Revisitação dos discursos e das homilias da Jornada Mundial da Juventude – JMJ Lisboa 2023

Missa de Abertura da Jornada Mundial da Juventude – Lisboa 2023

Colina do Encontro – Parque Eduardo VII – Lisboa

01 de agosto de 2023 – 19 h00

Homilia da Missa de Abertura da Jornada Mundial da Juventude

Cardeal-Patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente

“Caríssimos amigos, aqui chegados do mundo inteiro para a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.

Bem-vindos, todos! Bem-vindos, também na amplitude ecuménica, inter-religiosa e de boa vontade que estes dias têm e congregam. Bem-vindos, todos!

Desejo que vos sintais ’em casa’, nesta casa comum em que viveremos a Jornada Mundial. Bem-vindos!

A Missa que celebramos, na expectativa da chegada do nosso querido Papa Francisco, é a da Visitação de Nossa Senhora, lema geral da Jornada: Maria levantou-se e partiu apressadamente ao encontro de Isabel. É um passo evangélico que nos inclui também.

Ouvimo-lo há pouco: «Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.»

Pôs se a caminho, dirigiu-se apressadamente para a montanha, entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Três pontos em que me deterei brevemente, nesta palavra inaugural.

Maria pôs-se a caminho. Um caminho difícil e sem os meios de transporte de que hoje dispomos. E era uma jovem como vós, que há pouco concebera Jesus, do modo único que o Evangelho relata.

Também vós vos pusestes a caminho. Foi para muitos um caminho difícil pela distância, as ligações e os custos que a viagem envolveu. Foi preciso juntar recursos, desenvolver atividades para os obter e contar com solidariedades que graças a Deus não faltaram.

De longe ou mais perto, pusestes-vos a caminho. É muito importante pôr-se a caminho. Assim devemos encarar a própria vida, como caminho a percorrer, fazendo de cada dia uma nova etapa.

É verdade que hoje muita coisa vos pode deter, caros amigos, com a possibilidade de substituirmos a realidade verdadeira, que só se atinge a caminho dos outros, como realmente são, pela aparência virtual dum mundo à escolha. Um mundo à escolha, diante dum ecrã e dependente dum clique que o mude por outro.

A virtualidade mantém-nos sentados, diante de meios que facilmente nos usam quando julgamos usá-los. Bem pelo contrário, a realidade consistente põe-nos a caminho, ao encontro dos outros e do mundo como ele é, tanto para o admirar como para o fazer melhor.

Agradecemos aos media a possibilidade de nos conhecermos mais, a nós aos outros e ao mundo. Vivemos mediaticamente e já não saberíamos viver doutro modo. Contamos com o seu apoio, mas não nos dispensamos de caminhar por nós mesmos, de contactar e verificar diretamente a realidade que nos toca, a nós e a todos.

Valeu a pena o caminho que percorrestes para chegar aqui e vos encontrardes nestes dias, na variedade do que sois e na qualidade que trazeis, cada um e cada uma, de cada terra, língua e cultura. Nada pode substituir este caminho pessoal e de grupo, ao encontro do caminho de todos.

Maria levava já no seu ventre o “bendito fruto” que era Jesus. Os cristãos levam-no também, espiritual, mas realmente, porque o recebem na palavra, nos sacramentos e na caridade onde Ele se oferece. E como acreditamos em Jesus como caminho para Deus, caminhamos com Ele para O levar aos outros. No mesmo impulso que levava Maria, no mesmo Espírito que nos leva a nós. A caminho!

Maria dirigiu-se apressadamente para a montanha, como ouvimos também.

Não é por acaso que o texto fala da pressa de Maria, como noutros passos evangélicos se fala da urgência do anúncio, do testemunho e da visitação permanente aos outros, como havemos de fazer.

Caros jovens, sabeis muito bem que quando o coração está cheio rapidamente transborda. Como é impossível sufocar o que vos vai alma, quando é realmente forte e mobilizador.

Maria levava consigo o próprio Jesus que concebera. E Jesus é “Deus connosco”, para ser Deus com todos. Daí a pressa de O levar a Isabel, mesmo subindo montanhas.

Vós conheceis esta “pressa”, porque também outros se apressaram a vir ao vosso encontro para vos levar Jesus e tudo quanto Ele vos oferece de horizontes largos e vida em abundância.

Nem precisais de perceber sempre as palavras, como acontece agora, entre tantas línguas aqui reunidas. Porque os próprios olhos falam e vos sentis seguros e confiantes, na atmosfera cristã que em conjunto criais e nos gestos simples com que comunicais. Há verdadeiramente uma “pressa no ar”, que circula entre vós e onde chegareis nestes dias. Um ar em que o próprio Espírito divino circula, com a prontidão que só Deus tem e comunica.

Quando disse ao Papa Francisco que era este precisamente o lema da nossa Jornada – Maria dirigiu-se apressadamente… – ele logo acrescentou que sim, apressadamente, mas não ansiosamente.

Na verdade, a ânsia é do que ainda não temos e pretendemos inquietos. A pressa é diferente, é partilhar o que já nos leva. Por isso é uma urgência serena e sem atropelo. Como aqui chegastes e como aqui estareis, levando aos outros o que vos traz a vós.

Lembro a propósito um trecho dos primeiros cristãos, mesmo numa sociedade que demorava em entendê-los: «no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito, mantendo limpa a consciência…» (1 Pe 3, 15-16).

Assim estareis vós, nesta pressa sem ansiedade, como quem partilha o que vai tendo. O que vos trouxe aqui e levareis acrescentado pela graça destes dias!

Finalmente, dizia o texto que Maria entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.

Caros amigos, assim também vós chegareis uns aos outros, com verdadeira e alegre saudação.

O Evangelho conta-nos a alegria daquele encontro de Maria com Isabel e do reconhecimento mútuo em que ocorreu. A saudação de Maria foi tal que suscitou na sua parente a exclamação que tantas vezes repetimos: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!» E às palavras de Isabel correspondeu Maria com um dos hinos mais belos que cantamos desde então, o Magnificat.

É muito importante que seja assim convosco e com todos. Na verdade, cada encontro que tivermos deve ser inaugurado com verdadeira saudação, em que troquemos entre nós palavras de acolhimento sincero e plena partilha.

Lisboa acolhe-vos de coração inteiro, e assim as outras terras em que já estivestes ou estareis deste Portugal, também vosso. Acolhem-vos as famílias e as instituições que disponibilizaram os seus espaços e o seu serviço. Agradecendo a todas elas, entrevejo em cada uma a casa de Isabel, que acolheu Maria e o Jesus que lhe trazia!

Falta muito disto mesmo no mundo em que estamos, quando nem damos bem pelos outros, nem reparamos como devemos naqueles que encontramos.

Aprendamos com Maria a saudar a todos e cada um. Pratiquemo-lo intensamente nos dias desta Jornada Mundial da Juventude. O mundo novo começa na novidade de cada encontro e na sinceridade da saudação que trocarmos. Para que sejamos pessoas entre pessoas, em mútua e constante visitação! – Desejo-vos a todos uma feliz e estimulante Jornada Mundial da Juventude!”

https://www.youtube.com/watch?v=4TiM571Xlic

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Viagem Apostólica a Portugal: Encontro do Papa Francisco com as Autoridades, a Sociedade Civil e o Corpo Diplomático

Jornada Mundial da Juventude 2023

 Centro Cultural de Belém

02 de agosto de 2023– 12h15

2 de agosto de 2023,

Senhor Presidente da República,

Senhor Presidente da Assembleia da República,

Senhor primeiro-ministro,

Distintos membros do Governo e do Corpo Diplomático,

Ilustres autoridades, representantes da sociedade civil e do mundo da cultura,

Senhoras e senhores!

Saúdo-vos cordialmente e agradeço ao senhor Presidente o acolhimento e as amáveis palavras que me dirigiu. Estou feliz por estar em Lisboa, cidade do encontro que abraça vários povos e culturas e que, nestes dias, se mostra ainda mais universal; torna-se, de certo modo, a capital do mundo. Isto condiz bem com o seu carácter multiétnico e multicultural (penso, por exemplo, no bairro da Mouraria, onde convivem pessoas provenientes de mais de sessenta países) e revela os traços cosmopolitas de Portugal, que afunda as suas raízes no desejo de se abrir ao mundo e explorá-lo, navegando rumo a novos e amplos horizontes.

Não muito longe deste lugar, no Cabo da Roca, está gravada a frase dum grande poeta desta cidade: “Aqui… onde a terra se acaba e o mar começa” (L. Vaz de Camões, Os Lusíadas, canto III, 20). Durante séculos, acreditou-se que lá estivessem os confins do mundo. E em certo sentido é verdade, porque este país confina com o oceano, que delimita os continentes. E, do oceano, Lisboa conserva o abraço e o perfume. Faço meu, com muito gosto, aquilo que os portugueses costumam cantar: “Lisboa tem cheiro de flores e de mar” (A. Rodrigues, Cheira bem, cheira a Lisboa, 1972). Muito mais do que um elemento paisagístico, o mar é um apelo que não cessa de ecoar no ânimo de cada português, podendo uma vossa poetisa celebrá-lo como “mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim” (S. de Mello Breyner Andresen, Mar sonoro) e outro poeta rezava assim: “Deus do mar dai-nos mais ondas, Deus da terra dai-nos mais mar” (D. Faria, O país de Deus).

À vista do oceano, os portugueses são levados a refletir sobre os imensos espaços da alma e sobre o sentido da vida no mundo. Nesta linha, gostaria também eu de partilhar convosco algumas reflexões, deixando-me levar pela imagem do oceano.

Segundo a mitologia clássica, Oceano é filho do céu (Úrano): a sua vastidão leva os mortais a olharem para cima elevando-se para o infinito. Ao mesmo tempo, porém, Oceano é filho da terra (Gea) que abraça, convidando assim a envolver de ternura todo o mundo habitado. Com efeito, o oceano não liga apenas povos e países, mas também terras e continentes; por isso Lisboa, cidade do oceano, lembra a importância do conjunto, a importância de conceber as fronteiras, não como limites que separam, mas como zonas de contacto.

As grandes questões hoje, como sabemos, são globais e já muitas vezes tivemos de fazer experiência da ineficácia da nossa resposta às mesmas, precisamente porque o mundo, diante de problemas comuns, se mantém dividido ou pelo menos não suficientemente unido, incapaz de enfrentar juntos aquilo que nos põe em crise a todos. Parece que as injustiças planetárias, as guerras, as crises climáticas e migratórias correm mais rapidamente do que a capacidade e, muitas vezes, a vontade de enfrentar em conjunto tais desafios.

Lisboa pode sugerir uma mudança de ritmo. Em 2007, foi assinado aqui o homónimo tratado de reforma da União Europeia. Nele se lê que “a União tem por objetivo promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos” (Tratado de Lisboa que altera o Tratado da União Europeia e o Tratado que institui a Comunidade Europeia, art.º 1.4/2.1): mas vai mais longe afirmando que, “nas suas relações com o resto do mundo (…), contribui para a paz, a segurança, o desenvolvimento sustentável do planeta, a solidariedade e o respeito mútuo entre os povos, o comércio livre e equitativo, a erradicação da pobreza e a proteção dos direitos humanos” (art.º 1.4/2.5). Não se trata apenas de palavras, mas de marcos miliários no caminho da comunidade europeia, esculpidos na memória desta cidade. Este é o espírito do conjunto, animado pelo sonho europeu dum multilateralismo mais amplo do que o mero contexto ocidental.

Segundo uma etimologia, que é objeto de discussão, o nome Europa derivaria duma palavra que indica a direção do ocidente. O certo é que Lisboa constitui a capital mais ocidental da Europa continental, lembrando a necessidade de abrir caminhos de encontro mais vastos, como aliás Portugal está a fazer sobretudo com os países de outros continentes irmanados pela mesma língua.

Espero que a Jornada Mundial da Juventude seja, para o “velho continente”, um impulso de abertura universal. Na verdade, o mundo tem necessidade da Europa, da Europa verdadeira: precisa do seu papel de construtora de pontes e de pacificadora no Leste europeu, no Mediterrâneo, na África e no Médio Oriente. Assim poderá a Europa trazer, para o cenário internacional, a sua originalidade específica; vimo-la delineada no século passado quando, do crisol dos conflitos mundiais, fez saltar a centelha da reconciliação, tornando verdadeiro o sonho de se construir o amanhã juntamente com o inimigo de ontem, o sonho de abrir percursos de diálogo e inclusão, desenvolvendo uma diplomacia da paz que extinga os conflitos e acalme as tensões, capaz de captar o mais débil sinal de distensão e de o ler por entre as linhas mais tortas da realidade.

No oceano da história, estamos a navegar num momento tempestuoso e sente-se a falta de rotas corajosas de paz. Olhando com grande afeto para a Europa, no espírito de diálogo que a caracteriza, apetece perguntar-lhe: para onde navegas, se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo? E ainda, alargando o campo: Que rota segues, Ocidente? A tua tecnologia, que marcou o progresso e globalizou o mundo, sozinha não basta; e muito menos bastam as armas mais sofisticadas, que não representam investimentos para o futuro, mas empobrecimento do verdadeiro capital humano que é a educação, a saúde, o estado social.

Fica-se preocupado ao ler que, em muitos lugares, se investem continuamente os recursos em armas e não no futuro dos filhos. Sonho uma Europa, coração do Ocidente, que use o seu engenho para apagar focos de guerra e acender luzes de esperança; uma Europa que saiba reencontrar o seu ânimo jovem, sonhando a grandeza do conjunto e indo além das necessidades imediatas; uma Europa que inclua povos e pessoas, sem correr atrás de teorias e colonizações ideológicas.

Com a sua imensa vastidão de água, o oceano recorda as origens da vida. No mundo evoluído de hoje, paradoxalmente, tornou-se prioritário defender a vida humana, posta em risco por derivas utilitaristas que a usam e descartam. Penso em tantas crianças não-nascidas e idosos abandonados a si mesmos, na dificuldade de acolher, proteger, promover e integrar quem vem de longe e bate às nossas portas, no desamparo em que são deixadas muitas famílias com dificuldade para trazer ao mundo e fazer crescer os filhos. Também aqui apetece perguntar: para onde navegais, Europa e Ocidente, com o descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as mortandades no mar e os berços vazios? Para onde ides se, perante o tormento de viver, vos limitais a oferecer remédios rápidos e errados como o fácil acesso à morte, solução cómoda que parece doce, mas na realidade é mais amarga que as águas do mar?

Mas Lisboa, abraçada pelo oceano, oferece-nos motivos para esperar. Há uma maré de jovens que se espraia sobre esta cidade acolhedora. Quero agradecer o grande trabalho e generoso empenho empreendidos por Portugal para acolher um evento tão complexo de gerir, mas fecundo de esperança, pois — como se diz por aqui — “ao lado dos jovens, não se envelhece”. Jovens provenientes de todo o mundo que cultivam anseios de unidade, paz e fraternidade, desafiam-nos a realizar os seus sonhos bons. Não andam pelas ruas a gritar sua raiva, mas a partilhar a esperança do Evangelho. E se, em muitos lugares, se respira hoje um clima de protesto e insatisfação, terreno fértil para populismos e conspirações, a Jornada Mundial da Juventude é ocasião para construir juntos. Reaviva o desejo de criar coisas novas, fazer-se ao largo e navegar juntos rumo ao futuro. Vêm à mente algumas palavras ousadas de Fernando Pessoa: “Navegar é preciso; viver não é preciso (…); o que é necessário é criar” (Navegar é preciso). Trabalhemos, pois, com criatividade para construirmos juntos! Imagino três estaleiros de construção da esperança onde podemos trabalhar todos unidos: o ambiente, o futuro, a fraternidade.

O ambiente. Portugal partilha com a Europa muitos esforços exemplares na defesa da criação. Mas o problema global continua extremamente grave: os oceanos aquecem e, das suas profundezas, sobe à superfície a torpeza com que poluímos a nossa casa comum. Estamos a transformar as grandes reservas de vida em lixeiras de plástico. O oceano lembra-nos que a existência humana é chamada a viver de harmonia com um ambiente maior do que nós; este deve ser guardado com cuidado, tendo em conta as gerações mais novas. Como podemos dizer que acreditamos nos jovens, se não lhes dermos um espaço sadio para construir o seu futuro?

O futuro é o segundo estaleiro de obras. E o futuro são os jovens. Mas muitos fatores os desanimam, como a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que se veem imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade de encontrar uma casa e, ainda mais preocupante, o medo de constituir família e trazer filhos ao mundo. Na Europa e em geral no Ocidente, assiste-se a uma triste fase descendente na curva demográfica: o progresso parece ser uma questão que diz respeito ao desenvolvimento técnico e ao conforto dos indivíduos, enquanto o futuro pede para se contrariar a queda da natalidade e o declínio da vontade de viver.

A boa política pode fazer muito neste sentido; pode gerar esperança. Com efeito, não é chamada a conservar o poder, mas a dar às pessoas a possibilidade de esperar. É chamada, hoje mais do que nunca, a corrigir os desequilíbrios económicos dum mercado que produz riquezas, mas não as distribui, empobrecendo de recursos e de certezas os ânimos. É chamada a voltar a descobrir-se como geradora de vida e de cuidado da criação, a investir com clarividência no futuro, nas famílias e nos filhos, a promover alianças intergeracionais, onde não se apague o passado, mas se favoreçam os laços entre jovens e idosos.

A isto mesmo faz apelo o sentimento da saudade portuguesa, que exprime nostalgia, desejo de um bem ausente, que só renasce em contacto com as próprias raízes. Neste sentido, é importante a educação, que não pode limitar-se a fornecer noções técnicas para se progredir economicamente, mas destina-se a introduzir numa história, transmitir uma tradição, valorizar a necessidade religiosa do homem e favorecer a amizade social.

O último estaleiro de esperança é o da fraternidade, que nós, cristãos, aprendemos do Senhor Jesus Cristo. Em muitas partes de Portugal está ainda muito vivo o sentido de vizinhança e solidariedade. Contudo, no contexto geral duma globalização que nos aproxima mas não nos dá uma proximidade fraterna, somos todos chamados a cultivar o sentido da comunidade, começando por ir ter com quem vive ao nosso lado. Com efeito, como observou Saramago, “o que dá verdadeiro sentido ao encontro é a busca; e é preciso andar muito, para se alcançar o que está perto” (Todos os nomes, 1997). Como é bom voltar a descobrir-nos irmãos e irmãs, trabalhar pelo bem comum, deixando para trás contrastes e diferenças de visão!

Também aqui servem de exemplo os jovens que nos levam, com o seu grito de paz e ânsia de vida, a derrubar as rígidas divisórias de pertença erguidas em nome de opiniões e crenças diversas. Soube de muitos jovens que cultivam, aqui, o desejo de se fazerem próximo dos outros; penso na iniciativa “Missão País”, que leva milhares de jovens a viver no espírito do Evangelho experiências de solidariedade missionária em zonas periféricas, sobretudo nas aldeias do interior, indo ao encontro de muitos idosos sozinhos. Quero agradecer e encorajar a tantos que na sociedade portuguesa se preocupam com os outros, nomeadamente a Igreja, e que fazem tanto bem mesmo longe dos holofotes. Sintamo-nos chamados, todos juntos fraternalmente, a dar esperança ao mundo em que vivemos e a este magnífico país. Deus abençoe Portugal!

https://www.youtube.com/watch?v=9rPLI5X9AZI

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Viagem Apostólica a Portugal: Vésperas com Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Consagrados e Consagradas, Seminaristas e Agentes de Pastoral

Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa

02 de agosto de 2023 – 17h30

Prezados Irmãos Bispos,
Amados sacerdotes e diáconos, consagradas, consagrados e seminaristas, queridos agentes pastorais, irmãos e irmãs, boa tarde!

Estou feliz por me encontrar no meio de vós não só para viver, juntamente com muitos jovens, a Jornada Mundial da Juventude, mas também para partilhar o vosso caminho eclesial com as suas canseiras e esperanças. Agradeço a D. José Ornelas as palavras que me dirigiu; desejo rezar convosco, para – como disse – nos tornarmos, junto com os jovens, ousados em abraçar «o sonho de Deus e encontrar caminhos para uma participação alegre, generosa e transformadora a bem da Igreja e da humanidade».

Mergulhei na beleza do vosso país, terra de passagem entre o passado e o futuro, local de antigas tradições e de grandes mudanças, embelezado por vales viçosos e praias douradas debruçadas sobre o imenso e fascinante oceano, que banha Portugal. Tudo isto me sugere o ambiente da vocação dos primeiros discípulos, que Jesus chamou nas margens do Mar da Galileia. Quero deter-me sobre esta chamada, que põe em evidência o que acabámos de ouvir na Lectio brevis das Vésperas: o Senhor salvou-nos e chamou-nos não em atenção às nossas obras, mas segundo a sua graça (cf. 2 Tm 1, 9). O mesmo aconteceu na vida dos primeiros discípulos, quando Jesus, ao passar, «viu dois barcos que se encontravam junto do lago. Os pescadores tinham descido deles e lavavam as redes» (Lc 5, 2). Então Jesus subiu para o barco de Simão e, depois de ter falado às multidões, mudou a vida daqueles pescadores, convidando-os a fazerem-se ao largo e lançarem as redes. Salta aos olhos o contraste: por um lado, os pescadores descem do barco para lavar as redes, ou seja, limpá-las, guardá-las e voltar para casa e, por outro, Jesus sobe para o barco e convida a lançar novamente as redes para a pesca. Sobressaem as diferenças: os discípulos descem, Jesus sobe; os primeiros querem guardar as redes, o Mestre quer que saiam de novo para o mar a fim de pescar.

Em primeiro lugar, temos os pescadores que descem do barco para lavar as redes. Esta é a cena que se apresenta aos olhos de Jesus, e Ele pára ali mesmo. Pouco antes quisera começar a sua pregação na sinagoga de Nazaré, mas os seus conterrâneos expulsaram-No da cidade e tentaram até matá-Lo (cf. Lc 4, 28-30). Então Jesus sai do lugar sagrado e começa a pregar a Palavra no meio da gente, pelas estradas onde labutam dia a dia as mulheres e os homens do seu tempo. Cristo está interessado em fazer sentir a proximidade de Deus precisamente nos lugares e situações onde as pessoas vivem, lutam, esperam, às vezes colecionando nas suas mãos fracassos e insucessos, precisamente como aqueles pescadores que não tinham pescado nada durante a noite. Jesus olha com ternura para Simão e seus companheiros que, cansados e angustiados, lavam as suas redes, realizando um gesto repetitivo, mas também cansado e resignado: não havia mais nada a fazer senão voltar para casa de mãos vazias.

Às vezes podemos sentir um cansaço semelhante no nosso caminho eclesial, quando nada mais temos nas mãos além das redes vazias. Trata-se dum sentimento bastante difundido nos países de antiga tradição cristã, atravessados por muitas mudanças sociais e culturais e cada vez mais marcados pelo secularismo, pela indiferença para com Deus, por um progressivo afastamento da prática da fé. Aliás isto vê-se, com frequência, acentuado pela desilusão e a aversão que alguns nutrem face à Igreja, devido às vezes ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma humilde e constante purificação, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar. O risco, porém, quando nos sentimos desanimados, é descer do barco, acabando presos nas redes da resignação e do pessimismo. Ao contrário, confiemos que Jesus continua a tomar pela mão e a levantar a sua Esposa amada. Por isso levemos ao Senhor as nossas canseiras e as nossas lágrimas, para poder enfrentar as situações pastorais e espirituais, dialogando entre nós com abertura de coração para experimentar novos caminhos a seguir.

De facto, logo que os apóstolos descem para lavar as ferramentas usadas, Jesus sobe para o barco e depois convida a lançar de novo as redes. Vem procurar-nos nas nossas solidões e crises para nos ajudar a recomeçar. E hoje continua a passar pelas margens da existência para despertar a esperança e dizer, também a nós, como a Simão e aos outros: «Faz-te ao largo; e vós lançai as redes para a pesca» (Lc 5, 4). Irmãos e irmãs, vivemos certamente um tempo difícil, mas a interpelação que o Senhor dirige hoje à Igreja é esta: «Queres descer do barco e afundar na desilusão, ou fazer-Me subir permitindo que seja mais uma vez a novidade da minha Palavra a tomar na mão o leme? Queres apenas conservar o passado que ficou para trás ou lançar de novo e com entusiasmo as redes para a pesca?». Eis o que nos pede o Senhor: despertar a ânsia pelo Evangelho. E esta é a ânsia «boa» que vos comunica, a vós portugueses, a imensidão do oceano: fazer-se ao largo, não para conquistar o mundo, mas para o alegrar com a consolação e a alegria do Evangelho. Sob este ponto de vista, podemos ler as palavras dum vosso grande missionário, o Padre António Vieira, chamado «Paiaçu – pai grande». Segundo ele, para nascer, Deus ter-vos-ia dado uma pequena terra, mas, ao fazer-vos debruçar sobre o oceano, deu-vos o mundo inteiro para morrer: «Para nascer, pequena terra; para morrer, toda a terra: para nascer, Portugal; para morrer, o mundo» (A. Vieira, “Sermão de Santo António”, Roma 1670, § IV, in: Homilias, vol. III, tomo VII, Porto 1959, p. 69). Somos chamados a lançar de novo as redes e a abraçar o mundo com a esperança do Evangelho. Não é momento de parar e desistir, de atracar o barco à margem nem de olhar para trás; não devemos escapar deste tempo, só porque nos mete medo, para nos refugiarmos em formas e estilos do passado. Não! Este é o tempo da graça que o Senhor nos concede para nos aventurarmos no mar da evangelização e da missão.

Mas, para o conseguir, precisamos também de fazer opções. Quero indicar três, inspiradas no Evangelho.

A primeira opção: fazer-se ao largo. Para lançar novamente as redes ao mar, é preciso sair da margem das desilusões e do imobilismo, afastar-se daquela tristeza melosa e daquele cinismo irónico que nos assaltam à vista das dificuldades. Temos de o fazer para passar do derrotismo à fé, como Simão que, apesar de ter trabalhado em vão toda a noite, conclui: «Porque Tu o dizes, lançarei as redes» (Lc 5, 5). Mas, para nos fiarmos dia a dia no Senhor e na sua Palavra, não bastam palavras, é necessário muita oração. Apenas na adoração, só diante do Senhor, é que encontramos o gosto e a paixão pela evangelização. Então vencemos a tentação de continuar com uma «pastoral nostálgica feita de lamentações» e ganhamos coragem para nos fazermos ao largo, sem ideologias nem mundanismos, animados por um único desejo: que chegue a todos o Evangelho. Neste caminho, não vos faltam exemplos! E, dado que nos encontramos no meio dos jovens, apraz-me recordar um jovem lisboeta, São João de Brito, que há séculos, no meio de muitas dificuldades, partiu para a Índia e lá não desdenhava falar e vestir-se à maneira das pessoas locais contanto que lhes pudesse anunciar Jesus. Também nós somos chamados a mergulhar as nossas redes no tempo em que vivemos, a dialogar com todos, a tornar compreensível o Evangelho, mesmo que para isso tenhamos de correr o risco dalguma tempestade. Como os jovens que aqui vêm de todo o mundo para desafiar as ondas gigantes da Nazaré, façamo-nos ao largo também nós sem medo. Sim! Não temamos enfrentar o mar alto, porque no meio da tempestade e dos ventos contrários, Jesus vem ao nosso encontro e diz: «Coragem, sou Eu, não temais!» (Mt 14, 27).

Como segunda opção, levar juntos por diante a pastoral. No texto, Jesus confia a Pedro a tarefa de fazer-se ao largo, mas depois fala no plural, dizendo «e vós lançai as redes» (Lc 5, 4): Pedro guia o barco, mas todos estão no barco e todos são chamados a fazer descer as redes. E, quando apanham uma grande quantidade de peixes, não pensam conseguir arranjar-se sozinhos, nem gerem a dádiva como posse e propriedade privada, mas «fizeram sinal – diz o Evangelho – aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar» (Lc 5, 7). Assim encheram, não um, mas dois barcos: um significa solidão, fechamento, pretensão de autossuficiência; dois significa relação. A Igreja é sinodal, é comunhão, ajuda mútua, caminho comum. E a isto tende o Sínodo em curso, que terá o seu primeiro período de assembleia geral no próximo mês de outubro. Na barca da Igreja, deve haver lugar para todos: todos os batizados são chamados a subir para ela e lançar as redes, empenhando-se pessoalmente no anúncio do Evangelho. É um grande desafio, especialmente em contextos onde os sacerdotes e os consagrados estão cansados porque, enquanto as necessidades pastorais vão aumentando sempre mais, eles são cada vez menos. Mas podemos olhar para esta situação como uma ocasião para, com fraterno entusiasmo e sã criatividade pastoral, envolver os leigos. Assim as redes dos primeiros discípulos tornam-se uma imagem da Igreja, que é uma «rede de relações» humanas, espirituais e pastorais. Se não houver diálogo, corresponsabilidade e participação, a Igreja envelhece. Permiti que o exprima assim: nunca um Bispo sem o próprio presbitério e o Povo de Deus; nunca um padre sem os seus irmãos sacerdotes; e todos juntos – sacerdotes, religiosas, religiosos e fiéis leigos – como Igreja, nunca sem os outros, sem o mundo. Sem mundanismo, mas não sem o mundo. Na Igreja, ajudamo-nos, apoiamo-nos reciprocamente e somos chamados a difundir, também fora dela, um clima de fraternidade construtiva. Aliás, como escreve São Pedro, nós somos as pedras vivas usadas para a construção dum edifício espiritual (cf. 1 Ped 2, 5). E poderia acrescentar numa linguagem que vos é familiar: vós, fiéis portugueses, formais uma «calçada», sois os ladrilhos preciosos que compõem um tal pavimento acolhedor e brilhante que o Evangelho há de pisar; e não pode faltar uma pedrinha sequer, senão imediatamente se dá conta. Tal é a Igreja que, com a ajuda de Deus, somos chamados a construir!

Enfim a terceira opção: tornar-se pescadores de homens. Jesus confia aos discípulos a missão de se fazerem ao largo no mar do mundo. Muitas vezes, na Sagrada Escritura, o mar simboliza o lugar do mal e das forças adversas que os homens não conseguem dominar. Por isso pescar as pessoas e tirá-las para fora da água significa ajudá-las a voltar a subir de onde afundaram, salvá-las do mal que ameaça afogá-las, ressuscitá-las de todas as formas de morte. Com efeito, o Evangelho é um anúncio de vida no mar da morte, de liberdade nas voragens da escravidão, de luz no abismo das trevas. Como afirma Santo Ambrósio, «os instrumentos da pesca apostólica são como as redes: de facto, as redes não fazem morrer quem fica preso nelas, mas conserva-o em vida, arrasta-o dos abismos para a luz» (Exp. Luc. IV, 68-79). Não faltam trevas na sociedade atual, inclusive aqui em Portugal. Prova-se a sensação de que tenha diminuído o entusiasmo, a coragem de sonhar, a força para enfrentar os desafios, a confiança no futuro; entretanto, vamos navegando nas incertezas, na precariedade económica, na pobreza de amizade social, na falta de esperança. A nós, como Igreja, cabe a tarefa de nos fazermos ao largo nas águas deste mar, lançando a rede do Evangelho, sem acusar ninguém, mas levando às pessoas do nosso tempo uma proposta de vida nova, que é a de Jesus: levar o acolhimento do Evangelho a uma sociedade multicultural; levar a proximidade do Pai às situações de precariedade e pobreza, que crescem sobretudo entre os jovens; levar o amor de Cristo onde é frágil a família e se encontram feridas as relações; transmitir a alegria do Espírito onde reinam o desânimo e o fatalismo. Assim se exprime um escritor vosso: «Para se chegar ao infinito, e julgo que se pode lá chegar, é preciso termos um porto, um só, firme, e partir dali para Indefinido» (F. Pessoa, Livro do Desassossego, Lisboa 1998, 247). Queremos sonhar a Igreja Portuguesa como um «porto seguro» para quem enfrenta as travessias, os naufrágios e as tempestades da vida.

De coração vos agradeço, irmãos e irmãs, a atenção prestada, tudo o que fazeis, o vosso exemplo e constância. Muito obrigado! E confio-vos a Nossa Senhora de Fátima, à guarda do Anjo de Portugal e à proteção dos vossos grandes Santos e, aqui em Lisboa, de modo especial a Santo António, apóstolo incansável, pregador inspirado, discípulo do Evangelho atento aos males da sociedade e cheio de compaixão pelos pobres. Que ele interceda por vós e vos dê a alegria duma nova pesca milagrosa. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado.

https://www.youtube.com/watch?v=GL811kONRZ0

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Viagem Apostólica a Portugal: Encontro com os Jovens na Universidade Católica Portuguesa

Jornada Mundial da Juventude-Lisboa 2023

UCP – Lisboa
Quinta-feira, 3 de agosto de 2023 – 09h00

“Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Obrigado, senhora Reitora, pelas suas palavras. Afirmou que todos nos sentimos «peregrinos», palavra esta cujo significado merece ser meditado. Literalmente, significa deixar de lado a rotina habitual e pôr-se a caminho com um intento, que pode ser o de um passeio pelos campos ou ir mais além dos nossos confins habituais; seja como for, deixando o espaço de conforto pessoal rumo a um horizonte de sentido.

Na imagem do «peregrino», espelha-se a condição humana, pois todos somos chamados a confrontar-nos com grandes interrogativos para os quais não basta uma resposta simplista ou imediata, mas convidam a realizar uma viagem, superando-se a si mesmo, indo mais além. Trata-se dum processo que um universitário compreende bem, pois é assim que nasce a ciência. E de igual modo cresce também a busca espiritual.

Desconfiemos das fórmulas pré-fabricadas, das respostas que nos parecem ao alcance da mão, extraídas da manga como se fossem cartas viciadas de jogar; desconfiemos das propostas que parecem dar tudo sem pedir nada. Vemos numa parábola de Jesus que só encontra a pérola de grande valor quem a procura com sabedoria e iniciativa, quem dá tudo e arrisca tudo o que tem para a possuir (cf. Mt 13, 45-46). Procurar e arriscar: eis os verbos dos peregrinos.

Fernando Pessoa diz, de modo atormentado, mas correto, que «ser descontente é ser homem» (Mensagem, O Quinto Império). Não devemos ter medo de nos sentir inquietos, de pensar que tudo o que possamos fazer não basta. Neste sentido e dentro duma justa medida, ser descontente é um bom antídoto contra a presunção da autossuficiência e o narcisismo. O ser incompleto carateriza a nossa condição de indagadores e peregrinos, pois, como diz Jesus, estamos no mundo, mas não somos do mundo (cf. Jo 17, 16).

Somos chamados a algo mais, a uma decolagem sem a qual não há voo. Portanto, não nos alarmemos se nos encontramos intimamente sedentos, inquietos, incompletos, desejosos de sentido e de futuro, com saudades do futuro. Não estamos doentes, mas simplesmente vivos! Preocupemo-nos antes quando estamos prontos a substituir a estrada a fazer por qualquer estação de serviço que nos dê a ilusão do conforto; quando substituímos os rostos pelos ecrãs, o real pelo virtual; quando, em vez das perguntas lacerantes, preferimos as respostas fáceis que anestesiam.

Amigos, permiti dizer-vos: procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes e os gemidos dolorosos, mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. Por isso sede protagonistas duma «nova coreografia» que coloque no centro a pessoa humana, sede coreógrafos da dança da vida.

As palavras da senhora Reitora serviram-me de inspiração sobretudo quando afirmou que «a universidade não existe para se preservar como instituição, mas para responder com coragem aos desafios do presente e do futuro». A autopreservação é uma tentação, um reflexo condicionado pelo medo, que nos faz olhar para a existência de forma distorcida. Se as sementes se preservassem a si mesmas, desperdiçariam completamente a sua força geradora e condenar-nos-iam à fome; se os invernos se preservassem a si mesmos, não existiria a maravilha da primavera. Por isso, tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: não administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!

À universidade que se comprometeu a formar as novas gerações, seria um desperdício pensá-la apenas para perpetuar o atual sistema elitista e desigual do mundo com o ensino superior que continua a ser um privilégio de poucos. Se o conhecimento não for acolhido como uma responsabilidade, torna-se estéril.

Se quem recebeu um ensino superior – que hoje, em Portugal e no mundo, continua a ser um privilégio -, não se esforça por restituir aquilo de que beneficiou, significa que não compreendeu profundamente o que lhe foi oferecido. No Génesis, as primeiras perguntas que Deus faz ao homem são: «Onde estás?» (3, 9) e «Onde está o teu irmão?» (4, 9). Ponhamo-nos a pergunta: Onde estou? Permaneço fechado no meu mundo ou abraço o risco de sair das minhas seguranças para me tornar um cristão praticante, um artesão de justiça e beleza? E perguntemo-nos ainda: Onde está o meu irmão? Experiências de serviço fraterno como a «Missão País» e muitas outras, que nascem no meio académico, deveriam ser consideradas indispensáveis para quem passa por uma universidade. Com efeito, o título de estudo não deve ser visto apenas como uma licença para construir o bem-estar pessoal, mas como um mandato para se dedicar a uma sociedade mais justa e inclusiva, ou seja, mais avançada. Disseram-me que a vossa grande poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, em entrevista que é uma espécie de testamento, à pergunta «o que gostaria de ver realizado em Portugal neste novo século?», respondeu sem hesitar: «Gostaria que se realizasse a justiça social, a diminuição das diferenças entre ricos e pobres» (“Entrevista feita por Joaci Oliveira”, Cidade Nova, nº 3/2001). Dirijo agora a mesma pergunta a vós, caros estudantes, peregrinos do saber: Que quereis ver realizado em Portugal e no mundo? Quais mudanças, quais transformações? E como pode a universidade, especialmente a Católica, contribuir para isso? Beatriz, Mahoor, Mariana e Tomás, agradeço os vossos testemunhos. Em todos havia um tom de
esperança, uma carga de entusiasmo realista, sem queixumes nem escapadelas idealistas. Quereis ser «protagonistas da mudança», como disse a Mariana. Ao escutar-vos veio-me ao pensamento uma frase do escritor Almada Negreiros, que talvez vos seja familiar: «Sonhei com um país onde todos chegavam a Mestres» (A Invenção do Dia Claro). Também este idoso que vos fala sonha que a vossa geração se torne uma geração de mestres: mestres de humanidade, mestres de compaixão, mestres de novas oportunidades para o planeta e seus habitantes, mestres de esperança.

Como alguns de vós sublinharam, devemos reconhecer a urgência dramática de cuidar da casa comum. No entanto, isso não pode ser feito sem uma conversão do coração e uma mudança da visão antropológica subjacente à economia e à política. Não podemos contentar-nos com simples medidas paliativas ou com tímidos e ambíguos compromissos. Neste caso, «os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso» (Francisco, Carta enc. Laudato si”, 194). Trata-se, pelo contrário, de tomar a peito o que infelizmente continua a ser adiado: a necessidade de redefinir o que chamamos progresso e evolução. É que, em nome do progresso, já abriu caminho muito retrocesso. Vós sois a geração que pode vencer este desafio: tendes instrumentos científicos e tecnológicos mais avançados, mas, por favor, não vos deixeis cair na cilada de visões parciais. Não esqueçais que temos necessidade duma ecologia integral, de escutar o sofrimento do planeta juntamente com o dos pobres; necessidade de colocar o drama da desertificação em paralelo com o dos refugiados; o tema das migrações juntamente com o da queda da natalidade; necessidade de nos ocuparmos da dimensão material da vida no âmbito duma dimensão espiritual. Não queremos polarizações, mas visões de conjunto.

Obrigado, Tomás, por nos teres dito que «não é possível uma verdadeira ecologia integral sem Deus, que não pode haver futuro num mundo sem Deus». Também eu gostaria de vos dizer: tornai credível a fé através das vossas escolhas. Porque se a fé não gera estilos de vida convincentes, não faz levedar a massa do mundo. Não basta que um cristão esteja convencido, deve ser convincente; as nossas ações são chamadas a refletir a beleza jubilosa e simultaneamente radical do Evangelho. Além disso, o cristianismo não pode ser habitado como uma fortaleza cercada de muros, que ergue baluartes contra o mundo. Por isso, achei tocante o testemunho de Beatriz, quando disse que é precisamente «a partir do campo da cultura» que se sente chamada a viver as Bem-aventuranças. Em cada época, uma das tarefas mais importantes para os cristãos é a de recuperar o sentido da encarnação. Sem a encarnação, o cristianismo torna-se ideologia; é a encarnação que permite maravilhar-se com a beleza que Cristo revela através de cada irmão e irmã, cada homem e mulher.

A propósito, é interessante que, na vossa nova cátedra dedicada à «Economia de Francisco», tenhais acrescentado a figura de Clara. De facto, é indispensável o contributo feminino. Aliás vê-se, na Bíblia, como a economia familiar está em grande parte na mão da mulher. É ela a verdadeira «governante» da casa, com uma sabedoria que não visa exclusivamente o lucro, mas o cuidado, a convivência, o bem-estar físico e espiritual de todos, bem como a partilha com os pobres e os estrangeiros. Abordar os estudos económicos com esta perspetiva é entusiasmante, tendo em vista devolver à economia a dignidade que lhe compete, para que não caia como presa do mercado selvagem e da especulação.

A iniciativa do Pacto Educativo Global e os sete princípios da sua arquitetura incluem muitos desses temas, desde o cuidado da casa comum à plena participação das mulheres, à necessidade de encontrar novas formas de entender a economia, a política, o crescimento e o progresso. Convido-vos a estudar o Pacto Educativo Global e a apaixonar-vos por ele. Um dos pontos que trata é a educação para o acolhimento e a inclusão. Não podemos fingir que não ouvimos as palavras de Jesus no capítulo 25 de Mateus: «era estrangeiro e recolhestes-me» (25, 35). Acompanhei emocionado o testemunho de Mahoor, quando lembrou o que significa viver com o «sentimento constante de ausência de um lar, da família, dos amigos, (…) de ter ficado sem teto, sem universidade, sem dinheiro, (…) cansada, exausta e abatida pela dor e pelas perdas». Disse-nos que reencontrou a esperança porque alguém acreditou no impacto transformador da cultura do encontro. Sempre que alguém pratica um gesto de hospitalidade, desencadeia uma transformação.

Amigos, sinto-me feliz por ver-vos uma comunidade educativa viva, aberta à realidade, com o Evangelho que não se limita a servir de ornamento, mas anima as partes e o todo. Sei que o vosso percurso engloba diversos âmbitos: estudo, amizade, serviço social, responsabilidade civil e política, cuidado da casa comum, expressões artísticas…. Ser uma universidade católica significa antes de mais nada que cada elemento está em relação com o todo e o todo revê-se nas partes. Assim, enquanto se adquirem competências científicas, vai-se amadurecendo como pessoa, no conhecimento de si mesmo e no discernimento do próprio caminho. Então avante! Uma tradição medieval conta que quando os peregrinos se cruzavam no Caminho de Santiago, um saudava o outro exclamando «Ultreia» ao que este respondia «et Suseia». Trata-se de expressões de encorajamento para prosseguir a busca e o risco da caminhada, dizendo a si mesmo: «Vai mais longe e mais alto!» «Coragem, força, anda para diante!» Isto é o que vos desejo também eu, de todo o coração.

https://www.youtube.com/watch?v=FGU0SOndd-U

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A PORTUGAL
POR OCASIÃO DA
XXXVII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

[2 – 6 DE agosto DE 2023]

ENCONTRO COM OS JOVENS DAS SCHOLAS OCCURRENTES

Sede das Scholas Occurentes de Cascais
Quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Pregunta 1

Bom dia! Scholas! Scholas! Scholas! Quando este espaço me foi proposto, não tive dúvidas em aceitar e entrar porque nele todos partilham as suas emoções e sentimentos. É um espaço onde cada um contribui com aquilo que tem, de valores éticos e morais, para o bem-estar da comunidade, independentemente da própria religião ou origem. Sou muçulmano da Guiné-Bissau, mas sinto-me parte deste espaço. E, como muçulmano, sinto a obrigação e o dever de me unir e fazer parte deste movimento. Pois o próprio islão encoraja à boa convivência entre as crenças, entre as várias crenças. E exorta e preocupa-se pelo bem-estar da comunidade. Diz-nos aquilo que devemos fazer, ou seja, que devemos cuidar do próximo. Por isso gostaria de saber o motivo por que Scholas é um espaço com que todos se identificam e porque é necessária tanta diversidade para se obter uma obra de arte? Obrigado.

Resposta Papa

Scholas torna possível que cada um se sinta interpelado. Com grande respeito, que não é um respeito estático, mas dinâmico, que põe as pessoas em movimento para fazerem coisas, para exprimirem-se agindo, como nesta pintura que, segundo as palavras de José Maria del Corral, é uma «capela sistina» pintada por vós [Aplausos]. Scholas põe-te em movimento, faz-te respeitar o outro e escutar o outro que tem algo a dizer-te, e o outro por sua vez escutar-te a ti porque tens algo a dizer-lhe. Scholas mostra-te o caminho para avançar e faz-te seguir para diante. Scholas é um encontro em que caminham todos, independentemente do país e da religião pedindo apenas para olharem para diante e caminharem juntos. E isto é construtivo como os três quilómetros e meio de mural que fizestes para chegar até aqui.

Pergunta 2

Queria avançar um pouco na direção da diversidade, para entrar no tema que está na base dos dois meses do nosso trabalho: o caos. Nós, como grupo, e também eu individualmente, tivemos oportunidade de visitar várias comunidades diferentes, várias pessoas diferentes, de religião diferente, de culturas diferentes, e isto proporcionou-nos uma ocasião grandiosa para descobrir e aprofundar cada vez mais – não só dentro de nós mesmos, mas também no âmbito da comunidade inteira – quais são os verdadeiros sentimento que nutrem, os verdadeiros sofrimentos que sentem e deste modo dar-lhes a possibilidade de exprimir tudo isso com uma pincelada, com uma linha no mural. Dar-lhes a oportunidade de se expressarem! E isto inevitavelmente envolve-nos, toca o nosso coração e faz-nos pensar: Temos este sentimento? Estes sofrimentos fazem parte de nós, do nosso conviver? Então eu queria perguntar: Que seria da nossa existência sem o caos original? Obrigado.

Resposta Papa

Tu dizes «caos», está bem! É a crise… Sabe donde vem a palavra «crise»? Quando se recolhia o trigo, passava-se pelo crivo, crivava-se… (Notai o parentesco entre «crise» e «crivar»). E a crise, nas pessoas, são situações da vida, acontecimentos, problemas orgânicos, mau humor ou bom humor. Isto criva-te e tu deves escolher. Uma vida sem crise é uma vida asséptica. Gostas de beber água? Gostas. Mas, se te der água destilada, não presta, não sabe de nada! Uma vida sem crise é como a água destilada, não sabe de nada. Não serve para nada, senão para guardar no armário à porta fechada. As crises devem ser aceites, devem ser assumidas e resolvidas, porque ficar prisioneiro na crise também não é bom… seria um suicídio contínuo. É como estar para chegar e nunca mais se chega, não é? As crises têm que ser atravessadas, devemos aceitá-las. E raramente sozinhos. Também isto é importante no grupo Scholas: caminhar juntos para juntos enfrentar as crises, resolver as coisas. Importante é continuar para diante e crescer juntos. Então avante! Nem que seja apenas para comer uma feijoada.

Pergunta 3

Nestes dois últimos meses, trabalhamos muito para conseguir fazer o mural que o Papa viu lá fora. Mas, este mural verdadeiramente representa o caos. O caos que, muitas vezes, quando o vivemos e o vivemos de perto, não compreendemos e é uma grande confusão. Parecem só linhas aleatórias. Mas quando nos distanciamos, a certa distância começamos a conseguir ver formas, cores; começamos a conseguir encontrar um sentido neste caos, a conseguir pensar mais do que aquilo que frequentemente mal vemos ou sentimos, mas conseguimos exprimi-lo. Para mim, por exemplo, foi uma experiência muito importante, porque também já vivi momentos de grande caos na minha vida – acho que todos os vivemos – e a verdade é que ouvir a história dos outros, abrir-se verdadeiramente para escutar, para partilhar, para acolher todas as pessoas que participaram na realização deste mural, foi um privilégio, talvez ainda maior do que para eles, para nós que estamos aqui e tornamos possível isto ter acontecido. E tudo isto, porque buscamos este sentido; todos procuramos este sentido profundo de perceber, e que é algo maior do que o simples estar aqui. Assim queremos perguntar-lhe: Quando passou junto do mural, que sentiu, que experimentou ao longo do trajeto até aqui, e concretamente no coração deste mural que, para nós, na realidade é verdadeiramente o princípio ou o fim; não sabemos. E, antes de responder, queremos também, em nome de todos, oferecer-lhe um pincel; este pincel representa-nos a todos nós.

Resposta do Papa

É lindo o que disseste do caos? Alguém dizia que a vida do homem, a nossa vida humana, é fazer do caos um cosmos, ou seja, do que não tem sentido, está desordenado, é caótico fazer um cosmos, com sentido, aberto, convidativo, abrangente. Não quero fazer aqui o catequista, mas se virmos a estrutura da narração da Criação, que é uma narração mítica, no verdadeiro sentido da palavra «mito». Pois o mito é uma forma de conhecimento e quem escreveu o relato da Criação usou este tipo de história. Um aparte! Esta narração foi escrita muito tempo depois que o povo judeu teve a experiência da sua libertação. Por outras palavras, primeiro houve toda a experiência do êxodo do povo hebreu e, depois, lançaram um olhar de retrospetiva. E como começou a história? Como se transformou o caos em cosmos? Lá, em linguagem poética, narra-se como Deus um dia do caos fez a luz, noutro dia faz o homem e continua a criar coisas e a transformar o caos em cosmos. Na nossa vida, sucede o mesmo: há momentos de crise (retomo esta palavra!), que são caóticos, deixas de saber em que ponto estás. Todos atravessamos estes momentos escuros. Caos. E aqui o trabalho pessoal, o trabalho das pessoas que nos acompanham, dum grupo como este, é transformar em cosmos. Torna-se difícil para mim, neste caos desta «capela sistina» (risos), pensar que há um cosmos por trás dela, porque qual é o cosmos? Estais a construí-lo vós na mensagem que estais a passar, no caminho que tendes à vossa frente. Nunca vos esqueçais disto: transformar o caos num cosmos. E este é o caminho de cada um, não é? Uma vida que permanece caótica é uma vida falida, e uma vida que nunca sentiu o caos é uma vida destilada, onde tudo é perfeito. E as vidas destiladas não dão vida, morrem em si mesmas. Mas se uma vida pessoal e relacional, que experimentou a crise como caos e aos poucos dentro de si, e na comunidade, conseguiu transformar-se num cosmos… parabéns!

Uma jovem de Scholas Ocurrentes

Muito obrigada, Papa Francisco, pelas tuas palavras. Obrigada.

Outra jovem

É uma alegria para nós concluir assim este caminho. Mas, apesar desta experiência terminar, gostaríamos de pensar que a obra realmente nunca termina. Por isso, hoje, concluiremos começando. E, assim, quando um caminho se fecha, um novo caminho se abre. Decidimos chamar este projeto «Vida entre Mundos». De facto, o mural inteiro é uma experiência e uma expressão de vida que nascem do encontro de tantas realidades diferentes. Por isso, hoje daremos um salto e reuniremos um mundo físico com um mundo virtual.

Uma terceira jovem

Pedimos-te, querido Francisco, que nos acompanhes até à parede, que está atrás de ti e nos ofereças de presente a última pincelada deste mural, mas com um pincel muito particular, capaz de iniciar simultaneamente uma obra virtual que conseguirá reunir as diferentes comunidades de Scholas em todo o mundo.

José María del Corral [Presidente de Scholas Ocurrentes]

Papa Francisco, o vídeo, esse pincel virtual de que falava Eugénia, é uma arma em prol da paz. Parece uma pistola porque disparará aqui, mas, em vez de matar, esta pincelada que darás na parede, vais dá-la também no mundo virtual. Neste momento, há miúdos de Scholas em Moçambique, que montaram um dispositivo no Tofo, para ver a pincelada que realizarás agora fazendo-a seguir no mundo virtual, porque os jovens querem que sejas tu a unir o mundo físico com o virtual para que o mundo virtual nunca deixe de ser concreto e comprometido com a realidade [aplausos]. Pintemos a parede.

Papa:

Esta é a história do bom Samaritano, e nenhum de nós está dispensado de ser um bom Samaritano. É uma obrigação que todos nós temos. Cada um tem que procurar sê-lo na vida, porque a vida se acaba e, se o não conseguiu, fica perdido como na guerra. O bom Samaritano encontrou o homem caído no chão… Antes dele, porém, passara um levita, tinha passado um sacerdote, mas estavam com pressa. Não lhe deram importância. Além de ter pressa, eles não podiam tocá-lo porque havia sangue; e, segundo a legislação da época, quem tocava no sangue tornava-se impuro. Consequentemente tinha de se purificar, não sei dizer por quanto tempo, de modo que isto impedia-os de cumprir o seu dever, não deviam tocar… «Morre, mas eu não te toco, não me torno impuro. Morre, mas eu impuro não fico». Não vos esqueçais disto. Quantas vezes nos pode passar pela cabeça: «Morre, mas eu não me torno impuro»! Quantas vezes se prefere a «pureza ritual» à proximidade humana! Segundo a mentalidade do tempo, os samaritanos eram mal vistos pelos judeus: eram «desgraçados», todos desgraçados e comerciantes… Não eram puros de mente, de coração; eram marginalizados, mas o bom Samaritano vê o homem por terra, pára e a narração diz que sentiu compaixão. Enquanto os outros pensavam «morre; preocupa-me a minha pureza», este sentiu compaixão. Deixo-vos a pergunta: O que é que me faz sentir compaixão? Ou tens um coração tão árido que já não sente compaixão? Cada um responda para si. Depois, que acontece? Leva-o para uma estalagem pede um quarto para ele e diz ao estalajadeiro: «Olha! Daqui a três dias eu volto». Entretanto avanço isto e, se for mais, pagar-te-ei quando voltar. Afinal aquele dito «desgraçado» era um que pagava. Assim, temos os ladrões que o deixam meio-morto, o bom Samaritano que cuida dele, o levita e o sacerdote que se afastam para não se tornarem impuros. E Jesus diz: este entra no Reino dos Céus, porque teve compaixão. Pensai um pouco nesta história. Onde estou eu? Prejudico as pessoas? Onde estou eu? Evito as dificuldades reais ou não temo sujar as mãos? Às vezes na vida é preciso sujar as mãos, para não sujar o coração.

Uma jovem

Obrigada, querido Francisco, pela tua prenda, um verdadeiro sinal para continuarmos a caminhara juntos.

Papa

Agora dou-vos a bênção, mas prometei pedir depois a bênção também para mim.

(Bênção em português)

Papa

Rezai por mim e quem dentre vós não o pode fazer, porque não sabe ou não costuma fazê-l, mande-me energia positiva.

(Aplausos)

https://www.youtube.com/watch?v=jsbve7dBxz0

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Viagem Apostólica a Portugal: Cerimónia do acolhimento

Jornada Mundial da Juventude-Lisboa 2023

Colina do encontro – Parque Eduardo VII, Lisboa
Quinta-feira, 3 de agosto de 2023 – 19h00

Queridos jovens, boa tarde!

Bem-vindos! Bem-vindos e obrigado por estardes aqui. Fico feliz por vos ver! E feliz fico também ao escutar o simpático barulho que fazeis, contagiando-me com a vossa alegria. É belo estarmos juntos em Lisboa: para aqui fostes chamados por mim, pelo Patriarca – a quem agradeço as palavras que me dirigiu –, pelos vossos Bispos, sacerdotes, catequistas, animadores. Agradeçamos a todos aqueles que vos chamaram e a quantos trabalharam para tornar possível este encontro: façamo-lo com uma grande salva de palmas! Mas foi sobretudo Jesus quem vos chamou; agradeçamos, pois, a Jesus com outra grande salva de palmas!

Vós não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não só nestes dias, mas desde o início dos vossos dias. Chamou-nos a todos desde o início da vida. Chamou-vos pelos vossos nomes. Como ouvimos na Palavra de Deus, Ele chamou-nos pelo próprio nome. Chamados pelo nome: tentai imaginar estas três palavras escritas em letras grandes e, em seguida, pensai que estão escritas dentro de vós, nos vossos corações, como que formando o título da vossa vida, o sentido daquilo que sois. Tu foste chamado pelo teu nome: tu… além, tu… ali, tu… aqui, e também eu, todos nós fomos chamados pelo próprio nome. Não fomos chamados automaticamente, fomos chamados pelo nome. Pensemos nisto: Jesus chamou-me pelo meu nome. São palavras escritas no coração; pensemos, pois, que estão escritas dentro de cada um de nós, nos nossos corações, e formam uma espécie de título para a tua vida, o sentido do que és, o sentido daquilo que cada um é. Foste chamado pelo teu nome. Nenhum de nós é cristão por acaso, todos fomos chamados pelo nosso nome. Ao princípio da teia da vida, ainda antes dos talentos que possuímos, antes das sombras, das feridas que trazemos dentro de nós, recebemos um chamamento. Fomos chamados, porquê? Porque amados. Fomos chamados, porque somos amados. É belo! Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar, para encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única, original. Cada um de nós é único e original, e não chegamos sequer a vislumbrar a beleza de tudo isto.

Queridos jovens, nesta Jornada Mundial da Juventude, ajudemo-nos mutuamente a reconhecer esta realidade; sejam estes dias ecos vibrantes da chamada amorosa de Deus, porque somos preciosos a seus olhos, apesar do que às vezes os nossos olhos veem; é que às vezes os nossos olhos estão enevoados pela negatividade e ofuscados por tantas distrações. Sejam dias em que o meu nome, o teu nome, através de irmãos e irmãs de muitas línguas, de muitas nações (vimos tantas bandeiras) que o pronunciam com amizade, ressoe como uma notícia única na história, porque único é o pulsar do coração de Deus por ti. Sejam dias para fixar no coração que somos amados como somos. Não como gostaríamos de ser, mas como somos agora. E este é o ponto de partida da JMJ, mas sobretudo o ponto de partida da vida. Jovens moços e moças, somos amados como somos, sem maquilhagem. Compreendeis isto?

E cada um de nós é chamado pelo nome. Não se trata de um simples modo de dizer, é Palavra de Deus (cf. Is 43, 1; 2 Tm 1, 9). Amigo, amiga, se Deus te chama pelo nome significa que, para Ele, nenhum de nós é um número; mas é um rosto, é uma cara, é um coração. Quero que cada um de vós note uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome. Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado. Quantos lobos se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade, dizendo que conhecem quem és, mas sem te querer bem, insinuando que creem em ti e prometendo que serás alguém, para depois te deixarem sozinho, quando já não lhes fores útil. E estas são as ilusões do mundo virtual e devemos estar atentos para não nos deixarmos enganar, porque muitas realidades que hoje nos atraem e prometem felicidade, mostram-se depois pelo que são: coisas vãs, bolas de sabão, coisas supérfluas, coisas inúteis e que deixam o vazio interior. Digo-vos uma coisa: Jesus não é assim, não é assim! Ele confia em ti, confia em cada um de vós, em cada um de nós, porque Jesus interessa-Se por cada um de nós; cada um de vós é importante para Ele. Assim é Jesus.

E é por isso que nós, sua Igreja, somos a comunidade dos que são chamados; não somos a comunidade dos melhores, não! Somos todos pecadores, mas somos chamados assim como somos. Pensemos um pouco nisto, em nosso coração: somos chamados como somos, com os problemas que temos, com as limitações que temos, com a nossa alegria transbordante, com a nossa vontade de sermos melhores, com a nossa vontade de vencer. Somos chamados como somos. Pensai nisto: Jesus chama-me como eu sou, não como eu gostaria de ser. Somos comunidade de irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai.

Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos à falsidade e às palavras vazias: na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. Jesus di-lo claramente. Quando manda os apóstolos chamar para o banquete daquele senhor que o preparara, diz: «Ide e trazei todos», jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos. «Padre, mas para mim que sou um desgraçado, que sou uma desgraçada, também há lugar?» Há espaço para todos! Todos juntos… Peço a cada um que, na própria língua, repita comigo: «Todos, todos, todos». Não se ouve; outra vez! «Todos, todos, todos». E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços. É curioso! O Senhor não sabe fazer isto [aponta com o dedo em riste], mas isto sim [faz o gesto de abraçar]. Abraça a todos. No-lo mostra Jesus na cruz, onde abriu completamente os braços para ser crucificado e morrer por nós.

Jesus nunca fecha a porta, nunca. Mas convida-te a entrar: «entra e vê!» Jesus recebe, Jesus acolhe. Nestes dias cada um de nós transmite a linguagem do amor de Jesus. Deus te ama, Deus te chama. Que belo é isto! Deus ama-me, Deus chama-me. Quer que eu esteja perto d’Ele.

Nesta tarde, vós também me fizestes perguntas, muitas perguntas. Nunca vos canseis de perguntar… Perguntar, é bom; aliás muitas vezes é melhor que dar respostas, porque quem pergunta permanece «inquieto» e a inquietude é o melhor remédio contra a rotina, que às vezes se torna uma espécie de normalidade que anestesia a alma. Cada um de nós traz dentro os próprios interrogativos. Levemos estas questões connosco e ponhamo-las no diálogo comum entre nós. Ponhamo-las quando rezamos diante de Deus. Com o transcorrer da vida, essas perguntas vão tendo resposta; só nos resta esperar. E uma coisa muito interessante: o amor de Deus surpreende-nos. Não está programado. O amor de Deus vem de surpresa. Surpreende sempre. Sempre nos mantém alerta e surpreende.

Queridos jovens moços e moças, convido-vos a pensar nesta coisa maravilhosa: Deus ama-nos! Deus ama-nos como somos, não como gostaríamos de ser ou como a sociedade queria que fôssemos. Como somos! Chama-nos com os defeitos que temos, com as limitações que temos e com a vontade que temos de avançar na vida. Deus chama-nos assim. Confiai, porque Deus é Pai e um Pai que nos quer bem, um Pai que nos ama. Isto nem sempre é muito fácil. Mas podemos contar com uma grande ajuda: a da Mãe do Senhor. Ela também é nossa Mãe. Maria é nossa Mãe.

E é tudo o que vos queria dizer. Não tenhais medo, tende coragem, continuai para diante, sabendo que, por «amortizador» das dificuldades, temos o amor que Deus nos tem. Deus ama-nos. Digamo-lo todos juntos: «Deus ama-nos». Mais alto, não consigo ouvir [repetem]. Aqui não se ouve [repetem] Obrigado. Adeus.

https://www.youtube.com/watch?v=NCWxnaB-kxI

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Viagem Apostólica a Portugal: Encontro com os representantes de alguns centros de assistência e de caridade.

Jornada Mundial da Juventude-Lisboa 2023

Bairro da Liberdade e Bairro da Serafina – Lisboa

04 de agosto de 2023 – 10h00

 

“Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Agradeço ao pároco as suas palavras, e saúdo a todos os presentes, em particular aos amigos do Centro Paroquial da Serafina, da Casa Família Ajuda de Berço e da Associação Acreditar. É bom estarmos aqui juntos, enquanto, no contexto da Jornada Mundial da Juventude, olhamos para a Virgem Maria que Se levanta e vai ajudar Isabel, sua parente idosa (cf. Lc 1, 39). De facto, a caridade é a origem e a meta do caminho cristão, e a vossa presença, realidade concreta de «amor em ação», ajuda-nos a não esquecer a rota, o sentido daquilo que fazemos. Obrigado pelos vossos testemunhos, dos quais quero destacar três aspetos: fazer juntos o bem, agir no concreto estar próximo dos mais frágeis.

Primeiro, fazer juntos o bem. «Juntos» é a palavra-chave, que ouvi repetir muitas vezes nas vossas intervenções. Viver, ajudar e amar juntos: jovens e adultos, sãos e doentes… juntos. O João disse-nos uma coisa importante: é preciso não se deixar «definir» pela doença, mas fazer dela parte viva do contributo que prestamos ao conjunto, à comunidade. É verdade! Não devemos deixar-nos «definir» pela doença ou pelos problemas, porque não somos uma doença nem um problema. Cada um de nós é um dom, um dom único com os seus limites, um dom precioso e sagrado para Deus, para a comunidade cristã e para a comunidade humana. E, assim como somos, enriquecemos o conjunto e deixamo-nos enriquecer pelo conjunto!

Segundo, agir no concreto. Também isto é importante. A Igreja não é um museu de arqueologia, mas – como nos recordava o padre Francisco, inspirando-se em São João XXIII – é «o antigo fontanário da aldeia que dá água às gerações de hoje, como a deu às do passado» (Homilia na Liturgia em Rito Bizantino- Eslavo em honra de São João Crisóstomo, 13/XI/1960). O fontanário serve para matar a sede dos caminhantes que chegam, carregando o peso real e as canseiras concretas do seu caminho! Por conseguinte é necessária concretização, atenção ao «aqui e agora», como aliás já fazeis com o cuidado dos pormenores e sentido prático, belas virtudes típicas do povo português. Quando não se perde tempo a lamentar-se da realidade, mas se tem a preocupação de ir ao encontro das carências concretas, com alegria e confiança na Providência, acontecem coisas maravilhosas. Assim o testemunha a vossa história: do encontro com o olhar de um idoso na rua, nasce um centro de caridade «de todo o respeito», como este em que nos encontramos; de um desafio moral e social qual é a «campanha pela vida», nasce uma associação que ajuda grávidas e sua família, crianças, adolescentes e jovens em dificuldade, para encontrarem um projeto de vida seguro, como nos contou Sandra; da experiência da doença nasce uma comunidade de apoio a quem luta contra o cancro, especialmente crianças, de modo que «os progressos no tratamento e a melhor qualidade de vida se tornem realidade para eles», como nos disse o João. Obrigado pelo que fazeis! Continuai com mansidão e gentileza a deixar-vos interpelar pela realidade, com as suas pobrezas antigas e novas, e a responder de forma concreta, com criatividade e coragem.

O terceiro aspeto: estar próximo dos mais frágeis. Todos somos frágeis e necessitados, mas o olhar feito de compaixão, próprio do Evangelho, leva-nos a ver as necessidades de quem mais precisa. Leva-nos a servir os pobres, os prediletos de Deus que Se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9): os excluídos, os marginalizados, os descartados, os humildes, os indefesos. São eles o tesouro da Igreja, são os preferidos de Deus! E recordemo-nos sempre de não estabelecer diferenças entre eles; de facto, para um cristão, não há preferências face a quem, necessitado, bate à nossa porta: compatriotas ou estrangeiros, pertencentes a este ou àquele grupo, jovens ou idosos, simpáticos ou antipáticos…

A propósito de caridade, quero agora contar-vos uma história, especialmente a vós, crianças, que talvez não conheçais. É a história real dum jovem português que viveu há muito tempo. Chamava-se João Cidade e habitava em Montemor-o-Novo. Sonhava com uma vida aventureira; por isso, adolescente ainda, partiu de casa à procura da felicidade. Achou-a depois de vários anos e muitas aventuras, quando encontrou Jesus. E ficou tão contente com a descoberta que até decidiu mudar o nome, chamando-se a partir de então, não João Cidade, mas João de Deus. E fez uma coisa ousada: foi pela cidade e começou a pedir esmola pelas ruas, dizendo às pessoas: «Fazei bem, irmãos, a vós mesmos!» Compreendeis? Pedia a esmola, mas dizia a quantos lha davam que, ajudando-o a ele, na realidade estavam a ajudar antes de mais nada a si próprios! Ou seja, explicava que os gestos de amor são um dom primariamente para quem os cumpre, antes mesmo de o serem para quem os recebe; porque tudo o que se acumula para si mesmo perder-se-á, enquanto aquilo que se dá por amor nunca se desperdiça, mas será o nosso tesouro no céu.

Por isso dizia: «Fazei bem, irmãos, a vós mesmos!» Porém o amor não torna felizes só no céu, mas já aqui na terra, porque dilata o coração e permite abraçar o sentido da vida. Se queremos ser verdadeiramente felizes, aprendamos a transformar tudo em amor, oferecendo aos outros o nosso trabalho e o nosso tempo, dizendo palavras edificantes e realizando boas ações, mesmo com um sorriso, com um abraço, com a escuta, com o olhar. Queridos adolescentes, irmãos e irmãs, vivamos assim! Todos podemos fazê-lo e disto mesmo todos precisamos, aqui e em qualquer lugar do mundo.

Sabeis o que aconteceu depois a João? Não o entenderam! Pensavam que estava maluco e fecharam- no num manicómio. Mas ele não se desmoralizou, porque o amor não se arrende e quem segue Jesus não perde a paz nem se põe a lamentar a sua sorte. E foi precisamente lá, no manicómio, carregando a cruz, que chegou a inspiração de Deus. João deu-se conta de quanto aqueles doentes precisavam de ajuda e, quando finalmente o deixaram sair, depois de alguns meses, começou a cuidar deles com outros companheiros, fundando uma Ordem Religiosa: os Irmãos Hospitaleiros. Alguns, porém, começaram a designá-los doutro modo, ou seja, com as palavras «fazei bem, irmãos…» que aquele jovem ia repetindo a todos. Assim são chamados em Roma: Fatebenefratelli. É um belo nome, e um ensinamento importante! Ajudar os outros é um dom para si próprio e faz bem a todos. É verdade! Amar é um dom para todos! Recordemo-nos: «o amor é um presente para todos!» Vamos repetir juntos: o amor é um presente para todos!

Amemo-nos assim! Continuai a fazer da vida um presente de amor e de alegria. Fico-vos grato e recomendo a todos, mas especialmente às crianças: continuai a rezar por mim. Obrigado!”

https://www.youtube.com/watch?v=aByZY7W6l3I&t=3s

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Viagem Apostólica a Portugal: Via-Sacra com os jovens

Jornada Mundial da Juventude-Lisboa 2023

Colina do encontro – Parque Eduardo VII – 04 de agosto de 2023 – 18h45

 

Via Sacra

Maria levantou-se e pôs-se a caminho. Jesus aprendeu com a Sua Mãe: mesmo sob a Cruz, Jesus levantou-Se e pôs-Se a caminho. Senhor, ensina-nos a nós, jovens, a levantar e a andar em frente. Mesmo quando a vida é difícil.

1ª Estação | Jesus é condenado à morte

Senhor, Pilatos assinou o decreto. Assinou o decreto que extinguia o Teu futuro. “Este ser humano deve morrer; ele não terá mais futuro”.

Muitos jovens sentimos isto hoje, Senhor, que o futuro nos está a ser tirado. Dizem-nos que a vida está cheia de oportunidades, mas é difícil ver onde estão essas oportunidades quando o dinheiro não chega, quando não se consegue arranjar trabalho e quando ter acesso à educação é, na prática, muitas vezes impossível.

Senhor, mesmo quando Te condenaram à morte, Tu não Te deixaste ir abaixo. Explicaste a Pilatos que ele não teria nenhum poder sobre Ti se Deus não o permitisse. E, com o Pai a Teu lado, seguiste em frente, confiando no futuro. Ensina-nos a fazer o mesmo.

2ª Estação | Jesus toma a Cruz aos ombros

Puseram-Te às costas um tronco pesado de madeira. E já Te tinham torturado. Que violência, Senhor! Viveste num mundo violento e foste vítima dessa violência.

O mundo onde vivemos talvez não seja muito diferente. Guerras, atentados, tiroteios em massa mas também violência nos casamentos e nos namoros, abusos de crianças, bullying, abusos de poder, famílias onde se atiram palavras que são piores que pedras.

Puseram-te uma Cruz às costas mas Tu, Senhor, não Te deste por vencido. Onde encontraste a força para caminhar? Imagino-Te a dizer para Ti mesmo: “O amor vencerá sobre a violência”. Senhor, dá-me força para amar.

3ª Estação | Jesus cai pela primeira vez

Desculpa, Senhor, não estou habituado a ver os meus heróis abandonados no chão com a boca suja de terra. Por que Te sujeitaste? É abandono a mais; é solidão a mais.

Tu, sozinho. É assim também que, por vezes, me sinto quando espero uma mensagem que não vem ou um abraço que não aparece. Às vezes, acho que é culpa minha, que não tenho jeito e que me fecho; outras vezes, acho que vivo num mundo egoísta onde cada um só pensa em si mesmo. Não sei, só sei que há muitos jovens sozinhos. Mesmo quando estão rodeados de gente.

Olho para Ti caído por terra. Imagino-Te a levantares a cabeça e a olhares para mim. Imagino-Te a dizer: “Caio contigo para te levantar comigo. Vá, põe-te de pé e avança. Vamos juntos.”

4ª Estação | Jesus encontra Sua Mãe

Provavelmente, por entre os gritos da multidão, ouviste a voz da Tua mãe. Uma voz suave e inconfundível. “Meu filho. Estou aqui”. Procuraste o seu rosto. Encontraste-o sereno a dizer que “sim” com a cabeça. “Sim”. Era tudo o que precisavas de ver. Um sinal de confirmação. Um sinal que viesse do amor puro. Como a dizer: “Vai em frente, compromete-te, compromete-te com o Bem. Deus ajudará.”

Fala-me ao ouvido, mãe de Jesus. Fala-me de amor, fala-me de compromisso. De compromisso com o Bem. Não me deixes ficar sentado à espera. À espera do “momento ideal”, da pessoa ideal, do trabalho ideal, da Igreja ideal. Não me deixes ficar sentado a imaginar, enquanto o mundo avança sem mim e sem aquilo que eu teria para lhe dar. Maria, ajuda-me a abraçar a minha vocação.

5ª Estação | Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a Cruz

Os soldados obrigaram um homem chamado Simão a carregar a cruz de Jesus. Não lhe pediram, obrigaram-no. À força. Era um trabalhador rural. Nem sequer era romano. Não valia, não tinha direito a dizer se queria ou se não queria.

Hoje, o mundo também está cheio de exclusões e de intolerâncias. Há minorias não têm direito a falar ou mesmo a existir. Em muitos países, nem se pode praticar a religião que se entender. Há muitas pessoas que não podem exprimir livremente as suas ideias. Cada grupo quer impor a sua maneira de ver e afastar quem pense diferente. Por vezes até mesmo dentro da Igreja. Por vezes até mesmo dentro dos nossos corações.

Tu, Senhor, foste vítima da intolerância. Mas não Te deixaste tomar pelo ódio. E por isso podes ser ponte entre todos. Ensina-nos a ser construtores de pontes onde quer que estejamos.

6ª Estação | Verónica enxuga o rosto de Jesus

Senhor, uma mulher furou a multidão para limpar o Teu rosto e ficou com a Tua imagem gravada no seu lenço. Amar é assim, é deixar-se mover pelo rosto do outro, mesmo desfigurado. O rosto do filho que se ama, do amigo que se ama, do pobre que se ama, da mulher ou do marido que se ama. O rosto da Igreja que se ama, mesmo quando está desfigurada. Amar é deixar-se atrair pelo rosto do outro.

Mas nós, jovens, vivemos num mundo individualista. Disseram-nos mil vezes que o que mais interessava era a nossa imagem e a nossa autorrealização. Que tínhamos direito a ser felizes e que devíamos pensar primeiro em nós mesmos. E aqui estamos, autocentrados, cada um focado no seu telemóvel, nos seus assuntos, na sua ilha, à espera de uma felicidade que não vem. Porque a verdadeira felicidade está em deixar-se atrair pelo rosto do outro.

7ª Estação | Jesus cai pela segunda vez

Outra vez no chão, Senhor? Quando caímos uma vez, achamos que foi acidente, que foram as circunstâncias. Quando caímos mais vezes, ficamos com medo. Com medo de haver algum problema de fundo connosco. Um desequilíbrio.

Atualmente, Senhor, muitos de nós, jovens, temos cabeças complicadas. Sofremos ansiedades e depressões, problemas alimentares, burnout. Por vezes, questionamo-nos acerca de quem somos e se vale a pena viver. Às vezes, sentimo-nos mesmo em baixo, por terra. Pior do que ter um problema é ser um problema.

Olho para Ti caído no chão. Imagino-Te a dizer: “Caio contigo para te levantar comigo. Vá, procura ajuda, põe-te de pé e avança. Vamos juntos.”

8ª Estação | Jesus encontra mulheres de Jerusalém

No caminho, Senhor, cruzaste-Te com mulheres que choravam por Ti. “Não chorem por Mim – disseste-lhes – chorem por vocês e pelos vossos filhos”. Não querias lágrimas fáceis que não mudassem nada. Querias que pensassem em si mesmas e em que mundo iriam deixar para a geração seguinte, para o futuro.

Também nós nos interrogamos como será o nosso futuro neste planeta. Assistimos ao consumo descontrolado dos recursos da terra, à extinção de espécies, à devastação de florestas. Assistimos assustados às alterações climáticas e sentimo-nos muito inseguros em relação ao futuro. E tudo isto associado a estilos de vida desequilibrados que fazem com que alguns morram à fome enquanto outros fiquem doentes por comerem demais.

Senhor, ensina-nos a ter estilos de vida mais simples, mais solidários, mais conscientes das consequências, mais próximos do essencial. Mais parecidos contigo.

9ª Estação | Jesus cai pela terceira vez

Pela terceira vez no chão, Senhor? Sinto medo por Ti, sinto medo de que não Te consigas levantar. Ou que caias de novo, mal Te ponhas de pé.

Talvez queiras chegar perto daqueles jovens que voltam a cair cada vez que se tentam levantar. Acusam-nos de serem fracos, de não resistirem à droga, à pornografia, ao álcool. Acusam-nos de se refugiarem nos seus écrans ao ponto de ficarem viciados. Só não entendem que levantar-se possa exigir forças que eles já não têm. E uma fé que já perderam.

Olho para Ti caído no chão. Imagino-Te a dizer a cada jovem com uma dependência: “Caio contigo para que te levantes comigo. Vá, procura ajuda, põe-te de pé e avança. Comigo, desta vez, vais conseguir. Vamos juntos.”

10ª Estação | Jesus é despojado das Suas vestes

Despiram-te, Senhor, tiraram-Te a roupa. Olho para Ti, sereno e confiante na Tua verdade nua. Mesmo sem roupa não deixas de ser quem és porque nunca Te preocupaste em construir uma imagem de Ti mesmo. Tu na Tua humildade, Tu na Tua integridade. Tu na Tua verdade.

Mas nós vivemos numa terra de espelhos onde o que conta é a aparência, a imagem. Selfies e mais selfies. A tirania do corpo certo e do sorriso perfeito. Fotos de si mesmo nas redes sociais em poses cuidadosamente estudadas. Posts artificiais à espera dos likes dos outros. Sensação terrível de não podermos ser nós mesmos, de termos de nos vender para que gostem de nós e não ficarmos isolados. Narcisismos que, no fim, nos deixam sozinhos em ilhas distantes.

E Tu nu, igual a Ti próprio, sem vergonha de seres quem és. Não vivias para a imagem, mas para o Bem. Ensina-me, Senhor. Dá-me força para ser diferente, para não viver em função da imagem mas em fidelidade à minha consciência.

11ª Estação | Jesus é pregado na Cruz

Um prego em cada pulso, um terceiro prego nos pés. Ficaste assim, preso. Ainda Te gritaram lá de baixo: “Não és o Filho de Deus? Desce da Cruz!”. Mas a Cruz não era uma situação em que por acaso estavas; era a consequência inevitável de não teres desistido de amar até ao fim. O confronto entre o amor e a violência do mundo.

Hoje muitas pessoas tentam desesperadamente fugir de situações desumanas. Fogem da guerra, da fome, da falta de água, das perseguições políticas. A sua casa deixou de ser o seu abrigo e passou a ser o lugar provável da sua morte. Tentam refugiar-se nalgum outro local do mundo, ao qual um dia possam vir a chamar de “casa”.

Preso na cruz, Senhor, dá ânimo a todos os jovens que têm de fugir para não perderem a vida. E a quem vive, confortável na sua casa, dá um coração parecido com o Teu.

12ª Estação | Jesus morre na Cruz

“Pai, em Tuas mãos entrego o Meu espírito”. Abandonaste-Te nos braços do Pai. Deste o último suspiro e morreste. E contigo morreram todas as palavras que não chegaste a dizer, todos os abraços que não chegaste a dar, todas as curas que não chegaste a fazer.

Parece um desperdício, Senhor! Quantas coisas boas não poderias ter feito em mais umas décadas de vida! E, no entanto, as Tuas palavras foram “Tudo está consumado”. Não ficou nada por realizar. Porque ali, na Cruz, deixaste-nos tudo o que era preciso para nos salvar: o amor puro, embora impotente e aparentemente inútil.

Hoje, só conta quem produz. Não contam os idosos, não contam as pessoas com deficiência, não contam os desempregados, não contam os sonhadores. E não contam as brincadeiras das crianças, tantas vezes obrigadas a trabalhar para trazer dinheiro ou a estudar mais e mais para um dia serem “verdadeiras vencedoras” no mercado de trabalho.

No entanto, o que salva é o amor. Esconde-me nas Tuas chagas amorosas, Senhor!

13ª Estação | Jesus é descido da Cruz e entregue a Sua Mãe

Pietá. Jesus nos braços de Maria. Um filho no colo da sua mãe. A verdade mais pura do amor desinteressado. A Palavra que descansa no silêncio.

E nós perdidos num mundo saturado de palavras apressadas, de informação, de notícias, de publicidade, de interesses, em que já não sabemos o que é verdade e o que é mentira nem sabemos em quem acreditar!

Senhor, eu não tenho de saber tudo, eu não quero saber tudo. Quero apenas saber aquilo que interessa saber para ser uma pessoa melhor e criar um mundo mais humano. Dá-me um grande amor por tudo aquilo que no mundo é puro e verdadeiro e simples e humano.

14ª Estação | Jesus é depositado no sepulcro

O cemitério. O fim. Quando a pedra rolou sobre a entrada do túmulo, parecia que tudo tinha definitivamente acabado. Parecia, Senhor, que Tu e o Teu caminho do amor não tinham sido senão uma ilusão. Uma esperança enganadora num hipotético triunfo do Bem sobre o mal. Parecia que tudo tinha terminado, que tínhamos de ser realistas, que o mundo afinal era mesmo dos espertos e não daqueles que sonham com o Bem, como Tu.

Tantas vezes na nossa vida parece não haver futuro. Não vemos qualquer luz ao fundo do túnel. Ficamos com medo de olhar para a frente. Não conseguimos tomar decisões, não vemos por onde a história possa continuar, só vemos o caminho bloqueado por pedras grandes diante de nós.

É aí que precisamos de ouvir a voz de Maria. A falar-nos dos fins que são inícios, da aparente morte de uma árvore no Inverno quando apenas se está a preparar para florir na Primavera. Dos sepulcros que são portas para a ressurreição.

https://www.youtube.com/watch?v=oBjW8I0YX0A&t=5s

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Viagem Apostólica a Portugal: Recitação do Terço com os jovens doentes

Jornada Mundial da Juventude-Lisboa 2023

Capelinha das aparições do Santuário de Nossa Senhora de Fátima
Sábado, 5 de agosto de 2023 – 09h00

 

Discurso do Papa

Queridas irmãs e irmãos, bom dia!

Obrigado, D. José Ornelas, pelas suas palavras e, a vós todos, obrigado pela presença e a oração. Rezámos o terço, uma oração muito bela e vital; vital, porque nos põe em contacto com a vida de Jesus e de Maria. E meditámos os mistérios da alegria, que nos lembram que a Igreja não pode ser senão a casa da alegria. A Capelinha onde nos encontramos constitui uma bela imagem da Igreja: acolhedora, sem portas. A Igreja não tem portas, para que todos possam entrar. E aqui podemos insistir também no facto que todos podem entrar, porque esta é a casa da Mãe, e uma mãe tem sempre o coração aberto para todos os seus filhos, todos, todos, todos, sem excluir nenhum.

Estamos aqui, sob o olhar materno de Maria, estamos aqui como Igreja, Igreja mãe. A peregrinação é precisamente uma caraterística mariana, porque a primeira a fazer uma peregrinação, depois da anunciação de Jesus, foi Maria. Logo que soube que sua prima se encontrava grávida – esta estava já em idade avançada –, Maria saiu correndo. Traduzindo um pouco livremente a expressão do Evangelho «dirigiu-se à pressa», diríamos que «Ela saiu correndo»; saiu correndo levada pelo desejo de ajudar, de estar presente.

Temos muitos títulos de Maria, mas, se pensarmos bem, há mais este que também poderíamos dizer: a Virgem «que sai correndo», sempre que há um problema; sempre que A invocamos, Ela não demora a vir; é solícita. Nossa Senhora solícita: gostais assim? Digamo-lo todos juntos: «Nossa Senhora solícita». Apressa-Se, para estar perto de nós, apressa-Se porque é Mãe. Em português, dizemos «apressada» – observa-me D. Ornelas. «Nossa Senhora apressada»! E é assim que acompanha a vida de Jesus; e não Se esconde depois da Ressurreição, acompanha os discípulos à espera do Espírito Santo; e acompanha a Igreja que começa a crescer depois do Pentecostes. Nossa Senhora que Se mostra solícita e Nossa Senhora que acompanha. Acompanha sempre. Nunca é protagonista. O gesto com que Maria Mãe acolhe é duplo: primeiro acolhe e depois aponta para Jesus. Maria, na sua vida, não faz senão indicar Jesus: «Fazei o que Ele vos disser». Segui Jesus.

Pensemos que estes são os dois gestos de Maria: acolhe-nos a todos e indica Jesus. E fá-lo com solicitude, apressada. Nossa Senhora solícita, que nos acolhe a todos e nos indica Jesus. Lembremo-nos disto, sempre que aqui viermos. Aqui Maria tornou-Se presente dum modo especial, para que a incredulidade de tantos corações se abrisse a Jesus. Com a sua presença, indica-nos Jesus, sempre nos aponta Jesus. E hoje está aqui entre nós; Ela está sempre entre nós, mas hoje sentimo-La muito mais próxima. Maria solícita.

Amigos, Jesus ama-nos até ao ponto de Se identificar connosco e pede-nos para colaborar com Ele. E Maria indica-nos isto mesmo que Jesus nos pede: caminhar na vida colaborando com Ele. Gostaria que hoje olhássemos para a imagem de Maria, e cada um se interrogasse: Que me diz Maria como Mãe? O que é que me está a indicar? Indica-nos Jesus; às vezes indica também alguma coisinha no coração que não regula bem, mas sempre indica. «Mãe, o que é que me estás a indicar?» Façamos um breve momento de silêncio e cada um diga em seu coração: «Mãe, o que é que me estás a indicar? O que há na minha vida que Te preocupa? O que há na minha vida que Te entristece? O que há na minha vida que Te chama a atenção? Indica-mo!» E Ela indica o coração, para que Jesus venha até ele. E assim como nos indica Jesus, a Jesus indica o coração de cada um de nós.

Queridos irmãos, sintamos hoje a presença de Maria Mãe; a Mãe que não cessa de dizer: «Fazei o que Jesus vos disser»; indica-nos Jesus. Mas também a Mãe que diz a Jesus: «Faz o que estes Te estão a pedir». Esta assim é Maria. Esta é a nossa Mãe, Nossa Senhora solícita em estar perto de nós. Que Ela nos abençoe a todos! Ámen.

Oração a Maria

Maria, estamos aqui na vossa presença. Vós sois Mãe e cuidais de nós. Conheceis as nossas penas e as nossas canseiras. Nós levantamos o olhar para Vós, deixamo-nos envolver pelos vossos olhos e confiamo-nos ao vosso coração. Este não esteve isento de dúvidas e medos: sentistes temor, quando o anjo Vos visitou em Nazaré, apreensão quando não encontráveis alojamento em Belém, angústia quando perdestes Jesus no templo. Mas, nas provas, fostes corajosa e destemida: tudo confiastes a Deus, e respondestes ao temor com o amor, à apreensão com a solicitude, à angústia com o oferecimento. Nos momentos decisivos, nunca recuastes, antes tomáveis a iniciativa: solícita fostes ter com Isabel, nas bodas de Caná batestes ao coração de Jesus, no Cenáculo mantivestes unidos os discípulos. No calvário, uma espada traspassou-Vos a alma, mas Vós, mulher humilde e forte, iluminastes com a esperança pascal a noite do sofrimento. E agora olhai para nós, sofrei connosco e por nós.

O vosso coração é sensível aos nossos problemas. Lançamo-los no vosso regaço: tomai de novo a iniciativa por nós, nestes tempos atribulados pela injustiça e devastados pelas armas. Voltai o vosso olhar materno para a família humana, que perdeu o caminho da paz, perdeu o sentido da fraternidade e não reencontra o calor de casa. Intercedei pelo nosso mundo em perigo e tumulto, para que acolha a vida e rejeite a guerra, cuide dos que sofrem e salvaguarde a criação. Vimos a Vós, procuramos refúgio no vosso Coração Imaculado. Imploramos misericórdia, Mãe de misericórdia; paz, Rainha da Paz! Convertei os ânimos de quem alimenta ódio e fomenta conflitos, de quem pensa que a guerra resolva os problemas. Tocai o coração dos que andam afastados, de quem não tem a alegria de conhecer Deus. Amparai quem está sozinho, sustentai quem está doente, consolai quem está desanimado. Neste diálogo convosco, Rainha do Santo Rosário, recordamos os vossos apelos maternos.

Viestes pedir oração e penitência. Quantas vezes, porém, nos deixamos atrair por outras coisas: preocupados com as nossas necessidades e distraídos por tantos interesses, mostramo-nos surdos aos vossos convites. Mas Vós amais-nos e não Vos cansais de nós. Continuai a recordar-nos que Deus merece o primeiro lugar. Ajudai-nos a converter-nos. Guardai a unidade na Igreja, quando é polarizada por ideologias, ferida pelos pecados dos seus filhos, tentada pelo mundanismo. Vós, pequenina, exaltastes as grandes coisas que o Senhor realizou em Vós; recordai-nos que a humildade e a mansidão são as chaves que abrem o escrinho do coração de Deus, permitindo que o seu Espírito Se derrame sobre o mundo.

Confortai os humildes e os simples, aqueles que creem, adoram, esperam e amam; encorajai-os na sua missão. Acendei em todos nós o zelo apostólico e tomai os jovens pela mão: fazei resplandecer neles o desejo de arriscar a vida por sonhos grandes e belos. Ó Maria, nós Vos amamos e confiamos em Vós. E agora de novo nos entregamos a Vós. Com coração de filhos, Vos consagramos as nossas vidas, todas as fibras do nosso ser, tudo o que temos e somos, para sempre. Nós Vos consagramos a Igreja e o mundo, especialmente os países em guerra. Alcançai-nos a paz. Vós, Virgem do Caminho, abri sendas onde parece que não há. Vós, que desatais os nós, desfazei os emaranhados do egoísmo e os laços do poder. Vós, que nunca Vos deixais vencer em generosidade, enchei-nos de ternura, colmai-nos de esperança e fazei-nos saborear a alegria que não passa, a alegria do Evangelho. Ámen.”

https://www.youtube.com/watch?v=xcabCQYd9fQ

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Viagem Apostólica a Portugal: Vigília com os jovens

Jornada Mundial da Juventude-Lisboa 2023

Parque Tejo – Lisboa
Sábado, 5 de agosto de 2023 – 20h45

Queridos irmãos e irmãs, boa noite!

Dá-me tanta alegria ver-vos! Obrigado por terdes viajado, por terdes caminhado e obrigado por estardes aqui! Estou a pensar que também a Virgem Maria teve de viajar para ver Isabel: «Levantou-Se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39). Poderíamos perguntar-nos: Mas porque é que Maria Se levanta e vai apressadamente ter com a prima? Certamente porque acaba de saber que a prima está grávida; mas também Ela está. Então por que foi, se ninguém Lho pedira? Maria realiza um gesto não solicitado e sem ser obrigada; Maria vai porque ama e «quem ama voa, corre feliz» (A Imitação de Cristo, III, 5). Isto é o que o amor nos faz.

A alegria de Maria é dupla: acabara de receber o anúncio do anjo de que acolheria n’Ela o Redentor e também a notícia de que a prima estava grávida. Interessante! Em vez de pensar em Si mesma, pensa na outra. Porquê? Porque a alegria é missionária, a alegria não é para ficar numa pessoa, mas para levar alguma coisa. Pergunto: vós, que estais aqui, que viestes para vos encontrar, para encontrar a mensagem de Cristo, encontrar o sentido bom na vida… Isto, ides guardá-lo para vós ou levá-lo-eis aos outros? Que pensais fazer? Não ouço! (…) É para o levar aos outros, porque a alegria é missionária. Repitamos isto todos juntos: «a alegria é missionária». Concluindo, eu levo esta alegria aos outros.

Mas esta alegria que temos, houve outros que nos prepararam para a receber. Agora olhemos em retrospetiva tudo o que recebemos; tudo isso predispôs o nosso coração para a alegria. Todos nós, se olharmos para trás, veremos pessoas que foram um raio de luz na nossa vida: pais, avós, amigos, sacerdotes, religiosos, catequistas, animadores, professores… São como que as raízes da nossa alegria. Façamos agora um momento de silêncio, e cada qual pense nas pessoas que nos deram algo na vida, naqueles que são como que as raízes da alegria.

[momento de silêncio]

Encontrastes alguém? Encontrastes rostos, histórias? A alegria que nos veio de tais raízes é a que devemos dar, porque nós temos raízes de alegria e, simultaneamente, podemos ser raízes de alegria para os outros. Não se trata de levar uma alegria passageira, uma alegria momentânea, mas uma alegria que cria raízes. Uma pergunta: como podemos tornar-nos raízes de alegria?

A alegria não está fechada na biblioteca – embora seja necessário estudar –, encontra-se noutra parte. Não está guardada à chave. A alegria, é preciso procurá-la, é preciso descobri-la. É preciso descobri-la no diálogo com os outros, onde devemos dar as raízes de alegria que recebemos. Por vezes, isto cansa. Faço-vos uma pergunta: às vezes cansais-vos? Pensai no que acontece, quando uma pessoa está cansada: não tem vontade de fazer nada e, como se costuma dizer, atira-se por terra. Não tem vontade de continuar; então desiste, deixa de caminhar e cai. Pensai numa pessoa que caia na vida, tenha um fracasso, cometa erros mesmo graves, sérios: achais que a sua vida acabou? Não! O que é preciso fazer? Levantar-se! Como recordação, quero deixar-vos o caso dos alpinistas, que gostam de escalar as montanhas; eles têm uma canção linda, onde se diz: «Na arte de subir a montanha, o que conta não é não cair, mas não ficar caído». Está certo!

Quem fica caído, a sua vida já «passou à reforma», está encerrada! Fechou-se à esperança, fechou-se aos anseios, fica por terra. E quando virmos alguém, um amigo nosso, que caiu, que devemos fazer? Levantá-lo. Reparai, quando alguém tem de levantar ou ajudar uma pessoa a levantar-se, que gesto faz? Olha-a de cima para baixo. Trata-se da única ocasião, do único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo: quando queremos ajudá-la a levantar-se. Quantas vezes vemos pessoas que nos olham sobranceiras, por cima do ombro, de cima para baixo! É triste. O único modo, a única situação em que é lícito olhar de cima para baixo uma pessoa é (dizei-o vós… forte!) para a ajudar a levantar-se.

Pois bem! O segredo do caminho está um pouco nisto: na constância em caminhar. Na vida, para se conseguir algo, é preciso treinar a caminhar. Às vezes não temos vontade de caminhar, não temos vontade de nos esforçar; copiamos os exames, porque não temos vontade de estudar e não chegamos ao resultado desejado. Não sei se algum de vós gosta de futebol… Eu gosto. Por trás dum golo, que temos? Muito treino. Por trás dum resultado, que há? Muito treino. E, na vida, nem sempre se pode fazer o que apetece, mas aquilo que nos leva a realizar a vocação que temos dentro de nós… Cada um tem a sua vocação. É preciso caminhar. E, se cair, levanto-me ou haja alguém que ajude a pôr-me de pé. Não ficar caído; e treinar-me, treinar-me a caminhar. E tudo isto é possível, não porque fizemos um curso sobre o caminhar; não há cursos que nos ensinem a caminhar na vida! Isto aprendemo-lo dos pais, aprendemo-lo dos avós, aprendemo-lo dos amigos, ajudando-se mutuamente. Na vida, aprende-se, e isto é treino para caminhar.

Deixo-vos estas ideias. É preciso caminhar e, no caso de cair, levantar-se; caminhar com uma meta; treinar-se todos os dias na vida. Na vida, nada é de graça; tudo se paga. Só uma coisa é gratuita: o amor de Jesus! Assim, com este dom gratuito que temos – o amor de Jesus – e com a vontade de caminhar, caminhemos na esperança, olhemos para as nossas raízes e continuemos para diante, sem medo. Não tenhais medo. Obrigado! Adeus.

https://www.youtube.com/watch?v=vpsnVuudhbg

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Viagem Apostólica a Portugal: Santa Missa do envio

Jornada Mundial da Juventude-Lisboa 2023

Parque Tejo – Lisboa

Domingo 06 de agosto de 2023 – 09h00

Homilia do Papa Francisco

«Senhor, é bom estarmos aqui!» (Mt 17, 4). Estas palavras que o apóstolo Pedro disse a Jesus no monte da Transfiguração, queremos fazê-las também nossas depois destes dias intensos. É bom tudo o que estamos a experimentar com Jesus, aquilo que vivemos juntos, e é bom como rezámos, com tanta alegria do coração. Mas perguntamo-nos: Que levamos connosco ao regressar à vida quotidiana?

Quero responder a esta pergunta com três verbos: resplandecer, ouvir, não temer, seguindo o Evangelho que ouvimos. Que levamos connosco? Respondo com três palavras: resplandecer, ouvir e não temer.

A primeira: resplandecer. Jesus transfigura-Se. Diz o Evangelho: «o seu rosto resplandeceu como o sol» (Mt 17, 2). Recentemente tinha anunciado a sua paixão e morte de cruz, esfrangalhando assim a imagem dum Messias poderoso, mundano, e dececionando as expectativas dos discípulos. Ora, para os ajudar a acolher o projeto de amor de Deus a respeito de cada um de nós, Jesus toma consigo três deles – Pedro, Tiago e João –, condu-los ao alto dum monte e transfigura-Se. E este «banho de luz» prepara-os para a noite da paixão.

Amigos, jovens queridos, também nós hoje precisamos de um pouco de luz, um lampejo de luz que forneça esperança para enfrentar tantas obscuridades que nos assaltam na vida, tantas derrotas quotidianas, para as enfrentar com a luz da ressurreição de Jesus. Porque Ele é a luz sem ocaso, a luz que brilha mesmo durante a noite. Diz o sacerdote Esdras: «O nosso Deus quis fazer brilhar os nossos olhos» (Esd 9, 8). O nosso Deus ilumina. Ilumina o nosso olhar, ilumina o nosso coração, ilumina a nossa mente, ilumina o nosso desejo de fazer algo na vida. Sempre com a luz do Senhor.

Mas quero dizer-vos que não ficamos luminosos, colocando-nos sob os holofotes; antes pelo contrário, isso encandeia-nos, não nos torna luminosos. Não ficamos luminosos, quando exibimos uma imagem perfeita, em ordem, bem acabada, não; nem mesmo se nos sentimos fortes e bem-sucedidos: fortes e bem-sucedidos, mas não luminosos. Tornamo-nos luminosos, resplandecemos quando, tendo acolhido Jesus, aprendemos a amar como Ele. Amar como Jesus: isto torna-nos luminosos, isto leva-nos a fazer obras de amor. Não te deixes enganar, minha amiga, meu amigo! Tornar-te-ás luz no dia em que fizeres obras de amor. Ao contrário quando, em vez de fazer obras de amor aos outros, só pensas em ti mesmo como um egoísta, então a luz apaga-se.

O segundo verbo é ouvir. No monte, uma nuvem luminosa cobre os discípulos. E desta nuvem fala o Pai. E que diz? «Escutai-O»! «Este é o meu Filho predileto, escutai-O» (Mt 17, 5). E é tudo… Tudo aquilo que se deve fazer na vida, está nesta palavra: escutai-O. Escutar Jesus. Todo o segredo está aqui. Escuta o que te diz Jesus. «Mas eu não sei o que Ele me diz!» Pega no Evangelho e lê o que diz Jesus, o que Ele diz ao teu coração. Porque Ele tem palavras de vida eterna para nós, revela que Deus é Pai, Deus é amor. Ele aponta-nos o caminho do amor. Escuta Jesus! Porque nós, mesmo quando com boa vontade nos embrenhamos por caminhos que até parecem ser de amor, em última análise não passam de egoísmo mascarado de amor. Cuidado com os egoísmos mascarados de amor! Escuta-O, porque Jesus dir-te-á qual é o caminho do amor. Escuta-O.

Resplandecer é a primeira palavra: sede luminosos! A segunda: escutar, para não se enganar no caminho! E finalmente a terceira palavra: não ter medo. Não tenhais medo. Uma expressão que se repete muito na Bíblia. Concretamente no Evangelho, no momento da Transfiguração, as últimas palavras que Jesus disse aos discípulos foram estas: «Não tenhais medo» (Mt 17, 7).

A vós, jovens, que vivestes esta alegria (estava para dizer esta glória, e de certo modo este nosso encontro também é glória); a vós, que cultivais sonhos grandes mas frequentemente ofuscados pelo temor de que não se realizem; a vós, que às vezes pensais que não ides conseguir (por vezes assalta-nos um pouco de pessimismo); a vós, jovens, tentados a desanimar neste tempo, a julgar-vos talvez inadequados ou a esconder a angústia mascarando-a com um sorriso; a vós, jovens, que quereis mudar o mundo (é um bem que queirais mudar o mundo!) e que quereis lutar pela justiça e a paz; a vós, jovens, que investis na vida esforço e imaginação, ficando porém com a sensação de que não bastam; a vós, jovens, de quem a Igreja e o mundo têm necessidade como a terra tem de chuva; a vós, jovens, que sois o presente e o futuro… Sim, precisamente a vós, jovens, é que Jesus diz hoje: «Não tenhais medo», «não tenhais medo»! Num breve momento de silêncio, cada um repita para si mesmo, no próprio coração, estas palavras: «Não tenhais medo».

Queridos jovens, gostaria de poder fixar cada um de vós nos olhos e dizer: Não temas, não tenhas medo! Mais, tenho uma coisa belíssima para vos dizer: já não sou eu, mas é o próprio Jesus que vos fixa agora. Ele que vos conhece, conhece o coração de cada um de vós, conhece a vida de cada um de vós, conhece as alegrias, conhece as tristezas, os sucessos e os fracassos, conhece o vosso coração. E hoje aqui em Lisboa, nesta Jornada Mundial da Juventude, Ele diz-vos: «Não temais, não temais! Coragem, não tenhais medo!»

Viagem Apostólica a Portugal: Angelus

Jornada Mundial da Juventude-Lisboa 2023

Parque Tejo – Lisboa

Domingo 06 de agosto de 2023 – 10h30

Queridos irmãos e irmãs,

Uma palavra ressoou muitas vezes nestes dias: “grazie”, ou seja, «obrigado». É belo aquilo que acaba de nos dizer o Patriarca de Lisboa: que «obrigado» não expressa só a gratidão pelo que se recebeu, mas também o desejo de corresponder ao bem. Quanto bem recebemos todos nós neste evento de graça! E agora o Senhor faz-nos sentir a necessidade de o partilhar também com os outros, dando alegremente testemunho do dom gratuito de Deus, do bem que Ele colocou nos nossos corações.

Mas, antes de nos despedirmos, quero também eu dizer «obrigado». Digo-o, em primeiro lugar, ao Cardeal Clemente e, nele, à Igreja e a todo o povo português: obrigado! Obrigado ao Senhor Presidente, que nos acompanhou nos eventos destes dias; obrigado às instituições nacionais e locais pelo apoio e assistência prestados; obrigado aos Bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e leigos. E obrigado a ti, Lisboa, que permanecerás na memória destes jovens como «casa de fraternidade» e «cidade dos sonhos». Exprimo também a minha gratidão ao Cardeal Farrell – que rejuvenesceu nestas Jornadas – e àqueles que as prepararam, bem como a quantos as acompanharam com a oração. Obrigado aos voluntários: para eles, este aplauso saído do coração pelo seu grande serviço! E um agradecimento especial a quem velou pela JMJ a partir do Alto, ou seja, aos Santos patronos do evento e a um em particular: João Paulo II, que deu vida às Jornadas Mundiais da Juventude.

E obrigado a todos vós, queridos jovens! Deus vê inteiramente o bem que sois; só Ele conhece o que semeou nos vossos corações. Partis daqui com o que Deus semeou no coração, fazei-o crescer, guardai-o com diligência. Queria fazer-vos uma recomendação: mantende vivos, na mente e no coração, os momentos mais encantadores. Assim, quando chegarem momentos de cansaço e desânimo – que são inevitáveis – e, quem sabe, a tentação de deixar de caminhar ou de vos fechardes em vós mesmos, podereis com a memória reavivar as experiências e a graça destes dias, porque – nunca o esqueçais – esta é a realidade, isto é o que vós sois: o santo Povo fiel de Deus que caminha com a alegria do Evangelho. Desejo também enviar uma saudação aos jovens que não puderam estar aqui, mas participaram nas iniciativas organizadas pelos seus países, pelas Conferências Episcopais, pelas dioceses; penso, por exemplo, nos irmãos e irmãs subsarianos, reunidos em Tânger. A todos, obrigado, obrigado!

E de modo particular acompanhamos com o afeto e a oração aqueles que não puderam vir por causa de conflitos e guerras. No mundo, há muitas guerras, muitos conflitos. Cingindo-me a este continente, sinto grande tristeza pela querida Ucrânia, que continua a sofrer tanto. Amigos, permiti também que eu, já idoso, partilhe convosco, jovens, um sonho que trago no coração: o sonho da paz, o sonho dos jovens que rezam pela paz, vivem em paz e constroem um futuro de paz. Através da oração do Angelus, coloquemos nas mãos de Maria, Rainha da Paz, o futuro da humanidade. E há um último obrigado que gostaria de sublinhar antes de concluir: Obrigado às nossas raízes, aos nossos avós, que nos transmitiram a fé, que nos transmitiram o horizonte duma vida. São as nossas raízes. E ao voltardes para casa continuai, por favor, a rezar pela paz. Vós sois um sinal de paz para o mundo, um testemunho de como as diferentes nacionalidades, línguas e histórias podem unir em vez de dividir. Vós sois esperança dum mundo diferente. Obrigado. Avante!

E chega enfim um momento que todos esperam: o anúncio da próxima etapa do caminho. Mas antes de vos referir a sede da quadragésima primeira Jornada Mundial da Juventude, quero fazer-vos um convite: marco encontro com os jovens de todo o mundo no ano 2025, em Roma, para celebrarmos juntos o Jubileu dos jovens! Lá vos espero em 2025 para celebrarmos juntos o Jubileu dos Jovens. A próxima Jornada Mundial da Juventude terá lugar na Ásia: será em Seul na Coreia do Sul! E assim, da fronteira ocidental da Europa, passará no ano 2027 ao extremo Oriente: é um belo sinal da universalidade da Igreja e do sonho de unidade do qual vós sois testemunhas!

E por fim dirigimos um último obrigado a duas pessoas especiais, aos dois protagonistas principais deste encontro. Estiveram aqui connosco, e continuarão a estar connosco; nunca perdem de vista as nossas vidas, amam as nossas vidas como mais ninguém o poderia fazer. Obrigado a Ti, Senhor Jesus. Obrigado a Ti, Maria, nossa Mãe. E agora rezemos…

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[Palavras depois da oração do Angelus]

Quero assegurar as minhas orações – e façamo-lo todos juntos – também pelas vítimas da trágica avalanche ocorrida há dois dias na região de Racha, na Geórgia. Sinto-me solidário com os seus parentes. Que a Virgem Santa os console, e sustente também o trabalho das equipes de resgate. E acompanho, estou unido ao meu irmão o Patriarca Elias II.

https://www.youtube.com/watch?v=McydvHnEvHE

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Viagem Apostólica a Portugal: Encontro com os voluntários da JMJ2023

Jornada Mundial da Juventude-Lisboa 2023

Passeio marítimo, Algés
Domingo 06 de agosto de 2023 – 16h30

Queridos amigos: Bom dia e obrigado!

Obrigado ao Patriarca de Lisboa pelas palavras, ao Bispo Américo Aguiar e a todos vós por terem trabalhado tanto e tão bem, tornando possíveis estes dias inesquecíveis. Trabalharam meses, discretamente, sem barulho ou destaque, para que todos pudéssemos estar aqui cantando juntos: “Jesus vive e não nos deixa sozinhos: não deixaremos mais de O amar”. Além disso, eles têm sido um exemplo de equipa trabalhando em conjunto. E todos vós, mais que um trabalho, tem realizado um serviço, obrigado.

O serviço prestado pela Virgem Maria, que «se levantou e partiu sem demora» (Lc 1,39) para servir a sua prima Isabel, sentindo a urgência de partilhar a alegria do serviço. Compartilhar alegria e serviço, alegria no serviço. Pensemos em Zaqueu, que subiu em uma árvore para ver Jesus e desceu rapidamente. Algo o tocou, ele queria encontrar Jesus e acolhê-lo em sua casa (cf. Lc 19,6); Pensemos nas mulheres e nos discípulos, que na Páscoa correram do cenáculo ao sepulcro e depois voltaram para anunciar aos outros que Cristo ressuscitou (cf. Jo 20, 1-18). Quem ama não fica de braços cruzados, quem ama serve, e quem ama corre para servir, corre para se doar ao serviço dos outros. E todos vocês correram, hein! Todos vocês correram bastante nestes meses. Eu só podia ver o fim, desses dias. Observando-os, vi que responderam a mil necessidades, às vezes com rostos marcados pelo cansaço, outras vezes um pouco sobrecarregados pelas urgências do momento, mas sempre notei uma coisa, que os vossos olhos estavam luminosos, luminosos com a alegria do serviço. Obrigado!

Todos vós tornastes possível este Encontro Mundial da Juventude, fizestes grandes coisas, mas com pequenos gestos, como oferecer uma garrafa de água a um desconhecido, e isso cria amizade. Correstes muito, mas não com a corrida frenética e sem rumo que às vezes é o que este mundo nos pede, não. Cada um de vós correu de forma diferente. Correram uma corrida que leva ao encontro com os outros, para servir os outros em nome de Jesus. E viestes a Lisboa para servir e não para ser servido! Obrigado! Muito obrigado!

E agora gostaria de ser o amplificador, para que ressoe o que nos disseram os testemunhos, os testemunhos da Chiara, do Francisco e do Filipe. Os três contaram-nos sobre um encontro especial com Jesus. Eles lembraram-nos que o encontro mais bonito, o motor de todos os outros, aquele que nos faz caminhar com seriedade, que leva a vida adiante, é com Jesus. É o encontro mais importante da nossa vida. Renovar o encontro pessoal com Jesus todos os dias é o centro da vida cristã. E cada um de vós deve renová-lo todos os dias para mantê-lo fresco, não apenas na sua cabeça, mas no seu coração. Experimentamos que um pequeno “sim” a Jesus pode mudar a vida. Mas também são bons os “sins” ditos aos outros, quando estão a serviço. Cada um de vós, nos momentos de cansaço, encorajou-se e continuou dizendo “sim” para servir aos outros. Obrigado por isso!

E Tu, Francisco, disseste que aqui encontraste uma coisa que precisavas e que nem procuravas. Caminhando, trabalhando, rezando com os outros, tu entendeste que não te podes deixar aprisionar pelo caos, pelas “camas desarrumadas” do passado, nem viver com o coração atormentado por sentimentos de imperfeição, mas sim, com a ajuda de Jesus e dos irmãos, tu tiveste a oportunidade de reorganizar “o quarto da sua vida”. Isso é muito bonito, este Dia é útil, ajuda muito a reordenar as nossas vidas. Por que, para o dia? Não. Por causa de Jesus que está aqui no meio de nós e se mostra a nós. As coisas são inúteis para trazer ordem à nossa vida, as distrações são inúteis, o dinheiro é inútil. É preciso dilatar o coração, e se dilatar o coração colocará cada vida em ordem. Não tenhas medo, expanda o teu coração.

E, finalmente, tu, Filipe, entre tantas belas experiências que compartilhaste, mencionaste uma que quero destacar: Tu disseste que viveste aqui um duplo encontro, um encontro com Jesus e um encontro com os outros. Encontro com Jesus e encontro com os outros. Isto é muito importante. O encontro com Jesus é um momento pessoal, único, que só pode ser descrito e narrado até certo ponto, mas sempre acontece graças a um caminho percorrido em companhia, realizado graças à ajuda de outros. Encontrar Jesus e encontrá-lo no serviço aos outros.

Amigos, para finalizar, gostaria de deixar uma imagem para vocês. Como muitos de nós sabemos, a norte de Lisboa existe uma vila, a Nazaré, onde se podem admirar ondas que chegam aos trinta metros de altura e são uma atração mundial, sobretudo para os surfistas que as desafiam. Nestes dias vocês também enfrentaram uma onda real; não de água, mas de jovens, jovens como vocês que inundaram esta cidade. Mas, com a ajuda de Deus, com muita generosidade e apoio mútuo, vocês enfrentaram essa grande onda. Vejam como eles são corajosos. Obrigado, obrigado! Quero dizer a todos vocês para continuarem, continuem surfando nas ondas do amor, continuem surfando nas ondas da caridade, sejam “surfistas do amor”! E isso é como uma tarefa que confio a cada um de vós neste momento. Que o serviço prestado a esta Jornada Mundial da Juventude seja a primeira de muitas ondas de bem; e cada vez sereis levados mais alto, mais perto de Deus, e isso permitirá que cada um veja o seu caminho de uma perspetiva diferente e melhor.

Agradeço a todos. Bom caminho! E peço que rezem por mim. Obrigado!

https://www.youtube.com/watch?v=kWkISEZtLIY

 

JMJ Lisboa 2023 – Textos importantes (PDF)

Missal das celebrações do Papa Francisco em Portugal – 2023.08.02-06 (PDF)