20 anos depois em Vilar de Andorinho

Padre Albino José Gonçalves Reis

Pároco de Vilar de Andorinho – 12 de outubro 2003

Nascido a 31 de janeiro de 1962, foi ordenado sacerdote em 09.04.1988.

Pertenceu à Congregação dos Missionários Combonianos tendo pedido autorização para um período de 3 anos em regime de exclaustração. (No direito canônico católico, uma exclaustração é uma autorização oficial concedida a um religioso viver, por um tempo determinado, fora de sua comunidade religiosa.). Em seguimento do deferimento do pedido e incardinado na Diocese do Porto, em 12 de outubro de 2003 o bispo do Porto D. Armindo Coelho, confiou-lhe a Paróquia do Divino Salvador de Vilar de Andorinho.

Para saber mais sobre o Padre Albino Reis consultar https://paroquiavilarandorinho.pt/o-paroco/

Passados 20 anos como Pastor em Vilar de Andorinho, lançamos um desafio ao Padre Albino Reis para partilhar, com os seus paroquianos, os momentos bons (e menos bons), as realizações (e os fracassos), as alegrias (e as tristezas) deste percurso. Com a disponibilidade que é seu apanágio, abriu-nos as portas da Casa Paroquial para conversar e o coração para partilhar. Obrigado, amigo Padre Albino Reis.

  1. Com 20 anos de memória, pode recordar-nos o 12 de outubro de 2003?

O dia 12 de outubro de 2003 foi um dia extraordinário que marcou uma grande mudança na minha vida. Depois de 10 anos em Missão Ad Gentes, sobretudo no Brasil, mas também no México, por razões que não vêm agora ao caso, decidi assumir o trabalho pastoral em contexto de uma Paróquia na Diocese do Porto.

Não escolhi Vilar de Andorinho e tenho a certeza que Vilar de Andorinho também não mês escolheu…

Foi, aliás, a única opção que o Bispo do Porto, na altura D. Armindo Lopes Coelho, me deu.

Confesso que aceitei imediatamente a proposta de D. Armindo, sem pensar nem fazer contas. Entrego sempre nas mãos de Deus os momentos em que me é pedido ou confiado uma nova responsabilidade. E não me tenho dado mal…

Senti-me completamente perdido, no dia da minha recepção na nova Paróquia. Nunca tinha passado por nada igual, tão formal e com tanta gente. No campo da Missão, era sempre chegar, ver, conviver e ir fazendo o possível.

Por feliz coincidência, o dia 12 de Outubro é o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e véspera do dia 13 de Outubro, data significativa no fenómeno de Fátima, remetendo também para a figura de Maria de Nazaré. Isso apareceu-me como um bom presságio e deu-me a certeza de que estava a começar um momento importante da minha vida sacerdotal em boa companhia, na companhia e com a protecção da Mãel. Protecção e, ao mesmo tempo, modelo e exemplo de entrega e de serviço.  A forma carinhosa com que fui acolhido pelos paroquianos e pelos colegas presentes nesse dia, ficou bem gravada na minha memória e é uma feliz recordação.

 

  1. Que mudanças o satisfazem, ou não, no plano da Pastoral Evangelizadora infantojuvenil (Catequese, batismos)? E o futuro?

A pastoral dos baptismos e a catequese revestem-se de uma importância muito grande para alcançar acompanhar e motivar os mais novos na adesão ao projeto cristão fazendo dele um projeto de vida.

Infelizmente, no que toca aos baptismos, ainda falta percorrer um grande caminho que leve as famílias a pedir este Sacramento para os seus filhos tendo em conta as melhores razões, para que o Sacramento faça sentido na vida daqueles que o recebem.

Em relação à catequese, não vivemos tempos muito felizes. Há um número cada vez menor de crianças inscritas no primeiro ano do percurso formativo que seguimos, tendo em conta de referência o número de crianças baptizadas na Paróquia, a quem acompanhamos até à idade de ir para a catequese, enviando-lhes todos os anos um postal de Parabéns na data do baptismo e, ao completarem os seis anos, o convite para se inscreverem na catequese.

A agravar esta situação, temos ainda um grande número de desistências, sobretudo após a Festa da Eucaristia (3.º ano) e a Festa da Fé (6.º ano).

Há muito tempo que se vem falando na falta de uma Catequese de Adultos para que a motivação dos Pais motive também os filhos. Conhecemos o diagnóstico, mas ainda não encontramos o melhor meio para a terapia…

O futuro será como presente e como o passado: um tempo em que muitos levarão mais a sério do que outros o trabalho evangelizador e muitos acolherão com maior entusiasmo do que outros a Mensagem aí transmitida.

 

  1. Que mudanças o satisfazem, ou não, no plano da Pastoral Evangelizadora associada aos jovens e conte-nos a sua experiência na Vigararia e na recente JMJ2023? O que pensa vir aí?

 A pastoral evangelizadora junto dos mais novos é muito importante para que possamos ter uma Igreja jovem, cheia de vitalidade, activa e consciente.

No mundo actual não é fácil atingir os mais jovens, tão atraídos que se sentem por uma série de propostas e solicitações, umas melhores do que outras.

Encontrar formas, meios e actividades que possam congregar e segurar os adolescentes e os jovens durante um largo tempo é uma tarefa difícil e exigente. O importante não é competir com nada nem com ninguém nem com nenhum processo, mas apresentar esta grande riqueza que é Jesus Cristo e aceitar que o Espírito Santo possa agir e realizar a sua acção.

Por isso mesmo, mais importante do que atrair jovens para a Igreja é tornar a Igreja uma presença nos meios em que os jovens já estão envolvidos e transmitir-lhes aí, através de um testemunho de vida sério e credível, os valores do Evangelho, para que possam abraçá-los assumi-los e vivê-los.

As famílias desses jovens são as primeiras responsáveis por esta tarefa. O trabalho da igreja deve ser um trabalho humilde sem busca de protagonismo e sem exibicionismos.

Enquanto Assessor da Pastoral da Juventude na Vigararia de Gaia Norte, sinto-me muito feliz com todo o processo que antecipou e acompanhou a realização da JMJ Lisboa 2023. Foi um trabalho árduo, mas gratificante. A nossa Vigararia levou, oficialmente, cerca de 500 jovens a Lisboa. Contudo, todos os dias me surpreendo ao encontrar jovens que não tendo integrado o “Grupo Oficial” também lá estiveram…

Neste momento, é imperativo que não deixemos apagar a chama que se acendeu. Temos aí, à porta, mais um Dia Diocesano da Juventude e estamos todos muito empenhados em vivê-lo com o mesmo ardor e entusiasmo da Jornada Mundial. Acredito que nada será mais como antes para as largas centenas de jovens da nossa Vigararia que viveram essa extraordinária experiência que foi a JMJ.

 

  1. Que mudanças o satisfazem, ou não, no plano da Pastoral Evangelizadora associada aos adultos (Pastoral da Família, Apostolado da Oração, Formação Bíblica? Estamos em dia neste plano? Há sinodalidade?

A Paróquia de Vilar de Andorinho procura percorrer um caminho que conduz a um objectivo único: a realização do Reino de Deus, aqui, agora, em serviço generoso e disponível.

Os vários Movimentos, Grupos, Pastorais, Ministérios, Serviços… estão cheios de pessoas das mais diversas condições e idades que vivem com profunda seriedade e responsabilidade a sua pertença à Igreja enquanto Agentes da Pastoral. Cada um com as suas capacidades, ritmo e energia, erros e acertos. Tudo isto configura um verdadeiro caminho sinodal. Com limitações, certamente, mas também com muita vontade de as ultrapassar. Não estaremos, talvez, em dia; mas vivemos no esforço de tentar não adiar demasiado. Se me for permitido apontar uma limitação menos desejada é a da falta de disponibilidade para a formação permanente. Haverá razões, certamente, mas podemos bem fazer melhor, se todos quisermos.

 

  1. No plano celebrativo, e, em particular da Eucaristia, o que nos pode dizer destes 20 anos (refira-se a sacristães, acólitos, leitores, MEC´s e grupos corais)? Há mudanças a fazer?

Temos um bom grupo de pessoas comprometidas com a Pastoral da Liturgia, empenhadas em dar a dignidade devida à celebração da Eucaristia. Podemos sempre sonhar com mais e melhor e há, sim, mudanças a fazer para que isso aconteça. Na última Assembleia Paroquial de Pastoral, este foi, aliás, um ponto de reflexão e há caminho novo que está a começar a ser percorrido.

A Igreja é detentora de uma grande riqueza de valores e de uma bela mensagem de verdade e libertação que nos foram deixadas por Jesus Cristo e que o Espírito Santo encoraja a viver e a anunciar. Precisamos de redescobrir, a cada dia, a melhor, mais actual e eficaz maneira de o fazer, sem estagnar no perigo de, como alerta o Papa Francisco, fazer como sempre se fez…

 

  1. Sabemos que a Pastoral Sócio Caritativa é um plano que o orgulha desde que chegou a Vilar de Andorinho. Fale-nos de 3 agentes centrais na paróquia: Pastoral da Saúde, Vicentinos e CSPVA. Deixe ainda tempo para a partilha sobre a LOC/MTC.

Em 2009, caí na tentação de pedir ao senhor Bispo (então D. Manuel Clemente), a criação de um Centro Social e Paroquial que ajudasse a nossa Paróquia a desenvolver a sua Pastoral sócio caritativa de forma mais eficiente e capaz. A caridade deve ser sempre uma das prioridades da acção da Igreja.

É verdade que o nosso Centro Social e Paroquial ainda não conseguiu atingir todos os objectivos a que se propôs. Dificuldades de vária ordem, não nos têm permitido realizar tudo quanto gostaríamos no âmbito da acção social. Temos realizado várias actividades que nos enchem de orgulho, mas que, por uma ou outra razão, acabamos por ter de abandonar. Continuamos a sonhar e a acreditar, na certeza de que muito do caminho passa mesmo por aí. A Pastoral da Saúde e os Vicentinos são dois braços importantes, cada um com a sua especificidade, orientação e carisma, para alargar o alcance da actividade do Centro Social e Paroquial.

Em relação à LOC/MTC, é um Movimento de valor e interesse actual mas que precisaríamos de revitalizar. Juntamente com a JOC, marcaram várias gerações desta Freguesia/Paróquia e formaram muitos e bons cristãos inseridos no mundo da Educação e do Trabalho.

 

  1. Constituiu em Vilar de Andorinho, há já bastante tempo um Conselho Paroquial de Pastoral que vem renovando. O que o animou nesta iniciativa e como tem funcionado?

A Pastoral é para a Comunidade e a Comunidade deve sentir-se implicada na acção pastoral. Vai longe o tempo em que, como se diz, o padre tocava o sino, acendia as velas e celebrava a Missa…

Não é possível, muito menos num contexto de grande densidade populacional como Vilar de Andorinho, desenvolver uma Pastoral Litúrgica, Evangelizadora e Sócio caritativa, sem o compromisso de muitos, sabendo que há mesmo lugar para que todos se possam comprometer.

Assim sendo, a criação e manutenção de um Conselho Paroquial de Pastoral que prolonga a sua acção através de um Secretariado Permanente, é um imperativo para o bom funcionamento de qualquer Paróquia que não queira limitar a sua existência à celebração de Missas, baptizados, casamentos e funerais onde há um padre que dá (dá a missa, por exemplo) e um povo que assiste (vou assistir à missa…).

Dito isto, impõe-se dizer também que não é fácil dinamizar a acção de um Conselho Paroquial de Pastoral, logo à partida pelas demasiadas ocupações que as pessoas têm cada vez mais e que lhes limita muito a disponibilidade. Nem que mais não seja, às vezes, como desculpa, apenas…

 

  1. Também e como em todas as paróquias organizadas, Vilar de Andorinho tem em funcionamento um Conselho Económico (antes Comissão Fabriqueira) e que desenvolve o apoio ao pároco na gestão do património, das receitas e despesas quotidianas, etc. Como tem funcionado este Conselho? Estão os paroquianos conscientes da sua importância?

O Conselho Económico é um órgão muito importante, de apoio ao Pároco na gestão financeira. Quando cheguei a Vilar de Andorinho, este grupo de conselheiros já existia. Entretanto, foi-se renovando e intensificando a sua acção, já que os tempos são outros e as exigências também outras e cada vez maiores.

Dizer que todos os paroquianos estão conscientes da importância do Conselho Económico é muito arriscado pois é também arriscado afirmar que todos tenham consciência da sua existência ou função…

Certo é que a existência de um Conselho Económico, para além de aliviar o esforço do Pároco na gestão dos recursos e do património, providenciando a sua sustentação justa, traz também a certeza de melhores e mais acertadas decisões na aplicação dos dinheiros oferecidos pelos paroquianos para as despesas inevitáveis e o apoio necessário aos mais carenciados e uma evidente transparência na gestão dos bens que, afinal, são da comunidade.

  

  1. Estamos em tempo de Sínodo. Decorre neste mês de outubro de 2023 a 1ª parte que se vai concluir no próximo outubro. Como viveu a paróquia a preparação do Sínodo 2021-2024?

Houve a preocupação de responder ao desafio lançado para que todos nos sintamos parte desta mudança para melhor que o Sínodo quer fazer acontecer.

Com reuniões de esclarecimento e larga divulgação do questionário preparatório ao nível das Paróquias, fiquei muito satisfeito com a participação das pessoas de Vilar de Andorinho, católicos ou não, na dinâmica que foi proposta. Penso que o nosso envolvimento ficou acima da média do que se verificou na nossa Diocese do Porto.

Talvez tenhamos adormecido, entretanto, como grupo, no acompanhamento do que tem estado a acontecer e urge retomar o interesse colectivo neste assunto. Vamos fazê-lo, certamente…

  

  1. Com os dados, conhecimento e vivência atual da paróquia, como projeta a vivência cristã em Vilar de Andorinho daqui a 5 anos? Com o Padre Albino Reis ou com outro Pastor?

Vivo o meu ministério sacerdotal como um serviço disponível para a construção do Reino de Deus, em contexto eclesial e, por isso mesmo, de obediência em diálogo com os meus legítimos superiores.

A minha presença em Vilar de Andorinho, portanto, hoje ou daqui a cinco anos, não depende só de mim. Contudo, sempre manifestei a convicção de que a rotatividade e consequente mudança dos párocos faz bem a toda a gente, pastor e ovelhas…

Estou convencido de que a Paróquia do Divino Salvador de Vilar de Andorinho – que se tem vindo a afirmar como verdadeira comunidade cristã nestes 20 anos – tem muita e boa gente com responsabilidades e compromissos nas várias pastorais para deixar antever um futuro cada vez mais interessante ao nível da sua vivência cristã.

Como em todos os processos, há momentos mais felizes e outros de maior preocupação, mas, no essencial, a imagem é harmoniosa e revela saúde para muito tempo.

 

Nota:

O Padre Albino Reis escreve segundo a antiga ortografia

 

20 anos depois em Vilar de Andorinho (PDF)

Anexo 1- Ação de graças – Eucaristia de 20.10.2023 às 19 horas (PDF)

Anexo 2 – 20 anos Padre Albino – CE (PDF)