Domingo III do Tempo Comum – Ano C – 26 janeiro 2025

Domingo da Palavra de Deus

NOTA:

            A comunidade, junta, celebra a sua Fé no Templo e, para uma comunidade diocesana, esse Templo é a Sé Catedral. Neste Domingo da Palavra da Deus, em que também se celebra o JUBILEU dos LEITORES, todos os leitores da comunidade da Vilar de Andorinho são convidados a ser comunidade alargada com todos os outros leitores da Diocese do Porto, às 16h00. Lá estaremos, todos juntos

 

Viver a Palavra

«Em virtude desta revelação, Deus invisível, na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele» (Dei Verbum, n. 2). Na verdade, sempre que lemos a Palavra de Deus, a escutamos em grupo ou em comunidade, é o próprio Deus que sendo eterno, omnipotente, omnisciente se aproxima de nós, acompanha-nos com a Sua solicitude paterna e nos fala como amigos. Como seria diferente a nossa vida cristã e a vida das nossas comunidades se tomássemos verdadeiramente consciência desta maravilha do amor de Deus, que tendo criado cada homem e cada mulher por amor, não abandona a obra das Suas mãos mas a acompanha com a Sua palavra e com os Seus gestos, pois a revelação que Deus faz de si próprio se opera por meio de palavras e gestos intimamente ligados entre si.

Por isso, cantámos no Salmo deste Domingo: «as vossas palavras, Senhor, são espírito e vida». Esta Palavra que escutámos é espírito e vida, pois é o anúncio da nossa salvação. Muito mais do que o modo como nós nos devemos comportar, a Palavra proclamada revela-nos o modo como Deus se relaciona connosco: Deus, todo-poderoso e eterno, envia ao mundo o Seu Filho Jesus, que na plenitude do Espírito Santo vem para «anunciar a boa nova aos pobres», «proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos», «restituir a liberdade aos oprimidos», «proclamar o ano da graça do Senhor».

Ao escutar a Liturgia da Palavra deste Domingo, somos convidados a pensar que lugar tem a Palavra de Deus na nossa vida e quanto tempo da nossa oração quotidiana dedicamos à leitura e meditação da Palavra de Deus. Como lemos no Livro de Neemias, a proclamação solene do Livro da Lei era escutada com toda a atenção e o encontro com a Palavra dirigida por Deus ao Seu Povo era fonte de alegria e de festa: «Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».

O encontro com Jesus, verdadeiramente presente na Palavra proclamada, gera em nós a alegria e transforma o nosso coração para fazer da nossa vida verdadeiro lugar de festa. Apesar de diferentes nos dons que possuímos, nas qualidades que desenvolvemos, nos ministérios e serviços que nos estão confiados, animados pela força do Espírito Santo e convocados pela Palavra do Mestre, somos chamados a edificar o único Corpo de Cristo. Como discípulos missionários, unidos na única missão da Igreja experimentamos a beleza da unidade na diversidade que é obra do Espírito Santo que como afirma o Papa Francisco é «Aquele grande Artista, Aquele grande Mestre da unidade nas diferenças».

Contudo, a escuta da Palavra deve colocar-nos de olhos postos em Jesus de Nazaré, Aquele que naquele Sábado, como era Seu costume, entrou na Sinagoga e se levantou para fazer a leitura. Enrolado o livro, abre-se na vida de Jesus de Nazaré plena e definitivamente a revelação do Pai. Revestido da força do Espírito Santo, Jesus anuncia o Seu programa de vida: anunciar a boa nova, proclamar a redenção, restituir a liberdade e proclamar o ano da graça do Senhor. Jesus vem ao encontro da humanidade pobre, prisioneira, cega e oprimida e não fica indiferente às nossas dores. Também nós, que pelo Batismo e Confirmação fomos revestidos da força do Espírito Santo somos chamados a encontrar no programa de vida de Jesus as coordenadas do nosso agir, para que no hoje da nossa existência possa ecoar, através dos nossos gestos, a mais bela melodia do amor. in Voz Portucalense       

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Já no Tempo Comum, continuamos um novo Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA I Neemias 8,2-4a.5-6.8-10

Naqueles dias,
o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei
perante a assembleia de homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Era o primeiro dia do sétimo mês.
Desde a aurora até ao meio dia,
fez a leitura do Livro,
no largo situado diante da Porta das Águas,
diante dos homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Todo o povo ouvia atentamente a leitura do Livro da Lei.
O escriba Esdras estava de pé
num estrado de madeira feito de propósito.
Estando assim em plano superior a todo o povo,
Esdras abriu o Livro à vista de todos;
e quando o abriu, todos se levantaram.
Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus,
e todos responderam, erguendo as mãos:
«Amen! Amen!».
E prostrando-se de rosto por terra, adoraram o Senhor.
Os levitas liam, clara e distintamente, o Livro da Lei de Deus
e explicavam o seu sentido,
de maneira que se pudesse compreender a leitura.
Então o governador Neemias,
o sacerdote e escriba Esdras,
bem como os levitas, que ensinavam o povo,
disseram a todo o povo:
«Hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus.
Não vos entristeçais nem choreis».
– Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei –.
Depois Neemias acrescentou:
«Ide para vossas casas,
comei uma boa refeição, tomai bebidas doces
e reparti com aqueles que não têm nada preparado.
Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor;
portanto, não vos entristeçais,
porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».

CONTEXTO

Inicialmente, os 13 capítulos que constituem o Livro de Neemias e os dez capítulos que constituem o livro de Esdras formavam uma unidade (estavam reunidos sob o título geral “Esdras”). Já na época cristã todo esse material apareceu dividido em duas partes: o livro de Esdras e o livro de Neemias. Não são claras as razões da divisão do livro inicial em dois textos autónomos.

Os livros de Esdras e de Neemias situam-nos em Jerusalém, na época pós-exílica. Referem-se a acontecimentos que vão desde o édito de Ciro, em 538 a.C. (o édito que autorizou o regresso a Jerusalém dos exilados judeus na Babilónia – cf. Esd 1,1-4), até inícios do séc. IV a.C (por volta de 400 a.C.). Os grandes temas abordados nestes livros são o regresso dos exilados, a reconstrução de Jerusalém e do Templo, a restauração da nação judaica após os anos dramáticos do Exílio.

Para os judeus que retornaram a Jerusalém, é uma época de miséria e desolação: Jerusalém está sem muralhas e sem portas; a pobreza de meios torna a reconstrução da cidade lenta e penosa; os inimigos de Judá espreitam e conspiram, procurando impedir o ressurgimento da nação judaica…

O sacerdote e escriba Esdras liderou um grupo de exilados (sacerdotes, levitas, porteiros, cantores) que, por volta de 457 a.C., retornaram a Jerusalém (cf. Esd 7-8). A missão de Esdras consistia prioritariamente em reorganizar a comunidade em volta do Templo e da Lei de Deus.

Neemias, por sua vez, era um alto funcionário judeu na corte de Susa, que veio para Jerusalém por volta do ano 445 a.C., autorizado pelo rei persa Artaxerxes (cf. Ne 1-7). O seu objetivo prioritário era a reconstrução das muralhas da cidade (cf. Ne 3-4). Tratou também de pôr cobro às injustiças cometidas pelos ricos contra os mais pobres (cf. Ne 5) e de restaurar o culto (cf. Ne 8-10).

É neste contexto de preocupação com a restauração do culto que podemos situar o trecho que nos é proposto como primeira leitura neste terceiro domingo comum.in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • No século V a.C., Neemias e Esdras sentiram que a escuta da Palavra de Deus poderia ajudar o povo de Judá a encarar a vida de uma forma mais comprometida, mais verdadeira, mais exigente, mais sã. Aquela comunidade com deficit de horizontes, de perspetivas e de esperança, precisava de se reencontrar com Deus e com os desafios de Deus para construir uma existência feliz e com sentido. Não estaremos hoje, em pleno séc. XXI, em circunstâncias análogas? A Palavra de Deus não poderia ajudar o homem contemporâneo a superar o desnorte, a falta de perspetivas, as contradições que pontuam o caminho que vamos percorrendo na história? Como é que os homens e mulheres do nosso tempo veem a Palavra de Deus: como algo anacrónico, desfasado da nossa realidade, ou como algo que pode orientar-nos no caminho que conduz à vida e à felicidade? O que poderemos fazer para que a Palavra de Deus seja hoje escutada e considerada?
  • No cenário preparado por Neemias e Esdras para o “reencontro” de Judá com a Palavra, percebe-se claramente a centralidade da Palavra de Deus na vida daquela comunidade de fé. O Povo de Deus constrói-se e articula-se à volta da Palavra de Deus; é uma comunidade que vive da escuta e do acolhimento da Palavra. Não é possível pertencer à comunidade de Deus se a Palavra de Deus não estiver no centro da nossa experiência de fé. Que lugar ocupa a Palavra de Deus na vida de cada um de nós? Que lugar tem a Palavra de Deus na vida das nossas comunidades cristãs? A Palavra é o centro à volta do qual tudo se articula? Encontramos espaço para ler, para refletir, para partilhar a Palavra? Sentimos necessidade de nos encontrarmos ao domingo, o “dia do Senhor”, para escutar e refletir comunitariamente a Palavra?
  • Nas nossas comunidades cristãs há pessoas que estão especialmente ao serviço da Palavra de Deus: leitores, salmistas, pregadores, catequistas, diáconos, presbíteros… Enquanto “servidores da Palavra”, eles têm uma responsabilidade especial. Por eles passa a obrigação de proclamar a Palavra de Deus de uma forma que todos a ouçam e que todos a compreendam. Se isso não acontecer, estarão a defraudar a Palavra de Deus e a comunidade que se dispõe a escutá-la. Aqueles a quem é confiada a missão de proclamar a Palavra, preparam convenientemente o ambiente e os meios que ajudam à escuta? Proclamam a Palavra clara e distintamente, sem gestos teatrais desnecessários? Refletem a Palavra e explicam-na de forma acessível, de forma que ela toque a assembleia que escuta? Têm a preocupação de adaptá-la à vida?
  • O Povo reunido por Neemias e Esdras para escutar a Palavra de Deus compareceu em massa e acolheu a proclamação da Palavra com respeito e interesse. Escutou, interiorizou e deixou-se questionar pela Palavra escutada. “Levou a sério” aquele encontro com a Palavra de Deus. Abraçou aquela oportunidade para se alimentar da Palavra de Deus. Nas nossas assembleias comunitárias, a Palavra é acolhida com veneração e respeito? Durante a proclamação da Palavra escutamo-la atentamente, ou aproveitamos aquele espaço para fazer as nossas devoções pessoais ou para “viajar” pelos nossos interesses e problemas?
  • Depois de escutar a proclamação da Palavra de Deus, os habitantes de Jerusalém choraram. Esse choro resultou da tristeza que sentiram ao perceberem que as suas vidas não estavam em consonância com as propostas de Deus. A constatação dos nossos limites e fragilidades é sempre o primeiro passo para a conversão. A escuta da Palavra de Deus deve levar-nos a mudar a nossa forma de pensar, de agir, de viver; deve questionar os valores que presidem à nossa vida e levar-nos a viver de forma mais coerente e consequente. É isso que acontece? A escuta da Palavra transforma a nossa forma de viver, ou deixa tudo como sempre foi? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 18 B (19)

Refrão: As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida.

 

A lei do Senhor É perfeita,
ela reconforta a alma;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.

Os preceitos do Senhor são retos
e alegram o coração;
os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos.

O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são retos.

Aceitai as palavras da minha boca
e os pensamentos do meu coração
estejam na vossa presença:
Vós, Senhor, sois o meu amparo e redentor.

 

LEITURA II 1 Coríntios 12,12-30

Irmãos:
Assim como o corpo é um só e tem muitos membros,
e todos os membros do corpo, apesar de numerosos,
constituem um só corpo,
assim sucede também em Cristo.
Na verdade, todos nós
– judeus e gregos, escravos e homens livres –
fomos batizados num só Espírito
para constituirmos um só corpo
e a todos nos foi dado a beber um só Espírito.
De facto, o corpo não é constituído por um só membro,
mas por muitos.
Se o pé dissesse:
«Uma vez que não sou mão, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
E se a orelha dissesse:
«Uma vez que não sou olho, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o ouvido?
Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfato?
Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros,
segundo a sua vontade.
Se todo ele fosse um só membro, que seria do corpo?
Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo.
O olho não pode dizer à mão: «Não preciso de ti»;
nem a cabeça dizer aos pés: «Não preciso de vós».
Pelo contrário, os membros do corpo que parecem fracos
são os mais necessários;
os que nos parecem menos honrosos
cuidamo-los com maior consideração;
e os nossos membros menos decorosos
são tratados com maior decência:
os que são mais decorosos não precisam de tais cuidados.
Deus organizou o corpo,
dispensando maior consideração ao que dela precisa,
para que não haja divisão no corpo
e os membros tenham a mesma solicitude uns com os outros.
Deste modo, se um membro sofre,
todos os membros sofrem com ele;
se um membro é honrado,
todos os membros se alegram com ele.
Vós sois corpo de Cristo e seus membros,
cada um por sua parte.
Assim, Deus estabeleceu na Igreja
em primeiro lugar apóstolos,
em segundo lugar profetas, em terceiro doutores.
Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da assistência,
de governar, de falar diversas línguas.
Serão todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores?
Todos farão milagres? Todos terão o poder de curar?
Todos falarão línguas? Todos terão o dom de as interpretar?

CONTEXTO

A comunidade cristã de Corinto, nascida do trabalho missionário de Paulo entre o outono do ano 50 e a primavera do ano 52, era viva, interessada e fervorosa; mas conhecia diversos problemas que resultavam, em grande parte, do ambiente social e cultural que se respirava na cidade. Em Corinto podiam notar-se bem os problemas que a proposta cristã teve de enfrentar ao encontrar-se com uma cultura diversa, como era o caso da cultura helénica.

Um dos problemas que afetava a vida da comunidade resultava de uma conceção errada dos “carismas” e da forma como estes deviam ser encarados em contexto comunitário. Paulo aborda esta questão nos capítulos na primeira Carta aos Coríntios, entre 12,1 e 14,40.

A palavra “carisma” designa dons especiais concedidos gratuitamente pelo Espírito a determinado indivíduo, destinados a responder às necessidades do mundo e, particularmente, à edificação da comunidade cristã. Nas cartas de Paulo fala-se insistentemente em “carismas” que animavam a vida e o dinamismo das comunidades cristãs.

A comunidade cristã de Corinto sentia-se especialmente agraciada por estes dons do Espírito. No entanto, os coríntios confundiam frequentemente os “carismas” com certos fenómenos de exaltação religiosa bastante comuns na religião grega tradicional. Paulo sente-se na obrigação de dizer aos cristãos de Corinto que os “carismas” dados pelo Espírito não podem levar a práticas pouco consentâneas com o Evangelho de Jesus. São verdadeiros os carismas que levam à profissão de fé em Jesus e à construção da comunidade cristã.

Por outro lado, os “carismas” de que alguns se julgavam investidos pelo Espírito eram, com frequência, fatores de divisão e de conflito. Considerando-se a si próprios “escolhidos de Deus”, alguns dos “carismáticos” reivindicavam um protagonismo que danificava a comunhão fraterna. Apresentando-se como mensageiros incontestados das coisas divinas, assumiam atitudes de autoritarismo e de prepotência que não favoreciam a fraternidade; desprezavam os que não tinham sido dotados destes dons, considerando-os como “cristãos de segunda”, limitados a um lugar subalterno no contexto comunitário.

Paulo procura fazer os coríntios entender a necessidade de haver uma comunidade unida e fraterna, onde todos os membros estão plenamente integrados e onde todos contribuem para o bem de todos. Nesse sentido, serve-se de uma metáfora frequentemente usada pelos escritores antigos, particularmente os filósofos estoicos (como Séneca, Marco Aurélio, Epicteto): a comunidade é como um corpo, constituído por muitos membros, e onde todos os membros desempenham funções diversas.in Dehonianos.

 

INTERPELAÇÕES

  • É muito bela a imagem usada por Paulo para falar da Igreja: um “corpo” (o “corpo de Cristo”), formado por muitos membros, todos animados pelo mesmo princípio vital, o Espírito; cada um dos membros desempenha uma determinada função; todos esses membros, com funções diversas, são iguais em dignidade e nenhum deles se pode julgar superior aos outros; todos eles, na diversidade de funções, contribuem à sua maneira para o crescimento, o equilíbrio, a harmonia, a saúde do “corpo”. Esta conceção da Igreja exclui, de princípio, tudo o que significa egoísmo, salvaguarda de interesses mesquinhos, invejas, ciúmes, conflitos, afirmação de si próprio em detrimento dos outros, autossuficiência… Como é que vivem e se articulam as nossas comunidades cristãs? Dão ao mundo um testemunho de harmonia, de entendimento, de comunhão, de vida fraterna? As palavras “solidariedade”, “participação”, “corresponsabilidade” fazem sentido na definição do quadro da nossa comunidade cristã?
  • A comunidade cristã é o “corpo de Cristo”. O “corpo” é a realidade que nos identifica, que nos torna visíveis aos olhos dos nossos irmãos, que nos permite entrar em relação com aqueles que nos rodeiam. A Igreja, como “corpo de Cristo”, torna presente e visível no mundo o próprio Cristo; é através da Igreja que os nossos irmãos se relacionam com Cristo. Quem olha para a Igreja deve “ver” o rosto de Cristo que sorri com amor, o coração de Cristo que acolhe e perdoa, as mãos de Cristo que abençoam e abraçam… É isso que acontece? A Igreja – essa Igreja da qual nós somos membros – é presença de Cristo junto dos homens e mulheres do nosso tempo? A Igreja é a imagem visível de Cristo, do seu projeto de vida, da proposta de salvação que Ele veio oferecer a todos? A Igreja mostra, ao vivo e a cores, a misericórdia, o carinho, a ternura, a compreensão que Cristo tinha por todos os homens e mulheres, e particularmente pelos pobres, pelos mais frágeis, por aqueles que a sociedade condena e abandona na berma da estrada da vida?
  • O Espírito distribui aos membros da comunidade cristã “carismas” (dons espirituais). Esses “carismas” não são prémios pessoais por bom comportamento, nem são um pagamento por serviços distintos; não se destinam a pôr em relevo um membro da comunidade em detrimento de outros; não são uma promoção pessoal ou social… Os “carismas” são dons que Deus confia a determinadas pessoas para o serviço de toda a comunidade. Quem os recebe assume a responsabilidade de os pôr a render de modo que toda a comunidade deles beneficie. Como entendemos e “gerimos” os dons que Deus nos confia? Colocamo-los ao serviço de todos, de forma gratuita e não interesseira?
  • Os membros de um “corpo”, embora diferentes e com funções diversas, vivem em interdependência. Isto é especialmente válido para o “corpo de Cristo”: os membros da comunidade cristã sentem-se ligados uns aos outros por laços de comunhão, de solidariedade, de partilha, de mútuo afeto. Interessam-se uns pelos outros, cuidam uns dos outros, preocupam-se uns com os outros. São uma família que, vivendo no amor, dá testemunho de Deus no meio do mundo. É efetiva a nossa comunhão e a nossa solidariedade com os outros membros da comunidade? Sentimo-nos responsáveis pelos irmãos que, como nós, integram o “corpo de Cristo”? Os dramas e os sofrimentos, as alegrias e as esperanças, os projetos e os sonhos dos outros homens e mulheres que fazem caminho connosco são vistos como algo que nos diz respeito?
  • Se um membro de um “corpo” não desempenhar o papel que lhe compete, todo o “corpo” fica prejudicado. Na construção da comunidade cristã, procuramos cumprir a nossa missão, com sentido de responsabilidade, ou remetemo-nos a uma situação de passividade e de comodismo, esperando que sejam os outros a fazer tudo? Somos membros ativos da comunidade, que trabalham e servem a comunidade, ou somos simples “consumidores” que se limitam a “frequentar a Igreja” e a beneficiar do trabalho dos outros? in Dehonianos.

EVANGELHO Lucas 1,1-4; 4,14-21

Já que muitos empreenderam narrar os factos
que se realizaram entre nós,
como no-los transmitiram os que, desde o início,
foram testemunhas oculares e ministros da palavra,
também eu resolvi,
depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens,
escrevê-las para ti, ilustre Teófilo,
para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado.
Naquele tempo,
Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito,
e a sua fama propagou-se por toda a região.
Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos.
Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado.
Segundo o seu costume,
entrou na sinagoga a um sábado
e levantou-Se para fazer a leitura.
Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías
e, ao abrir o livro,
encontrou a passagem em que estava escrito:
«O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque Ele me ungiu
para anunciar a boa nova aos pobres.
Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos
e a vista aos cegos,
a restituir a liberdade aos oprimidos
e a proclamar o ano da graça do Senhor».
Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se.
Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga.
Começou então a dizer-lhes:
«Cumpriu-se hoje mesmo
esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».

CONTEXTO

Ao longo deste ano litúrgico (Ano C), a liturgia propõe-nos a escuta e a reflexão do Evangelho segundo Lucas. Lucas, o evangelista que nos legou o terceiro Evangelho, não foi uma testemunha ocular de Jesus; era um cristão de segunda ou terceira geração, médico de profissão (cf. Cl 4,14), que se tornou discípulo e colaborador de Paulo (Flm 24). Escreveu o seu Evangelho em meados dos anos oitenta do primeiro século, provavelmente para comunidades cristãs de língua grega. Depois de nos apresentar, no Evangelho, o “tempo de Jesus”, Lucas deixou-nos uma outra obra – os Atos dos Apóstolos – onde nos fala da etapa seguinte da história da salvação: o “tempo da Igreja”, a fase em que os discípulos, guiados pelo Espírito, dão testemunho de Jesus “até aos confins da terra” (At 1,8).

O texto evangélico deste domingo oferece-nos, logo no início, um “prólogo” literário onde o evangelista, à boa maneira dos escritores gregos da época, apresenta a sua obra (cf. Lc 1,1-4). Refere os motivos que o levaram a escrever o Evangelho e as fontes com que contou para a compor. Destina a obra a um tal “Teófilo”, que poderá ser uma pessoa concreta ou um nome fictício (a palavra significa “amigo de Deus”) para designar qualquer pessoa que esteja interessado em conhecer a vida e a obra de Jesus.

Mas, logo depois do “prólogo”, o texto litúrgico deste domingo salta para o momento em que Jesus, na sinagoga de Nazaré, apresenta o seu “programa” (cf. Lc 4,14-21). Nazaré, a terra onde Jesus passou uma boa parte da sua vida, era uma pequena povoação, com cerca de 500 habitantes, situada na baixa Galileia. A maior parte dos seus habitantes eram agricultores que cuidavam de terras pertencentes a grandes latifundiários; alguns, contudo, eram “artesãos” que trabalhavam em diversos ofícios ligados à construção civil. A sinagoga era o espaço de encontro da assembleia crente. Ao sábado, a comunidade reunia-se na sinagoga para a oração e para a escuta das leituras da Lei e dos Profetas, com o respetivo comentário. A proclamação das leituras era feita por algum membro mais instruído da comunidade ou por algum visitante ilustre, conhecido pelo seu saber na explicação das escrituras, convidado pelo chefe da sinagoga a proclamar e a explicar a Palavra de Deus. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • Estamos mais do que habituados à apresentação de “programas”: qualquer figura que se proponha intervir na área pública e desempenhar um papel na construção do mundo e da sociedade apresenta, antes de começar a agir, os princípios programáticos que vão nortear a sua intervenção. De acordo com o Evangelho de Lucas, Jesus também o fez, numa manhã de sábado, na sinagoga de Nazaré. Contudo, o “programa” daquele profeta de Deus surpreende: não passa por estabelecer um sistema religioso mais perfeito, ou por implantar um culto mais digno, ou por propor determinadas práticas de piedade que tornam o homem mais santo; mas passa por pôr cobro a tudo aquilo que rouba a vida e a dignidade dos seres humanos. O profeta de Nazaré propõe-se anunciar aos pobres que Deus os ama e vai libertá-los da sua triste situação; propõe-se curar os homens e mulheres prisioneiros da doença, da maldade, do egoísmo, da injustiça; propõe-se iluminar os caminhos em que os homens andam, para que ninguém viva prisioneiro da escuridão e do sem-sentido; propõe-se fazer nascer um mundo mais humano, mais justo, mais feliz. Que pensamos do “programa” de Jesus? Será um “programa” viável no nosso “hoje”, no séc. XXI? Porque é que os homens e mulheres do nosso tempo ainda não abraçaram, de forma decisiva, a proposta de Jesus?
  • O “programa” de Jesus continua a ser o mesmo, dois mil anos depois. A questão é que, agora, é a Igreja de Jesus que tem a responsabilidade de implementar este “programa”. Isto de oferecer aos pobres uma nova esperança, de libertar os homens e mulheres que são prisioneiros da injustiça e da opressão, de proporcionar a todos uma vida mais digna e mais ditosa, de defender os excluídos pela sociedade de bem-estar, de acolher e integrar os “diferentes” e marginalizados, não é uma coisa de ideologias oriundas de uma certa área política, mas é uma coisa “de Jesus”. Ou a comunidade cristã tem a libertação dos “pobres” no seu “programa”, ou deixa de ser a Igreja de Jesus. A Igreja tem-se preocupado em anunciar o “evangelho da libertação”? Tem-se preocupado suficientemente com a sorte dos pobres, dos pequenos, dos excluídos, dos sem voz, dos abandonados, dos marginalizados, dos imigrantes que todos os dias batem à porta do nosso mundo egoísta e saciado? O que mais poderá a Igreja fazer para ser sinal, junto dos desfavorecidos e sofredores, da misericórdia e do amor de Deus?
  • O sofrimento de muitos homens e mulheres que nos rodeiam é um espinho cravado no nosso bem-estar e na nossa tranquilidade. Jesus nunca ficou indiferente diante das lágrimas, das angústias, dos sofrimentos de qualquer homem ou mulher. Os evangelhos dizem-nos que Ele se “comovia profundamente” e tomava posição no sentido de devolver a vida e a esperança a todos os sofredores. Pessoalmente, como lidamos com as necessidades gritantes de tantos homens e mulheres sem pão, sem abrigo, sem amor, sem compreensão, que se cruzam connosco nos caminhos da vida? Sentimos que o sofrimento dos irmãos que nos rodeiam nos diz respeito e que é nossa responsabilidade?
  • Jesus, na sinagoga de Nazaré, depois de proclamar a Palavra de Deus, atualiza-a: “cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. A Palavra escutada é aplicada ao hoje do crente, ilumina a vida, torna-se um anúncio feliz e renovador que traz alegria e desperta a esperança. Nas nossas comunidades cristãs, os que proclamam a Palavra, que a explicam nas homilias, que a ensinam na catequese, que a partilham nos grupos de reflexão, têm sempre esta preocupação de a tornar uma realidade “tocante” e um anúncio verdadeiramente transformador e libertador, capaz de iluminar a vida daqueles que os escutam?
  • Lucas, no “prólogo” ao seu Evangelho, explica que, a narração que se propõe fazer sobre a vida e a mensagem de Jesus, fundamenta-se na escuta das “testemunhas oculares” e numa investigação cuidadosa dos factos acontecidos. O objetivo do seu trabalho é proporcionar a todos aqueles que estão interessados em aproximar-se de Jesus, uma base segura para fundamentarem a sua adesão a Jesus. Que papel desempenham os textos evangélicos na nossa experiência de Jesus? Procuramos escutá-los, conhecê-los, meditá-los, para nos tornarmos verdadeiros discípulos, que entendem Jesus e se dispõem a acolher a proposta libertadora que Ele veio trazer? in Dehonianos

 

Para os leitores:

A primeira leitura é marcada pela narrativa da proclamação do Livro da Lei pelo sacerdote Esdras. A proclamação desta leitura deve ser marcada pelo tom narrativo de quem conta este dia feliz do Povo de Israel. Devem ter uma atenção especial na leitura das aclamações do Povo, da exortação conjunta de Neemias, Esdras e os levitas e a exortação final de Neemias. Todas elas são marcadas pelo louvor e alegria da presença de Deus no meio do Seu Povo.

A segunda leitura tem como mensagem fundamental a unidade do Corpo de Cristo na variedade dos seus membros e na proclamação desta leitura a transmissão desta mensagem é fundamental. Para isso, pede-se um especial cuidado nas frases longas com diversas orações, de modo particular, nas frases interrogativas e nas hipotéticas intervenções de cada um dos membros.

I Leitura: (ver anexo)

II Leitura: (ver anexo)

ANEXOS: