Sínodo 2021-2024: Síntese da CEP para Assembleia Continental em Praga
(5-12 fevereiro 2023)
- Seguindo as orientações do Documento para a Etapa Continental (DEC) do Sínodo dos Bispos 2021-2024, as Dioceses de Portugal foram convidadas a prosseguir o processo sinodal em torno de três questões aí propostas (n.º 106). Apesar da menor participação, esta fase comprova o propósito de recuperar a identidade sinodal da Igreja e de transformar as etapas de um Sínodo num processo consecutivo.
- Na maioria das dioceses a reflexão das questões propostas no DEC foi feita pelas equipas sinodais diocesanas, mas noutras devolveu-se a consulta aos grupos sinodais nas comunidades locais e ampliou-se a escuta e o discernimento a todos, evidenciando já alguns resultados do processo sinodal.
I – Quais as intuições que ecoam, de modo mais intenso, com as experiências e as realidades concretas da Igreja? Quais as experiências que aparecem como novas ou iluminadoras?
- É transversal o reconhecimento da validade do processo sinodal, visto como uma experiência rica e iluminadora, que proporcionou a alegria do encontro com o outro, a escuta atenta e profunda, e um maior e melhor diálogo, o que contribuiu para a renovação da consciência de que somos Corpo de Cristo.
- De forma positiva, compreende-se que as alegrias, dores, dificuldades e êxitos sentidos na Igreja são similares entre as diferentes dioceses e países, o que é revelador de comunhão, mas também sinal de que os dilemas da Igreja são questões candentes da própria humanidade.
- Há uma perceção de que os temas abordados neste processo sinodal não são inéditos, mas com a escuta alargada a todo o Povo de Deus ganham uma força e uma universalidade novas.
- A imagem bíblica apresentada no DEC, “alargar o espaço da tenda”, é entendida como um sinal de esperança que revela a importância de a Igreja dar voz e vez a todos, indo às periferias, manifestando a necessidade de acolher a todos independentemente das suas circunstâncias, incluindo os que moral e canonicamente possam estar numa situação irregular. A Igreja que se intui é aquela que está em saída porque se assume plenamente missionária e capaz de oferecer à Humanidade luzes de esperança.
- Revela-se, também, necessário o acolhimento da pluralidade e diversidade de carismas da Igreja, sem que se perca a identidade e o reconhecimento da igualdade e dignidade de todos os batizados, admitindo que é necessária uma igreja ministerial que não esteja centrada no ministério ordenado.
- Finalmente, ressoa a necessidade de sermos uma Igreja com maior transparência nos processos de decisão e na sua comunicação, que dialoga com o mundo a partir da cultura numa perspetiva de “rasgar caminhos”, trazendo o Evangelho e a espiritualidade para o centro do debate público, numa Europa cada vez mais descristianizada, onde a dimensão institucional da Igreja tem uma relevância cada vez menor. Sublinha-se mesmo a necessidade de readquirir “relevância social”.
II – Quais as tensões ou divergências substanciais que surgem como particularmente importantes? Quais são as questões ou interrogações que deveriam ser enfrentadas e tomadas em consideração nas próximas fases do processo?
- Na liturgia há uma tensão crescente entre sensibilidades pré e pós-conciliares, sendo necessário procurar ultrapassar as questões relacionadas com os grupos que se opõem à mudança. Denotam-se divergências entre a fidelidade aos fundamentos da fé e a maleabilidade face a premissas externas, e configura-se a necessidade de adaptar a linguagem litúrgica aos tempos de hoje.
- Na ação pastoral é necessário ultrapassar a tensão entre fidelidade doutrinal e acolhimento acrítico e indiscriminado de tudo o que o outro proponha. Por outro lado, diante de modelos de pastoral gastos e distantes de um novo impulso evangelizador, o clericalismo obstaculiza a mudança, o legalismo arbitrário afasta os fiéis e o rosto burocrático de muitas comunidades são geradores de tensão e muitas vezes de abandono.
- Há alguma dificuldade em acolher todos de igual forma e em aceitar a diversidade no seio da Igreja (casais em segunda união, pessoas com atração pelo mesmo sexo ou em uniões homossexuais) em valorizar a fragilidade, nomeadamente das pessoas com deficiência, e em compreender o que se entende por “acolhimento”.
- Importa, também, explicar o que significa promover uma igreja ministerial, clarificando o papel de leigos e sacerdotes, refletindo sobre a ausência dos jovens e do clero neste processo sinodal.
- Há, ainda, tensões diversas em temas ditos fraturantes, tais como: o acesso das mulheres ao sacramento da ordem; a ordenação de homens casados; a identidade sexual e de género; a educação para a afetividade e sexualidade; e o celibato dos padres.
- Devem ser consideradas, igualmente, outras questões: a forma como são geridas as situações de abusos sexuais; a comunicação hermética que dificulta, não só o diálogo interno, mas o diálogo com a sociedade em geral e, especialmente, com outras confissões cristãs e religiosas.
III – Quais são as prioridades, os temas recorrentes e os apelos à ação que podem ser partilhados com outras Igrejas locais no mundo e discutidos durante a Primeira Sessão da Assembleia sinodal em outubro de 2023?
- Depois de indicadas as intuições que mais ecoaram e as tensões e questões a enfrentar, elencamos as prioridades:
- dar prioridade aos jovens, defendendo a importância de lhes dar voz e lugar na vida da Igreja e encontrar verdadeiros projetos de renovação que os incluam;
- facilitar e promover a participação da mulher na Igreja, em igualdade de oportunidades;
- dinamizar a formação de leigos e clérigos na sinodalidade, revendo a formação proporcionada pelos seminários para a missão no mundo atual, promovendo um acompanhamento do clero;
- refletir sobre o ministério ordenado, considerando a possibilidade de ordenar presbíteros homens casados;
- ter uma atenção permanente aos pobres e dar centralidade às diferentes questões de cariz social, bem como às questões relacionadas com a ecologia face aos crescentes problemas ambientais;
- tornar as paróquias um lugar de verdadeira “cultura sinodal”, onde todos são convidados a participar, a manifestar-se, a dar o contributo para a ação pastoral, em conselhos ou assembleias, assumindo efetiva corresponsabilidade. Propõe-se, neste âmbito, a revisão do Código de Direito Canónico;
- dar resposta às novas realidades sociais e afetivas, fortalecendo os vínculos nas Igrejas domésticas com um acompanhamento personalizado das famílias, e acolhendo os novos modelos familiares (famílias monoparentais, famílias reconstruídas a partir de outras, divorciados recasados, famílias com pais/mães do mesmo sexo e com filhos biológicos ou adotados);
- incentivar o diálogo ecuménico e inter-religioso, com iniciativas que possam ir além da semana de oração pela unidade dos cristãos;
- dialogar com a cultura e com o pensamento contemporâneo, em temas como a inteligência artificial, a robótica ou as questões de identidade de género (LGBTQIA+);
- rever a comunicação e linguagem da Igreja (para dentro e para fora) e a ocupação do espaço público como uma voz credível e de serviço.
- Sendo o processo sinodal e a dinâmica a ele implícita considerados como uma das experiências mais ricas e iluminadoras, é necessário permanecer em espírito de discernimento contínuo para que a Igreja possa ser sempre lugar de encontro pessoal e comunitário com Jesus e o seu Evangelho, e lugar de partida para a missão.
- A pergunta principal a que conduzem todas estas intuições, experiências, interrogações e apelos, acima da importante pergunta do que querem a Igreja e os fiéis, é esta outra: o que quer Jesus Cristo da sua Igreja hoje? A resposta é necessária e passa sempre pelo discernimento a fazer pelos apóstolos que o próprio Cristo deixou à sua Igreja, “cum et sub Petro”.
Sínodo 2021-2024 Síntese portuguesa na fase continental – Praga 5-12 fevereiro 2023 (PDF)