O Padre Albino Reis na JMJ2023

Via-sacra da JMJ2023

04 de agosto de 2023

https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/ouca-a-emissao-especial-tsf-800-mil-pessoas-juntaram-se-ao-papa-na-via-sacra-da-jmj-16809147.html

O capelão do Hospital de Vila Nova de Gaia/Espinho e pároco de Vilar de Andorinho Albino Reis, esteve no estúdio da TSF para participar na emissão especial da via-sacra que se realizou no Parque Eduardo VII.

Missionário Comboniano, agora padre diocesano e antigo objetor de consciência, Albino Reis esteve acompanhado pelo jornalista Manuel Vilas Boas. A emissão foi coordenada por Fernando Alves.

 

Uma “verdadeira via-sacra de sofrimento, perseguição e mortes”

“Estive dez anos no Brasil a trabalhar como missionário e tive a felicidade de estar em dois estados do Brasil muito interessantes. O Ceará, onde fiz o meu serviço cívico, para substituir o tempo de serviço militar, ao qual me opus, que objetei. E, depois, no Maranhão, já em plena atividade missionária, sobretudo com comunidades indígenas, com garimpeiros e com sem-terra”, conta o missionário.

Esse período da vida de Albino Reis foi uma “verdadeira via-sacra”, já que a “via-sacra é um caminho da cruz, mas que também leva à ressurreição”.

“De muito sofrimento, de muita perseguição, de mortes. Fui ameaçado, acompanhei muita gente em conflitos de terra em que morreram inocentes. Mas sempre nessa perspetiva de envolvimento, de compromisso, com essas pessoas para, de toda essa caminhada para a cruz, no fim haver alguma vida, haver ressurreição. É esta mistura de morte e de ressurreição que acompanha a vida do missionário”, revela o agora capelão do Hospital de Vila Nova de Gaia/Espinho.

Hoje, e passados mais de 20 anos de ter regressado a Portugal, Albino Reis mantém o contacto com amigos no Brasil: “Hoje em dia isso é muito fácil pelas redes sociais. É muito fácil. É sempre uma alegria encontrar pessoas a falar português com esse sotaque adocicado do Brasil.”

 

Covid-19 e saúde mental: “Não estivemos à altura de responder”

Atualmente é capelão no Hospital de Vila Nova de Gaia/Espinho e a experiência não tem tanta aventura, mas a morte e o sofrimento continuam lá, assim como a ressurreição.

Num momento em que comentava o sofrimento de Jesus durante a via-sacra que ocorria no Parque Eduardo VII, Albino Reis fez o paralelismo com um dos grandes problemas do mundo atual: a saúde mental.

“Este é um problema sério, de facto. Esta segunda queda de Jesus, que neste texto se traduz pelo problema da saúde mental, leva-nos a uma reflexão necessária sobre a saúde entre nós. Nós acabámos de viver praticamente três anos muito complicados e muito perturbadores por causa desta pandemia. Isso trouxe muitos problemas a nível de saúde mental a tanta gente”, lamentou o sacerdote.

E o problema é que a resposta não surgiu como deveria: “Parece-me que desde o primeiro momento do surgimento desta pandemia da Covid-19, que ainda está aí, mas não com tanta força, não estivemos à altura de responder. Houve muitos dramas associados, muitos, muitos dramas associados, e o governo, a Direção-Geral de Saúde, portanto, não estivemos [à altura]. Eu estou num ambiente hospitalar a trabalhar todos os dias e é mais uma cruz que se carrega. E com aqueles milagres que vão acontecendo todos os dias, de curas, portanto, uma via Sacra que chega a ressurreição.”

 

Sentado numa mota “é bom estar de bem com Deus, não vá o diabo tecê-las”

Tirando o sofrimento e regressando à aventura, o que sobra para Albino Reis é a vida de motard, movimento esse que também está muito associado às questões religiosas. Ainda assim, parece que os motards não fizeram uma grande excursão para assistir à Jornada Mundial da Juventude.

“Nem por isso, eu penso que nem por isso. Talvez devido à logística, devido às questões de segurança, desta vez, os motards não tiveram muito protagonismo nestas coisas. Agora, de facto, o espírito motard é um espírito também de inquietações religiosas. Estão presentes em muitas jornadas deste tipo. Nas concentrações, organizam frequentemente celebrações até da bênção do capacete, nem que mais não seja, peregrinações a Fátima. Portanto, é gente que tem um espírito, até porque vive na aventura e no risco. Não vá o diabo tecê-las, é bom estar de bem com Deus”, explica o padre.

Além de Albino, há outros padres motards: “Há bastantes, há bastantes. Aliás, eu tenho pena de não ser mais padre motard. Não tenho possibilidade de ir a concentrações. O tempo não me permite, tenho uma paróquia muito grande. Eu já não sou missionário Combonianos. Neste momento encarnado na diocese do Porto. Deixei a congregação dos missionários Combonianos e passei a fazer parte do clero diocesano, na diocese do Porto, que também não é. Mantendo o espírito e as amizades entre os Combonianos.”

Apesar da idade, Albino Reis apresenta-se como alguém que ainda gostaria de fazer uma nova missão, talvez na Amazónia.

“Já estou a ficar um bocadinho velho. Eu costumo dizer que sou sexygenário. Eu já estou a ficar um bocadinho velho, mas não me importava de fazer uma experiência missionária, uma aventura missionária na Amazónia”, revelou.

O padre seguiu para Lisboa para participar na Jornada Mundial da Juventude não enquanto capelão hospitalar, mas como “assessor da pastoral da juventude na Vigararia de Gaia-Norte”, de onde viajou um grupo de jovens.

“O grupo de jovens que veio da Vigararia de Gaia Norte, cerca de 400, ficaram hospedados num pavilhão paroquial de Vila Franca de Xira e é lá que estão a pernoitar. Eu cheguei hoje, não consegui chegar antes”, esclareceu, admitindo, ainda assim, já ter passado por “sardinha dentro da lata, espremido e comprimido” no metro lisboeta.

Agora é mostrar o espírito aventureiro até ao último dia da JMJ: “Estou a pensar pernoitar no Parque Tejo com os jovens na vigília, para depois participar de manhã na celebração.”