Domingo VI do Tempo Pascal – Ano C – 25 maio 2025

Viver a Palavra

A vida cristã é revestida da grande certeza de que Jesus está vivo e de que a Sua vida ressuscitada anima a vida dos crentes na força do Espírito Santo. Como nos recorda o livro do Apocalipse, os novos céus e a nova terra, a cidade santa de Jerusalém, não precisa mais de um templo construído à maneira dos homens, porque o verdadeiro Templo é «o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro».

Jesus Cristo, que por nós morreu e ressuscitou, é o caminho que nos conduz ao Pai, o único Mediador entre Deus e os homens, porque Ele é a lâmpada que ilumina os trilhos que somos chamados a percorrer. Deste modo, como discípulos missionários, batizados em Cristo e guiados pelo Espírito Santo, somos chamados a ler as dificuldades e sofrimentos à luz do Senhor ressuscitado para que vida de cada homem e de cada mulher se transfigure pela luz nova que brota da Páscoa de Jesus Cristo.

No Evangelho deste Domingo, escutamos parte do discurso de despedida de Jesus e nele apresentam-se as coordenadas que definem a vida cristã: o amor, a escuta da Palavra e uma vida animada pelo Espírito Santo que se torna lugar de Paz.

«Quem Me ama guardará a minha palavra, e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada». Deus é amor e só poderemos entrar em relação com Ele numa dinâmica de enamoramento que transforma a nossa vida numa resposta amorosa Àquele que nos amou primeiro. Contudo, o amor a Deus que se concretiza no amor aos irmãos, não é uma mera afeição, mas um lugar de diálogo que pressupõe em primeiro lugar uma verdadeira atitude de escuta da Palavra que transforma a nossa vida num lugar que Deus habita. Deus quer habitar a nossa frágil humanidade e preenchê-la com o Seu amor, para que o nosso querer e agir se moldem pela força evangelizadora da Sua bondade e ternura.

Deste modo, fazer da nossa vida um lugar que Deus habita é uma tarefa permanente da nossa vida cristã e realiza-se pela força do Paráclito que o Pai envia para que no nosso coração se reavivem em cada dia as palavras de amor que Jesus nos dirige.

Animados pelo Espírito Santo, reconhecemos que não caminhamos sozinhos e recordamos o compromisso de abraçar juntos a construção do Reino de Deus. Somos Igreja a caminho e diante das dificuldades, desafios, dúvidas e incertezas do tempo e da história, devemos juntos discernir a vontade de Deus.

Assim contemplamos a comunidade primitiva, que levando a cabo a missão evangelizadora, encontra novos desafios que precisam de novas respostas. As primeiras comunidades cristãs fazem a experiência daquilo que hoje chamamos sinodalidade, palavra que traduz a necessidade de caminhar juntos, de operar juntos, de tomar juntos as decisões. Aqueles que fazem parte da comunidade reúnem-se com os Apóstolos sob o olhar de Cristo, iluminados pela Escritura e solicitam a ajuda do Espírito Santo. Em conjunto discutem os problemas colocados à Igreja, em conjunto decidem e em conjunto alegram-se pelo progresso do Evangelho.

Este é o caminho que devemos trilhar diante das dificuldades que surgem na vida das nossas comunidades: caminhar juntos, valorizando a diversidade de dons, carismas, ministérios e serviços. Guiados pelo Espírito Santo, a diversidade sublinha e fortalece a comunhão e unidade, e torna-se lugar da Paz nova que o Ressuscitado oferece.in Dehonianos

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            No próximo Domingo, Solenidade da Ascensão do Senhor, assinala-se o 59.º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Para este ano, o Santo Padre, o Papa Francisco deixou uma mensagem intitulada: «Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações (cf. 1 Pd 3,15-16)». Para que este dia não seja assinalado apenas com o ofertório para os Meios de Comunicação Social, pastoralmente será muito útil apresentar a importância das comunicações sociais como lugar de anúncio e comunicação da verdade, como instrumento de serviço e de construção de um mundo melhor. Além disso, poderá ser importante a realização de um encontro de reflexão e aprofundamento desta mensagem do Papa Francisco que apresenta um conjunto de desafios e interpelações acerca da arte da escuta

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A caminho do Pentecostes, continuamos o Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA IAtos dos Apóstolos 15,1-2.22-29

Naqueles dias,
alguns homens que desceram da Judeia
ensinavam aos irmãos de Antioquia:
«Se não receberdes a circuncisão,
segundo a Lei de Moisés,
não podereis salvar-vos».
Isto provocou muita agitação e uma discussão intensa
que Paulo e Barnabé tiveram com eles.
Então decidiram que Paulo e Barnabé e mais alguns discípulos
subissem a Jerusalém
para tratarem dessa questão com os Apóstolos e os anciãos.
Os Apóstolos e os anciãos, de acordo com toda a Igreja,
decidiram escolher alguns irmãos
e mandá-los a Antioquia com Barnabé e Paulo.
Eram Judas, a quem chamavam Barsabás,
e Silas, homens de autoridade entre os irmãos.
Mandaram por eles esta carta:
«Os Apóstolos e os anciãos, irmãos vossos,
saúdam os irmãos de origem pagã
residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia.
Tendo sabido que, sem nossa autorização,
alguns dos nossos vos foram inquietar,
perturbando as vossas almas com as suas palavras,
resolvemos, de comum acordo,
escolher delegados para vo-los enviarmos
juntamente com os nossos queridos Barnabé e Paulo,
homens que expuseram a sua vida
pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por isso vos mandamos Judas e Silas,
que vos transmitirão de viva voz as nossas decisões.
O Espírito Santo e nós
decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação,
além destas que são indispensáveis:
abster-se da carne imolada aos ídolos,
do sangue, das carnes sufocadas e das relações imorais.
Procedereis bem, evitando tudo isso. Adeus».

CONTEXTO

Em Antioquia da Pisídia, durante a sua primeira viagem missionária, Paulo pregou primeiro aos judeus na sinagoga da cidade; mas, diante da resistência e do desinteresse dos judeus, Paulo manifestou abertamente a sua intenção de dirigir-se, daí em diante, preferencialmente aos gentios cf. At 13,44-48). Os pagãos, ao saberem dessa decisão, “encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor”. Esta notícia espelha uma realidade: muitos pagãos, tendo conhecimento da proposta cristã, manifestaram-se disponíveis para abraçá-la. Quando chegou a Antioquia da Síria (a Igreja que o tinha enviado em missão), Paulo apresentou aos responsáveis dessa comunidade o relatório da missão e contou como Deus “abrira aos pagãos a porta da fé” (At 14,27).

Esse facto, contudo, colocava a Igreja de Jesus diante de novos desafios e levantava algumas questões até agora não equacionadas. A circuncisão -prática habitual dos judeus – era obrigatória, como defendiam os cristãos que provinham do judaísmo? A observância da Lei de Moisés era obrigatória? As prescrições farisaicas relativas aos alimentos eram obrigatórias? Não se trata, aqui, de algo acidental ou secundário, de simples medidas disciplinares ou de puros costumes, mas de algo tão fundamental como saber se a salvação vem através da circuncisão e da observância da Lei judaica, ou única e exclusivamente por Cristo. Dito de outra forma: Jesus Cristo é o único Senhor e salvador, ou são precisas outras coisas além d’Ele para chegar a Deus e para receber d’Ele a graça da salvação?

Paulo e Barnabé tinham ideias definidas quanto a isto. Achavam que Cristo e o seu Evangelho eram suficientes e que não deviam ser impostos aos cristãos de origem greco-romana obrigações que não eram essenciais; mas outros cristãos pensavam de maneira diferente. Como proceder? in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • A questão do cumprimento ou do não cumprimento dos rituais previstos pela Lei de Moisés é uma questão que hoje não preocupa nenhum cristão. Contudo, evoca questões que afetam a nossa forma de viver a fé e, sobretudo, de traduzir a fé de uma forma que os homens e as mulheres do séc. XXI a possam entender e acolher. Que valor e que importância devemos dar a certos rituais litúrgicos, a determinadas práticas de piedade, a algumas fórmulas teológicas que são decididamente datadas e que se tornam difíceis de entender no mundo da pós-modernidade? Será legítimo impormos – como os “judaizantes” do tempo de Paulo queriam impor a circuncisão – os nossos esquemas culturais ou a nossa maneira de exprimirmos a fé a gentes de culturas e de vivências tão diferentes das nossas? Não há dúvida que temos de formular o discurso da fé numa linguagem “humana”; mas todas as linguagens “humanas” têm os seus limites e estão marcadas pela finitude. A linguagem é o acessório, o conteúdo da mensagem é o essencial; o essencial deve ser preservado, o acessório deve ser constantemente atualizado. Quais são os ritos e as práticas decididamente obsoletos, que impedem o homem de hoje de redescobrir o núcleo central da mensagem cristã? Será que hoje não estamos a impedir, como outrora, o nascimento de Cristo para o mundo, mantendo-nos presos a esquemas, a modos de pensar e de viver que têm pouco a ver com a realidade do mundo que nos rodeia?
  • Os “judaizantes” consideravam que a salvação dependia, não apenas da adesão a Cristo, mas também do cumprimento da Lei de Moisés; Paulo, por seu lado, afirmava a absoluta suficiência de Cristo, “caminho, verdade e vida” para todos os interessados em acolher a salvação de Deus. Cristo é o essencial na nossa experiência de fé. Tudo o resto só tem importância na medida em que nos conduz a Cristo e ao seu Evangelho. Estamos conscientes disto? Em que é que assenta o edifício da nossa fé? Qual o lugar de Cristo na nossa vida? A sua Palavra é decisiva na definição do nosso estilo de vida e na definição dos nossos valores? Cristo está no centro da vida das nossas comunidades cristãs?
  • Os cristãos dos primeiros tempos estavam conscientes de que era o Espírito quem conduzia a Igreja de Jesus no seu caminho pela história. Sentiram isso, de uma forma especial, no momento em que tiveram de decidir sobre o núcleo fundamental da proposta cristã. Ao comunicar ao mundo, após o “concílio de Jerusalém”, o resultado do discernimento aí feito sobre o essencial da fé, disseram: “o Espírito Santo e nós decidimos…”. É bela esta imagem de uma comunidade que marcha pela história conduzida e animada pelo Espírito de Deus, que procura escutar a voz do Espírito e discernir, com a ajuda do Espírito, os caminhos a percorrer. Sentimos que a Igreja é, também nos nossos dias, conduzida e animada pelo Espírito? Procuramos estar atentos aos apelos e indicações que o Espírito nos deixa? Temos consciência que, muitas vezes, o Espírito nos interpela através dos “sinais dos tempos” e dos desafios que estão constantemente a surgir?
  • Paulo, Barnabé e os líderes das primeiras comunidades cristãs, confrontados com desafios dos novos tempos, não responderam com posturas defensivas, conservadoras, intransigentes, paralisantes, temerosas. Encararam a realidade com audácia, com imaginação, com liberdade, com desprendimento e, acima de tudo, com a escuta do Espírito. Dessa forma, a Igreja de Jesus superou a mentalidade de “ghetto” e tornou-se uma proposta de salvação ao alcance de todos os homens e mulheres. É assim que a Igreja de Jesus hoje enfrenta os apelos e os desafios que o mundo lhe coloca? Somos uma Igreja escondida atrás de barreiras protetoras, apenas preocupada em não se sujar, ou somos uma Igreja audaz, sem medo, que vai ao encontro do mundo e que testemunha a todos a misericórdia de Deus? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)

Refrão 1: Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.

 

Refrão 2: Aleluia.

 

Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os vossos caminhos
e entre os povos a vossa salvação.

Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça e
governais as nações sobre a terra.

Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu louvor aos confins da terra.

 

LEITURA II – Apocalipse 21,10-14.22-23

Um Anjo transportou-me em espírito
ao cimo de uma alta montanha
e mostrou-me a cidade santa de Jerusalém,
que descia do Céu, da presença de Deus,
resplandecente da glória de Deus.
O seu esplendor era como o de uma pedra preciosíssima,
como uma pedra de jaspe cristalino.
Tinha uma grande e alta muralha,
com doze portas e, junto delas, doze Anjos;
tinha também nomes gravados,
os nomes das doze tribos dos filhos de Israel:
três portas a nascente, três portas ao norte,
três portas ao sul e três portas a poente.
A muralha da cidade tinha na base doze reforços salientes
e neles doze nomes: os doze Apóstolos do Cordeiro.
Na cidade não vi nenhum templo,
porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro.
A cidade não precisa da luz do sol nem da lua,
porque a glória de Deus a ilumina
e a sua lâmpada é o Cordeiro.

CONTEXTO

O livro do Apocalipse foi escrito por volta do ano 95, numa altura em que o imperador romano Domiciano ordenara uma violenta perseguição contra os cristãos. Nas comunidades cristãs da Ásia Menor, o desânimo era generalizado. Haveria futuro para a fé cristã, ou estaria destinada a desaparecer, afogada no sangue dos mártires? Quem manda no mundo e tem a última palavra na história dos homens: Deus ou as forças que combatem contra Deus e que Domiciano de alguma forma corporiza?

Neste contexto João, um cristão exilado na ilha de Patmos, no mar Egeu, por causa da sua fé, entendeu oferecer aos cristãos perseguidos uma mensagem de esperança. No livro que compôs, reflete longamente sobre o que está a acontecer no mundo e alarga depois a sua reflexão a toda a história dos homens. Garante aos crentes perseguidos que o Mal que eles conhecem não terá a última palavra e que a vitória final será de Deus e dos seus “santos”. Jesus, o “Cordeiro” que os homens imolaram na cruz, mas que derrotou a morte, vencerá a batalha contra as forças que se opõem à vida e à felicidade dos filhos de Deus. A história humana não caminha para um beco sem saída, mas para o “novo céu” e a “nova terra” preparados por Deus para aqueles que aceitarem o Seu convite à salvação e se mantiverem fiéis ao “Cordeiro”. Tudo isto é expresso através de uma simbologia muito rica e muito expressiva, que os cristãos entendiam, mas que os perseguidores não conheciam.

No final do livro, o “profeta” João apresenta, sempre em imagens, a conclusão da história: o mundo novo que Deus vai oferecer ao seu Povo (cf. Ap 21). Chama-lhe “a nova Jerusalém”. Será lá que os “santos”, libertos da morte, do luto, do pranto, da dor, viverão para sempre com Deus. João descreve essa “cidade nova” em dois quadros (cf. At 21,2-8; 21,9-22,5). A segunda leitura deste sexto domingo pascal apresenta-nos precisamente o segundo desses quadros. in Dehonianos.

INTERPELAÇÕES

  • Este “grande domingo da ressurreição” que é o tempo de Páscoa convida-nos a levantar os olhos do chão e a olhar para além do horizonte limitado e finito em que decorre a nossa vida de todos os dias. Tropeçamos continuamente na maldade, sentimo-nos impotentes diante da violência, vivemos asfixiados pelo medo, ficamos sem forças ao enfrentar as crises que nos esperam a cada esquina; mas a vitória de Jesus que temos andado a celebrar neste tempo diz-nos que a injustiça não derrotará a equidade, que a mentira não se sobreporá à verdade, que o egoísmo não vencerá o amor, que a morte não será mais forte do que a vida. Neste domingo, o quadro da “nova Jerusalém”, a “cidade” perfeita e harmoniosa para onde caminhamos e onde os “santos” de Deus viverão para sempre numa felicidade sem fim, lado a lado com Deus, ajuda a renovar as nossas forças, a nossa alegria, a nossa convicção, a nossa esperança, o nosso compromisso. É neste quadro que vivemos, que caminhamos e que enfrentamos as vicissitudes, as contingências e os reveses que a vida nos traz?
  • A Igreja que peregrina na história não é, ainda, essa comunidade messiânica da vida plena, bela como uma “noiva adornada para o seu esposo”, de que fala a visão do “profeta” de Patmos. O caminho que ela vai fazendo todos os dias está marcado pela debilidade, pela fragilidade e pelo pecado dos seus membros. Mesmo assim, ela tem de ser já, aqui e agora, um anúncio e uma prefiguração da comunidade escatológica da salvação, uma comunidade viva que dá testemunho da utopia e que acende no mundo a luz de Deus. A humanidade necessita desse testemunho. A Igreja de Jesus que caminha na história, entre cansaços e esperanças, fracassos e vitórias, sombras e luzes, constitui, para os homens e mulheres do séc. XXI, um anúncio do mundo que há de vir? O que podemos fazer, nós que somos membros desta Igreja, para tornar mais vivo, mais atraente, mais efetivo, esse anúncio e esse testemunho?
  • É algo de que todos temos consciência, mas que nunca é demais lembrar: ainda que a vida verdadeira e definitiva só se concretize plenamente na “nova Jerusalém”, ela pode e deve começar a ser construída desde já nesta terra. Nós não vivemos apenas de olhos postos nesse mundo que há de vir, alheados das realidades do mundo transitório onde caminhamos todos os dias; mas, enquanto andamos aqui, temos a responsabilidade de construir um mundo de justiça, de amor e de paz, que seja, o mais possível, um reflexo do mundo futuro que nos espera. Jesus, o Filho de Deus que veio ao nosso encontro e que “vestiu” a nossa humanidade, não nos falou apenas do mundo de Deus e do encontro com Deus; mas lutou até à morte para construir, já aqui na terra, um mundo mais justo e mais humano. Estamos empenhados na construção de um mundo “segundo Deus”, onde todos os homens e mulheres possam viver com dignidade e em paz? in Dehonianos.

EVANGELHO João 14,23-29

Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Quem Me ama guardará a minha palavra
e meu Pai o amará;
Nós viremos a ele
e faremos nele a nossa morada.
Quem Me não ama não guarda a minha palavra.
Ora a palavra que ouvis não é minha,
mas do Pai que Me enviou.
Disse-vos estas coisas, estando ainda convosco.
Mas o Paráclito, o Espírito Santo,
que o Pai enviará em meu nome,
vos ensinará todas as coisas
e vos recordará tudo o que Eu vos disse.
Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz.
Não vo-la dou como a dá o mundo.
Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.
Ouvistes o que Eu vos disse:
Vou partir, mas voltarei para junto de vós.
Se Me amásseis,
ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai,
porque o Pai é maior do que Eu.
Disse-vo-lo agora, antes de acontecer,
para que, quando acontecer, acrediteis».

 

CONTEXTO

Era uma noite de quinta-feira do mês de Nisan do ano trinta. De acordo com o calendário do autor do Quarto Evangelho, faltava um dia para a celebração da Páscoa judaica. Jesus estava à mesa com os discípulos, na sala de uma casa de Jerusalém. Daí a poucas horas seria preso pelos soldados do Templo, levado diante do Sinédrio e condenado à morte. Na manhã do dia seguinte, depois de o governador romano Pôncio Pilatos ter confirmado a sentença, Jesus seria conduzido pelas ruas da cidade até uma pequena colina fora das muralhas, no chamado “Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota” (Jo 19,17), para aí ser crucificado. Para Jesus, aquela refeição com os discípulos comida depois do pôr-do-sol é uma ceia de despedida. A sombra da cruz paira sobre tudo o que vai ser dito à volta daquela mesa.

Mais do que com o seu destino imediato, nessa noite Jesus está preocupado com os seus discípulos, aqueles que estão com Ele à volta da mesa: são pessoas frágeis, com ideias pouco claras, que ainda não interiorizaram suficientemente os valores do Reino. Como reagirão à morte de Jesus? Ao verem o seu Mestre ser-lhes tirado, fraquejarão e abandonarão o projeto do Reino de Deus? Ou acolherão o Espírito Santo e assumirão a missão de dar testemunho de Jesus e do seu projeto em todos os lugares por onde andarem? Jesus, consciente de que lhe resta pouco tempo, procura lembrar aos discípulos o essencial da proposta que lhes transmitiu enquanto andava com eles pelos caminhos da Galileia e da Judeia; e procura também fazê-los entender a importância de se manterem em comunhão com Ele.

Poucos antes de lhes dizer as palavras que o Evangelho deste sexto domingo da Páscoa nos apresenta, Jesus tinha afirmado que era “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6); e tinha convidado os discípulos a percorrerem, sem hesitações, esse “caminho”. Tinha-lhes mesmo garantido que quem percorre esse “caminho” – o “caminho” do amor e do dom da vida – vai ao encontro do Pai. Contudo, os discípulos ouviram Jesus com algum ceticismo: será possível percorrer esse “caminho” se Jesus não caminhar ao lado deles? Como poderão, pelo tempo fora, manter a comunhão com Jesus e receber dele a força para doar, dia a dia, a própria vida? Como é que eles, sem Jesus a guiá-los, encontrarão o “caminho” para o Pai?  As palavras que o Evangelho deste dia nos convida a escutar contêm a resposta de Jesus a estas questões. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • Jesus, naquela inolvidável ceia de despedida comida na véspera da sua morte, prometeu aos discípulos que não os deixaria sozinhos a percorrer os caminhos do mundo e da história. São palavras que podem mudar completamente a nossa perspetiva das coisas. É verdade que não é fácil, nos nossos dias, seguir os passos de Jesus. Para a maior parte dos nossos contemporâneos, os valores de Jesus não despertam um interesse significativo; soam até a algo ilógico, obsoleto, desfasado da realidade do nosso tempo. Nesse cenário, muitos discípulos de Jesus sentem-se perdidos, desanimados, com vontade de baixar os braços e de se deixar levar pela onda do facilitismo, do relativismo, da indiferença, da pressão social, do “deixar correr”. No entanto Jesus – esse mesmo Jesus que todos os dias se senta connosco à mesa para nos alimentar com a sua Palavra e o seu Pão – diz-nos: “quem me ama guardará a minha palavra e o meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada”. Afinal, os discípulos de Jesus não estão por sua conta, abandonados à sua sorte num cenário desencorajador. Caminhamos com Jesus, abraçados pelo Pai; e Jesus continua a apontar-nos, a par e passo, o caminho que leva à vida. Temos tudo isto presente, sempre que sentimos dificuldade em entrever o sentido dos nossos passos?
  • A comunhão do crente com o Pai e com Jesus – fonte de vida e de esperança – não resulta de empatias rebuscadas, de construções intelectuais, de especiais práticas de piedade, da execução de determinados ritos no decorrer dos quais a vida de Deus inunda inesperadamente o coração do crente; mas resulta do “guardar a Palavra” de Jesus e do percorrer com Jesus o caminho do amor e da entrega, numa doação total a Deus e aos irmãos. Como é que cultivamos a nossa comunhão com Jesus e com o Pai? Procuramos todos os dias, neste tempo que nos tocou viver e com as condições que marcam o nosso caminho diário, escutar Jesus, entender e acolher as suas propostas, ir atrás d’Ele, viver ao seu estilo?
  • Jesus garante aos discípulos que o Pai lhes enviará “o paráclito” e que este os defenderá do risco de desviar-se do caminho que conduz à vida. O Espírito será, para os discípulos, a memória viva de Jesus. Uma das funções do “paráclito” será, segundo Jesus, “ensinar” aos discípulos “todas as coisas”. Jesus esqueceu-se de nos dizer alguma coisa fundamental? Não. Jesus disse-nos tudo o que precisávamos escutar. Mas o Espírito ensinar-nos-á a compreender plenamente o Evangelho, a aplicar corretamente as palavras e os ensinamentos de Jesus aos desafios novos que a vida nos traz a todos os instantes. O Espírito também nos recordará tudo o que Jesus disse. Às vezes não recordamos tudo porque a nossa memória é fraca e não retém tudo o que ouvimos; mas, mais vezes ainda, “não recordamos” porque não nos interessa, porque o que Jesus diz são coisas que nos incomodam, que nos desinstalam e que abalam as nossas certezas e as nossas seguranças. Procuramos escutar o Espírito para encontrar o caminho que somos chamados a percorrer na história? Temos a coragem de seguir as indicações do Espírito, mesmo quando Ele nos convida a mudanças radicais, a ruturas dolorosas, a compromissos exigentes, a opções radicais?
  • Jesus deixa aos discípulos “a paz”. A “paz” é um grande dom, um dom que só Jesus pode dar. É essa “paz” que nos permite encarar com serenidade as vicissitudes e as tempestades que surgem ao longo do caminho; é essa “paz” que nos ajuda a vencer o medo, esse medo que paralisa e que nos impede de lutar por um mundo mais justo e mais humano; é essa “paz” que nos faz vencer o egoísmo, o fechamento em nós próprios, a cegueira que não nos deixa ver as necessidades dos nossos irmãos; é essa “paz” que nos leva a construir pontes de diálogo e de entendimento com os irmãos e irmãs que caminham ao nosso lado; é essa “paz” que nos dá a força para enfrentar o ódio, a violência, a agressão, a mentira que desfeiam o mundo; é essa “paz” que nos liberta do ressentimento, da intolerância, da prepotência, do dogmatismo; é essa “paz” que nos capacita para sermos no mundo sinal da bondade, da misericórdia, da ternura, do amor de Deus… A “paz” de Jesus reside em nós? Testemunhamos essa “paz” na maneira como vivemos e como nos relacionamos com os homens e mulheres que caminham connosco? in Dehonianos.

 

Para os leitores:

            A primeira leitura apresenta um tom fortemente narrativo, contendo uma frase em discurso direto e uma carta enviada aos «irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia». A proclamação desta leitura, além do cuidado com as frases longas e com diversas orações, deve ter presente a articulação entre os diversos elementos que compõe o texto.

            A segunda leitura não apresenta nenhuma dificuldade aparente, contudo, isto não deve descurar uma acurada preparação tendo em atenção as pausas e as respirações sobretudo nas frases mais longas.

 

I Leitura: (ver anexo)

 II Leitura: (ver anexo)

 

ANEXOS: