A sua atitude face às multidões, aos primeiros discípulos e aos adversários (Lc 4,31-6,11)
– O seu ensino aos discípulos (Lc 6,12-7,50)
– A associação estreita dos 12 à sua missão (Lc 8,1-9.50).

V- Subida de Jesus a Jerusalém Lc 9,51 – 19,28)
– O esquema literário de Lucas é, ao mesmo tempo, original, mas artificial, sem continuidade geográfica nem progressão doutrinal. Tal quadro permite ao autor reunir uma série de elementos, em parte convergentes com os de Mateus e Marcos, colocando-os na perspetiva do evento pascal, a consumar-se na cidade de Jerusalém. Jesus dirige-se a Israel, chamando à conversão; mas é, sobretudo, para os discípulos que os seus ensinamentos se orientam, tendo em conta o tempo em que já não estará presente entre eles.

VI – Ministério de Jesus em Jerusalém Lc 19,29-21,38
– O ensino de Jesus no Templo (Lc 20,1-21,37)

VII – Paixão, morte e ressurreição de Jesus (Lc22,1-24,53)
– A narração da Paixão e as narrações da Páscoa (22,1-24,53). Omitindo a tradição das aparições na Galileia e situando todos os eventos pascais em Jerusalém, Lucas põe em evidência o lugar central daquela cidade na História da Salvação. Desde lá vai irradiar também a mensagem evangélica, relatada pelo mesmo autor no livro dos Atos

1.7 Exemplos e comentários sobre alguns capítulos do Evangelho de Lucas

Evangelho da infância (deve comparar-se com o Evangelho de Mateus):
– José e Maria são naturais de Nazaré (ver Mateus);
– Vão a Belém para a formalidade do recenseamento romano – “colisão histórica”;
– Lucas é o evangelista do presépio. (ver Mateus);
– Lucas e os pastores (ver Mateus);
– Lucas, Isabel e Maria (ver Mateus);
– Lucas, Zacarias e José (ver Mateus).
– Zacarias e Isabel remetem-nos para Abrão e Sara – a gravidez impossível;
– O Magnificat de Maria e o Cântico de Ana mãe de Samuel;

As Parábolas em Lucas – importante trabalhar este tema;
Em Lucas, ao contrário de Marcos, seu inspirador:
– Jesus não caminha sobre as águas;
– Não é flagelado antes de ser crucificado;
– Não é coroado de espinhos.

Só em Lucas:
– Nascimento e circuncisão de João Batista;
– Anunciação do anjo Gabriel a Maria;
– Visita de Maria a Isabel;
– Nascimento de Jesus na manjedoura em Belém;
– Adoração dos pastores;
– Circuncisão de Jesus;
– Apresentação de Jesus no Templo;
– A parábola do bom samaritano – o vinho e azeite na cura das feridas e o Lucas médico (?);
– A parábola do filho pródigo, melhor, do Pai misericordioso;
– Marta atarefada com a lida da casa e exasperada com sua irmã Maria;
– A parábola do homem rico e de Lázaro;
– A pecadora que lava os pés a Jesus;
– A frase “fazei isto em minha memória” na última ceia;
– Jesus julgado por Herodes;
– Jesus cura a orelha do escravo do Sumo Sacerdote – o Lucas médico(?)
– A frase de Jesus na cruz: “Pai perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”;
– Últimas palavras de Jesus na cruz:” Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” – Salmo 31.

Diferente noutros evangelistas.
– A aparição de Jesus ressuscitado a caminho de Emaús;
– A ascensão de Jesus.

Em Lucas como noutros evangelistas:

– 3 mulheres como testemunhas da ressurreição: Maria Madalena, Maria (mãe de Tiago) e Joana (em Marcos refere-se Salomé)

ANO C – Ano de Lucas