Domingo III do Tempo Pascal – Ano C – 04 maio 2025
Viver a Palavra
A liturgia do terceiro Domingo Pascal dirige uma vez mais o nosso olhar para o acontecimento capital que celebramos neste “grande domingo” que vai desde o dia de Páscoa até ao dia de Pentecostes: a ressurreição de Jesus. Convida-nos especialmente a descobrir como que é que a comunidade cristã deve agir para concretizar, no mundo e na vida dos homens, a obra salvadora de Jesus. in Dehonianos
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A caminho do Pentecostes, continuamos o Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.
Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.
E faremos isso….
Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.
LEITURA I – Atos 5,27b-32.40b-41
Naqueles dias,
o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo:
«Já vos proibimos formalmente
de ensinar em nome de Jesus;
e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina
e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem».
Pedro e os Apóstolos responderam:
«Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens.
O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus,
a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro.
Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador,
a fim de conceder a Israel
o arrependimento e o perdão dos pecados.
E nós somos testemunhas destes factos,
nós e o Espírito Santo
que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem».
Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos,
intimando-os a não falarem no nome de Jesus,
e depois soltaram-nos.
Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria,
por terem merecido serem ultrajados
por causa do nome de Jesus.
CONTEXTO
O livro dos Atos dos Apóstolos, publicado na década de oitenta do primeiro século, é a segunda parte da obra de Lucas. Nele Lucas reflete sobre a fase final da história da salvação, aquilo que poderíamos chamar o “tempo da Igreja”: é o tempo em que Jesus deixa de estar fisicamente presente no mundo, mas em que a salvação de Deus continua a ser oferecida ao mundo através da comunidade dos discípulos de Jesus. Revestidos de Jesus, animados pelo mesmo Espírito que animava Jesus, os discípulos têm como missão continuar a obra que Jesus tinha começado. Eles são agora – com o seu testemunho, com o seu anúncio, com os seus gestos de cura e de libertação – o rosto visível do Deus salvador e libertador. O seu testemunho deve percorrer um “caminho” que vai de Jerusalém – no Antigo Testamento, o lugar onde devia manifestar-se definitivamente a salvação de Deus – até “aos confins da terra”, quer dizer, até Roma, o coração do mundo gentio. É precisamente esse o plano que Lucas desenvolve neste livro.
Na primeira parte do livro (cf. At 1,12-8,3), Lucas centra o seu olhar na comunidade cristã de Jerusalém. Depois da vinda do Espírito Santo (cf. At 2,1-13), os discípulos de Jesus decidiram assumir o risco de dar testemunho de Jesus e do seu projeto; deixaram a segurança da casa onde se escondiam, com medo das autoridades judaicas e começaram a dar falar de Jesus por toda a cidade. Esse testemunho era, no entanto, dado em condições de extrema dificuldade, por causa da oposição das autoridades judaicas.
A certa altura as autoridades religiosas judaicas, inquietas com a popularidade que os apóstolos estavam a alcançar, prenderam-nos (cf. At 5,17-18); contudo, uma intervenção de Deus libertou-os da prisão. Sem se deixarem intimidar, no dia seguinte eles estavam de novo no Templo a dar testemunho de Jesus (At 5,19-21). Os guardas do Templo, enviados pelo sumo sacerdote, trouxeram novamente os apóstolos à presença do Sinédrio (cf. At 5,22-26). Constituído por 71 membros, incluindo o sumo sacerdote, o Sinédrio era o Conselho supremo judaico, que tinha como função administrar a justiça, interpretando e aplicando a Torá, a Lei de Deus. É neste cenário que a primeira leitura neste terceiro domingo do tempo pascal nos situa. in Dehonianos.
INTERPELAÇÕES
- A morte de Jesus não foi um acidente infeliz, o resultado de uma circunstância fortuita; mas foi a conclusão de um longo processo de rejeição de um projeto que punha em causa os interesses egoístas dos senhores do mundo. Jesus sempre soube que o caminho que estava a percorrer conduzia à cruz; mas quis percorrê-lo até ao fim, pois estava consciente de que a proposta de Deus – de um mundo mais justo, mais humano, mais fraterno – tinha de ser apresentada aos homens, custasse o que custasse. Jesus foi condenado à morte porque nos seus olhos, nas suas palavras, nos seus gestos, no seu coração brilhava a verdade, a verdade de Deus, uma verdade que desmascarava a mentira em que os homens queriam viver. Entretanto, passaram-se vinte séculos, mas o cenário é o mesmo: a proposta libertadora de Jesus continua a ser rejeitada e combatida por aqueles que preferem viver na mentira. Os discípulos de Jesus, chamados a dar testemunho do Reino de Deus, não devem ficar surpreendidos nem inquietos com isso. Devem, com a força de Jesus, continuar a questionar e a pôr em causa tudo aquilo que gera opressão, sofrimento, escravidão e morte. Com a mesma frontalidade, com a mesma verdade, com a mesma confiança no Pai que Jesus tinha. Nós, os que optamos por seguir Jesus, estamos dispostos a isso?
- Na leitura do livro dos Atos dos Apóstolos que a liturgia deste dia nos propõe, Pedro formula uma máxima que os discípulos de Jesus devem ter sempre presente, ao longo do seu caminho pela história: “deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens”. Obedecer antes a Deus do que aos homens é a atitude de quem coloca Deus em primeiro lugar e decidiu construir toda a sua vida a partir de Deus. Depois dessa decisão fundamental, o crente está capacitado para enfrentar o medo, a mentira, as pressões, as intimidações, as promessas ilusórias, as tentações de todo o tipo… Sem se impressionar, mantém-se íntegro e fiel, conduzindo a sua vida à luz dos valores de Deus, mesmo que isso implique incompreensões ou perseguições. Sabe o que quer e nada o pode abalar. Já tomamos esta decisão de dar prioridade aos valores de Deus, de deixar-nos conduzir por Deus? Esforçamo-nos por discernir a voz de Deus no meio de tantas vozes que continuamente criam ruído de fundo à nossa volta e procuram seduzir-nos? Como reagimos diante de leis ou de ordens injustas ou moralmente inaceitáveis?
- Em contexto difícil, os primeiros cristãos ousaram enfrentar todas as proibições e dar testemunho de Jesus. Consideraram que tudo o que Jesus tinha proposto era demasiado belo para cair no esquecimento. A proposta de Jesus tinha de ecoar no mundo e de chegar ao coração de todos os homens e mulheres. Nós, gente do séc. XXI, temos nas nossas mãos o mesmo tesouro que os nossos irmãos da comunidade cristã de Jerusalém entenderam partilhar com os seus concidadãos. Poderemos, por comodismo, por respeito humano, por medo, ou por outra qualquer razão, ocultá-lo dos nossos contemporâneos? Somos testemunhas de Jesus ressuscitado em todos os lugares onde a vida nos leva? in Dehonianos.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)
Refrão 1: Eu vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.
Refrão 2: Aleluia.
Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer à cova.
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.
LEITURA II – Apocalipse 5,11-14
Eu, João, na visão que tive,
ouvi a voz de muitos Anjos,
que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos.
Eram miríades de miríades e milhares de milhares,
que diziam em voz alta:
«Digno é o Cordeiro que foi imolado
de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força,
a honra, a glória e o louvor».
E ouvi todas as criaturas
que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar,
e o universo inteiro, exclamarem:
«Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro
o louvor e a honra, a glória e o poder
pelos séculos dos séculos».
Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»;
e os Anciãos prostraram-se em adoração.
CONTEXTO
O livro do Apocalipse é uma reflexão de um “profeta” chamado João, exilado numa pequena ilha do mar Mediterrâneo chamada Patmos por causa da sua fé. Numa altura em que o imperador Domiciano está a levar a cabo em todo o império romano uma feroz perseguição contra os cristãos, João procura animar os seus irmãos na fé. Usando uma linguagem cifrada, carregada de símbolos (que era percetível para os cristãos, mas não para os seus perseguidores), João garante aos seus irmãos perseguidos que, depois de todos os sofrimentos que a perseguição os obriga a enfrentar, a vitória final será de Deus e de todos aqueles que se mantiverem fiéis ao projeto de Deus.
O livro do Apocalipse divide-se em duas partes. Na primeira (cf. Ap 2,1-3,22), nas sete cartas às sete igrejas, temos uma mensagem que convida à revisão de vida e à conversão. Na segunda (cf. Ap 4-22), temos uma leitura profética da história: o autor vai apresentar a história humana numa perspetiva de esperança, demonstrando que é Deus quem conduz a história e quem terá a última palavra no destino dos homens. No final, não será Domiciano a triunfar sobre Deus; mas será Deus a triunfar sobre Domiciano e sobre todos aqueles que tentam frustrar os projetos de Deus. Sendo assim, os cristãos perseguidos podem manter a esperança.
O texto que nos é proposto como segunda leitura neste terceiro domingo do tempo pascal, integra a segunda parte do livro. Essa segunda parte começa como uma visão onde nos são apresentadas as personagens centrais que vão intervir na história humana: Deus e “o cordeiro”. Deus, omnipotente e majestoso, está sentado no seu trono, rodeado pelo Povo de Deus e por toda a criação (cf. Ap 4,1-11). O “cordeiro” está de pé e tem os sinais de ter sido imolado; detém a totalidade do poder (“sete cornos”) e do conhecimento (“sete olhos”). Trata-se, evidentemente, de Cristo crucificado e ressuscitado, o Senhor do universo, aquele que venceu a morte e o pecado. Na mão direita de Deus está um livro, “escrito nas duas faces” (isto é, tudo nele é eloquente) e selado com sete selos” (Ap 5,1): é, simbolicamente, o “livro” onde está descrito o desígnio de Deus acerca da humanidade (cf. Ap 5,1-4). Esse livro vai ser lido e o seu conteúdo vai ser revelado; mas não é qualquer um que o pode fazer. O único que é digno de ler esse livro – ou seja, que pode revelar, proclamar, concretizar o projeto divino de salvação – é “o Leão da tribo de Judá, o rebento da dinastia de David” (Ap 5,5), o Messias de Deus, o Cristo que venceu a morte, o “Cordeiro” de Deus. in Dehonianos.
INTERPELAÇÕES
- João, o profeta de Patmos, põe no centro desta “liturgia cósmica” que se celebra junto do trono de Deus, o “Cordeiro”, Cristo ressuscitado. Ele é o único que é capaz de tomar na sua mão o “livro” que contém o plano de Deus para o mundo e para os homens e de o revelar; Ele é o único que é capaz de dar resposta às nossas dúvidas, às nossas incertezas, às nossas inquietações, aos pequenos e grandes dramas que preenchem a nossa existência; Ele é o único que pode apontar-nos o caminho que conduz à vida definitiva; Ele é aquele que ilumina a história dos homens com a luz de Deus. O “Cordeiro” está no centro de tudo e é para Ele que se voltam os olhos e os corações de todos os seres criados. Que lugar é que esse “Cordeiro” tem nas nossas vidas? Vivemos e caminhamos de olhos fixos n’Ele? O “Cordeiro” é, de facto, a referência fundamental à volta da qual toda a nossa vida se constrói? Escutamos e acolhemos no coração as palavras que Ele diz e deixamo-nos conduzir por elas? Os gestos que Ele fazia quando andava connosco pelos caminhos do mundo dizem-nos o que devemos fazer? Amamos Deus e os nossos irmãos como Ele amava? Lutamos, como Ele lutou, para fazer nascer um mundo mais justo, mais humano, mais fraterno?
- João põe os anjos, o povo de Deus, todos os seres criados, a cantar o seu júbilo pela libertação que o “Cordeiro” – pela sua imolação, pela sua ressurreição, pela sua glorificação – lhes trouxe. O “Cordeiro” derrotou tudo aquilo que escraviza os seres criados, incluindo o pecado, a injustiça, a violência e a morte. No entanto, a natureza e a criação continuam a sofrer a opressão que resulta do egoísmo e da ambição dos homens; os países e os povos continuam a conhecer a escravidão que resulta da violência, da guerra, da fome, da corrupção; os mais pequenos e frágeis continuam a ser magoados pela injustiça, pela violência, pela maldade dos poderosos… O que precisamos de fazer, o que temos de transformar para que a libertação que o “Cordeiro” nos trouxe se torne efetiva, aqui e agora, e nos abra perspetivas de uma vida mais livre e mais feliz? Estamos disponíveis para seguir Jesus, o “Cordeiro”, no caminho que conduz à liberdade e à vida nova?
- É muito bela a imagem da criação inteira a entoar um cântico de júbilo e de ação de graças pela ação salvadora e libertadora de Deus, concretizada através do “Cordeiro”. Esse cântico é a resposta de quem constata tudo o que Deus faz e se sente profundamente agradecido. Nós que beneficiamos da ação libertadora e salvadora de Deus, lembramo-nos de lhe mostrar o nosso agradecimento? Procuramos, por exemplo, no “Dia do Senhor”, juntarmo-nos com a nossa comunidade cristã para participar na liturgia eucarística, para proclamar o nosso cântico de ação de graças pelas maravilhas de Deus? in Dehonianos.
EVANGELHO – João 21,1-19
Naquele tempo,
Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos,
junto do mar de Tiberíades.
Manifestou-Se deste modo:
Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo,
Natanael, que era de Caná da Galileia,
os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus.
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar».
Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo».
Saíram de casa e subiram para o barco,
mas naquela noite não apanharam nada.
Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem,
mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes Jesus:
«Rapazes, tendes alguma coisa de comer?»
Eles responderam: «Não».
Disse-lhes Jesus:
«Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis».
Eles lançaram a rede
e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.
O discípulo predileto de Jesus disse a Pedro:
«É o Senhor».
Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor,
vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar.
Os outros discípulos,
que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem,
vieram no barco, puxando a rede com os peixes.
Quando saltaram em terra,
viram brasas acesas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus:
«Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora».
Simão Pedro subiu ao barco
e puxou a rede para terra,
cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes;
e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comer».
Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe:
«Quem és Tu?»,
porque bem sabiam que era o Senhor.
Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho,
fazendo o mesmo com os peixes.
Esta foi a terceira vez
que Jesus Se manifestou aos seus discípulos,
depois de ter ressuscitado dos mortos.
Depois de comerem,
Jesus perguntou a Simão Pedro:
«Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros».
Voltou a perguntar-lhe segunda vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas».
Perguntou-lhe pela terceira vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Pedro entristeceu-se
por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava
e respondeu-Lhe:
«Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus:
«Apascenta as minhas ovelhas.
Em verdade, em verdade te digo:
Quando eras mais novo,
tu mesmo te cingias e andavas por onde querias;
mas quando fores mais velho,
estenderás a mão e outro te cingirá
e te levará para onde não queres».
Jesus disse isto para indicar o género de morte
com que Pedro havia de dar glória a Deus.
Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».
CONTEXTO
O capítulo 21 do Evangelho segundo João (de onde foi extraído o episódio que a liturgia deste terceiro domingo do tempo pascal nos propõe), apresenta significativas diferenças de linguagem, de estilo e até mesmo de teologia em relação aos vinte capítulos precedentes. Considera-se em geral que se trata de um apêndice acrescentado posteriormente, embora bastante cedo, pois aparece em todos os manuscritos mais antigos. A sua origem não é clara; no entanto, a existência de alguns traços tipicamente joânicos faz-nos pensar num complemento redigido por um membro da chamada “escola joânica”, criada em Éfeso à volta da figura do apóstolo João. O texto primitivo do Quarto Evangelho terminaria, provavelmente, com a conclusão de Jo 20,30-31.
A cena descrita é situada “junto do lago de Tiberíades”, também conhecido como Mar da Galileia. Não se explica como é que os discípulos de Jesus (que no final do capítulo 20 estavam em Jerusalém – cf. Jo 20,19-29) aparecem repentinamente na Galileia. A esta descontinuidade geográfica corresponde, no entanto, uma continuidade teológica: em Jo 20,19-29 Jesus ressuscitado tinha confiado aos discípulos uma missão (“assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós”); em Jo 21,1-14 os discípulos apresentam-se como comunidade em missão, atuando no cenário da vida quotidiana. Há indícios claros de que o episódio está carregado de simbolismo. Não se trata, com toda a certeza, de uma crónica factual de acontecimentos concretos, mas sim de uma catequese sobre a missão que a Igreja, após a partida de Jesus ao encontro do Pai, é chamada a concretizar no mundo. Reflete-se sobre a relação que essa “comunidade em missão” tem com Jesus, sobre o lugar de Jesus na atividade missionária da sua Igreja e também sobre as condições que é preciso assegurar para que a missão confiada aos discípulos dê frutos. in Dehonianos
INTERPELAÇÕES
- Esta “parábola” sobre um grupo de discípulos que se fartam de trabalhar sem conseguirem frutos que se vejam, faz-nos pensar naquilo que vemos todos os dias nessa Igreja que viaja pela história na barca de Pedro… Desenhamos organogramas complexos para dar conta da nossa “organização”, trabalhamos na preparação de elaborados planos pastorais, recorremos às tecnologias mais sofisticadas para apresentar a mensagem, lançamos mão de “truques” originais e sofisticados para captar a atenção das gentes, multiplicamos as nossas reuniões de programação, fazemos todo o tipo de cursos para adquirir as “ferramentas” que tornem mais eficaz a nossa intervenção no mundo, desenvolvemos um trabalho extenuante e nunca terminado… E, depois de todo esse esforço, os resultados ficam longe de todo o investimento feito: somos cada vez menos, as forças vão diminuindo, são sempre os mesmos a fazer as mesmíssimas coisas, cada dia há mais lugares vazios nas nossas celebrações, sentimo-nos confinados a um “nicho” que parece suscitar cada vez menos interesse nos nossos contemporâneos. Porquê? O que está a falhar? A mensagem de Jesus deixou de ter capacidade para interpelar os homens do séc. XXI?
- O autor do Quarto Evangelho diz-nos claramente que o nosso ativismo e todos os nossos esforços serão inúteis se Jesus não estiver presente. Se Jesus não for a luz que nos ilumina e nos conduz, cansar-nos-emos para nada e navegaremos na escuridão, sem conseguir discernir o caminho; se não escutarmos as indicações de Jesus, seguiremos as nossas visões pessoais, tantas vezes limitadas e rasteiras, que não nos levam a lado nenhum; se não dialogamos com Jesus para conhecer o projeto que Ele tem para nós e para o mundo, estaremos apenas a tentar passar a nossa mensagem, a nossa própria visão do mundo, a nossa leitura sempre falível da vida, da história, e até mesmo do próprio Deus; se não tivermos sempre diante dos olhos o Evangelho de Jesus, cairemos facilmente na armadilha das ideologias, dos interesses egoístas, dos preconceitos, dos programas “modernos” mas vazios de sentido… Ao longo da viagem que estamos a fazer na barca de Pedro, onde anda Jesus? Distraímo-nos e esquecemo-lo, ou mantemos constantemente o contacto com Ele? Escutamos as indicações que Ele nos dá, ou fazemos questão de ser nós a determinar a direção em que vamos?
- A missão é exigente e desgastante, o esforço enfraquece-nos. Os discípulos necessitam de se alimentar, de retemperar as forças. Jesus espera-os sempre na margem, prepara-lhes a mesa, convida-os a sentarem-se com Ele, mostra-lhes a sua solicitude, serve-lhes o pão eucarístico, o pão que alimenta para a vida eterna. O encontro com Jesus e com os irmãos à mesa da eucaristia é um acontecimento fundamental na vida e no caminho dos discípulos. O alimento que Jesus ressuscitado oferece aos seus sempre que eles se reúnem à volta da mesa da eucaristia, renova-lhes as forças. Alimentados pelo pão de Jesus, os discípulos podem voltar à faina e serem testemunhas, no meio dos homens, da salvação de Deus. Que lugar ocupa nas nossas vidas a eucaristia?
- Entre os discípulos há um – o “discípulo predileto” de Jesus – que é o primeiro a reconhecer a presença do Senhor. Só ele consegue ver, nos sinais de vitalidade que brotam da missão comunitária, a indicação de que Jesus está por ali, a tornar fecundo o trabalho de todos. Este discípulo convida-nos a ver, nos sinais de esperança e de vida nova que acontecem à nossa volta, a presença salvadora e vivificadora do Ressuscitado; ensina-nos a olhar para os gestos de amor, de partilha, de doação, de serviço como manifestações desse dinamismo de amor que derrotou a morte e que é fonte de vida e de esperança para o mundo e para os homens. Somos capazes de reconhecer em todos os gestos de amor e bondade que testemunhamos os sinais de que Jesus ressuscitado continua a renovar o mundo e as nossas vidas? Somos, também nós, testemunhas de Jesus ressuscitado, com os nossos gestos?
- Naquela maravilhosa conversa final entre Jesus e Pedro, fica bem clara uma ideia essencial: a vitalidade da fé não é um assunto de conhecimento de doutrina, de aceitação de dogmas, de rituais litúrgicos, de cumprimento das leis canónicas, mas sim de amor a Jesus. A pergunta que Jesus faz a Pedro (“tu amas-Me?”) é a questão mais decisiva a que um discípulo tem de responder. A fé cristã é, fundamentalmente, uma experiência de amor. Cremos realmente quando amamos Jesus, isto é, quando Jesus se vai convertendo no centro da nossa vida; e então passamos a escutá-lo, a viver ao seu estilo, a interessar-nos por aquilo que Ele quer, a construir toda a nossa existência à volta d’Ele. É então que a nossa vida se torna radicalmente outra. Confrontemo-nos, agora mesmo, com esta pergunta decisiva que Jesus nos dirige: “Tu amas-me?”
- É porque Pedro ama Jesus que está pronto para animar e presidir à comunidade. Quem ama Jesus, procede como Ele e põe-se ao serviço dos seus irmãos. Na comunidade cristã, o essencial não é a exibição da autoridade, mas o amor que se faz serviço humilde, ao estilo de Jesus. Durante muito tempo, na comunidade de Jesus, interessamo-nos mais por tronos, privilégios, dignidades, vestes sumptuosas, poder hierárquico, do que pelo amor, pelo serviço, pela misericórdia, pelo acolhimento dos mais pobres e dos mais débeis. Isso faz algum sentido? Uma Igreja que copia e reproduz o estilo dos grandes do mundo será uma Igreja que caminha fielmente atrás de Jesus? in Dehonianos.
Para os leitores:
I Leitura: (ver anexo)
II Leitura: (ver anexo)
ANEXOS:
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- Leitura I do Domingo III do Tempo Pascal – Ano C – 04.05.2025 (Atos 5, 27b-32.40b-41)
- Leitura II do Domingo III do Tempo Pascal – Ano C – 04.05.2024 (Apocalipse 5, 11-14)
- Domingo III do Tempo Pascal – Ano C – 04.05.2025 – Lecionário
- Domingo III do Tempo Pascal – Ano C – 04.05.2025 – Oração Universal
- Domingo III do Tempo Pascal – Ano C – 04.05.2025 – refletindo
- ANO C – Ano de Lucas- 2024-2025