Conversando … com o Pároco – Mês III – dezembro 2024
Tempo de Advento, tempo de Natal, tempo de Ano Novo Civil, tempo de Batismo.
Tempo de espera, tempo de nascimento, tempo de renovação anual, tempo de “nascimento espiritual”.
Como cristãos católicos que somos:
- Revisite e esclareça-nos, numa perspetiva exegética, estes “tempos”?
A perspectiva exegética do Advento, Natal e Baptismo de Jesus está profundamente enraizada no contexto teológico e litúrgico da Igreja, baseando-se nas Escrituras e na tradição cristã. Cada um desses tempos possui significados distintos e complementares dentro do mistério da salvação.
Esses tempos litúrgicos e os acontecimentos de que fazem memória articulam a narrativa do plano de salvação, desde a expectativa messiânica (Advento), passando pelo cumprimento na Encarnação (Natal) e a revelação pública de Jesus como Filho de Deus no Baptismo. Exegeticamente, são momentos que revelam progressivamente o mistério de Cristo, enfatizando a sua missão redentora e a manifestação do Reino de Deus.
O Advento é um período de espera e preparação para a vinda do Messias. Ele possui um duplo enfoque:
Primeira vinda de Cristo: A celebração do nascimento de Jesus em Belém.
Segunda vinda de Cristo: A expectativa da parusia, o retorno glorioso de Jesus no fim dos tempos.
As leituras do Advento frequentemente incluem textos proféticos (como Isaías) que anunciam a vinda do Messias e textos evangélicos que apontam para João Batista, o precursor de Cristo.
São textos significativos:
Isaías 7, 14: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado Emanuel.”
Marcos 1, 2-3: A voz de João Batista clamando no deserto, preparando o caminho do Senhor.
Romanos 13, 11-14: O apelo à vigilância e conversão.
O Natal enfatiza o mistério de Deus feito homem, trazendo a salvação para toda a humanidade. Celebra-se a encarnação do Verbo (João 1:14) e o cumprimento das promessas messiânicas eterotestamentárias.
São textos significativos:
Lucas 2, 1-20: O relato do nascimento de Jesus, incluindo o anúncio aos pastores e a visita dos Magos.
Mateus 1, 18-25: A concepção de Jesus por obra do Espírito Santo e o cumprimento da profecia de Isaías.
João 1, 1-18: O Prólogo de João, que apresenta Jesus como o Verbo eterno de Deus.
O Baptismo de Jesus é interpretado como o início do seu ministério público e uma manifestação da Trindade:
O FILHO (Jesus) é baptizado.
O Espírito Santo desce sobre Ele em forma de pomba.
O Pai declara: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
Simboliza a solidariedade de Jesus com a humanidade pecadora, mesmo Ele sendo sem pecado, e antecipa o Baptismo cristão como meio de regeneração espiritual.
São textos significativos:
Mateus 3, 13-17: Relato do Baptismo no Jordão.
Marcos 1, 9-11: Ênfase na identidade messiânica de Jesus.
Lucas 3, 21-22: Contextualização no ministério de João Baptista.
João 1, 29-34: João Baptista testemunha que Jesus é o Cordeiro de Deus.
- Agora, numa perspetiva hermenêutica, como devemos viver estes tempos?
A perspectiva hermenêutica convida a uma leitura espiritual, contextual e prática do tempo do Advento, Natal e Baptismo de Jesus, visando integrar os seus significados nas realidades da vida cristã. Esses tempos litúrgicos não são apenas recordações históricas, mas apelos à transformação pessoal e comunitária.
Tempo do Advento:
Esperança e Preparação: O Advento convida-nos a uma atitude de vigilância activa, esperando a vinda de Cristo com esperança. A oração, a leitura bíblica e o exame de consciência são práticas importantes.
Conversão e Arrependimento: Inspirados pela mensagem de João Batista, somos chamados a endireitar os caminhos para o Senhor (Lucas 3:4).
Solidariedade: Preparar-se para o Natal inclui gestos concretos de caridade, ajudando os necessitados e promovendo a justiça.
Reconciliação: Buscar o perdão e restaurar relacionamentos, seguindo o modelo da paz que Cristo veio trazer.
Hermenêutica da Vida: Viver o Advento significa aprender a esperar com paciência, reconhecendo a presença de Deus nos tempos de aparente silêncio e preparando o coração para acolhê-Lo.
Tempo do Natal:
Celebração do Mistério da Encarnação: No Natal, celebramos o Deus que se faz próximo. Isso exige gratidão, contemplação e reconhecimento de Cristo no quotidiano.
Acolhimento de Cristo: Como Maria e José, somos chamados a abrir espaço para Jesus nas nossas vidas, mesmo no meio das dificuldades.
Testemunho da Luz: Como os Pastores e os Magos, devemos compartilhar a alegria do nascimento de Cristo com os outros, especialmente aqueles que estão nas “periferias” da vida.
Espírito de Unidade: Promover a comunhão familiar e comunitária, reconhecendo o valor da presença do outro como reflexo do amor de Deus.
Hermenêutica da Vida: Viver o Natal é tornar-se “encarnação” de Cristo no mundo: levar luz, esperança e alegria às realidades sombrias ao nosso redor.
Baptismo de Jesus:
Renovação do Compromisso Baptismal: O Baptismo de Jesus recorda-nos o nosso próprio Baptismo, chamando- nos a renovar o nosso compromisso de seguir Cristo.
Escuta da Voz do Pai: Acolher a identidade de filhos amados de Deus e viver a partir dessa verdade.
Testemunho da Fé: Assim como o Baptismo de Jesus marcou o início do seu ministério, devemos assumir a nossa missão de discípulos no mundo.
Promoção da Dignidade Humana: Ver no próximo um irmão amado por Deus e trabalhar pela justiça e inclusão.
Hermenêutica da Vida: Viver o Baptismo de Jesus é assumir a missão de anunciar o Reino de Deus, com coragem e humildade, sendo instrumentos de reconciliação e serviço.
Hermeneuticamente, o Advento, o Natal e o Baptismo de Jesus convidam-nos a viver três atitudes principais:
Expectativa activa: Não apenas esperar passivamente, mas preparar-se para acolher a acção de Deus.
Encarnar o amor: Tornar o mistério da encarnação visível nas nossas acções quotidianas.
Assumir a missão: Como baptizados, viver como filhos de Deus e testemunhas do Seu Reino, sendo luz no mundo.
Essa vivência implica transformar a fé em atitudes concretas, iluminando a nossa caminhada e a dos outros.
- Em Vilar de Andorinho há verdadeira consciência humana e espiritual, destes tempos?
Esta pergunta envia-nos para um tema que poderá ser tratado numa outra oportunidade: a formação catequética dos cristãos adultos que, em Portugal, enfrenta desafios e deficiências na sua abrangência e eficácia. Embora haja boas iniciativas e muitos esforços, precisamos de uma catequese para adultos com formatos menos rígidos e mais dinâmicos, que estimulem a participação activa e favoreçam a aprendizagem experiencial.
Em Vilar de Andorinho (Paróquia) faz-se o possível. Podia fazer-se mais e melhor. Cada pessoa é um indivíduo com a sua circunstância. Não quero arriscar, por isso, uma resposta…