‘Seria ingénuo pretender lutar contra os desastres climáticos remetendo-nos exclusivamente à oração, mas não seria menos ingénuo imaginar que se consegue vencer o mal sem atacar as suas causas e esquecer que o primeiro lugar de onde eu posso esperar arrancá-lo pela raiz é da minha própria vida’. (Adrien Candiard) ‘Algumas Palavras antes do Apocalipse’ coloca o leitor bem no meio dos vários ‘apocalipses’ a acontecer por estes anos – pandemia, guerras, crises económicas e sociais – não para dizer que tudo isso é sinal do fim do mundo a chegar, mas antes do Reino que já está entre nós e do combate escatológico que acontece em cada um e cuja vitória já nos foi dada na cruz de Cristo. Uma obra belíssima, que respeita o texto evangélico (Marcos 13) e ajuda o leitor a entender como as palavras de Cristo sobre o fim dos tempos são ‘daquele tempo’, ‘de agora’ e ‘de sempre’.
A Bíblia desenvolveu um género literário precisamente para os tempos de crise, o chamado género “apocalíptico”, de uma palavra grega que significa “revelação” – visto que o intuito dos autores desses escritos é revelar os mistérios escondidos sob as aparências dos acontecimentos do mundo.
Textos apocalípticos encontramo-los ao longo de toda a Bíblia: nos livros mais tardios do Antigo Testamento, como o de Daniel, e em muitos livros do Novo. O Evangelho de Marcos, sem dúvida o mais antigo dos quatro, consagra a esse tema o capítulo 13, no seu conjunto. É o único verdadeiro discurso de Jesus que Marcos, de estilo sóbrio e denso, julgou necessário transmitir-nos.
Respeitando este texto evangélico, Adrien Candiard procura, em Algumas palavras antes do apocalipse, propor, simplesmente, a leitura deste discurso de Jesus. “Quando deveríamos prestar ouvidos a Jesus que nos fala de guerras, de epidemias, de fome e de catástrofes naturais, quando temos mais necessidade do que nunca de procurar ajuda e sentido para a vida, preferimos, a maior parte das vezes, saltar esta página e procurar, no Evangelho, versículos mais luminosos. É verdade que, à primeira vista, este discurso apocalíptico carece de alegria; reconheçamos, porém, que a nossa atualidade também não é alegre. E o paradoxo da Boa Nova consiste em que talvez precisemos de aceitar falar um pouco do fim do mundo para reencontrarmos, neste mesmo mundo, um toque de esperança”.

O Autor
Nascido em 1982, dominicano desde 2006, a viver no convento do Cairo desde 2012, Adrien Candiard é o autor de «Veilleur, où est la nuit?» (Vigia, onde está a noite?) «Comprendre l’islam, ou plutôt: pourquoi on n’y comprend rien» («Compreender o Islão, ou antes: por que motivo não se compreende nada») e «Quand tu étais sous le figuier…» («Quando estavas debaixo da figueira…»). É uma das vozes maiores da espiritualidade de hoje.

Algumas palavras antes do Apocalipse- Excerto e índice