Domingo XVII do Tempo Comum – Ano C – 27 julho 2025

V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos

Viver a Palavra

«Senhor, ensina-nos a orar».

Que bela oração! Um pedido que é já atitude orante: colocar-se diante de Deus como aprendiz na escola da arte de amar, criando relação e intimidade para que a nossa vida se torne verdadeiro lugar de encontro com Deus e com os outros.

Este belíssimo quadro que abre o texto evangélico deste Domingo é uma oportuna resposta aos educadores da fé, aos pais e catequistas que tantas vezes perguntam: como ensinar os nossos mais novos a rezar? Como educar para a vida de oração?

Mais do que longos discursos e formas criativas de educar para a oração é necessário que a nossa vida orante seja de tal modo decisiva na nossa vida que desperte no coração dos outros este desejo de entrar em diálogo com Deus e experimentar a beleza da oração.

A oração tem a capacidade de moldar o crente, tornando-o num pobre que encontra em Deus a sua grande riqueza. Assumir a nossa fragilidade e pobreza diante de Deus, em nada nos enfraquece ou inferioriza, pelo contrário, permite enriquecer a nossa humana condição da grandeza de um Deus que faz possíveis os impossíveis da nossa vida e nos permite olhar os nossos limites como oportunidade de crescimento e amadurecimento.

Pedir, procurar e bater são os gestos próprios do mendigo que com humildade se coloca diante de alguém que pode socorrer as suas necessidades. É próprio do pobre a atitude de confiança naquele que o pode ajudar. Deste modo, a oração sintoniza o nosso coração com o coração de Deus gerando esta relação de amizade e confiança que nos permite caminhar com um renovado alento os trilhos da história. Mesmo diante das dificuldades e exigências do nosso caminho, sabemo-nos amados por um Deus que não é indiferente às nossas dores, angústias e sofrimentos.

Jesus ensina-nos que a verdadeira oração é aquela que começa por invocar a Deus como «Pai». Na vida cristã é decisiva esta relação filial que nos faz sentir filhos muito amados de Deus e nos responsabiliza como irmãos uns dos outros.

A oração do Pai-nosso, ensinada por Jesus a pedido dos Seus discípulos, como afirma Tertuliano, é norma da oração cristã e síntese do Evangelho (lex orationis et breviarium totius evangelii). Além disso, nesta oração encontramos resposta para as questões acerca do sentido da nossa existência: quem sou eu? De onde venho? Para onde vou?

Eu sou um filho muito amado de Deus, que entrando em relação de intimidade com o Pai, descubro uma multidão de irmãos com quem sou chamado a partilhar o pão quotidiano, para que diante das fragilidades uns dos outros, saibamos perdoar como o Pai nos perdoa a cada um de nós e assim, haveremos de santificar o nome de Deus, fazendo presente no aqui e agora do tempo e da história o Reino que será um dia em plenitude no Céu.

Figura orante é também Abraão que negoceia com Deus a salvação de Sodoma. Abraão deixou a sua terra para acolher a promessa de Deus de uma descendência numerosa como as areias da terra e como as estrelas do Céu. Mesmo sendo de idade avançada, confia na promessa de Deus e verá nascer um filho onde parecia humanamente impossível. O Deus da promessa, o Deus que faz gerar vida onde ela parece já não poder ser gerada, quer destruir a cidade. Abraão coloca-se humildemente diante de Deus e faz seis tentativas de negociação, baixando o número de justos necessários para que a cidade não seja destruída. Porém, a cidade foi destruída, pois não foi encontrado nenhum justo. Foi necessário esperar pelo verdadeiro Justo, Jesus Cristo, para que por meio Dele a humanidade inteira fosse salva e redimida. O Seu amor feito entrega na Cruz venceu a morte e o pecado e reconciliou-nos de modo novo com o Pai: «Quando estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus fez que voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas faltas». in Voz Portucalense

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«Quando orardes, dizei: Pai». Jesus ensina-nos a entrar em diálogo de amor com Deus, invocando-O como nosso Pai. Contudo, são muitas as pessoas que partilham a sua dificuldade em manter um ritmo perseverante de oração pessoal quotidiana, quer pela dificuldade em encontrar tempo para a oração, quer pela sua dificuldade no modo de orar. A Liturgia da Palavra deste Domingo convida a fazer da oração um lugar de intimidade com Deus. Deste modo, este Domingo constitui-se como uma oportunidade para falar da importância da oração na vida cristã, apresentando diferentes modos e formas de oração que ajudem os fiéis a fazer a experiência feliz do encontro com o Pai. in Voz Portucalense

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Já no Tempo Comum, continuamos o Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos – Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA I Génesis 18,20-32

Naqueles dias, disse o Senhor:
«O clamor contra Sodoma e Gomorra é tão forte,
o seu pecado é tão grave
que Eu vou descer para verificar
se o clamor que chegou até Mim
corresponde inteiramente às suas obras.
Se sim ou não, hei de sabê-lo».
Os homens que tinham vindo à residência de Abraão
dirigiram-se então para Sodoma,
enquanto o Senhor continuava junto de Abraão.
Este aproximou-se e disse:
«Irás destruir o justo com o pecador?
Talvez haja cinquenta justos na cidade.
Matá-los-ás a todos?
Não perdoarás a essa cidade,
por causa dos cinquenta justos que nela residem?
Longe de Ti fazer tal coisa:
dar a morte ao justo e ao pecador,
de modo que o justo e o pecador tenham a mesma sorte!
Longe de Ti!
O juiz de toda a terra não fará justiça?»
O Senhor respondeu-lhe:
«Se encontrar em Sodoma cinquenta justos,
perdoarei a toda a cidade por causa deles».
Abraão insistiu:
«Atrevo-me a falar ao meu Senhor,
eu que não passo de pó e cinza:
talvez para cinquenta justos faltem cinco.
Por causa de cinco, destruirás toda a cidade?»
O Senhor respondeu:
«Não a destruirei se lá encontrar quarenta e cinco justos».
Abraão insistiu mais uma vez:
«Talvez não se encontrem nela mais de quarenta».
O Senhor respondeu:
«Não a destruirei em atenção a esses quarenta».
Abraão disse ainda:
«Se o meu Senhor não levar a mal, falarei mais uma vez:
talvez haja lá trinta justos».
O Senhor respondeu:
«Não farei a destruição, se lá encontrar esses trinta».
Abraão insistiu novamente:
«Atrevo-me ainda a falar ao meu Senhor:
talvez não se encontrem lá mais de vinte justos».
O Senhor respondeu:
«Não destruirei a cidade em atenção a esses vinte».
Abraão prosseguiu:
«Se o meu Senhor não levar a mal,
falarei ainda esta vez:
talvez lá não se encontrem senão dez».
O Senhor respondeu:
«Em atenção a esses dez, não destruirei a cidade».

 

CONTEXTO

Designados genericamente como “tradições patriarcais”, os capítulos 12 a 36 do livro do Génesis apresentam diversos relatos singulares, originalmente independentes uns dos outros e sem carácter de exatidão histórica. Nas “tradições patriarcais encontramos “mitos de origem” (relatos que contam como um qualquer “patriarca” chegou a um determinado lugar e tomou posse daquela terra), “lendas cultuais” (lendas ligadas a “lugares sagrados” que contam como um deus ali apareceu) e memórias diversas relativas à luta diária pela existência das tribos nómadas que circulavam pela Palestina no segundo milénio antes de Cristo. Os teólogos de Israel, muitos séculos mais tarde, soldaram esses materiais uns aos outros, enriqueceram-nos com as suas reflexões teológicas e apresentaram-nos aos crentes israelitas com o objetivo de fazer catequese.

Entre os materiais que compõem as “tradições patriarcais” está a memória de um cataclismo que atingiu e destruiu diversas povoações situadas nas margens do Mar Morto (cf. Gn 19). Sodoma foi uma das cidades destruídas (as outras teriam sido Gomorra, Adama, Seboim e Segor). Alguns estudiosos modernos têm procurado uma explicação para essa catástrofe na geologia da área: a região fica situada na falha do vale do Jordão, numa zona sujeita a terramotos e a atividades vulcânicas. Depósitos de betume e de petróleo têm sido descobertos nesta região; e alguns escritores antigos atestam a presença de gases que, uma vez inflamados, poderiam causar uma terrível destruição, do tipo relatado em Gn 19.

As marcas desse cataclismo ainda eram visíveis muitos séculos depois (como, aliás, são visíveis ainda hoje); por isso, é natural que os israelitas se interrogassem sobre as razões de uma tão terrível devastação. Os teólogos israelitas compreenderam que essa memória oferecia uma oportunidade para fazer catequese. A destruição de Sodoma e das cidades à volta do Mar Morto foi então apresentada, pela catequese de Israel, como o castigo de Deus para o pecado dos homens. Os crentes israelitas eram assim convidados a descobrir que o pecado leva o homem por caminhos sem saída e sem futuro. Simultaneamente, os teólogos de Israel aproveitaram o “diálogo” entre Deus e Abraão sobre Sodoma para propor aos crentes um ensinamento sobre o “peso” do justo nas “contas” de Deus (cf. Gn 18,16-33). in Dehonianos

 

INTERPELAÇÕES

  • O diálogo entre Deus e Abraão sobre a sorte dos “justos” que habitavam na cidade de Sodoma, expõe um “dogma” que a catequese de Israel muito cedo percebeu e integrou na sua reflexão: Deus é clemente e compassivo; a sua misericórdia é muito maior do que a sua vontade de castigar a maldade. Deus até – diz a catequese de Israel – está disposto a perdoar uma cidade pecadora se nela houver apenas dez “justos”! Contudo, trinta séculos depois, ainda há quem acredite num Deus cuja principal ocupação é “tomar nota” das maldades dos homens e retaliar contra aqueles que desafiaram as suas “ordens”. Como vemos e entendemos Deus? Caminhamos pela vida esmagados pelo medo da “vingança” de um deus justiceiro e castigador, ou confiantes na misericórdia e na compaixão de um Deus que ama os seus filhos com amor de pai?
  • O Deus que conta a Abraão os seus planos para a cidade de Sodoma não é um Deus distante e inacessível, que vive alheado da realidade e da história dos homens; mas é um Deus que se atreve a vir ao encontro do homem, que aceita a hospitalidade que o homem lhe oferece e que até discute com o homem os projetos que tem para o mundo. Esse Deus da relação, do diálogo, do encontro, da comunhão, é um Deus com quem podemos falar, com quem podemos partilhar as nossas dúvidas, inquietações, sonhos e esperanças. Quando vemos Deus desta forma, o nosso encontro com Ele torna-se diálogo de amigos ou, noutra dimensão, diálogo de um filho com o seu pai. Então, começamos a perceber que esse Deus nos “faz falta”. Sentimos continuamente vontade de “conversar” com Ele, de lhe dizer o que nos vai no coração, de escutar os seus conselhos e indicações, de passar tempo com Ele. É essa a “experiência de Deus” que fazemos?
  • O diálogo de Abraão com Deus poderia servir de modelo para a oração de qualquer crente: é um diálogo humilde, reverente, respeitoso, mas também confiante, ousado, verdadeiro. Não é uma repetição de palavras ocas ou de fórmulas estereotipadas, gravadas e repetidas por um qualquer aparelho mecânico ou uma mente acrítica, mas um diálogo espontâneo e sincero, no qual o crente se expõe e coloca diante de Deus tudo aquilo que lhe enche o coração. As nossas orações são um diálogo espontâneo, vivo, confiante com Deus, ou são repetições fastidiosas de fórmulas fixas, mastigadas à pressa, sem significado e sem alma? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 137 (138)

Refrão: Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor.

 

De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças,
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos hei de cantar-Vos
e adorar-Vos, voltando para o vosso templo santo.

Hei de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma.

O Senhor é excelso e olha para o humilde,
ao soberbo conhece-o de longe.
No meio da tribulação Vós me conservais a vida,
Vós me ajudais contra os meus inimigos.

A vossa mão direita me salvará,
o Senhor completará o que em meu auxílio começou.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos.

 

LEITURA II – Colossenses 2,12-14

Irmãos:
Sepultados com Cristo no batismo,
também com Ele fostes ressuscitados
pela fé que tivestes no poder de Deus
que O ressuscitou dos mortos.
Quando estáveis mortos nos vossos pecados
e na incircuncisão da vossa carne,
Deus fez que voltásseis à vida com Cristo
e perdoou-nos todas as nossas faltas.
Anulou o documento da nossa dívida,
com as suas disposições contra nós;
suprimiu-o, cravando-o na cruz.

 

CONTEXTO

A cidade de Colossos pertencia à província romana da Ásia e estava situada na Frígia, a leste de Éfeso, a poucos quilómetros de Hierápolis e Laodiceia. A comunidade cristã de Colossos nasceu do trabalho missionário de Epafras, discípulo de Paulo (cf. Cl 1,7; 4,12-13). Era constituída maioritariamente por cristãos vindos do paganismo, embora também incluísse um certo número de judeo-cristãos.

Quando escreveu esta carta, Paulo estava na prisão (talvez em Roma, nos anos 61 a 63). Epafras tinha ido visitá-lo e tinha-lhe falado dos problemas que a comunidade cristã de Colossos estava a enfrentar. Esses problemas resultavam da presença em Colossos de pregadores cristãos que propunham doutrinas pouco consentâneas com o Evangelho de Jesus. Misturando elementos judaicos com elementos sincretistas de origem diversa, esses pregadores exigiam a circuncisão (Cf. Cl 2,11-13), a observância do sábado, a celebração de certas festas religiosas (cf. Cl 2,16), a abstinência de determinados alimentos (cf. Cl 2,16.20-22); sublinhavam o papel e o lugar dos poderes cósmicos que governavam os astros; recomendavam o culto dos anjos; propunham rituais de iniciação e o exercício de diversas práticas ascéticas destinadas a comunicar aos fiéis um conhecimento superior dos mistérios.

Paulo percebeu que estes erros eram graves, pois ameaçavam subalternizar o lugar central de Cristo, único salvador e redentor do homem. Paulo, procurando esclarecer os cristãos de Colossos, exorta-os a não darem ouvidos a esses pregadores e a não se deixarem enredar em filosofias vazias e enganadoras, fundadas em tradições humanas e não em Cristo (cf. Cl 2,8). Garante-lhes que Cristo basta, pois é n’Ele que reside a plenitude da divindade; Cristo é a cabeça de todo o principado e potestade e foi Ele que nos redimiu com a sua morte (cf. Col 2,9-15). in Dehonianos.

INTERPELAÇÕES

  • É frequente termos, nas nossas experiências de vida, momentos que consideramos decisivos, que marcam e definem o sentido do nosso caminho. Para Paulo, o momento decisivo da sua vida foi o seu encontro com Cristo na estrada de Damasco (cf. At 9,1-18; 22,4-21; 26,9-18). Desde esse instante, Paulo percebeu que queria Cristo no centro da sua vida. Passou a construir toda a sua existência à volta de Cristo e da sua proposta de salvação. Considerou fundamental tudo aquilo que o aproximava de Cristo e o punha em comunhão com Cristo, e secundário tudo aquilo que não o ajudava a chegar a Cristo. Tudo isso aparece bem evidente na reflexão e nos desafios que Paulo deixa aos cristãos de Colossos. Também nós, como Paulo de Tarso, nos encontramos com Cristo num determinado momento do nosso caminho; também nós aderimos a Cristo e nos dispusemos a caminhar com Ele; também nós vimos no Evangelho anunciado por Cristo uma proposta de salvação capaz de mudar o mundo e de dar um sentido pleno às nossas vidas. Cristo tem-se mantido no centro das nossas vidas, ou substituímo-lo por outras figuras e interesses? O Evangelho proposto por Cristo é a lei fundamental à volta da qual construímos o nosso projeto de vida?
  • O nosso batismo foi, para cada um de nós, o momento do compromisso com Cristo. Nesse dia, renunciámos ao pecado e comprometemo-nos a caminhar sempre atrás de Cristo no caminho da doação, do serviço simples e humilde, da entrega da vida por amor; fomos ungidos com o óleo do crisma e enviados ao mundo como testemunhas da salvação de Deus; recebemos a luz de Cristo e fomos desafiados a iluminar o mundo com a verdade de Cristo. É este “caminho” que temos vindo a percorrer? A nossa vida, as nossas opções, as nossas palavras, os nossos gestos e o nosso testemunho têm sido coerentes com os compromissos que assumimos no dia em que fomos batizados e começamos a caminhar com Cristo?
  • Paulo fala de um “documento da nossa dívida” que Cristo “suprimiu, cravando-o na cruz”. É uma imagem muito expressiva para dizer que Cristo, oferecendo a sua vida até ao dom total de si mesmo, nos libertou do egoísmo, do orgulho, da ambição, da violência, da autossuficiência, da maldade, do medo, de tudo o que leva à morte. Agora, libertos de todo esse “lastro” que nos prendia e nos impedia de dar sentido pleno à nossa existência, podemos viver como Homens Novos, que caminham decididos em direção à vida verdadeira. A consciência de que Cristo nos libertou é para nós fonte de alegria e de esperança ao longo do caminho que vamos fazendo todos os dias? Estamos decididos a mantermo-nos livres, seguindo os passos e as indicações de Cristo? in Dehonianos

 

EVANGELHO Lucas 11,1-13

Naquele tempo,
Estava Jesus em oração em certo lugar.
Ao terminar, disse-Lhe um dos discípulos:
«Senhor, ensina-nos a orar,
como João Baptista ensinou também os seus discípulos».
Disse-lhes Jesus:
«Quando orardes, dizei:
‘Pai,
santificado seja o vosso nome;
venha o vosso reino;
dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência;
perdoai-nos os nossos pecados,
porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende;
e não nos deixeis cair em tentação’».
Disse-lhes ainda:
«Se algum de vós tiver um amigo,
poderá ter de ir a sua casa à meia-noite, para lhe dizer:
‘Amigo, empresta-me três pães,
porque chegou de viagem um dos meus amigos
e não tenho nada para lhe dar’.
Ele poderá responder lá de dentro:
‘Não me incomodes;
a porta está fechada,
eu e os meus filhos estamos deitados
e não posso levantar-me para te dar os pães’.
Eu vos digo:
Se ele não se levantar por ser amigo,
ao menos, por causa da sua insistência,
levantar-se-á para lhe dar tudo aquilo de que precisa.
Também vos digo:
Pedi e dar-se-vos-á;
procurai e encontrareis;
batei à porta e abrir-se-vos-á.
Porque quem pede recebe;
quem procura encontra
e a quem bate à porta, abrir-se-á.
Se um de vós for pai e um filho lhe pedir peixe,
em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente?
E se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião?
Se vós, que sois maus,
sabeis dar coisas boas aos vossos filhos,
quanto mais o Pai do Céu
dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!».

 

CONTEXTO

Jesus percorre com os discípulos o caminho que leva da Galileia a Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,28). No esquema teológico de Lucas esse caminho é, mais do que um caminho geográfico, um caminho espiritual, ao longo do qual os discípulos vão interiorizando os valores do Reino de Deus e crescendo na adesão a Jesus. No caminho para Jerusalém, os discípulos recebem as lições que os habilitam para continuarem, no “tempo da Igreja”, a obra de Jesus.

Desta vez, a lição é sobre a oração. O narrador leva-nos até um lugar – possivelmente isolado – onde Jesus está em oração. Os discípulos estão um pouco afastados. Não ousam interrompê-lo, mas estão impressionados com a forma como Ele se relaciona com Deus. Quando Jesus termina a sua oração, pedem-lhe que que os ensine a rezar, pois também eles querem seguir o seu exemplo e aproximar-se desse Pai bom do qual tanto ouvem falar.

Lucas dá grande importância à oração de Jesus. Ele refere a oração de Jesus em diversas situações, nomeadamente no Batismo (cf. Lc 3,21), antes da eleição dos Doze (cf. Lc 6,12), antes do primeiro anúncio da paixão (cf. Lc 9,18), no contexto da transfiguração (cf. Lc 9,28-29), após o regresso dos discípulos da missão (cf. Lc 10,21), na última ceia (cf. Lc 22,32), no Getsemani (cf. Lc 22,40-46) e na cruz (cf. Lc 23,34.46). Lucas pretende insinuar que Jesus, antes de tomar decisões fundamentais, fala com o Pai e procura, pela oração, discernir a vontade do Pai.

A oração do “Pai nosso” – a oração que Jesus ensinou aos seus discípulos – aparece também, embora noutro contexto, no Evangelho de Mateus (cf. Mt 6,9-13). As fórmulas usadas por um e outro evangelista apresentam significativas diferenças. Isso significa, provavelmente, que Lucas e Mateus colheram as suas fórmulas do “Pai nosso” em tradições litúrgicas distintas. A versão de Mateus condiz com um meio judeo-cristão, enquanto a de Lucas – mais breve e com menos embelezamentos litúrgicos – poderá estar mais próxima da fórmula original proposta por Jesus. in Dehonianos.

INTERPELAÇÕES

  • Lucas faz questão de nos dizer que Jesus manteve, ao longo de toda a sua vida, um constante diálogo com o Pai. Depois de cada jornada gasta a percorrer as aldeias da Galileia, a curar as feridas dos homens, a contar parábolas que anunciavam a chegada iminente de um mundo novo, a experimentar a oposição dos líderes judaicos, a constatar a falta de fé dos habitantes das cidades do lago, a verificar a dificuldade dos discípulos em aceitar os valores do Reino, Jesus sentia necessidade de se afastar para um sítio isolado para passar tempo de qualidade com o Pai. Era nesse tempo que Ele contava ao Pai o que lhe ia no coração, experimentava a ternura do Pai, procurava discernir os projetos do Pai, recebia do Pai a força para enfrentar as oposições e servir o Reino de Deus. E nós, formados na “escola de Jesus”, também procuramos encontrar espaço, no final de cada dia, para dialogar com Deus? No meio da agitação e dos problemas que todos os dias nos visitam, encontramos tempo para “sentirmos o pulso” de Deus, para contarmos a Deus as nossas dúvidas e inquietações, para tentarmos perceber o projeto de Deus tem para nós e para o mundo?
  • Jesus sentia Deus como um pai bom, que acolhe com ternura e bondade os seus filhos, que os escuta interessadamente, que partilha com eles os seus projetos, que os apoia e abraça, que lhes dá a força necessária para enfrentarem os ventos e marés da vida e da história. Quando se experimenta Deus desse jeito, sentimo-nos bem a dialogar com Deus, a contar-lhe o que nos vai no coração, a procurar discernir o que Ele quer de nós, a fazer a sua vontade. Como vemos Deus? Ele é para nós, como o era para Jesus, o “papá” a quem amamos e por quem nos sentimos amados, em quem confiamos incondicionalmente, a quem recorremos confiadamente, com quem partilhamos tudo o que nos acontece, ou é o Deus distante, inacessível, indiferente, que facilmente deixamos de lado porque não tem qualquer lugar especial no nosso projeto de vida?
  • Jesus pede aos seus discípulos que, sempre que falarem com Deus, tenham presente o projeto de Deus para o mundo e para os homens. Para Jesus, a oração não é o momento para tentarmos pôr Deus ao serviço das nossas negociatas pessoais e dos nossos interesses mesquinhos; mas é o momento de olharmos para além de nós, para as necessidades do mundo e dos irmãos que partilham connosco o caminho da vida; é o momento de procurarmos perceber o que é que Deus quer de nós e qual o papel que nos destina na concretização dos seus planos. Quando falamos com Deus, o que lhe dizemos? Que questões pomos em cima da mesa? A nossa oração cinge-se ao âmbito restrito dos nossos interesses pessoais, ou contempla os interesses de Deus e dos homens nossos irmãos?
  • Dialogarmos com o nosso Pai do céu é tomarmos consciência de que fazemos parte de uma grande família, de uma família constituída por homens e mulheres de todas as raças e culturas. Tratar a Deus por “Pai” leva-nos à descoberta da fraternidade. A melhor forma de rezar o “Pai nosso” é de mãos dadas com os nossos irmãos. Quando rezamos o “Pai nosso”, temos consciência dos laços fraternos que nos unem a todos os homens e mulheres que se cruzam connosco nos caminhos da vida? Quando rezamos o “Pai nosso” sentimo-nos responsáveis por todos os nossos irmãos, sobretudo pelos mais frágeis, por aqueles que necessitam dos nossos cuidados, por aqueles que tantas vezes são abandonados nas bermas da estrada da vida?
  • Jesus não vê inconveniente que, no diálogo com Deus, lhe peçamos que cuide do “nosso pão” de cada dia. Não do “meu pão”, mas do “nosso pão”. Não fazemos este pedido para Deus não se esquecer de nos providenciar as coisas necessárias à subsistência dos seus filhos e filhas. Deus nunca poderia esquecer isso. Jesus convida-nos a fazer este pedido para nos lembrarmos, nós próprios, que tudo aquilo que Deus nos dá para a nossa subsistência pertence a todos os filhos e filhas de Deus e deve ser partilhado com todos os nossos irmãos. Como consideramos os bens que Deus coloca à nossa disposição? Como conquistas pessoais, que se destinam apenas a alimentar o nosso bem-estar pessoal, ou como “prendas” de Deus destinadas a todos os seus filhos e filhas, sem exceção?
  • Jesus convida os discípulos a pedir a Deus que compreenda as faltas que são inerentes à condição humana e perdoe os pecados que tiverem cometido. Mas também vincula, de algum modo, o perdão de Deus ao perdão que os seus discípulos devem oferecer uns aos outros. Aquele que se recusa a perdoar as fragilidades do seu irmão, não tem moral para pedir a Deus que lhe perdoe as suas próprias fragilidades. Poderemos rezar o “Pai nosso” e pedir a Deus que nos perdoe quando nos recusamos a abraçar um irmão que nos magoou ou a quem magoamos?
  • Jesus pede aos seus discípulos: “pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á”. No entanto, parece-nos muitas vezes que Deus não atende as nossas preces ou que as atende “fora de prazo”; e perguntamo-nos porquê… Será que Deus não é “fiável”? Será que, afinal, Deus se “está nas tintas” para aquilo que lhe pedimos? Jesus estava convicto de que Deus acolhe cada um dos nossos pedidos. Talvez o “tempo” de Deus não coincida com o “tempo” dos homens; talvez algumas das coisas que pedimos não encaixem nos projetos de Deus; talvez Deus tenha uma forma diferente da nossa de ver as coisas; talvez Deus saiba melhor do que nós aquilo que nos conduz à vida… Seja qual for a razão da (aparente) indiferença de Deus às solicitações que lhe fazemos, somos convidados por Jesus a confiar em Deus, no seu amor de Pai, no seu interesse pela nossa salvação. Estamos dispostos a confiar incondicionalmente em Deus, mesmo quando Ele parece ignorar a nossa vontade? in Dehonianos.

 

Para os leitores:

Na primeira leitura, encontramos um longo diálogo entre Deus e Abraão. A proclamação desta leitura deve ser bem preparada tendo em conta a articulação entre as intervenções de Deus que manifesta autoridade, mas simultaneamente condescendência e misericórdia e as intervenções de Abraão que humildemente toma a ousadia de invocar a benevolência de Deus.

A segunda leitura apesar de ser breve não é de fácil proclamação e exige uma boa preparação para que os ouvintes possam compreender bem o texto. Uma leitura pausada, com atenção às paragens e respirações, articulando as diversas frases, ajudará a uma leitura mais eficaz.

 

I Leitura: (ver anexo)

 II Leitura: (ver anexo)

 

ANEXOS: