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Liturgia da Palavra

Domingo V do Tempo Comum – Ano C – 09 fevereiro 2025

6Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, 7e eles fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a ponto de se irem afundando. 8*Ao ver isto, Simão caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.» 9Ele e todos os que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que tinham feito; o mesmo acontecera 10*a Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens.» 11E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus. Lc 5, 6-11

Viver a Palavra

São muitos os que acompanham Jesus e vêm ao Seu encontro e, com toda a certeza, levados pelas mais diversas motivações. A fama de Jesus facilmente se difundia mesmo na ausência das redes sociais e dos mais sofisticados meios de comunicação social. Ao longe e ao largo se iam difundindo os Seus milagres, as Suas palavras cheias de autoridade, o amor dito em gestos concretos que fazia de cada encontro um lugar transformador.

Muitos vão ao encontro de Jesus levados pela curiosidade, para ver, com os seus próprios olhos, os milagres e prodígios que realiza. Outros para escutar as palavras cheias de autoridade que saem dos Seus lábios. Muitos, com certeza, motivados pela esperança de serem curados das suas doenças e sofrimentos. Tantos outros, procurando um sentido para a Sua vida. São diferentes as motivações que fazem aquela multidão aglomerar-se em torno de Jesus. Contudo, hoje, somos nós, os que nos reunimos com Jesus. Dois mil anos depois, como as multidões de outrora, vamos ao Seu encontro. Mas, porque nos queremos encontrar com Jesus? Vamos ao Seu encontro levados pela curiosidade ou para acolher a Sua Palavra e nos deixarmos interpelar pelo Seu amor?

Aqueles que se encontram de verdade com Jesus e se deixam moldar pela Sua Palavra transformam de verdade as suas vidas: as noites mais sombrias e estéreis tornam-se manhãs luminosas e cheias da alegria abundante que nasce do encontro com Ele. Assim aconteceu com Pedro, que tendo andado na pesca toda à noite não tinha pescado nada. Porém, Jesus convida-o a lançar as redes: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Pedro, mesmo sabendo do insucesso daquela noite, ousa lançar as redes, acolhendo o desafio de Jesus e, assim, foi surpreendido pela abundância do peixe que parecia romper a rede. Na verdade, quando a nossa fragilidade e pequenez se abrem à misericórdia e à bondade de Deus, acolhendo os seus desafios, a nossa vida torna-se um lugar fecundo. O nosso pouco com Deus pode tornar-se muito, mas, ao invés, o nosso muito sem Deus serve para muito pouco. Por isso, Pedro, diante desta pesca abundante, sente-se indigno de estar na presença de Jesus: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Este sentimento de fragilidade, pequenez e indignidade está já presente na primeira leitura, quando Isaías contemplando a glória de Deus afirma: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros». Com Jesus, a nossa frágil humanidade não é um obstáculo à graça de Deus, mas o lugar privilegiado onde ela atua para manifestar a obra divina. Por isso, também Paulo, o Apóstolo das Gentes, apesar de sentir como «abortivo» e o menor dos apóstolos, afirma desassombradamente: «Pela graça de Deus sou aquilo que sou, e a graça que Ele me deu não foi inútil».    

Com Jesus aprendemos que o medo deve dar lugar à confiança – «Não temas!» – pois o maior milagre não é a pesca abundante, mas Jesus que não se deixa intimidar pelas nossas desilusões, fragilidades ou pecados e nos confia uma missão: «daqui em diante serás pescador de homens». O olhar que Jesus nos dirige vê para lá das aparências e debilidades e abre-nos a porta da esperança, porque, na semente lançada no nosso coração, Jesus consegue ver a árvore que pode nascer e florir com a Sua graça. in Voz Portucalense       

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No dia 11 de fevereiro, memória de Nossa Senhora de Lourdes, celebra-se o Dia Mundial do Doente. É já o XXXIII Dia Mundial do Doente. Este dia é uma oportunidade para as comunidades para uma celebração ou algum momento de convívio com os doentes da comunidade, ou qualquer outro gesto de proximidade com quantos se encontram numa situação de fragilidade. Inspirados nas palavras do Papa Francisco será importante sensibilizar os fiéis para uma renovada cultura do cuidado: «o primeiro cuidado de que necessitamos na doença é uma proximidade cheia de compaixão e ternura. Por isso, cuidar do doente significa, antes de mais nada, cuidar das suas relações, de todas as suas relações: com Deus, com os outros – familiares, amigos, profissionais de saúde –, com a criação, consigo mesmo». (da Mensagem do Papa Francisco para este dia – ver Mensagem em anexo)

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Já no Tempo Comum, continuamos um novo Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA I Isaías 6,1-2a.3-8

No ano em que morreu Ozias, rei de Judá,
vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime;
a fímbria do seu manto enchia o templo.
À sua volta estavam serafins de pé,
que tinham seis asas cada um
e clamavam alternadamente, dizendo:
«Santo, santo, santo é o Senhor do Universo.
A sua glória enche toda a terra!»
Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos
e o templo enchia-se de fumo.
Então exclamei:
«Ai de mim, que estou perdido,
porque sou um homem de lábios impuros,
moro no meio de um povo de lábios impuros
e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo».
Um dos serafins voou ao meu encontro,
tendo na mão um carvão ardente
que tirara do altar com uma tenaz.
Tocou-me com ele na boca e disse-me:
«Isto tocou os teus lábios:
desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa».
Ouvi então a voz do Senhor, que dizia:
«Quem enviarei? Quem irá por nós?»
Eu respondi:
«Eis-me aqui: podeis enviar-me».

CONTEXTO

O profeta Isaías (autor dos capts. 1-39 do Livro de Isaías) nasceu por volta do ano 760 a. C., no tempo do rei Ozias. De origem nobre, parece ter vivido em Jerusalém: demonstra uma cultura que dificilmente poderia ter conseguido fora do ambiente sofisticado da capital.

Isaías sentiu-se chamado por Deus à vocação profética quando tinha cerca de vinte anos (de acordo com Is 6,1, “no ano da morte do rei Ozias”, isto é, por volta de 740-739 a.C.). Sabemos também que casou e teve filhos.  Desconhecemos o nome da esposa, conhecida somente como “a profetiza” (Is 8,3). Quanto aos filhos, receberam nomes simbólicos: Sear Yasub (“um resto voltará” – Is 7,3) e Maher Salal Hash Baz (“toma despojos, apanha velozmente a presa” – Is 8,3). Neste pormenor, Isaías identifica-se com o profeta Oseias: toda a sua existência, inclusive no âmbito familiar, está ao serviço da mensagem que Deus lhe confia.

O carácter de Isaías pode conhecer-se suficientemente através da sua obra. É um homem decidido, sem falsa modéstia, que se oferece voluntariamente a Deus no momento do seu chamamento vocacional. Seguramente, faz parte dos notáveis do país: participa nas decisões relativas ao Reino, falando com autoridade aos altos funcionários (cf. Is 22,15) e mesmo aos reis (Is 7,10). É enérgico e nunca se deixa desanimar. É inimigo da anarquia (cf. Is 3,1-9); mas isso não significa que apoie as classes altas. Na verdade, os seus maiores ataques são dirigidos aos grupos dominantes: autoridades, juízes, latifundiários, políticos. É duro e irónico com as mulheres da classe alta de Jerusalém (cf. Is 3,16-24; 32,9-14). Defende com paixão os oprimidos, os órfãos, as viúvas (cf. Is 1,17), o povo explorado e desencaminhado pelos governantes (cf. Is 3,12-15).

Os últimos oráculos de Isaías são de 701 ou, talvez, de 689 a. C., alturas em que o rei assírio Senaquerib invadiu Judá e pôs cerco a Jerusalém. Isaías deve ter morrido poucos anos depois, embora não saibamos ao certo quando. Um apócrifo judeu do séc. I d. C. – “Ascensão de Isaías” – afirma que foi assassinado pelo rei ímpio Manassés.

O texto que a liturgia deste quinto domingo comum nos propõe como primeira leitura narra o momento em que Deus chama Isaías à vocação profética. O cenário é o templo de Jerusalém, construído por Salomão no séc. X a.C., o lugar onde Deus residia no meio do seu Povo e onde o Povo ia encontrar-se com Deus. No texto que nos é proposto, esse relato não está completo. Mas, de acordo com o relato original, essa experiência vocacional resume-se a quatro pontos: a consciência da santidade de Deus; a constatação de que a vida de Judá é marcada pelo pecado (pessoal e coletivo); o reconhecimento da necessidade de um castigo; e, no final de tudo, a afirmação da esperança na salvação de Deus. Estes quatro temas, unidos às tradições sobre Jerusalém e sobre a dinastia davídica, estarão sempre presentes na pregação do profeta Isaías. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • Deus, para concretizar o seu plano de salvação, conta com todos os seus filhos e filhas. Cada um de nós tem o seu lugar e o seu papel no projeto que Ele tem para o mundo e para os homens. É Deus que, de acordo com critérios que só Ele conhece e define, escolhe quem quer, chama quem quer e envia quem quer. A nossa “história de vocação” é a história de como Deus vem ao nosso encontro, entra na nossa vida, desafia-nos para a missão, pede uma resposta à proposta que nos faz. Temos consciência de que Deus nos chama, às vezes de formas bem banais, para o seu serviço? Estamos atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e através dos quais nos diz, a cada momento, o que quer de nós? Estamos disponíveis para responder com generosidade aos desafios que Deus nos lança, mesmo quando eles vão contra os nossos projetos pessoais ou contra os nossos interesses particulares?
  • O “chamamento” de Isaías acontece quando ele está no templo de Jerusalém, presumivelmente em oração. Os grandes “vocacionados” que a Bíblia nos apresenta são sempre pessoas que cultivam a intimidade com Deus e que buscam o diálogo com Deus. É nesse diálogo que se apercebem do projeto de Deus e do papel que Deus lhes reserva nesse projeto; é nesse diálogo que aprendem a escutar Deus e as propostas que Ele faz; é nesse diálogo que apresentam a Deus as suas inquietações, dúvidas e incertezas e descobrem as respostas e “soluções” de Deus para as questões que a vida traz… Os que “conversam” com Deus saem dessas “conversas” mais enamorados de Deus, mais conscientes do que Deus quer, mais preparados para aceitar a vontade de Deus e para lhe dizer “sim”. Procuramos aproximar-nos de Deus e cultivar a intimidade com Ele? No meio da agitação e das preocupações que enchem a nossa vida de todos os dias, arranjamos tempo para escutar Deus, para falar com Ele, para discernir os seus caminhos?
  • Isaías é um homem plenamente consciente dos seus limites, da sua debilidade e da sua indignidade. Descobre, no entanto, que Deus quer contar com ele, apesar de tudo isso. Deus, desde sempre, escolheu instrumentos frágeis e “improváveis” para intervir no mundo e para oferecer aos seus filhos a sua proposta de salvação. Aliás, é na fraqueza e na fragilidade que se manifestam a grandeza, a força e a santidade de Deus. Se Deus nos pede um serviço, dar-nos-á também a força para superarmos os nossos limites e para fazermos o que Ele nos pede. A consciência da nossa pequenez e fragilidade alguma vez nos impediu de aceitarmos a missão que Deus tinha para nós? Mais: alguma vez usamos o pretexto da nossa indignidade para permanecermos comodamente à margem das tarefas que Deus queria confiar-nos?
  • No relato da vocação de Isaías impressiona o facto de ele, ainda antes de saber em concreto a missão que Deus lhe ia confiar, se ter disponibilizado sem condições: “eis-me aqui, podeis enviar-me!”. A resposta que Isaías dá a Deus é a resposta de quem está disposto a arriscar tudo, a oferecer toda a sua vida para o serviço de Deus; é a resposta de quem dá tudo a Deus, sem cálculos nem condições; é a resposta de alguém para quem Deus é o centro e a prioridade máxima. É desta forma – total, absoluta, incondicional, “limpa” – que nós nos damos a Deus e nos disponibilizamos para o serviço de Deus? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 137 (138)

Refrão:  Na presença dos Anjos, eu Vos louvarei, Senhor.

 

De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças,
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos Vos hei de cantar
e Vos adorarei, voltado para o vosso templo santo.

Hei de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma.

Todos os reis da terra Vos hão de louvar, Senhor,
quando ouvirem as palavras da vossa boca.
Celebrarão os caminhos do Senhor,
porque é grande a glória do Senhor.

A vossa mão direita me salvará,
o Senhor completará o que em meu auxílio começou.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos.

 

LEITURA II 1 Coríntios 15,1-11

Recordo-vos, irmãos, o Evangelho
que vos anunciei e que recebestes,
no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos,
se o conservais como eu vo-lo anunciei;
aliás teríeis abraçado a fé em vão.
Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi:
Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras;
foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras,
e apareceu a Pedro e depois aos Doze.
Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez,
dos quais a maior parte ainda vive,
enquanto alguns já faleceram.
Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos.
Em último lugar, apareceu-me também a mim,
como o abortivo.
Porque eu sou o menor dos Apóstolos
e não sou digno de ser chamado Apóstolo,
por ter perseguido a Igreja de Deus.
Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou
e a graça que Ele me deu não foi inútil.
Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles,
não eu, mas a graça de Deus, que está comigo.
Por conseguinte, tanto eu como eles,
é assim que pregamos;
e foi assim que vós acreditastes.

 

CONTEXTO

Corinto, cidade cosmopolita situada na região do Peloponeso, era, no séc. I, um dos grandes expoentes da cultura grega. Paulo passou lá durante a sua segunda viagem missionária; do seu anúncio nasceu uma comunidade cristã viva e interessada, mas que mergulhava as suas raízes no terreno inquinado de uma cultura que estava distante da proposta cristã. Os valores culturais gregos – que os coríntios cultivavam com orgulho – vão constituir um contraponto aos valores do Evangelho que Paulo anunciava. O choque entre essas duas realidades está particularmente evidente em algumas das temáticas que Paulo julgou útil tratar na primeira carta aos coríntios, escrita em Éfeso durante a terceira viagem missionária do apóstolo.

Uma das questões que trazia algumas dificuldades aos cristãos de Corinto era a questão da ressurreição. A ressurreição dos mortos era relativamente bem aceite no judaísmo em geral (embora os saduceus, um grupo elitista constituído fundamentalmente por membros das famílias sacerdotais, não partilhassem dessa crença), habituado a ver o ser humano na sua unidade; mas constituía um problema sério para a mentalidade grega. A cultura grega, fortemente influenciada por filosofias dualistas (como a filosofia de Platão, por esta altura muito em voga) que viam no corpo uma realidade negativa e na alma uma realidade ideal e nobre, recusava-se a aceitar a ressurreição do homem integral. Como poderia o corpo – essa realidade material, carnal, sensual, que aprisionava a alma e a impedia de subir ao mundo ideal, ao mundo luminoso dos espíritos – seguir a alma?

Portanto, alguns cristãos de Corinto diziam que “não há ressurreição dos mortos” (1Cor 15,12). Outros faziam perguntas (“como ressuscitam os mortos?”; “com que corpo os mortos regressam à vida?”) que Paulo considera “insensatas” (cf. 1Cor 15,35). O apóstolo decide abordar esta questão para esclarecer uns e outros e ajudar todos os membros da comunidade a purificar a sua fé. in Dehonianos.

INTERPELAÇÕES

  • Para nós, cristãos, a ressurreição de Jesus não é apenas uma verdade que professamos quando dizemos o credo, mas é uma certeza que ilumina a nossa vida e imprime um sentido novo à história dos nossos dias. Nós, discípulos de Jesus, não vivemos da memória de um “morto” que a história conheceu, digeriu e arrumou na galeria das figuras notáveis cobertas pelo pó dos tempos, mas caminhamos atrás de alguém que está vivo, que continua a encontrar-se connosco, a caminhar ao nosso lado, a alimentar-nos com a sua Palavra e com o seu Pão, a apontar-nos o caminho que conduz à vida. Como é que sentimos a ressurreição de Jesus? Experimentamos a presença de Jesus, sentimos que o seu Espírito nos anima e conduz enquanto viajamos pela vida? O facto de Jesus ter vencido a morte muda a nossa perspetiva da vida?
  • A vitória de Jesus sobre a morte, a injustiça, a mentira, a maldade, traz à nossa vida um suplemento de coragem e de esperança. Garante-nos que não há morte para quem aceita fazer da sua vida uma luta pela justiça, pela verdade, pelo projeto de Deus. Fornece-nos as armas de que precisamos para vencer o medo e fortalece-nos na decisão de lutar pela instauração do Reino de Deus. Foi isso que os apóstolos perceberam quando se encontraram com Jesus ressuscitado. A certeza da ressurreição encoraja-nos a lutar, sem a paralisia que vem do medo, por um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano?
  • Paulo acredita que os seguidores de Jesus podem descobri-lo, vivo e ressuscitado, a partir da escuta da Palavra de Deus e do testemunho da comunidade cristã. Quando nos reunimos à volta da mesa da eucaristia, no “dia do Senhor”, com outros nossos irmãos na fé, sentimos que Jesus está vivo no meio de nós? A eucaristia é, para nós, um momento privilegiado de encontro com Jesus ressuscitado? in Dehonianos.

EVANGELHO Lucas 5,1-11

Naquele tempo,
estava a multidão aglomerada em volta de Jesus,
para ouvir a palavra de Deus.
Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré
e viu dois barcos estacionados no lago.
Os pescadores tinham deixado os barcos
e estavam a lavar as redes.
Jesus subiu para um barco, que era de Simão,
e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra.
Depois sentou-Se
e do barco pôs-Se a ensinar a multidão.
Quando acabou de falar, disse a Simão:
«Faz-te ao largo
e lançai as redes para a pesca».
Respondeu-Lhe Simão:
«Mestre, andámos na faina toda a noite
e não apanhámos nada.
Mas, já que o dizes, lançarei as redes».
Eles assim fizeram
e apanharam tão grande quantidade de peixes
que as redes começavam a romper-se.
Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco
para os virem ajudar;
eles vieram e encheram ambos os barcos
de tal modo que quase se afundavam.
Ao ver o sucedido,
Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe:
«Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador».
Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele
e de todos os seus companheiros,
por causa da pesca realizada.
Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu,
que eram companheiros de Simão.
Jesus disse a Simão:
«Não temas.
Daqui em diante serás pescador de homens».
Tendo conduzido os barcos para terra,
eles deixaram tudo e seguiram Jesus.

 

CONTEXTO

No início do Evangelho que a liturgia hoje nos apresenta, Jesus encontra-se nas margens do Mar da Galileia, rodeado por uma grande multidão que viera “para escutar a palavra de Deus” (Lc 5,1). Esse “mar” – também chamado “lago de Tiberíades” ou “lago de Kineret” – é um lago com cerca de 11 quilómetros de largura e 21 quilómetros de comprimento máximo. Era um lago de água doce, rico em peixe. Muitos dos que habitavam nas suas margens viviam da pesca. O rio Jordão era a principal fonte de alimentação desse lago.

Nas margens do Mar da Galileia situavam-se diversas cidades, como Tiberíades ou Cafarnaum. Cafarnaum era a cidade onde Pedro e o seu irmão André residiam. Era uma cidade estratégica, pois estava ao lado da “Via Maris” (“estrada do Mar”), uma importante via de comunicação que ligava o Egito à Síria e ao Líbano e que passava por Cesareia Marítima (o local onde residia habitualmente o prefeito romano da Judeia). Jesus, depois de ter estado algum tempo com João Batista no deserto de Judá, estabelecera-se em Cafarnaum.

De acordo com o esquema teológico de Lucas, Jesus tinha começado há pouco o seu ministério na Galileia (cf. Lc 4,14-15). Na sinagoga de Nazaré apresentara o seu “programa”: anunciar a “Boa Notícia” aos pobres, libertar os cativos, iluminar os caminhos de quem vivia na escuridão, proclamar a chegada de um tempo novo de graça e de paz (cf. Lc 4,16-21); e logo depois, na sinagoga de Cafarnaum deixara toda a gente maravilhada com o seu ensino e os seus gestos poderosos (cf. Lc 4,31-37).

Até agora, Jesus tinha estado sozinho na tarefa de anunciar o Reino de Deus. Na secção que começa neste capítulo e que vai até 6,16, Jesus começa a rodear-se de discípulos. Algumas pessoas respondem ao seu anúncio e aceitam colaborar com Jesus na missão que o Pai lhe confiou. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • O “barco de Simão Pedro”, de onde Jesus proclama a Boa Notícia do Reino de Deus, é uma bela e sugestiva imagem da comunidade cristã. Muitos homens e mulheres que estão “na margem” da vida e da história, olham para o “barco de Simão Pedro” e aguardam ansiosamente as palavras de Jesus. Não veem outra saída, não vislumbram outra esperança. A comunidade cristã é, neste agitado séc. XXI, o espaço privilegiado onde a voz de Jesus ecoa no mundo para consolar, para animar, para curar, para apontar caminhos, para dar vida? No meio do rugido das tempestades que o mundo enfrenta, fazemos tudo o que podemos para tornar percetível, para os nossos irmãos e irmãs que esperam “nas margens”, a voz de Jesus? As palavras que dizemos aos homens e mulheres que anseiam por uma vida mais humana, são as palavras de Jesus? O “barco de Simão Pedro” em que viajamos com Jesus está pintado com as cores da misericórdia, da solicitude, da compreensão, do acolhimento, do perdão, da bondade, da ternura de Deus? O “barco de Simão Pedro” cumpre o seu papel de levar a todos os homens e mulheres o testemunho de Jesus?
  • Olhemos agora para o interior do “barco de Simão Pedro”, onde viajamos nós, os que fazemos parte da comunidade de Jesus… O que andamos a fazer? Como trabalhamos? O nosso trabalho está a dar resultado? Quando desenhamos os nossos projetos pastorais e elaboramos os nossos organogramas paroquiais, temos em conta as orientações que Jesus nos oferece, ou fazemos as coisas de acordo com os nossos critérios pessoais e as nossas visões estreitas? Acolhemos as propostas de Jesus, mesmo quando elas nos parecem ilógicas, irracionais, pouco modernas, à luz da nossa compreensão das coisas ou dos valores rasteiros dos fazedores de opinião que ditam a moda? Gastamos mais tempo nas nossas reuniões de programação e nas nossas discussões estéreis, ou a escutar o Evangelho que Jesus nos propõe? Confiamos plenamente em Jesus e na sua Palavra?
  • Simão Pedro, depois de ver o extraordinário resultado da “pesca”, lançou-se aos pés de Jesus e chamou-lhe “Kyrios”, “Senhor”. Reconheceu em Jesus aquele que pode tudo, aquele que é capaz de dar sentido a tudo o que fazemos e vivemos. O “credo” de Simão Pedro mostra que ele decidiu confiar plenamente em Jesus e entregar toda a sua vida nas mãos de Jesus. Jesus tornou-se a sua referência, o seu “Senhor”, o centro à volta do qual Simão Pedro decidiu construir toda a sua existência, aquele em quem Simão Pedro decidiu apostar todas as fichas que tinha para jogar… Para nós, Jesus também é o “Kyrios”? Reconhecemos, de facto, que Jesus é o “Senhor” que preside à nossa história e à nossa vida? Ele é o centro à volta do qual articulamos a nossa existência e os nossos passos, ou deixamos que outros “senhores” nos manipulem e controlem?
  • Jesus convida Simão Pedro a tornar-se “pescador de homens”. O convite, no entanto, não será apenas para Simão Pedro; deve estender-se a todos aqueles que vão naquele barco. Simão Pedro e os seus companheiros têm como missão salvar todos os homens e mulheres que vivem mergulhados no desespero, no medo, na opressão, na morte. A missão a que Simão Pedro e os seus companheiros são chamados é a mesma de Jesus: curar as feridas, libertar das cadeias, iluminar o caminho dos que vivem nas trevas, levar vida e esperança a todos os homens e mulheres. Temos consciência de que esta é a nossa missão? Como a vivemos? Os homens e mulheres com quem nos cruzamos a cada instante descobrem, nas nossas palavras e nos nossos gestos, essa vida nova que Jesus veio oferecer a todos? Os homens e mulheres que a sociedade atira para “as margens” e abandona à sua sorte, os que vivem afogados na solidão, os que ninguém quer e ninguém ama, as vítimas de todas as guerras e de todas as opressões, encontram em nós o gesto fraterno que os tira do fundo do mar e que lhes devolve a esperança?
  • Aqueles pescadores do Mar da Galileia, depois de terem levado “os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus”. De repente, tudo aquilo em que tinham construído até ali tornou-se irrelevante diante de um projeto muito mais aliciante: colaborar com Jesus na libertação do mundo e dos homens. Deixaram tudo; passaram a viver para o Reino de Deus e foram atrás de Jesus. O seguimento de Jesus passou a ser a verdade fundamental das suas vidas. Como é o nosso seguimento de Jesus? A nossa entrega ao projeto de Jesus é total, ou parcial e calculada? Deixamos tudo na praia para seguir Jesus, porque o seu projeto se tornou a prioridade da nossa vida? in Dehonianos

 

Para os leitores:

A primeira leitura apresenta uma alternância entre as descrições da visão de Isaías e o discurso direto presente no texto. Por isso, o leitor deve ter um especial cuidado quer no tom empregue durante as descrições, quer no discurso direto que apresenta inclusive as aclamações dos Serafins.

A segunda leitura, tal como nos acostumamos no epistolário paulino, apresenta longas frases com diversas orações. Deste modo, a leitura requer uma boa preparação nas pausas a fazer, na articulação das diversas orações, para que a mensagem seja claramente compreendida.

I Leitura: (ver anexo)

II Leitura: (ver anexo)

 

ANEXOS:

Domingo IV do Tempo Comum – Ano C – 02 fevereiro 2025

Festa da Apresentação do Senhor

Viver a Palavra

Quarenta dias após o nascimento de Jesus, cumprindo as prescrições da Lei de Moisés (Ex 13,11-13), «Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor». Jesus, o Verbo feito carne, assume a nossa natureza humana, assumindo uma família concreta e um Povo concreto, cumprindo as tradições e prescrições determinadas pelo Deus de Israel. Como afirma a Carta aos Hebreus Ele «devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos, para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus, e assim expiar os pecados do povo».

Somos salvos e redimidos porque amados por um Deus que não é indiferente às nossas dores e sofrimentos. No meio das trevas e sombras da nossa frágil condição irrompe a Luz esplendorosa de Cristo. A Festa da Apresentação do Senhor reveste-se de alegria, luz e esperança porque Jesus Cristo venceu as trevas do pecado e nos ilumina com a esplendorosa luz do Seu amor e da Sua graça. A bênção e procissão das velas prevista no início da celebração deste dia recordam-nos que Jesus apresentado no templo por Maria e José se «exteriormente cumpria as prescrições da lei, na realidade vinha ao encontro do seu povo fiel».

Na verdade, esta festa na Igreja Oriental recebe o nome de Festa do Encontro (Hypapantê) sublinhando o encontro de Deus com o Seu Povo agradecido, mas também de Maria, José e Jesus com Simeão e Ana. Em Jesus Cristo, Deus encontra-se com o Seu Povo, estabelece uma proximidade absolutamente nova, pois, no Verbo de Deus Incarnado, a Terra e o Céu encontram-se e contemplamos na nossa humanidade o próprio Deus, tal como tinha profetizado Malaquias: «vou enviar o meu mensageiro, para preparar o caminho diante de Mim».

Conduzidos por S. Lucas a Jerusalém, contemplamos Simeão e Ana. Simeão, cujo nome significa «Escutador» e Ana, cujo nome significa «Graça». Simeão, «homem justo e piedoso», que movido pelo Espírito Santo vive a espera confiante do Messias e Ana, «filha de Fanuel, da tribo de Aser», que servia no Templo. Simeão e Ana são para nós duas figuras paradigmáticas da arte de acolher Jesus e de O comunicar aos outros com alegria e entusiasmo.

Acolhendo Jesus em seus braços, Simeão alegra-se e proclama um belíssimo hino de louvor porque os seus olhos puderam contemplar a salvação prometida a Israel. Como Simeão, também nós somos convidados a aprender a arte de acolher Jesus na nossa vida, nos nossos braços, porque Ele toca a nossa carne e a nossa existência. Jesus continua a vir ao nosso encontro de múltiplas formas e somos convidados a erguer o nosso olhar, a viver de braços abertos e coração disponível para acolher agradecidos o Deus que vem. A alegria do acolhimento de Jesus nas nossas vidas abre-nos à exigência do Seu seguimento: «este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações». Mas a exigência do caminho não nos faz desanimar! Caminhamos de lâmpadas acesas, porque o Verbo de Deus desfazendo as trevas e sombras passageiras da nossa existência nos conduz à Luz plena e verdadeira.

Deste modo, acolher Jesus na nossa vida como Simeão implica comunicá-Lo aos outros com a maravilha e o entusiasmo de Ana que «começou também a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém». A quantos esperam uma palavra de consolação e esperança, a quantos procuram um sentido novo para as suas vidas, nós somos chamados a anunciar Jesus Cristo, Luz que ilumina todos os Povos e fonte de Salvação para todo o género humano.in Voz Portucalense       

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O Papa São João Paulo II institui o Dia Mundial da Vida Consagrada na data em que a Igreja celebra a Festa da Apresentação do Senhor. Deste modo, no Domingo, dia 2 de fevereiro, a Igreja celebra o XXIV Dia Mundial da Vida Consagrada. Esta data é uma ocasião propícia para dar graças a Deus pelo dom da vida consagrada, mas também para rezar pelas vocações à vida consagrada. Deste modo, cada comunidade paroquial poderá assinalar este dia de diferentes modos: uma vigília de oração, um encontro com testemunhos dos diferentes carismas da vida consagrada, a visita a alguma comunidade religiosa, entre outros.

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Já no Tempo Comum, continuamos um novo Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA I Malaquias 3,1-4

Assim fala o Senhor Deus:
«Vou enviar o meu mensageiro,
para preparar o caminho diante de Mim.
Imediatamente entrará no seu templo
o Senhor a quem buscais,
o Anjo da Aliança por quem suspirais.
Ele aí vem – diz o Senhor do Universo –.
Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda,
quem resistirá quando Ele aparecer?
Ele é como o fogo do fundidor
e como a lixívia dos lavandeiros.
Sentar-Se-á para fundir e purificar:
purificará os filhos de Levi,
como se purifica o ouro e a prata,
e eles serão para o Senhor
os que apresentam a oblação segundo a justiça.
Então a oblação de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor,
como nos dias antigos, como nos anos de outrora.

 

CONTEXTO

O nome “Malaquias” não é um nome próprio. A palavra significa “o meu enviado”. É o título tomado por um profeta anónimo, sobre o qual praticamente nada sabemos e que se apresenta como “enviado” de Javé.

Esse profeta exerceu a sua missão em Jerusalém, no período pós-exílico. O Templo já havia sido reconstruído (cf. Ml 1,10) e o culto já funcionava — ainda que mal (cf. Ml 1,7-9. 12-13). No entanto, o entusiasmo pela reconstrução estava apagado. Desanimado ao ver que as antigas promessas de Deus (veiculadas por Ezequiel e pelo Deutero-Isaías) não se tinham cumprido, o Povo tinha caído na apatia religiosa e na absoluta falta de confiança em Deus. Duvidava do amor de Deus, da sua justiça, do seu interesse por Judá. Todo este ceticismo tinha repercussões no culto (cada vez mais desleixado) e na ética (multiplicavam-se as falhas, as injustiças, as arbitrariedades). Este quadro, posterior à restauração do Templo, situa-nos na primeira metade do séc. V a.C. (entre 480 e 450 a.C.), muito próximo da época de Esdras e Neemias.

Malaquias, o “mensageiro de Javé” reage vigorosamente contra a situação em que o Povo de Judá está a cair. Defende intransigentemente os valores judaicos, a fé dos antepassados; aponta o dedo aos sacerdotes, aos levitas e a outros responsáveis pelo culto, denunciando o seu desleixo e venalidade; profetiza a chegada do tempo em que se oferecerá a Deus um culto puro e santo; coloca cada pessoa diante das suas responsabilidades para com Javé e para com o próximo; exige a conversão do Povo e o afastamento da idolatria; condena veementemente os casamentos mistos (entre judeus e não judeus), que fazem perigar a fidelidade a Javé. A sua lógica é a lógica deuteronomista: se o Povo se obstinar em percorrer caminhos de infidelidade à Aliança, voltará a conhecer a morte e a infelicidade, como aconteceu num passado recente; mas se o Povo se voltar para Javé e cumprir os mandamentos, voltará a gozar da vida e da felicidade que Deus oferece àqueles que seguem os seus caminhos.

O texto de Malaquias que hoje nos é oferecido faz parte de uma perícope que avisa os habitantes de Jerusalém para a inevitabilidade do juízo de Deus: vai chegar o “Dia do Senhor”, esse momento decisivo em que Deus colocará cada pessoa diante das suas responsabilidades e retribuirá a cada um conforme os seus merecimentos (cf. Ml 2,17-3,5).in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • Na Festa da Apresentação do Senhor, Malaquias “apresenta” o Senhor que vem para purificar o seu Povo e inaugurar um tempo novo, o tempo da nova Aliança. Esta “vinda” mostra que Deus não se conforma com a apatia, o imobilismo, o comodismo, a instalação, o derrotismo que nos impedem de avançar em direção à vida plena; mostra como Deus nunca desiste de nos desafiar à conversão, à renovação, à construção de uma vida mais feliz e realizada. Malaquias compara a intervenção purificadora de Deus com o “fogo do fundidor”, que destrói as escórias e faz aparecer os metais preciosos, ou com a “lixívia dos lavandeiros” que queima, desinfeta, tira as nódoas, purifica e deixa as roupas limpas. Quais são as escórias e os lixos que cobrem a nossa vida e obscurecem a nossa condição de filhos e de filhas de Deus? Quais são as manchas que temos de limpar com lixívia para que a nossa vida brilhe sempre com a brancura de Deus? Estamos disponíveis para acolher as interpelações e desafios purificadores que Deus nos traz?
  • Podemos entender a referência que Malaquias faz à purificação dos “filhos de Levi”, a fim de que eles apresentem a Deus um culto renovado e purificado, como um convite à purificação da nossa forma de viver e de celebrar a fé. Muitas vezes “dizemos” a nossa fé com um conjunto de ritos religiosos meramente exteriores, ocos e vazios, secos e estéreis, que não envolvem o nosso coração e a nossa mente; muitas vezes a nossa forma de viver a fé é uma simples repetição de práticas religiosas tradicionais, de orações decoradas e descoradas, que não expressam o nosso amor e a nossa comunhão com Deus; muitas vezes as nossas celebrações, cheias de pompa e circunstância, são apenas o cumprimento de um folclore religioso que a tradição consagrou… Como podemos purificar a nossa forma de viver e de celebrar a fé? O que teremos de fazer para que as nossas celebrações sejam mais autênticas? As nossas eucaristias são um verdadeiro encontro com Jesus e com os irmãos com quem partilhamos a fé? Depois de celebrar a eucaristia voltamos para a nossa vida transformados, menos egoístas e mais comprometidos com a construção do Reino de Deus?
  • A profecia de Malaquias concretiza-se plenamente quando Jesus entrou na nossa história e se apresentou no meio de nós. Ela fornece-nos uma chave de leitura para entendermos Jesus, o seu mistério, as suas palavras, os seus gestos, o seu projeto. Como acolhemos e concretizamos o convite à purificação, à conversão (“convertei-vos e acreditai”) que Jesus veio deixar-nos? O que valem para nós os apelos que Jesus nos lançou para vivermos desprendidos dos bens, para servirmos de forma simples e humilde os irmãos que precisam de nós, para nos libertarmos do nosso egoísmo, da nossa vaidade e das nossas manias de grandeza? Qual o peso que tem na nossa forma de viver a lição da cruz, da entrega total ao serviço do projeto de Deus, do dom total de si próprio por amor? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 23 (24), 7.8.9.10 (R. 10b)

Refrão: O Senhor do Universo é o Rei da glória.

Levantai, ó portas, os vossos umbrais,
alteai-vos, pórticos antigos,
e entrará o Rei da glória.

Quem é esse Rei da glória?
O Senhor forte e poderoso,
o Senhor poderoso nas batalhas.

Levantai, ó portas, os vossos umbrais,
alteai-vos, pórticos antigos,
e entrará o Rei da glória.

Quem é esse Rei da glória?
O Senhor dos Exércitos,
é Ele o Rei da glória.

 

LEITURA II Hebreus 2,14-18

Uma vez que os filhos dos homens
têm o mesmo sangue e a mesma carne,
também Jesus participou igualmente da mesma natureza,
para destruir, pela sua morte,
aquele que tinha poder sobre a morte, isto é, o diabo,
e libertar aqueles que estavam a vida inteira
sujeitos à servidão,
pelo temor da morte.
Porque Ele não veio em auxílio dos Anjos,
mas dos descendentes de Abraão.
Por isso devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos,
para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel
no serviço de Deus,
e assim expiar os pecados do povo.
De facto, porque Ele próprio foi provado pelo sofrimento,
pode socorrer aqueles que sofrem provação.

CONTEXTO

O escrito a que chamamos “Carta aos Hebreus” parece ser, mais do que uma carta, um sermão ou discurso destinado a ser proclamado oralmente. Não sabemos quem foi o seu autor. A tradição das Igrejas do oriente atribui-o a Paulo; mas as Igrejas do ocidente há muito que descartaram a autoria paulina deste documento: a forma literária, a linguagem, o estilo, a maneira de citar o Antigo Testamento e mesmo a doutrina exposta estão bastante longe de qualquer outro escrito paulino. Pensa-se que teria sido elaborado por um cristão anónimo – talvez um discípulo de Paulo – que, no entanto, conhecia muito bem o Antigo Testamento.

A tradição antiga põe os “hebreus” como destinatários deste escrito; porém, não há qualquer indicação, ao longo do escrito, de que o texto se destinasse especificamente a cristãos oriundos do mundo judaico. É verdade que refere constantemente o Antigo Testamento; mas o Antigo Testamento já era, à data em que a Carta aos Hebreus apareceu, património comum de todos os cristãos, seja os de origem judaica, seja os de origem pagã. Tratava-se, em qualquer caso, de comunidades cristãs em situação difícil, expostas a perseguições e que viviam num ambiente hostil à fé… Os membros dessas comunidades perderam já o fervor inicial pelo Evangelho, deixaram-se contaminar pelo desânimo e começam a ceder à sedução de certas doutrinas não muito coerentes com a fé recebida dos apóstolos… O objetivo do autor deste “discurso” é estimular a vivência do compromisso cristão e levar os crentes a crescer na fé.  Teria sido elaborado nos anos que antecederam a destruição da cidade de Jerusalém (que ocorreu no ano 70), uma vez que o autor se refere à liturgia do Templo como uma realidade ainda atual. É provável, portanto, que tenha aparecido por volta do ano 67, muito perto da altura em que Paulo e Pedro foram martirizados em Roma.

A Carta aos Hebreus apresenta – recorrendo à linguagem da teologia judaica – o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência – através de quem os homens têm acesso livre a Deus e são inseridos na comunhão real e definitiva com Deus. O autor aproveita, na sequência, para refletir nas implicações desse facto: postos em relação com o Pai por Cristo/sacerdote, os crentes são inseridos nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã e devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor. Desta forma, o autor oferece aos cristãos um aprofundamento e uma ampliação da fé primitiva, capaz de revitalizar a sua experiência de fé, enfraquecida pela acomodação e pela perseguição.

O texto que nos é proposto, pertence à primeira parte da carta (Heb 1,5-2,18). Aí, o autor apresenta o mistério de Cristo, o Filho de Deus que é muito superior aos anjos e que o Pai enviou ao mundo para que apresentasse aos homens uma proposta de vida e de salvação. Nesta secção, o autor da carta reflete sobre o “kerigma” tradicional cristão:  Deus glorificou o seu Filho Jesus, ressuscitando-O de entre os mortos, depois de Ele ter assumido a sorte dos homens e de se ter identificado com eles até ao extremo da morte na cruz. Mais especificamente, na perícope de Heb 2,10-18, o “catequista” procura explicar porque é que o plano do Pai previa que Jesus tivesse de passar pela cruz, aparecendo como um homem sofredor e aniquilado, despido das suas prerrogativas divinas. Na perspetiva do autor do texto, a morte de Cristo não foi um absurdo, um capricho, um acidente; mas foi algo que se insere e que se explica no contexto do plano salvador de Deus. in Dehonianos.

INTERPELAÇÕES

  • Esta história de um Deus que aceitou cancelar as suas prerrogativas divinas para vir ao nosso encontro, assumir as nossas fragilidades e limitações, enfrentar a nossa insensatez e o nosso egoísmo, entregar a sua própria vida para que nós descobríssemos a verdadeira vida, é uma história quase incompreensível para quem a tenta ler à luz dos nossos critérios e da nossa lógica humana; mas é uma história que ilustra, sem deixar margem para dúvidas, a intensidade e a radicalidade do amor de Deus por nós. Na Festa da Apresentação do Senhor somos convidados a olhar para esse “Senhor” que se apresenta na nossa história “armado” de um desígnio de amor, para nos abrir as portas da família de Deus e da vida em plenitude. Como é que esta realidade influi na nossa vida? É fonte de alegria, de esperança, de coragem? Como é que respondemos à iniciativa de Deus? Tentamos ser testemunhas, no meio dos nossos irmãos, desse Deus que nos ama de uma forma tão absoluta e tão comprometida?
  • Porque é que Jesus teve de passar pela cruz? Porque quis enfrentar os mecanismos de maldade, de injustiça, de violência e de morte que destruíam a vida dos seus irmãos; porque quis mostrar-nos que a vida deve ser vivida em registo de dom total, de amor até ao extremo; porque quis olhar a morte de frente e derrotá-la para que nós nunca mais tivéssemos medo dela; porque quis selar com a sua morte trágica a sua entrega ao projeto de Deus e o seu amor aos homens. Dando a vida, Cristo “expiou” os nossos pecados: agiu sobre nós no sentido de transformar a nossa condição débil e pecadora e de nos levar a viver uma vida plenamente transformada. Como vemos a morte de Cristo? Que efeitos tem ela em nós? A contemplação da entrega de Cristo leva-nos a viver num dinamismo de amor e de vida nova? A vitória de Jesus sobre a morte liberta-nos do medo e leva-nos a olhar para a vida com mais confiança?
  • Jesus experimentou a nossa fragilidade e os nossos limites; solidarizou-se com todos os homens e mulheres, independentemente do lugar que a sociedade lhes atribuía. Esteve especialmente do lado dos mais frágeis, dos mais pequenos, dos mais esquecidos. O seu exemplo convida-nos à solidariedade com os últimos, com os pobres, com os mais humildes, com aqueles que o mundo rejeita e marginaliza; convida-nos a identificarmo-nos com os sofrimentos e as angústias, as alegrias e as esperanças de cada homem ou mulher; convida-nos a fazer o que estiver ao nosso alcance para promover aqueles que são humilhados, explorados, incompreendidos, colocados à margem da vida e da história. Sentimo-nos solidários com os irmãos e as irmãs que fazem caminho connosco, especialmente com aqueles dos quais ninguém cuida, que ninguém quer, que ninguém defende? Sentimos que as dores e feridas que fazem sofrer os nossos irmãos também são nossas? in Dehonianos.

EVANGELHO Lucas 2,22-40

Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés,
Maria e José levaram Jesus a Jerusalém,
para O apresentarem ao Senhor,
como está escrito na Lei do Senhor:
«Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor»,
e para oferecerem em sacrifício
um par de rolas ou duas pombinhas,
como se diz na Lei do Senhor.
Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão,
homem justo e piedoso,
que esperava a consolação de Israel;
e o Espírito Santo estava nele.
O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria
antes de ver o Messias do Senhor;
e veio ao templo, movido pelo Espírito.
Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino,
para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito,
Simeão recebeu-O em seus braços
e bendisse a Deus, exclamando:
«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra,
deixareis ir em paz o vosso servo,
porque os meus olhos viram a vossa salvação,
que pusestes ao alcance de todos os povos:
luz para se revelar às nações
e glória de Israel, vosso povo».
O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados
com o que d’Ele se dizia.
Simeão abençoou-os
e disse a Maria, sua Mãe:
«Este Menino foi estabelecido
para que muitos caiam ou se levantem em Israel
e para ser sinal de contradição;
– e uma espada trespassará a tua alma –
assim se revelarão os pensamentos de todos os corações».
Havia também uma profetisa,
Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser.
Era de idade muito avançada
e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela
e viúva até aos oitenta e quatro.
Não se afastava do templo,
servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações.
Estando presente na mesma ocasião,
começou também a louvar a Deus
e a falar acerca do Menino
a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor,
voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré.
Entretanto, o Menino crescia,
tornava-Se robusto e enchia-Se de sabedoria.
E a graça de Deus estava com Ele.

CONTEXTO

O interesse fundamental dos primeiros cristãos não se centrou na infância de Jesus, mas na sua mensagem e proposta; por isso, a catequese cristã dos primeiros tempos interessou-se, de forma especial, por conservar as memórias da vida pública e da paixão do Senhor.

Só num estádio posterior houve uma certa curiosidade acerca dos primeiros anos da vida de Jesus. Coligiram-se, então, algumas informações históricas sobre a infância de Jesus; e esse material foi, depois, amassado e trabalhado, de forma a transmitir aquilo que a catequese primitiva ensinava sobre Jesus e o seu mistério. O chamado “Evangelho da Infância” (de que faz parte o texto que nos é hoje proposto) assenta nessa base; parte de algumas indicações históricas e desenvolve uma reflexão teológica para explicar quem é Jesus. Nesta secção do Evangelho, Lucas está muito mais interessado em dizer quem é Jesus, do que em contar-nos factos memoráveis da sua infância.

Lucas propõe-nos, no Evangelho que a liturgia desta festa nos propõe, o quadro da apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém. Segundo a Lei de Moisés, todos os primogénitos (tanto dos homens como dos animais) pertenciam a Javé e deviam ser oferecidos a Javé (cf. Ex 13,1-2.11-16). O costume de oferecer aos deuses os primogénitos é um costume cananeu que, no entanto, Israel transformou no que dizia respeito aos primogénitos humanos: estes não deviam ser oferecidos em sacrifício, mas resgatados por um animal, que seria imolado ao Senhor.

De acordo com Lv 12,6-8, quarenta dias após o nascimento de uma criança, esta devia ser apresentada no Templo, onde a mãe oferecia um ritual de purificação. Nessa cerimónia, devia ser oferecido um cordeiro de um ano (para as famílias mais abastadas) ou então duas pombas ou duas rolas (para as famílias de menores recursos).

A cena desenrola-se no Templo de Jerusalém. Construído por Salomão, no séc. X a.C., o Templo tinha sido destruído no ano 586 a.C., quando os babilónios conquistaram Jerusalém e levaram a população da cidade para o Exílio. Reconstruído depois do Exílio, por ação de Zorobabel, em moldes bastante modestos, o Templo era, para os judeus, o grande centro religioso do judaísmo, o lugar onde Deus residia no meio do seu Povo. No séc. I a.C. Herodes, para agradar aos judeus, propôs-se restaurá-lo. As obras começaram no ano 19 a.C. e continuaram por largos anos. O Templo dessa época – da época de Jesus – acabaria por ser destruído no ano 70, quando as tropas romanas comandadas por Tito sitiaram e destruíram Jerusalém. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • Não é raro, no meio de tantas vicissitudes que marcam este século em que nos tocou viver, que nos sintamos desorientados e à deriva, como se a história do mundo e dos homens nos escapasse das mãos e não soubéssemos bem para onde devemos dirigir os nossos passos. Quem nos mostrará o terreno firme onde poderemos sentir-nos seguros? Quem nos guiará na viagem atribulada da história e da vida? Na Festa da “Apresentação do Senhor”, Jesus é-nos apresentado como “a salvação colocada ao alcance de todos os povos”, a “luz para se revelar às nações e a glória de Israel”, o messias com uma proposta de libertação para todos os homens. Que eco é que esta “apresentação” de Jesus encontra no nosso coração? Jesus é, de facto, a luz que ilumina as nossas vidas e que nos conduz nos caminhos do mundo? Ele é, para nós, o caminho certo e inquestionável para a salvação, para a vida verdadeira e plena? É nele que colocamos a nossa ânsia de libertação e de vida nova? Caminhamos atrás dele, certos de que o caminho que Ele propõe conduz à vida plena? Se tantos homens ignoram a “luz” libertadora que Jesus veio acender ou não se sentem interpelados pelo projeto de Jesus, a culpa não será, um pouco, do nosso imobilismo, da nossa instalação, do nosso “cinzentismo” na vivência da fé, da forma pouco entusiasta como damos testemunho?
  • Simeão e Ana, os dois anciãos que acolhem Jesus no Templo de Jerusalém, são pessoas atentas ao Deus libertador que vem ao seu encontro e que sabem ler os sinais de Deus naquele menino que chega. Não vivem centrados em futilidades, não “gastam o tempo” de vida que ainda têm em atividades inconsequentes, não aceitam viver instalados numa reforma dourado que os afasta do mundo e os dispensa de colaborar no projeto de Deus para o mundo e para os homens. Atentos à voz do Espírito, vivendo em diálogo contínuo com Deus, detetam a chegada de Deus e testemunham diante dos seus conterrâneos a presença salvadora e redentora de Deus no meio do seu Povo. São pessoas que cultivam a intimidade com Deus, que escutam Deus, que se esforçam por perceber as indicações de Deus e que são sinais vivos de Deus na vida daqueles que se cruzam com eles. Sabem que, enquanto caminharem na terra, são chamados a dar testemunho de Deus e do seu projeto salvador. Através deles a luz de Deus brilha no mundo e ilumina o mundo. É assim que nós vivemos também? Procuramos entender os sinais de Deus e sermos testemunhas ativas, no meio do mundo, de Deus e do seu projeto de salvação?
  • Quer Simeão, quer a profetiza Ana, são pessoas de bastante idade. Mas não vivem de recordações, voltados para o passado, a carpir mágoas porque se sentem velhos e fragilizados. Têm memória das antigas promessas de Deus; mas vivem de olhos postos no presente, preocupados em ver como no “hoje” da história dos homens Deus concretiza as suas promessas de salvação; e, quando descobrem a presença de Deus, proclamam-na com alegria e entusiasmo. Os anciãos – quer pela sua maturidade, sabedoria e equilíbrio, quer pelo tempo de que normalmente dispõem – podem ser testemunhas privilegiadas dos valores de Deus, intérpretes dos sinais de Deus, profetas credíveis que obrigam o mundo a confrontar-se com os desafios de Deus. É preciso que não vivam voltados para o passado, refugiados numa realidade que aliena, transformados em “estátuas de sal”, mas que vivam de olhos postos no futuro, de espírito aberto e livre, pondo a sua sabedoria e experiência ao serviço da comunidade humana e cristã, ensinando os mais jovens a distinguir entre o que é eterno e importante e o que é passageiro e acessório. Aqueles de entre nós a quem Deus concede a graça de uma vida longa, é assim que vivem? Comunicam alegria, otimismo, fé, esperança num futuro onde Deus está presente?
  • Lucas apresenta-nos neste episódio evangélico uma família – a Sagrada Família – em que Deus é a referência fundamental. Por quatro vezes (vers. 22.23.24.27), Lucas refere, a propósito da família de Jesus, o cumprimento da Lei de Moisés, da Lei do Senhor ou da Palavra do Senhor. A família de Jesus, Maria e José é, portanto, uma família que escuta a Palavra de Deus e que constrói a sua existência ao ritmo da Palavra de Deus e dos desafios de Deus. Maria e José sabiam que uma família que escuta a Palavra de Deus e que procura responder aos desafios postos por essa Palavra é uma família com um projeto de vida com sentido; e sabiam que uma família que se deixa guiar pela Palavra de Deus é uma família que se constrói sobre a rocha firme dos valores eternos. Que importância é que Deus assume na vida das nossas famílias? Procuramos que cada membro das nossas famílias cresça numa progressiva sensibilidade à Palavra de Deus e aos desafios de Deus? Encontramos tempo para reunir a família à volta da Palavra de Deus e para partilhar, em família, a Palavra de Deus?
  • Quando numa família Deus “conta”, os valores de Deus passam a ser, para todos os membros daquela comunidade familiar, as marcas que definem o sentido da existência. O espaço familiar torna-se, então, a escola onde se aprende o amor, a solidariedade, a partilha, o serviço, o diálogo, o respeito, o cuidado, o perdão, a fraternidade universal, o cuidado da criação, a atenção aos mais frágeis, o sentido do compromisso, do sacrifício, da entrega e da doação… São esses valores – os valores de Deus – que procuramos cultivar na nossa comunidade familiar?
  • Segundo a Lei judaica, todo o primogénito devia ser consagrado e dedicado ao Senhor. Também Jesus é apresentado no Templo e consagrado ao Senhor. Nas nossas famílias cristãs há normalmente uma legítima preocupação com o proporcionar a cada criança condições ótimas de vida, de educação, de acesso à instrução e aos cuidados essenciais…. Haverá sempre uma preocupação semelhante no que diz respeito à formação para a fé e em proporcionar aos filhos uma verdadeira educação para a vida cristã e para os valores de Jesus Cristo? Os pais cristãos preocupam-se sempre em proporcionar aos seus filhos um exemplo de coerência com os compromissos assumidos no dia do Batismo? Preocupam-se em ser os primeiros catequistas dos próprios filhos, transmitindo-lhes os valores do Evangelho? Preocupam-se em acompanhar e em potenciar a formação e a caminhada catequética dos próprios filhos, em inseri-los numa comunidade de fé, em integrá-los na família de Jesus, em consagrá-los ao serviço de Deus?
  • Depois daqueles momentos gloriosos no Templo de Jerusalém, o plano salvador de Deus “escondeu-se” naquela pobre casa de família, na aldeia de Nazaré, onde viviam Maria, José e Jesus. O projeto salvador de Deus concretiza-se muitas vezes longe das luzes da ribalta, na simplicidade das nossas vidas, das nossas famílias, das nossas casas, das nossas aldeias e cidades. Estamos conscientes disso? Somos capazes de ler os sinais e perceber o acontecer da salvação de Deus na nossa vida simples de todos os dias? in Dehonianos

 

Para os leitores:

A primeira leitura possui diferentes frases em discurso direto que devem ser introduzidas e proclamadas como tal. Pede-se especial cuidado com a proclamação da frase interrogativa que tendo apenas um ponto de interrogação possui duas orações interrogativas.

A segunda leitura possui frases muito longas e com diversas orações. Além disso, tendo em conta a densidade do texto proclamado deve ter-se atenção às pausas e respirações para uma melhor compreensão do texto.

 

ANEXOS:

Domingo III do Tempo Comum – Ano C – 26 janeiro 2025

Domingo da Palavra de Deus

NOTA:

            A comunidade, junta, celebra a sua Fé no Templo e, para uma comunidade diocesana, esse Templo é a Sé Catedral. Neste Domingo da Palavra da Deus, em que também se celebra o JUBILEU dos LEITORES, todos os leitores da comunidade da Vilar de Andorinho são convidados a ser comunidade alargada com todos os outros leitores da Diocese do Porto, às 16h00. Lá estaremos, todos juntos

 

Viver a Palavra

«Em virtude desta revelação, Deus invisível, na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele» (Dei Verbum, n. 2). Na verdade, sempre que lemos a Palavra de Deus, a escutamos em grupo ou em comunidade, é o próprio Deus que sendo eterno, omnipotente, omnisciente se aproxima de nós, acompanha-nos com a Sua solicitude paterna e nos fala como amigos. Como seria diferente a nossa vida cristã e a vida das nossas comunidades se tomássemos verdadeiramente consciência desta maravilha do amor de Deus, que tendo criado cada homem e cada mulher por amor, não abandona a obra das Suas mãos mas a acompanha com a Sua palavra e com os Seus gestos, pois a revelação que Deus faz de si próprio se opera por meio de palavras e gestos intimamente ligados entre si.

Por isso, cantámos no Salmo deste Domingo: «as vossas palavras, Senhor, são espírito e vida». Esta Palavra que escutámos é espírito e vida, pois é o anúncio da nossa salvação. Muito mais do que o modo como nós nos devemos comportar, a Palavra proclamada revela-nos o modo como Deus se relaciona connosco: Deus, todo-poderoso e eterno, envia ao mundo o Seu Filho Jesus, que na plenitude do Espírito Santo vem para «anunciar a boa nova aos pobres», «proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos», «restituir a liberdade aos oprimidos», «proclamar o ano da graça do Senhor».

Ao escutar a Liturgia da Palavra deste Domingo, somos convidados a pensar que lugar tem a Palavra de Deus na nossa vida e quanto tempo da nossa oração quotidiana dedicamos à leitura e meditação da Palavra de Deus. Como lemos no Livro de Neemias, a proclamação solene do Livro da Lei era escutada com toda a atenção e o encontro com a Palavra dirigida por Deus ao Seu Povo era fonte de alegria e de festa: «Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».

O encontro com Jesus, verdadeiramente presente na Palavra proclamada, gera em nós a alegria e transforma o nosso coração para fazer da nossa vida verdadeiro lugar de festa. Apesar de diferentes nos dons que possuímos, nas qualidades que desenvolvemos, nos ministérios e serviços que nos estão confiados, animados pela força do Espírito Santo e convocados pela Palavra do Mestre, somos chamados a edificar o único Corpo de Cristo. Como discípulos missionários, unidos na única missão da Igreja experimentamos a beleza da unidade na diversidade que é obra do Espírito Santo que como afirma o Papa Francisco é «Aquele grande Artista, Aquele grande Mestre da unidade nas diferenças».

Contudo, a escuta da Palavra deve colocar-nos de olhos postos em Jesus de Nazaré, Aquele que naquele Sábado, como era Seu costume, entrou na Sinagoga e se levantou para fazer a leitura. Enrolado o livro, abre-se na vida de Jesus de Nazaré plena e definitivamente a revelação do Pai. Revestido da força do Espírito Santo, Jesus anuncia o Seu programa de vida: anunciar a boa nova, proclamar a redenção, restituir a liberdade e proclamar o ano da graça do Senhor. Jesus vem ao encontro da humanidade pobre, prisioneira, cega e oprimida e não fica indiferente às nossas dores. Também nós, que pelo Batismo e Confirmação fomos revestidos da força do Espírito Santo somos chamados a encontrar no programa de vida de Jesus as coordenadas do nosso agir, para que no hoje da nossa existência possa ecoar, através dos nossos gestos, a mais bela melodia do amor. in Voz Portucalense       

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Já no Tempo Comum, continuamos um novo Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA I Neemias 8,2-4a.5-6.8-10

Naqueles dias,
o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei
perante a assembleia de homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Era o primeiro dia do sétimo mês.
Desde a aurora até ao meio dia,
fez a leitura do Livro,
no largo situado diante da Porta das Águas,
diante dos homens e mulheres
e todos os que eram capazes de compreender.
Todo o povo ouvia atentamente a leitura do Livro da Lei.
O escriba Esdras estava de pé
num estrado de madeira feito de propósito.
Estando assim em plano superior a todo o povo,
Esdras abriu o Livro à vista de todos;
e quando o abriu, todos se levantaram.
Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus,
e todos responderam, erguendo as mãos:
«Amen! Amen!».
E prostrando-se de rosto por terra, adoraram o Senhor.
Os levitas liam, clara e distintamente, o Livro da Lei de Deus
e explicavam o seu sentido,
de maneira que se pudesse compreender a leitura.
Então o governador Neemias,
o sacerdote e escriba Esdras,
bem como os levitas, que ensinavam o povo,
disseram a todo o povo:
«Hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus.
Não vos entristeçais nem choreis».
– Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei –.
Depois Neemias acrescentou:
«Ide para vossas casas,
comei uma boa refeição, tomai bebidas doces
e reparti com aqueles que não têm nada preparado.
Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor;
portanto, não vos entristeçais,
porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».

CONTEXTO

Inicialmente, os 13 capítulos que constituem o Livro de Neemias e os dez capítulos que constituem o livro de Esdras formavam uma unidade (estavam reunidos sob o título geral “Esdras”). Já na época cristã todo esse material apareceu dividido em duas partes: o livro de Esdras e o livro de Neemias. Não são claras as razões da divisão do livro inicial em dois textos autónomos.

Os livros de Esdras e de Neemias situam-nos em Jerusalém, na época pós-exílica. Referem-se a acontecimentos que vão desde o édito de Ciro, em 538 a.C. (o édito que autorizou o regresso a Jerusalém dos exilados judeus na Babilónia – cf. Esd 1,1-4), até inícios do séc. IV a.C (por volta de 400 a.C.). Os grandes temas abordados nestes livros são o regresso dos exilados, a reconstrução de Jerusalém e do Templo, a restauração da nação judaica após os anos dramáticos do Exílio.

Para os judeus que retornaram a Jerusalém, é uma época de miséria e desolação: Jerusalém está sem muralhas e sem portas; a pobreza de meios torna a reconstrução da cidade lenta e penosa; os inimigos de Judá espreitam e conspiram, procurando impedir o ressurgimento da nação judaica…

O sacerdote e escriba Esdras liderou um grupo de exilados (sacerdotes, levitas, porteiros, cantores) que, por volta de 457 a.C., retornaram a Jerusalém (cf. Esd 7-8). A missão de Esdras consistia prioritariamente em reorganizar a comunidade em volta do Templo e da Lei de Deus.

Neemias, por sua vez, era um alto funcionário judeu na corte de Susa, que veio para Jerusalém por volta do ano 445 a.C., autorizado pelo rei persa Artaxerxes (cf. Ne 1-7). O seu objetivo prioritário era a reconstrução das muralhas da cidade (cf. Ne 3-4). Tratou também de pôr cobro às injustiças cometidas pelos ricos contra os mais pobres (cf. Ne 5) e de restaurar o culto (cf. Ne 8-10).

É neste contexto de preocupação com a restauração do culto que podemos situar o trecho que nos é proposto como primeira leitura neste terceiro domingo comum.in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • No século V a.C., Neemias e Esdras sentiram que a escuta da Palavra de Deus poderia ajudar o povo de Judá a encarar a vida de uma forma mais comprometida, mais verdadeira, mais exigente, mais sã. Aquela comunidade com deficit de horizontes, de perspetivas e de esperança, precisava de se reencontrar com Deus e com os desafios de Deus para construir uma existência feliz e com sentido. Não estaremos hoje, em pleno séc. XXI, em circunstâncias análogas? A Palavra de Deus não poderia ajudar o homem contemporâneo a superar o desnorte, a falta de perspetivas, as contradições que pontuam o caminho que vamos percorrendo na história? Como é que os homens e mulheres do nosso tempo veem a Palavra de Deus: como algo anacrónico, desfasado da nossa realidade, ou como algo que pode orientar-nos no caminho que conduz à vida e à felicidade? O que poderemos fazer para que a Palavra de Deus seja hoje escutada e considerada?
  • No cenário preparado por Neemias e Esdras para o “reencontro” de Judá com a Palavra, percebe-se claramente a centralidade da Palavra de Deus na vida daquela comunidade de fé. O Povo de Deus constrói-se e articula-se à volta da Palavra de Deus; é uma comunidade que vive da escuta e do acolhimento da Palavra. Não é possível pertencer à comunidade de Deus se a Palavra de Deus não estiver no centro da nossa experiência de fé. Que lugar ocupa a Palavra de Deus na vida de cada um de nós? Que lugar tem a Palavra de Deus na vida das nossas comunidades cristãs? A Palavra é o centro à volta do qual tudo se articula? Encontramos espaço para ler, para refletir, para partilhar a Palavra? Sentimos necessidade de nos encontrarmos ao domingo, o “dia do Senhor”, para escutar e refletir comunitariamente a Palavra?
  • Nas nossas comunidades cristãs há pessoas que estão especialmente ao serviço da Palavra de Deus: leitores, salmistas, pregadores, catequistas, diáconos, presbíteros… Enquanto “servidores da Palavra”, eles têm uma responsabilidade especial. Por eles passa a obrigação de proclamar a Palavra de Deus de uma forma que todos a ouçam e que todos a compreendam. Se isso não acontecer, estarão a defraudar a Palavra de Deus e a comunidade que se dispõe a escutá-la. Aqueles a quem é confiada a missão de proclamar a Palavra, preparam convenientemente o ambiente e os meios que ajudam à escuta? Proclamam a Palavra clara e distintamente, sem gestos teatrais desnecessários? Refletem a Palavra e explicam-na de forma acessível, de forma que ela toque a assembleia que escuta? Têm a preocupação de adaptá-la à vida?
  • O Povo reunido por Neemias e Esdras para escutar a Palavra de Deus compareceu em massa e acolheu a proclamação da Palavra com respeito e interesse. Escutou, interiorizou e deixou-se questionar pela Palavra escutada. “Levou a sério” aquele encontro com a Palavra de Deus. Abraçou aquela oportunidade para se alimentar da Palavra de Deus. Nas nossas assembleias comunitárias, a Palavra é acolhida com veneração e respeito? Durante a proclamação da Palavra escutamo-la atentamente, ou aproveitamos aquele espaço para fazer as nossas devoções pessoais ou para “viajar” pelos nossos interesses e problemas?
  • Depois de escutar a proclamação da Palavra de Deus, os habitantes de Jerusalém choraram. Esse choro resultou da tristeza que sentiram ao perceberem que as suas vidas não estavam em consonância com as propostas de Deus. A constatação dos nossos limites e fragilidades é sempre o primeiro passo para a conversão. A escuta da Palavra de Deus deve levar-nos a mudar a nossa forma de pensar, de agir, de viver; deve questionar os valores que presidem à nossa vida e levar-nos a viver de forma mais coerente e consequente. É isso que acontece? A escuta da Palavra transforma a nossa forma de viver, ou deixa tudo como sempre foi? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 18 B (19)

Refrão: As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida.

 

A lei do Senhor É perfeita,
ela reconforta a alma;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.

Os preceitos do Senhor são retos
e alegram o coração;
os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos.

O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são retos.

Aceitai as palavras da minha boca
e os pensamentos do meu coração
estejam na vossa presença:
Vós, Senhor, sois o meu amparo e redentor.

 

LEITURA II 1 Coríntios 12,12-30

Irmãos:
Assim como o corpo é um só e tem muitos membros,
e todos os membros do corpo, apesar de numerosos,
constituem um só corpo,
assim sucede também em Cristo.
Na verdade, todos nós
– judeus e gregos, escravos e homens livres –
fomos batizados num só Espírito
para constituirmos um só corpo
e a todos nos foi dado a beber um só Espírito.
De facto, o corpo não é constituído por um só membro,
mas por muitos.
Se o pé dissesse:
«Uma vez que não sou mão, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
E se a orelha dissesse:
«Uma vez que não sou olho, não pertenço ao corpo»,
nem por isso deixaria de fazer parte do corpo.
Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o ouvido?
Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfato?
Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros,
segundo a sua vontade.
Se todo ele fosse um só membro, que seria do corpo?
Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo.
O olho não pode dizer à mão: «Não preciso de ti»;
nem a cabeça dizer aos pés: «Não preciso de vós».
Pelo contrário, os membros do corpo que parecem fracos
são os mais necessários;
os que nos parecem menos honrosos
cuidamo-los com maior consideração;
e os nossos membros menos decorosos
são tratados com maior decência:
os que são mais decorosos não precisam de tais cuidados.
Deus organizou o corpo,
dispensando maior consideração ao que dela precisa,
para que não haja divisão no corpo
e os membros tenham a mesma solicitude uns com os outros.
Deste modo, se um membro sofre,
todos os membros sofrem com ele;
se um membro é honrado,
todos os membros se alegram com ele.
Vós sois corpo de Cristo e seus membros,
cada um por sua parte.
Assim, Deus estabeleceu na Igreja
em primeiro lugar apóstolos,
em segundo lugar profetas, em terceiro doutores.
Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da assistência,
de governar, de falar diversas línguas.
Serão todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores?
Todos farão milagres? Todos terão o poder de curar?
Todos falarão línguas? Todos terão o dom de as interpretar?

CONTEXTO

A comunidade cristã de Corinto, nascida do trabalho missionário de Paulo entre o outono do ano 50 e a primavera do ano 52, era viva, interessada e fervorosa; mas conhecia diversos problemas que resultavam, em grande parte, do ambiente social e cultural que se respirava na cidade. Em Corinto podiam notar-se bem os problemas que a proposta cristã teve de enfrentar ao encontrar-se com uma cultura diversa, como era o caso da cultura helénica.

Um dos problemas que afetava a vida da comunidade resultava de uma conceção errada dos “carismas” e da forma como estes deviam ser encarados em contexto comunitário. Paulo aborda esta questão nos capítulos na primeira Carta aos Coríntios, entre 12,1 e 14,40.

A palavra “carisma” designa dons especiais concedidos gratuitamente pelo Espírito a determinado indivíduo, destinados a responder às necessidades do mundo e, particularmente, à edificação da comunidade cristã. Nas cartas de Paulo fala-se insistentemente em “carismas” que animavam a vida e o dinamismo das comunidades cristãs.

A comunidade cristã de Corinto sentia-se especialmente agraciada por estes dons do Espírito. No entanto, os coríntios confundiam frequentemente os “carismas” com certos fenómenos de exaltação religiosa bastante comuns na religião grega tradicional. Paulo sente-se na obrigação de dizer aos cristãos de Corinto que os “carismas” dados pelo Espírito não podem levar a práticas pouco consentâneas com o Evangelho de Jesus. São verdadeiros os carismas que levam à profissão de fé em Jesus e à construção da comunidade cristã.

Por outro lado, os “carismas” de que alguns se julgavam investidos pelo Espírito eram, com frequência, fatores de divisão e de conflito. Considerando-se a si próprios “escolhidos de Deus”, alguns dos “carismáticos” reivindicavam um protagonismo que danificava a comunhão fraterna. Apresentando-se como mensageiros incontestados das coisas divinas, assumiam atitudes de autoritarismo e de prepotência que não favoreciam a fraternidade; desprezavam os que não tinham sido dotados destes dons, considerando-os como “cristãos de segunda”, limitados a um lugar subalterno no contexto comunitário.

Paulo procura fazer os coríntios entender a necessidade de haver uma comunidade unida e fraterna, onde todos os membros estão plenamente integrados e onde todos contribuem para o bem de todos. Nesse sentido, serve-se de uma metáfora frequentemente usada pelos escritores antigos, particularmente os filósofos estoicos (como Séneca, Marco Aurélio, Epicteto): a comunidade é como um corpo, constituído por muitos membros, e onde todos os membros desempenham funções diversas.in Dehonianos.

 

INTERPELAÇÕES

  • É muito bela a imagem usada por Paulo para falar da Igreja: um “corpo” (o “corpo de Cristo”), formado por muitos membros, todos animados pelo mesmo princípio vital, o Espírito; cada um dos membros desempenha uma determinada função; todos esses membros, com funções diversas, são iguais em dignidade e nenhum deles se pode julgar superior aos outros; todos eles, na diversidade de funções, contribuem à sua maneira para o crescimento, o equilíbrio, a harmonia, a saúde do “corpo”. Esta conceção da Igreja exclui, de princípio, tudo o que significa egoísmo, salvaguarda de interesses mesquinhos, invejas, ciúmes, conflitos, afirmação de si próprio em detrimento dos outros, autossuficiência… Como é que vivem e se articulam as nossas comunidades cristãs? Dão ao mundo um testemunho de harmonia, de entendimento, de comunhão, de vida fraterna? As palavras “solidariedade”, “participação”, “corresponsabilidade” fazem sentido na definição do quadro da nossa comunidade cristã?
  • A comunidade cristã é o “corpo de Cristo”. O “corpo” é a realidade que nos identifica, que nos torna visíveis aos olhos dos nossos irmãos, que nos permite entrar em relação com aqueles que nos rodeiam. A Igreja, como “corpo de Cristo”, torna presente e visível no mundo o próprio Cristo; é através da Igreja que os nossos irmãos se relacionam com Cristo. Quem olha para a Igreja deve “ver” o rosto de Cristo que sorri com amor, o coração de Cristo que acolhe e perdoa, as mãos de Cristo que abençoam e abraçam… É isso que acontece? A Igreja – essa Igreja da qual nós somos membros – é presença de Cristo junto dos homens e mulheres do nosso tempo? A Igreja é a imagem visível de Cristo, do seu projeto de vida, da proposta de salvação que Ele veio oferecer a todos? A Igreja mostra, ao vivo e a cores, a misericórdia, o carinho, a ternura, a compreensão que Cristo tinha por todos os homens e mulheres, e particularmente pelos pobres, pelos mais frágeis, por aqueles que a sociedade condena e abandona na berma da estrada da vida?
  • O Espírito distribui aos membros da comunidade cristã “carismas” (dons espirituais). Esses “carismas” não são prémios pessoais por bom comportamento, nem são um pagamento por serviços distintos; não se destinam a pôr em relevo um membro da comunidade em detrimento de outros; não são uma promoção pessoal ou social… Os “carismas” são dons que Deus confia a determinadas pessoas para o serviço de toda a comunidade. Quem os recebe assume a responsabilidade de os pôr a render de modo que toda a comunidade deles beneficie. Como entendemos e “gerimos” os dons que Deus nos confia? Colocamo-los ao serviço de todos, de forma gratuita e não interesseira?
  • Os membros de um “corpo”, embora diferentes e com funções diversas, vivem em interdependência. Isto é especialmente válido para o “corpo de Cristo”: os membros da comunidade cristã sentem-se ligados uns aos outros por laços de comunhão, de solidariedade, de partilha, de mútuo afeto. Interessam-se uns pelos outros, cuidam uns dos outros, preocupam-se uns com os outros. São uma família que, vivendo no amor, dá testemunho de Deus no meio do mundo. É efetiva a nossa comunhão e a nossa solidariedade com os outros membros da comunidade? Sentimo-nos responsáveis pelos irmãos que, como nós, integram o “corpo de Cristo”? Os dramas e os sofrimentos, as alegrias e as esperanças, os projetos e os sonhos dos outros homens e mulheres que fazem caminho connosco são vistos como algo que nos diz respeito?
  • Se um membro de um “corpo” não desempenhar o papel que lhe compete, todo o “corpo” fica prejudicado. Na construção da comunidade cristã, procuramos cumprir a nossa missão, com sentido de responsabilidade, ou remetemo-nos a uma situação de passividade e de comodismo, esperando que sejam os outros a fazer tudo? Somos membros ativos da comunidade, que trabalham e servem a comunidade, ou somos simples “consumidores” que se limitam a “frequentar a Igreja” e a beneficiar do trabalho dos outros? in Dehonianos.

EVANGELHO Lucas 1,1-4; 4,14-21

Já que muitos empreenderam narrar os factos
que se realizaram entre nós,
como no-los transmitiram os que, desde o início,
foram testemunhas oculares e ministros da palavra,
também eu resolvi,
depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens,
escrevê-las para ti, ilustre Teófilo,
para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado.
Naquele tempo,
Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito,
e a sua fama propagou-se por toda a região.
Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos.
Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado.
Segundo o seu costume,
entrou na sinagoga a um sábado
e levantou-Se para fazer a leitura.
Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías
e, ao abrir o livro,
encontrou a passagem em que estava escrito:
«O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque Ele me ungiu
para anunciar a boa nova aos pobres.
Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos
e a vista aos cegos,
a restituir a liberdade aos oprimidos
e a proclamar o ano da graça do Senhor».
Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se.
Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga.
Começou então a dizer-lhes:
«Cumpriu-se hoje mesmo
esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».

CONTEXTO

Ao longo deste ano litúrgico (Ano C), a liturgia propõe-nos a escuta e a reflexão do Evangelho segundo Lucas. Lucas, o evangelista que nos legou o terceiro Evangelho, não foi uma testemunha ocular de Jesus; era um cristão de segunda ou terceira geração, médico de profissão (cf. Cl 4,14), que se tornou discípulo e colaborador de Paulo (Flm 24). Escreveu o seu Evangelho em meados dos anos oitenta do primeiro século, provavelmente para comunidades cristãs de língua grega. Depois de nos apresentar, no Evangelho, o “tempo de Jesus”, Lucas deixou-nos uma outra obra – os Atos dos Apóstolos – onde nos fala da etapa seguinte da história da salvação: o “tempo da Igreja”, a fase em que os discípulos, guiados pelo Espírito, dão testemunho de Jesus “até aos confins da terra” (At 1,8).

O texto evangélico deste domingo oferece-nos, logo no início, um “prólogo” literário onde o evangelista, à boa maneira dos escritores gregos da época, apresenta a sua obra (cf. Lc 1,1-4). Refere os motivos que o levaram a escrever o Evangelho e as fontes com que contou para a compor. Destina a obra a um tal “Teófilo”, que poderá ser uma pessoa concreta ou um nome fictício (a palavra significa “amigo de Deus”) para designar qualquer pessoa que esteja interessado em conhecer a vida e a obra de Jesus.

Mas, logo depois do “prólogo”, o texto litúrgico deste domingo salta para o momento em que Jesus, na sinagoga de Nazaré, apresenta o seu “programa” (cf. Lc 4,14-21). Nazaré, a terra onde Jesus passou uma boa parte da sua vida, era uma pequena povoação, com cerca de 500 habitantes, situada na baixa Galileia. A maior parte dos seus habitantes eram agricultores que cuidavam de terras pertencentes a grandes latifundiários; alguns, contudo, eram “artesãos” que trabalhavam em diversos ofícios ligados à construção civil. A sinagoga era o espaço de encontro da assembleia crente. Ao sábado, a comunidade reunia-se na sinagoga para a oração e para a escuta das leituras da Lei e dos Profetas, com o respetivo comentário. A proclamação das leituras era feita por algum membro mais instruído da comunidade ou por algum visitante ilustre, conhecido pelo seu saber na explicação das escrituras, convidado pelo chefe da sinagoga a proclamar e a explicar a Palavra de Deus. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • Estamos mais do que habituados à apresentação de “programas”: qualquer figura que se proponha intervir na área pública e desempenhar um papel na construção do mundo e da sociedade apresenta, antes de começar a agir, os princípios programáticos que vão nortear a sua intervenção. De acordo com o Evangelho de Lucas, Jesus também o fez, numa manhã de sábado, na sinagoga de Nazaré. Contudo, o “programa” daquele profeta de Deus surpreende: não passa por estabelecer um sistema religioso mais perfeito, ou por implantar um culto mais digno, ou por propor determinadas práticas de piedade que tornam o homem mais santo; mas passa por pôr cobro a tudo aquilo que rouba a vida e a dignidade dos seres humanos. O profeta de Nazaré propõe-se anunciar aos pobres que Deus os ama e vai libertá-los da sua triste situação; propõe-se curar os homens e mulheres prisioneiros da doença, da maldade, do egoísmo, da injustiça; propõe-se iluminar os caminhos em que os homens andam, para que ninguém viva prisioneiro da escuridão e do sem-sentido; propõe-se fazer nascer um mundo mais humano, mais justo, mais feliz. Que pensamos do “programa” de Jesus? Será um “programa” viável no nosso “hoje”, no séc. XXI? Porque é que os homens e mulheres do nosso tempo ainda não abraçaram, de forma decisiva, a proposta de Jesus?
  • O “programa” de Jesus continua a ser o mesmo, dois mil anos depois. A questão é que, agora, é a Igreja de Jesus que tem a responsabilidade de implementar este “programa”. Isto de oferecer aos pobres uma nova esperança, de libertar os homens e mulheres que são prisioneiros da injustiça e da opressão, de proporcionar a todos uma vida mais digna e mais ditosa, de defender os excluídos pela sociedade de bem-estar, de acolher e integrar os “diferentes” e marginalizados, não é uma coisa de ideologias oriundas de uma certa área política, mas é uma coisa “de Jesus”. Ou a comunidade cristã tem a libertação dos “pobres” no seu “programa”, ou deixa de ser a Igreja de Jesus. A Igreja tem-se preocupado em anunciar o “evangelho da libertação”? Tem-se preocupado suficientemente com a sorte dos pobres, dos pequenos, dos excluídos, dos sem voz, dos abandonados, dos marginalizados, dos imigrantes que todos os dias batem à porta do nosso mundo egoísta e saciado? O que mais poderá a Igreja fazer para ser sinal, junto dos desfavorecidos e sofredores, da misericórdia e do amor de Deus?
  • O sofrimento de muitos homens e mulheres que nos rodeiam é um espinho cravado no nosso bem-estar e na nossa tranquilidade. Jesus nunca ficou indiferente diante das lágrimas, das angústias, dos sofrimentos de qualquer homem ou mulher. Os evangelhos dizem-nos que Ele se “comovia profundamente” e tomava posição no sentido de devolver a vida e a esperança a todos os sofredores. Pessoalmente, como lidamos com as necessidades gritantes de tantos homens e mulheres sem pão, sem abrigo, sem amor, sem compreensão, que se cruzam connosco nos caminhos da vida? Sentimos que o sofrimento dos irmãos que nos rodeiam nos diz respeito e que é nossa responsabilidade?
  • Jesus, na sinagoga de Nazaré, depois de proclamar a Palavra de Deus, atualiza-a: “cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. A Palavra escutada é aplicada ao hoje do crente, ilumina a vida, torna-se um anúncio feliz e renovador que traz alegria e desperta a esperança. Nas nossas comunidades cristãs, os que proclamam a Palavra, que a explicam nas homilias, que a ensinam na catequese, que a partilham nos grupos de reflexão, têm sempre esta preocupação de a tornar uma realidade “tocante” e um anúncio verdadeiramente transformador e libertador, capaz de iluminar a vida daqueles que os escutam?
  • Lucas, no “prólogo” ao seu Evangelho, explica que, a narração que se propõe fazer sobre a vida e a mensagem de Jesus, fundamenta-se na escuta das “testemunhas oculares” e numa investigação cuidadosa dos factos acontecidos. O objetivo do seu trabalho é proporcionar a todos aqueles que estão interessados em aproximar-se de Jesus, uma base segura para fundamentarem a sua adesão a Jesus. Que papel desempenham os textos evangélicos na nossa experiência de Jesus? Procuramos escutá-los, conhecê-los, meditá-los, para nos tornarmos verdadeiros discípulos, que entendem Jesus e se dispõem a acolher a proposta libertadora que Ele veio trazer? in Dehonianos

 

Para os leitores:

A primeira leitura é marcada pela narrativa da proclamação do Livro da Lei pelo sacerdote Esdras. A proclamação desta leitura deve ser marcada pelo tom narrativo de quem conta este dia feliz do Povo de Israel. Devem ter uma atenção especial na leitura das aclamações do Povo, da exortação conjunta de Neemias, Esdras e os levitas e a exortação final de Neemias. Todas elas são marcadas pelo louvor e alegria da presença de Deus no meio do Seu Povo.

A segunda leitura tem como mensagem fundamental a unidade do Corpo de Cristo na variedade dos seus membros e na proclamação desta leitura a transmissão desta mensagem é fundamental. Para isso, pede-se um especial cuidado nas frases longas com diversas orações, de modo particular, nas frases interrogativas e nas hipotéticas intervenções de cada um dos membros.

I Leitura: (ver anexo)

II Leitura: (ver anexo)

ANEXOS:

Domingo II do Tempo Comum – Ano C – 19 janeiro 2025

Viver a Palavra

Depois da celebração festiva do Natal do Senhor e das festas nele celebradas, o calendário litúrgico propõe alguns Domingos do Tempo Comum até ao início do Tempo da Quaresma. No Tempo Comum, ao contrário dos outros tempos litúrgicos, não celebramos nenhum mistério em específico da vida do Senhor ou a sua respetiva preparação, mas a totalidade do mistério de Cristo na normalidade e no quotidiano da vida. É a celebração da presença sempre viva e atuante de Deus na história que, em cada tempo e em cada lugar, realiza a Sua obra de amor e escreve em nós e, a partir de nós, no mundo, a Sua história de salvação. Percorremos com Jesus os caminhos da missão e aprendemos no caminho, com Ele e como Ele, a obediência à vontade do Pai, a fidelidade ao Seu desígnio salvífico e a abertura ao horizonte da graça onde se inscrevem as nossas vidas.

Escutamos o capítulo segundo do Evangelho de S. João, acompanhando o início da atividade de Jesus. Depois do evangelista ter apresentado a Palavra que se faz carne, o Baptista que se faz Sua voz e os primeiros discípulos que acolhem o seu testemunho, descreve a aventura de Jesus com aqueles que o acompanham e se cruzam com Ele. O início da Sua missão contrasta com o que seria expectável na tradição religiosa vigente: oferece vinho para a embriaguez de umas núpcias e expulsa os vendedores do Templo, derrubando as mesas dos cambistas. Esta cena inicial, tal como o batismo nos sinópticos, leva-nos a compreender que Deus é escandalosamente diferente daquilo que são as nossas estruturas humanas e os nossos esquemas lógicos, puramente racionais, que Deus excede sempre.

O primeiro sinal de Jesus no Evangelho de S. João consiste em juntar mais de 600 litros de vinho a um banquete nupcial! O que teria a dizer sobre isto João Baptista, o asceta do deserto? Porventura, ainda hoje, não fosse Jesus o autor de tal ato, e estariam alguns a condenar o excesso de vinho e a falta de abstinência e disciplina.

Abundância e excessos caracterizam a ação de Deus revelada em Jesus Cristo: abundância de amor pelo excesso de misericórdia derramada e manifestada. Quando fazemos como os noivos de Caná da Galileia e convidamos Jesus, Sua Mãe, os discípulos para a nossa vida, entra na nossa história a abundância de amor e de graça que nos permite percorrer com maior entusiasmo e ousadia os trilhos da história. É verdade que a alegria da qual o vinho novo oferecido por Jesus é sinal só será plena e duradoura depois da glória definitiva e da hora derradeira para a qual esta passagem evangélica já aponta.

Jesus adverte Sua mãe – «ainda não chegou a minha hora» – e aponta para a hora derradeira e definitiva do capítulo 19, onde confia o discípulo amado a Sua Mãe e Sua Mãe ao discípulo amado: «e, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua» (Jo 19,27). As dores e sofrimentos do tempo presente, bem como as contingências e limites da nossa condição humana pecadora não são impedimento para que Deus realize a Sua obra de amor e para que no tempo e na história se façam presentes as maravilhas de Deus.

Contamos com a presença terna e materna de Maria, a quem pedimos que em cada dia continue a levar a Jesus tudo quanto precisamos e, concomitantemente, pedimos a disponibilidade de coração para ouvir com prontidão performativa: «fazei tudo o que Ele vos disser». in Voz Portucalense       

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No dia 18 de janeiro tem início o Oitavário de Orações pela Unidade dos Cristãos. Em cada ano o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e a Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas propõe um conjunto de materiais para ajudar a viver esta semana de oração para que a unidade desejada por Cristo seja uma realizada e esteja presente no coração de todos os cristãos. O tema para este ano é retirado do Evangelho de João: «Crês nisso?» (João 11, 26). Na internet podem ser encontrados os diferentes materiais e subsídios, que poderão ser utilizados litúrgico-pastoralmente ajudar os fiéis a viver melhor esta semana e a fazer da unidade dos cristãos não apenas um desejo mas uma realidade (https://www.oikoumene.org/sites/default/files/2024-05/2025-WPCU-PT.pdf).

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Depois do Tempo de Natal continuamos um novo Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA I Isaías 62,1-5

Por amor de Sião não me calarei,

por amor de Jerusalém não terei repouso,

enquanto a sua justiça não despontar como a aurora

e a sua salvação não resplandecer como facho ardente.

Os povos hão de ver a tua justiça

e todos os reis a tua glória.

Receberás um nome novo,

que a boca do Senhor designará.

Serás coroa esplendorosa nas mãos do Senhor,

diadema real nas mãos do teu Deus.

Não mais te chamarão «Abandonada»,

nem à tua terra «Deserta»,

mas hão de chamar-te «Predileta»

e à tua terra «Desposada»,

porque serás a predileta do Senhor

e a tua terra terá um esposo.

Tal como o jovem desposa uma virgem,

o teu Construtor te desposará;

e como a esposa é a alegria do marido,

tu serás a alegria do teu Deus.

CONTEXTO

Nos capítulos 56 a 66 do livro de Isaías (o “Trito-Isaías”) temos uma coleção de textos, provavelmente de autores diversos, redigidos em Jerusalém na época pós-exílica. O poema que a liturgia deste segundo domingo comum nos apresenta como primeira leitura pertence a essa coleção.

Para aqueles que retornaram do Exílio na Babilónia, são tempos difíceis e incertos. A população da cidade é pouco numerosa e pobre; a reconstrução é lenta, modesta e exige um grande esforço; os inimigos estão à espreita e fazem continuamente sentir a sua hostilidade; há tensões no ar entre os que regressaram da Babilónia e aqueles que ficaram na cidade. Aos poucos, com a reorganização da estrutura social, voltam as injustiças dos poderosos sobre os fracos e os pobres, bem como a corrupção, a venalidade e a prepotência dos chefes. O clima é de frustração e de desânimo. As promessas de Deus, escutadas na fase final do Exílio, parecem bem distantes.

Os profetas que desenvolvem a sua missão nesta fase procuram renovar a esperança do Povo de Judá num futuro de vida plena e de salvação definitiva. Nesse sentido, vão falar de uma época em que Deus vai voltar a residir em Jerusalém, oferecendo em cada dia ao seu Povo a vida e a salvação. Essa “salvação” implicará, não só a reconstrução de Jerusalém e a restauração das glórias passadas, mas também a libertação dos pobres, dos oprimidos, dos fracos, dos marginalizados.

O texto que hoje nos é proposto é parte de um poema (Is 62,1-9) que canta Jerusalém como a “esposa de Javé”, a cidade que Deus continua a amar, apesar das suas infidelidades. in Dehonianos

 

INTERPELAÇÕES

  • A história da relação entre Deus e o seu Povo revela, a cada passo, o “ser” de Deus. Deus é amor, um amor nunca desmentido, nunca posto em causa, nunca condicionado, nunca sujeito à precariedade que imprimimos às nossas relações. Mesmo quando nos fechamos no egoísmo e na autossuficiência, Deus continua a oferecer-nos o seu amor; mesmo quando nos recusamos a escutá-l’O e a acolher as suas propostas, Deus continua a cuidar de nós com amor de pai e de mãe; mesmo quando subvertemos o plano que Ele tem para nós e para o mundo, Deus continua a contar connosco e a convidar-nos para integrar a sua família… Deus não desiste de nós; para Deus, nunca seremos “um caso perdido”, porque o amor verdadeiro nunca dá por perdida a pessoa amada. Nós que, tantas vezes, nos sentimos pecadores, malditos, indignos, perdidos, amargurados pelo peso do nosso pecado e das nossas opções erradas, somos hoje convidados a contemplar o amor inquebrantável que Deus tem por nós e a viver iluminados por esse amor. Sabemos que caminhamos pela vida envolvidos pelo amor de Deus? A consciência do amor de Deus liberta-nos e enche o nosso coração de alegria e de esperança?
  • O Trito-Isaías afirma que o amor de Deus irá transformar a Jerusalém manchada e macilenta, destruída pelos inimigos, calcinada pelos incêndios que os exércitos babilónios atearam, abandonada pelos seus habitantes, numa “noiva” encantadora e resplandecente, capaz de encher de orgulho e de alegria o coração daquele que a ama. Se nós deixarmos, o amor de Deus é capaz de nos regenerar, de nos transformar, de nos abrir perspetivas novas, de nos convencer a levantar os olhos dos horizontes rasteiros em que a nossa existência decorre, para contemplarmos os horizontes vastos de uma vida livre, cheia de sentido e de realização. Conservamo-nos teimosamente fechados na nossa autossuficiência, ou estamos disponíveis para nos deixarmos transformar e recriar pelo amor de Deus?
  • Quando fazemos uma verdadeira experiência do amor de Deus, nada fica igual na nossa vida. Somos dominados por um profundo sentimento de gratidão e ficamos com vontade de testemunhar esse amor junto de todos aqueles que se cruzam connosco nos caminhos que todos os dias percorremos. Tornamo-nos arautos do amor de Deus e esse amor “aparece” nos nossos gestos, nas nossas atitudes, na nossa forma de tratar os outros homens e mulheres. Somos sinais vivos de Deus, com o amor que transparece nos nossos gestos? As nossas famílias são um reflexo do amor de Deus? As nossas comunidades cristãs anunciam ao mundo, de forma concreta, o amor que Deus tem por todos os seus filhos, particularmente pelos mais frágeis, pelos mais abandonados, por aqueles que ninguém quer e ninguém ama? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL –  Salmo 95 (96)

 

Refrão: Anunciai em todos os povos as maravilhas do Senhor.

 

Cantai ao Senhor um cântico novo,

cantai ao Senhor, terra inteira,

cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.

 

Anunciai dia a dia a sua salvação,

publicai entre as nações a sua glória,

em todos os povos as suas maravilhas.

 

Dai, ó Senhor, ó família dos povos,

dai ao Senhor glória e poder,

dai ao Senhor a glória do seu nome.

 

Adorai o senhor com ornamentos sagrados,

trema diante d’Ele a terra inteira;

dizei entre as nações: «O Senhor é Rei»,

governa os povos com equidade.

 

LEITURA II 1 Coríntios 12,4-11

Irmãos:

Há diversidade de dons espirituais,

mas o Espírito é o mesmo.

Há diversidade de ministérios,

mas o Senhor é o mesmo.

Há diversidade de operações,

mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.

Em cada um se manifestam os dons do Espírito

para o bem comum.

A um o Espírito dá a mensagem da sabedoria,

a outro a mensagem da ciência, segundo o mesmo Espírito.

É um só e o mesmo Espírito

que dá a um o dom da fé, a outro o poder de curar;

a um dá o poder de fazer milagres,

a outro o de falar em nome de Deus;

a um dá o

discernimento dos espíritos,

a outro o de falar diversas línguas,

a outro o dom de as interpretar.

Mas é um só e o mesmo Espírito que faz tudo isto,

distribuindo os dons a cada um conforme Lhe agrada.

CONTEXTO

O trabalho missionário de Paulo de Tarso, em meados do séc. I, levou o cristianismo ao encontro do mundo grego. Paulo, depois de um certo discernimento, tinha concluído que a proposta de Jesus era para todos os povos da terra e não exclusivamente para os judeus. No entanto, o contexto judaico – de onde o cristianismo era originário – e o contexto grego eram realidades culturais e religiosas bastante diferentes. Como é que a proposta cristã se aguentaria quando mergulhasse num mundo que funcionava com dinamismos que lhe eram estranhos? Iria a brilhante cultura grega absorver ou desvirtuar os valores cristãos? Como é que os cristãos de origem grega integrariam a sua fé na realidade cultural em que estavam inseridos? A comunidade cristã de Corinto sentiu toda esta problemática de forma especial. Na Primeira Carta aos Corintos, Paulo aborda diversas questões que lhe foram colocadas pelos cristãos de Corinto e onde, como “pano de fundo”, está a questão do encaixe dos valores cristãos nos valores da cultura grega.

Uma das questões onde esta problemática, de alguma forma, está presente é a questão dos “carismas”. A palavra “carisma” tem a sua origem no campo religioso cristão, especialmente na teologia paulina. Designa dons especiais do Espírito, concedidos a determinado indivíduo – independentemente do posto que ocupa na instituição eclesial – para o bem das pessoas, para as necessidades do mundo e, em particular, para a edificação da Igreja. Nas cartas de Paulo fala-se insistentemente em “carismas” que animavam a vida e o dinamismo das comunidades cristãs.

Alguns cristãos de Corinto, no entanto, influenciados por determinadas experiências religiosas que existiam na religião grega tradicional, entenderam os “carismas” de uma forma bem peculiar. Eles conheciam, por exemplo, os “oráculos”, através dos quais os deuses, servindo-se de intermediários humanos, transmitiam as suas indicações (santuário de Delfos, sacerdotisas de Dodona); conheciam também certos rituais em que os crentes, através do transe, de experiência orgiásticas, de excessos de vários tipos, se “fundiam” com o deus a quem prestavam culto (mistérios de Dionísio, culto de Cibele). Confundiram, portanto, os “carismas” cristãos com algumas dessas práticas pagãs; e, possivelmente, chegaram a fazer uso dos dons carismáticos em ambiente semelhante ao de certas cerimónias religiosas pagãs.

Mais ainda: considerando-se a si próprios “escolhidos de Deus”, alguns destes carismáticos reivindicavam um protagonismo que danificava a comunhão fraterna. Apresentando-se como “iluminados”, mensageiros incontestados das coisas divinas, assumiam atitudes de autoritarismo e de prepotência que não favoreciam a fraternidade; desprezavam os que não tinham sido dotados destes dons, considerando-os como “cristãos de segunda”, limitados a um lugar subalterno no contexto comunitário.

Tudo isto causou natural alarme na comunidade cristã de Corinto. Paulo, informado da situação, entendeu intervir para evitar abusos e mal-entendidos. Na Primeira Carta aos Coríntios, ele corrige, dá conselhos, mostra a incoerência destes comportamentos, incompatíveis com o Evangelho de Jesus. A sua intervenção neste campo aparece nos capítulos 12 a 14 da referida Carta. A nossa segunda leitura deste domingo insere-se neste contexto. in Dehonianos.

 

INTERPELAÇÕES

 

  • Todos aqueles que integram a comunidade cristã são membros de um único “corpo”, o “corpo de Cristo”; todos aqueles que são membros do “corpo de Cristo” vivem e alimentam-se do mesmo Espírito; todos aqueles que se alimentam do mesmo Espírito formam uma família de irmãos e de irmãs, iguais em dignidade. Podem, naturalmente, desempenhar funções diversas, como acontece com os membros de um corpo; mas todos eles são igualmente importantes enquanto membros do “corpo de Cristo”. Tudo isto parece incontestável, à luz da doutrina de Paulo. No entanto encontramos, com alguma frequência, cristãos com uma consciência viva da sua superioridade e da sua situação “à parte” na comunidade (seja em razão da função que desempenham, seja em razão das suas “qualidades” humanas), que gostam de se fazer notar e de afirmar a sua autoridade ou o seu “estatuto”. Às vezes, veem-se atitudes de prepotência e de autoritarismo por parte daqueles que se consideram depositários de dons especiais; por vezes, ficamos com a sensação de que a estrutura eclesial funciona em modelo piramidal, com uma elite que preside e toma as decisões instalada no topo, e um “rebanho” silencioso que obedece instalado na base. Isto faz algum sentido, à luz da doutrina que Paulo expõe? Como entendemos o nosso lugar e o nosso papel na comunidade cristã?
  • Os dons que o Espírito concede, por mais pessoais que sejam, são para servir o bem comum e para reforçar a vivência comunitária. Quem os recebe deve pô-los ao serviço de todos, com humildade e simplicidade. Não faz sentido escondermos os “dons” que recebemos, guardando-os só para nós e deixando que eles fiquem estéreis; também não faz sentido usar os “dons” que recebemos de tal forma que eles se tornem fator de conflitos ou de divisões. Os “dons” que nos foram concedidos são postos ao serviço da comunidade? São fonte de encontro, de comunhão, de partilha, de Vida, para a comunidade de que fazemos parte?
  • O Espírito Santo é uma presença imprescindível no caminho que a Igreja vai percorrendo todos os dias: é Ele que alimenta, que anima, que fortalece, que dá Vida ao Povo de Deus peregrino; é Ele que distribui os dons conforme as necessidades e que, com esses dons, continuamente recria a Igreja; é Ele que conduz a marcha, que indica os caminhos a percorrer, que ajuda a tomar as decisões que se impõem para que a “barca de Pedro” chegue a bom porto. Temos consciência da presença do Espírito, procuramos ouvir a sua voz e perceber as suas indicações?
  • A comunidade cristã tem de ser o reflexo da comunidade trinitária, dessa comunidade de amor que une o Pai, o Filho e o Espírito. As nossas comunidades paroquiais, as nossas comunidades religiosas são espaços de comunhão e de fraternidade, onde o amor e a solidariedade dos diversos membros refletem o amor que une o Pai, o Filho e o Espírito?
  • Como consideramos “os outros” – aqueles que têm “dons” diferentes ou, até, aqueles que se apresentam de forma discreta, sem se imporem, sem “darem nas vistas”? Eles são vistos como membros legítimos do mesmo corpo que é a comunidade, ou como cristãos de segunda, massa amorfa a que não damos muita importância? in Dehonianos.

EVANGELHO João 2,1-11

Naquele tempo,

realizou-se um casamento em Caná da Galileia

e estava lá a Mãe de Jesus.

Jesus e os seus discípulos

foram também convidados para o casamento.

A certa altura faltou o vinho.

Então a Mãe de Jesus disse-Lhe:

«Não têm vinho».

Jesus respondeu-Lhe:

«Mulher, que temos nós com isso?

Ainda não chegou a minha hora».

Sua Mãe disse aos serventes:

«Fazei tudo o que Ele vos disser».

Havia ali seis talhas de pedra,

destinadas à purificação dos judeus,

levando cada uma de duas a três medidas.

Disse-lhes Jesus:

«Enchei essas talhas de água».

Eles encheram-nas até acima.

Depois disse-lhes:

«Tirai agora e levai ao chefe de mesa».

E eles levaram.

Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho,

– ele não sabia de onde viera,

pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam –

chamou o noivo e disse-lhe:

«Toda a gente serve primeiro o vinho bom

e, depois de os convidados terem bebido bem,

serve o inferior.

Mas tu guardaste o vinho bom até agora».

Foi assim que, em Caná da Galileia,

Jesus deu início aos seus milagres.

Manifestou a sua glória

e os discípulos acreditaram n’Ele.

CONTEXTO

Depois de nos apresentar Jesus (cf. Jo 1,1-51), João convida-nos a testemunhar o início da sua missão no meio dos homens. Leva-nos até Caná da Galileia, uma pequena aldeia agrícola identificada com a atual Kefar Kanna, situada a alguns quilómetros a nordeste de Nazaré. Era a terra natal do apóstolo Natanael (cf. Jo 21,2). João diz-nos que foi em Caná, no decurso de uma festa de casamento, que Jesus “deu início aos seus sinais” (“semeiôn” – Jo 2,11). A palavra utilizada designa, no Evangelho de João, certas ações realizadas por Jesus que, sendo visíveis para aqueles que as contemplam, apontam para outras realidades, para verdades que ultrapassam o simples gesto realizado. O “sinal” convida aqueles que o testemunham a deduzir algo sobre Jesus e sobre a missão que Ele, por mandato do Pai, veio concretizar no meio dos homens.

O “sinal” que somos convidados a testemunhar acontece num cenário de uma festa de casamento. Não se diz quem são os noivos, nem qual a ligação que eles têm a Jesus. Na reflexão profética, o “casamento” aparece frequentemente como metáfora da relação de amor entre Deus e Israel. Aliás, a primeira leitura deste segundo domingo do tempo comum dá-nos bem conta disso. Devemos, portanto, situar e interpretar o “sinal” que Jesus vai realizar no contexto do “casamento” (na história de “aliança” e de comunhão) que Deus tem vindo a construir com o seu Povo.

Para João, o gesto realizado por Jesus em Caná da Galileia João foi o “início” dos seus “sinais”. Sendo o primeiro dos “sinais”, ele funciona como protótipo e pauta para a interpretação de outros gestos que se seguirão. Este primeiro “sinal” define o “programa” de Jesus e oferece-nos a chave para interpretar tudo aquilo que Jesus vai fazer daí para a frente. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

 

  • Qual é o lugar de Deus na vida e na história dos homens e mulheres do século XXI? Há já bastantes anos um filósofo decretou que “Deus está morto”; outros pensadores defenderam, depois disso, que os seres humanos devem assumir a sua história e a sua liberdade sem se sentirem tutelados e menorizados por uma entidade suprema; todos os dias muitos homens e mulheres que se cruzam connosco no caminho constroem as suas vidas numa completa indiferença face a Deus; a cada passo vão aparecendo valores que tomam conta da nossa vida e que ocupam o lugar de Deus… A indiferença face a Deus tornar-nos-á mais felizes e mais livres? A nossa autossuficiência será algo de que devemos orgulhar-nos? O evangelho deste domingo apresenta-nos Jesus como aquele que veio revitalizar a relação de amor e comunhão entre Deus e os homens. Dispomo-nos a escutar Jesus e a descobrir, guiados por Ele, o amor que Deus nos tem? Temos vontade de embarcar, ao lado de Jesus, nessa história de amor e de comunhão que Deus se propõe viver connosco?
  • No episódio das bodas de Caná, o evangelista João desafia-nos a repensar a nossa forma de responder ao Deus da comunhão e da “aliança”. De acordo com João, se o nosso envolvimento com Deus assentar no mero cumprimento de leis, de rituais externos, de orações de circunstância, de liturgias pomposas e vazias, rapidamente deixará de fazer sentido. Nesse caso, a nossa relação com Deus tornar-se-á uma relação insípida, a que falta o “vinho” da alegria e do amor; poderá mesmo chegar a ser um fardo insuportável, que mais cedo ou mais tarde nos fará desistir de Deus. Para respondermos adequadamente ao desafio de viver em comunhão com Deus, temos de escutar Jesus e de “fazer o que Ele nos disser”. Temos de aprender com Ele a escutar Deus, a acolher os projetos de Deus para nós e para o mundo, a amar até ao dom total de nós mesmos. Como é que vivemos a nossa relação com Deus? Limitamo-nos a uma vivência religiosa triste e aborrecida, feita de gestos externos e do cumprimento de regras mais ou menos irrelevantes, ou somos capazes de acolher o “vinho bom” que Jesus nos oferece? Somos capazes de acolher as propostas de Jesus e de aprender com Jesus a amar a Deus e aos nossos irmãos?
  • O “chefe de mesa” da história das bodas de Caná é figura dos líderes religiosos judaicos. Eles presidem aos destinos do Povo de Deus, mas os seus horizontes são bastante limitados. Instalados nas suas certezas e seguranças, acomodados aos seus privilégios de classe, estão satisfeitos com aquele sistema religioso vazio e hipócrita, que não liberta nem proporciona ao Povo de Deus uma existência livre e feliz. Quando a novidade de Deus lhes aparece à frente, eles não manifestam entusiasmo ou vontade de a acolher. A triste figura do “chefe de mesa” naquele casamento em Caná da Galileia constitui um aviso para todos aqueles que colocam os seus interesses e privilégios acima do bem dos seus irmãos; constitui também um alerta para os vivem instalados numa fé morna, requentada, pouco exigente, rotineira, “velha”, que não tem lugar para as interpelações e desafios que Deus continuamente nos lança. O “chefe de mesa” que aparece no relato das bodas de Caná tem alguma coisa a ver com a forma como nós vivemos a religião?
  • Os “serventes” fazem o que Jesus lhes diz e colaboram com Ele de forma a fazer chegar à mesa do banquete o “vinho novo” que Jesus tem para oferecer. Correspondem aos discípulos, aqueles que Jesus chama para O seguirem e para colaborarem com Ele na construção do Reino de Deus. Nós, discípulos de Jesus, estamos disponíveis para colaborar com Ele no sentido de “colocar na agenda” do mundo e da história a proposta de Jesus veio trazer? O que podemos fazer para que o “vinho novo e bom” de Jesus chegue à mesa da humanidade?
  • Todos os dias nos deparamos com um sem número de homens e mulheres que vivem tristes e amargurados, condenados pela sociedade, julgados pelos seus irmãos, votados à indiferença e ao abandono, feridos na sua dignidade, roubados nos seus direitos, que anseiam por libertação e esperança. Quando essas pessoas aparecem nas nossas comunidades cristãs à procura de ajuda e compreensão, são acolhidas? Oferecemos-lhe o “vinho novo” de Jesus, ou as leis velhas de uma religião que condena, que ameaça, que aumenta o sofrimento e a amargura? Falamos-lhes da ternura de Deus, ou de um deus sem misericórdia, incapaz de compreender o sofrimento dos seus filhos e filhas? in Dehonianos

 

Para os leitores:

A proclamação da primeira leitura deve ser marcada pelo tom alegre e cheio de esperança que atravessa toda a leitura. Deve ter-se especial atenção na proclamação das palavras: «Abandonada», «Deserta», «Predileta» e «Desposada».

A proclamação da segunda leitura pede um especial cuidado. No início, pelas frequentes repetições que sublinham a mensagem da unidade na diversidade que S. Paulo quer transmitir aos Coríntios. Depois, pela enumeração dos dons concedidos que deve ser bem articulada para uma correta leitura e uma boa compreensão da mensagem.

 

I Leitura: (ver anexo)

II Leitura: (ver anexo)

ANEXOS:

Festa do Batismo do Senhor  

Ano C – 12 janeiro 2025

Viver a Palavra

O texto que a liturgia da festa do Batismo do Senhor no propõe apresenta dois quadros. No primeiro, a figura central é João, que anuncia a chegada iminente daquele “que há de vir” (vers. 15-16); no segundo (vers. 21-22), a figura central é Jesus, batizado e ungido pelo Espírito.

Numa Palestina em plena efervescência messiânica, a figura e a atividade de João fazem que surjam conjeturas sobre o seu possível messianismo. Será João esse “ungido de Deus” (“Mashiah”, o “Messias”), cuja missão é libertar Israel da dominação estrangeira e assegurar ao Povo de Deus vida em abundância e paz sem fim (vers. 15)?

João não alimenta qualquer expetativa messiânica em relação à sua pessoa; mas avisa aqueles que vão ao seu encontro que está para chegar alguém “mais forte”, ao qual o próprio João não é digno de desatar as correias das sandálias (vers. 16). “Desatar as correias das sandálias” era tarefa dos escravos (por isso, a tradição rabínica proibia ao discípulo desatar as correias das sandálias do seu mestre). A imagem utilizada define, pois, João como um “escravo” cuja missão é estar ao serviço desse que está para chegar. João diz ainda que esse “mais forte” irá “batizar com o Espírito e com o fogo”. Talvez as palavras de João soem de forma enigmática; mas apontam claramente numa direção: a fortaleza e a unção do Espírito estão associadas, na tradição religiosa de Israel, ao Messias esperado (cf. Is 9,5-6; 11,2). João parece convicto de que está para chegar o “ungido de Deus” que os profetas anunciaram, aquele que vai batizar o Povo “com o Espírito Santo e com o fogo”; Ele limpará Israel dos seus pecados, livrá-lo-á da opressão e da maldade, inaugurará um tempo novo de felicidade e de vida abundante. Na perspetiva de Lucas, esta “profecia” de João concretizar-se-á no dia de Pentecostes (cf. At 2,1-11): o “fogo” do “messias”, o “fogo do Espírito”, derramado sobre os discípulos reunidos no cenáculo, fará nascer um Povo novo e livre, a comunidade do Messias, a comunidade da nova Aliança.

Depois vem o quadro do batismo de Jesus (vers. 21-22). Na verdade, Lucas não descreve propriamente o momento da imersão de Jesus nas águas do rio Jordão; o autor do terceiro evangelho parece mais interessado naquilo que vem depois: a unção de Jesus com o Espírito.

A narração de Lucas começa por dizer que “quando todo o povo recebeu o batismo, Jesus também foi batizado” (vers. 21a). Jesus aparece, assim, misturado com a multidão que recebe esse batismo de conversão para a remissão dos pecados que João propunha. Para que precisava Jesus desse batismo purificador? Por causa dos seus pecados? É claro que não. Mas, ao entrar na água juntamente com todos aqueles que pediam o batismo de João, Jesus coloca-se ao lado do povo pecador e afirma a sua solidariedade – a solidariedade de Deus – com todos os homens e mulheres que o pecado envolve e marca. Jesus veio para se colocar ao lado do homem pecador, para lhe dar a mão, para o ajudar a sair da sua triste situação e chegar a uma Vida nova. É belo e comovente este gesto solidário de Deus com a humanidade pecadora.

De acordo com Lucas, depois de sair da água Jesus fica em oração (vers. 21b). É um pormenor que só aparece no terceiro evangelho. Está, contudo, na lógica da teologia de Lucas: Jesus mantém um diálogo contínuo com o Pai (cf. Lc 5,16; 6,12; 9,18.28-29; 10,21-22; 22,41; 23,34.46), particularmente nos momentos mais decisivos da sua vida. É através desse diálogo que Ele descobre o projeto do Pai e encontra forças para cumprir o projeto do Pai. Faz sentido que Jesus, no momento em que é ungido pelo Espírito e se dispõe a começar a missão dialogue com o Pai.

O momento do batismo de Jesus é marcado por três factos estranhos que, no entanto, devem ser entendidos em referência a factos e símbolos do Antigo Testamento.

O primeiro é a “abertura do céu” (vers. 21). A imagem inspira-se, provavelmente, em Is 63,19, onde o profeta pede a Deus que “abra os céus” e desça ao encontro do seu Povo, refazendo a relação que o pecado do Povo tinha interrompido. O envio de Jesus ao mundo mostra a resposta favorável de Deus a esse pedido. A presença de Jesus na história dos homens relança a história de comunhão entre Deus e a humanidade pecadora.

O segundo elemento é a descida do Espírito, como uma pomba, sobre Jesus (vers. 22a). Esse Espírito que desce sobre Jesus é o sopro de vida de Deus que cria, que renova, que transforma, que cura os seres vivos. Leva-nos ao Espírito de Deus que, no momento da criação, “pairava sobre a superfície das águas” (Gn 1,2). Ungido com a força do Espírito, Jesus vai partir ao encontro dos homens para fazer nascer uma nova humanidade.

Temos ainda um terceiro elemento: a voz vinda do céu (vers. 22b). Os rabis usavam frequentemente a “voz do céu” como uma forma de expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada do cântico do “Servo de Javé” que vimos na primeira leitura de hoje (cf. Is 42,1). Sim, Jesus é o eleito de Deus, o Filho no qual o Pai “pôs toda a sua complacência”, enviado ao encontro dos homens para recriar a humanidade; mas a missão de Jesus, como a do Servo de Javé, não se desenrolará no triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, na humildade, no respeito pelos homens (“não gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3).

Depois deste momento, as coisas estão bem definidas. Jesus, batizado no Espírito, ungido com a força de Deus, capacitado para cumprir o projeto do Pai, partirá ao encontro do mundo para concretizar a missão de construir o reino de Deus. in Dehonianos.

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Depois do Tempo de Natal continuamos um novo Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA I Isaías 42,1-4.6-7

Diz o Senhor:
«Eis o meu servo, a quem Eu protejo,
o meu eleito, enlevo da minha alma.
Sobre ele fiz repousar o meu espírito,
para que leve a justiça às nações.
Não gritará, nem levantará a voz,
nem se fará ouvir nas praças;
não quebrará a cana fendida,
nem apagará a torcida que ainda fumega:
proclamará fielmente a justiça.
Não desfalecerá nem desistirá,
enquanto não estabelecer a justiça na terra,
a doutrina que as ilhas longínquas esperam.
Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça;
tomei-te pela mão, formei-te
e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações,
para abrires os olhos aos cegos,
tirares do cárcere os prisioneiros
e da prisão os que habitam nas trevas».

CONTEXTO

O texto pertence ao “Livro da Consolação” do Deutero-Isaías (cf. Is 40-55). Este profeta anónimo cumpriu a sua missão profética na Babilónia, na fase final do Exílio (entre 550 e 539 a.C.). Tinham passado algumas dezenas de anos desde que Nabucodonosor havia destruído Jerusalém e arrastado para o cativeiro a maior parte dos habitantes de Judá. Os judeus cativos desesperam porque o tempo vai passando e a libertação (anunciada por Ezequiel, um outro profeta do tempo do Exílio) nunca mais acontece. Será que Deus se esqueceu das suas promessas?

O Deutero-Isaías sente que Deus o envia a dizer aos seus concidadãos, exilados e desanimados, palavras de esperança. Cumprindo o mandato de Deus, o profeta fala da iminência da libertação, comparando-a ao antigo êxodo, quando Deus salvou o seu Povo da escravidão do Egipto (cf. Is 40-48); e anuncia-lhes, também, a reconstrução de Jerusalém, a cidade que a guerra reduziu a cinzas, mas à qual Deus vai fazer regressar a alegria e a paz sem fim (cf. Is 49-55).

No meio desta proposta “consoladora” do Deutero-Isaías aparecem, contudo, quatro textos (cf. Is 42,1-9; 49,1-13; 50,4-11; 52,13-53,12) que fogem um tanto a esta temática. São cânticos que falam de um personagem misterioso e enigmático, que os biblistas designam como o “Servo de Javé”. Esse personagem será Jeremias, o profeta que tanto sofreu por causa da missão? Será o próprio Deutero-Isaías, chamado a dar testemunho de Deus num cenário tão difícil? Será Ciro, rei dos persas, que alguns anos depois libertará os judeus exilados e autorizará o seu regresso a Jerusalém? Não sabemos ao certo. Mas esse “Servo de Javé” é apresentado como um predileto de Javé, chamado para o serviço de Deus, enviado por Deus aos homens de todo o mundo. A sua missão cumpre-se no sofrimento e numa entrega incondicional à Palavra. O sofrimento do profeta tem, contudo, um valor expiatório e redentor, pois dele resulta o perdão para o pecado do Povo. Deus aprecia o sacrifício deste “Servo” e recompensá-lo-á, fazendo-o triunfar diante dos seus detratores e adversários.

O texto que hoje nos é proposto é parte do primeiro cântico do “Servo” (cf. Is 42,1-9). in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • A história do “Servo de Javé”, que recebeu a plenitude do Espírito para ser “luz das nações”, abrir “os olhos aos cegos”, tirar “do cárcere os prisioneiros” e “da prisão os que habitam nas trevas”, lembra-nos, desde logo, que Deus age através de “profetas” a quem confia a transformação do mundo e a libertação dos homens. No dia em que fomos batizados, recebemos, também nós, o Espírito que nos capacitou para uma missão semelhante à desse “Servo”. Tenho consciência de que cada batizado é um instrumento de Deus na renovação e transformação do mundo? Estou disposto a corresponder ao chamamento de Deus e a assumir a minha responsabilidade profética? Os pobres, os oprimidos, os que “jazem nas trevas e nas sombras da morte”, os que não têm eira nem beira, nem voz nem vez, nem convite para se sentar à mesa da humanidade podem contar com a minha solidariedade ativa, com a minha ajuda fraterna, com o meu abraço, com a minha partilha generosa?
  • A missão profética só faz sentido à luz de Deus: é sempre Ele que toma a iniciativa, que escolhe, que chama, que envia e que capacita para a missão… Aquilo que fazemos, por mais válido que seja, não é obra nossa, mas sim de Deus; o nosso êxito na missão não resulta das nossas qualidades, mas da iniciativa de Deus que age em nós e através de nós. Somos apenas colaboradores de Deus, “humildes trabalhadores da vinha do Senhor”. É sempre Deus que projeta e que age, através da nossa fragilidade, para oferecer ao mundo a Vida e a salvação. Esquecer isto pode conduzir-nos à arrogância, à autossuficiência, à vaidade, ao convencimento; e, sempre que isso acontece, a nossa intervenção no mundo acaba por desvirtuar o projeto de Deus. Em que atitudes se concretiza a minha missão profética no acolhimento do projeto de Deus?
  • Atentemos ainda na forma de atuar do “Servo”: ele não se impõe pela força, pela violência, pelo dinheiro, ou pelos amigos poderosos; mas atua com suavidade, com mansidão, com humildade, no respeito pela liberdade dos irmãos e irmãs a quem é enviado… É esta lógica – a lógica de Deus – que eu utilizo no desempenho da missão profética que Deus me confiou? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 28 (29)

Refrão: O Senhor abençoará o seu povo na paz.

 

Tributai ao Senhor, filhos de Deus,
tributai ao Senhor glória e poder.
Tributai ao Senhor a glória do seu nome,
adorai o Senhor com ornamentos sagrados.

A vos do Senhor ressoa sobre as nuvens,
o Senhor está sobre a vastidão das águas.
A voz do Senhor é poderosa,
a voz do Senhor é majestosa.

A majestade de Deus faz ecoar o seu trovão
e no seu templo todos clamam: Glória!
Sobre as águas do dilúvio senta-Se o Senhor,
o Senhor senta-Se como rei eterno.

 

LEITURA II Atos 10,34-38

Naqueles dias,
Pedro tomou a palavra e disse:
«Na verdade,
eu reconheço que Deus não faz aceção de pessoas,
mas, em qualquer nação,
aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável.
Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel,
anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos.
Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia,
a começar pela Galileia,
depois do batismo que João pregou:
Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré,
que passou fazendo o bem
e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio,
porque Deus estava com Ele».

CONTEXTO

Os “Atos dos Apóstolos” são uma catequese sobre a “etapa da Igreja”, isto é, sobre a forma como os discípulos assumiram ou continuaram o projeto salvador do Pai e o levaram – após a partida de Jesus deste mundo – a todos os homens.

O livro divide-se em duas partes. Na primeira (cf. At 1-12), a reflexão centra-se na difusão do Evangelho dentro das fronteiras palestinas, por ação de Pedro e dos Doze; na segunda (cf. At 13-28), conta-se a expansão do Evangelho fora da Palestina (sobretudo por ação de Paulo): no Mediterrâneo, na Ásia Menor, na Grécia, até atingir Roma, o coração do império.

O texto de hoje está integrado na primeira parte dos “Atos”. Insere-se numa perícope que descreve a atividade missionária de Pedro na planície do Sharon (cf. At 9,32-11,18) – isto é, na planície junto da orla mediterrânica palestina. Em concreto, o texto propõe-nos o testemunho e a catequese de Pedro em Cesareia Marítima, em casa do centurião romano Cornélio. Convocado pelo Espírito (cf. At 10,19-20), Pedro entra em casa de Cornélio, expõe-lhe o essencial da fé e batiza-o, bem como a toda a sua família (cf. At 10,23b-48). O episódio é importante porque Cornélio é a primeira pessoa completamente pagã (o etíope evangelizado e convertido por Filipe e de que se fala em At 8,26-40 era “prosélito” e por isso já estava ligado ao judaísmo) admitida na comunidade cristã por um dos Doze. Admite-se, assim, que o Evangelho de Jesus não deve ficar circunscrito às fronteiras étnicas judaicas, mas é uma Boa Notícia destinada a todos os homens e mulheres, de todas as raças e culturas.

Cesareia Marítima, cidade reconstruída por Herodes, o Grande, ficava na costa palestina. Era a sede do poder romano, pois era aí que residiam os governadores romanos da Judeia (como Pôncio Pilatos, o governador que, pelo ano 30, autorizou a morte de Jesus). A cidade foi evangelizada pelo diácono Filipe (cf. At 8,40). in Dehonianos.

INTERPELAÇÕES

  • Jesus recebeu o Batismo e foi ungido com a força do Espírito; depois, “passou pelo mundo fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio”. Em cada passo do caminho que percorreu, Ele distribuiu, em gestos concretos, bondade, misericórdia, perdão, solidariedade, amor… Nós, cristãos, que “acreditamos” em Jesus, que nos comprometemos com Ele e O seguimos, assumimos este “programa”? Nós, que fomos batizados e ungidos com a força do Espírito, testemunhamos também, em gestos concretos, a bondade, a misericórdia, o perdão e o amor de Deus pelos homens? Empenhamo-nos em libertar todos os que são oprimidos pelo demónio do egoísmo, da injustiça, da exploração, da exclusão, da solidão, da doença, do analfabetismo, do sofrimento?
  • “Reconheço que Deus não faz aceção de pessoas” – diz Pedro no seu discurso em casa de Cornélio. E nós, filhos desse Deus que ama a todos da mesma forma e que a todos oferece igualmente a salvação, aceitamos todos os irmãos da mesma forma, reconhecendo a igualdade fundamental de todos os homens em direitos e dignidade? Temos consciência de que a discriminação de pessoas por causa da cor da pele, da raça, do sexo, da orientação sexual ou do estatuto social é uma grave subversão da lógica de Deus? in Dehonianos.

EVANGELHO Lucas 3,15-16.21-22

Naquele tempo,
o povo estava na expectativa
e todos pensavam em seus corações
se João não seria o Messias.
João tomou a palavra e disse-lhes:
«Eu batizo-vos com água,
mas vai chegar quem é mais forte do que eu,
do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias.
Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo».
Quando todo o povo recebeu o batismo,
Jesus também foi batizado;
e, enquanto orava, o céu abriu-se
e o Espírito Santo desceu sobre Ele
em forma corporal, como uma pomba.
E do céu fez-se ouvir uma voz:
«Tu és o meu Filho muito amado:
em Ti pus toda a minha complacência».

CONTEXTO

Em dia da celebração da festa do Batismo do Senhor, o Evangelho leva-nos até ao vale do rio Jordão, nas franjas do deserto de Judá. A tradição identifica esse lugar com o atual Qasr El Yahud, na margem oriental do rio Jordão, a cerca de 10 quilómetros do Mar Morto

Foi nesse cenário que João, chamado “o batista”, tinha começado, no final do ano 27 ou princípio do ano 28, a exercer a sua missão profética. A mensagem proposta por João estava centrada na urgência da conversão (pois, na opinião de João, a intervenção definitiva de Deus na história para destruir o mal estava iminente) e incluía um rito de purificação pela água.

O judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água, sempre ligados a contextos de purificação ou de mudança de vida. Era, inclusive, um ritual usado na integração dos “prosélitos” (os pagãos que aderiam ao judaísmo) na comunidade do Povo de Deus. A imersão na água sugeria a rutura com a vida passada e o ressurgir para uma vida nova, um novo nascimento, um novo começo. No que diz respeito ao Batismo proposto por João, estamos provavelmente diante de um rito de iniciação à comunidade messiânica: quem aceitava este “batismo”, renunciava ao pecado, convertia-se a uma vida nova e passava a integrar a comunidade que esperava o Messias.

Jesus, que vivia na sua aldeia de Nazaré, na Galileia, ouviu a certa altura falar de João e da sua pregação. Procurou-o nas margens do rio Jordão e escutou o seu apelo à conversão. O facto ocorreu, muito provavelmente, por volta do ano 28. Na sequência, Jesus quis também receber o batismo.

Para o evangelista Lucas, João Baptista é a última testemunha de um tempo salvífico que está a chegar ao fim: o tempo da antiga Aliança (cf. Lc 16,16). O aparecimento em cena de Jesus significa o começo de um novo tempo, o tempo da nova Aliança, o tempo em que o próprio Deus se encontra com os homens para lhes oferecer a vida e a salvação. O momento em que Jesus é batizado no rio Jordão é o momento em que se revela a missão e a identidade de Jesus.

A secção do Evangelho de Lucas de onde foi retirado o texto que a liturgia deste dia nos oferece como Evangelho (cf. Lc 3,1-4,13), poderia intitular-se “prelúdio da missão messiânica”. Para a compor, Lucas utiliza o texto de Marcos (cf. Mc 1,1-13), completado com algumas tradições provenientes de uma outra “fonte”, formada por “ditos” de Jesus. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • O episódio do batismo de Jesus coloca-nos frente a frente com um Deus que aceitou identificar-Se com o homem, partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de oferecer ao homem um caminho de liberdade e de vida plena. Eu, filho deste Deus, aceito ir ao encontro dos meus irmãos mais desfavorecidos e estender-lhes a mão? Partilho a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, sofro na alma as suas dores, aceito identificar-me com eles e participar dos seus sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena? Não tenho medo de me sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso contribuir para os promover e para lhes dar mais dignidade e mais esperança?
  • Jesus, o Filho Amado de Deus, veio ao encontro dos homens, solidarizou-se com as suas dores e limitações e quebrou o muro que nos separava de Deus. Ao ser batizado no rio Jordão, foi ungido pelo Espírito de Deus e abraçou, sem reticências, a missão que o Pai lhe confiava: propor e construir o Reino de Deus. Todos nós que fomos batizados em Cristo recebemos o mesmo Espírito de Deus que Ele recebeu e entramos na comunidade do Reino. No dia do nosso batismo recebemos a missão de colaborar com Jesus na construção de um mundo mais fraterno e mais humano. Temos sido fiéis a essa missão? O nosso compromisso batismal é uma realidade que procuramos renovar a cada passo, ou é letra morta que não toca a forma como vivemos? Somos batizados “de assinatura” (porque o nosso nome aparece num qualquer livro de registos de Batismo), ou somos cristãos de facto, que procuram seguir Jesus em cada passo do caminho e colaborar com Ele no sentido de curar o mundo das suas feridas?
  • Jesus sempre levou muito a sério aquela declaração de Deus que se escutou junto do rio Jordão: “Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência”. Esse amor que o Pai lhe dedicava sempre sustentou as opções de Jesus e sempre iluminou o caminho que Ele ia percorrendo (mesmo quando no horizonte estava a cruz, o abandono dos amigos, o aparente fracasso da missão). Sustentado pelo amor de Deus, Jesus assumiu incondicionalmente o projeto do Pai de dar vida à humanidade. Obedeceu em tudo ao Pai, sem reticências de qualquer espécie. É esta mesma atitude de obediência radical, de entrega incondicional, de confiança absoluta que eu – filho amado de Deus – assumo na minha relação com o Pai? O projeto de Deus é, para mim, mais importante de que os meus projetos pessoais ou do que os desafios que o mundo me lança? Como Jesus, confio plenamente no Pai, nas suas propostas, no seu cuidado, no seu amor?
  • Depois de batizado e de ser ungido pelo Espírito, Jesus não se instalou numa crença religiosa de meias tintas ou de serviços mínimos. Animado pela força do Espírito, partiu para a Galileia a anunciar o Reino de Deus e a testemunhar – com palavras e com gestos – o projeto libertador do Pai. É dessa forma – coerente, comprometida, apaixonada – que eu procuro viver a missão que Deus me confiou no dia em que eu fui batizado? Os meus irmãos e irmãs maltratados pela vida e pelos homens podem contar com o meu empenho em levar-lhes a carícia do Deus que cura e que dá Vida? in Dehonianos

 

Para os leitores:

I Leitura: (ver anexo)

II Leitura: (ver anexo)

ANEXOS:

Domingo da Epifania do Senhor

Ano C – 05 janeiro 2025

Viver a Palavra

A liturgia deste dia celebra a manifestação de Jesus a todos os homens… O Menino do presépio é uma “luz” que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra. Essa “luz” encarnou na nossa história e no nosso mundo, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação e da vida definitiva.

A análise dos vários detalhes do relato confirma que a preocupação do autor (Mateus) não é de tipo histórico, mas catequético.

Notemos, em primeiro lugar, a insistência de Mateus, no Evangelho de hoje e do qual só Mateus relata, no facto de Jesus ter nascido em Belém de Judá (cf. vers. 1.5.6.7). Para entender esta insistência, temos de recordar que Belém era a terra natal do rei David e que era a Belém que estava ligada a família de David. Afirmar que Jesus nasceu em Belém é ligá-l’O a esses anúncios proféticos que falavam do Messias como o descendente de David que havia de nascer em Belém (cf. Mq 5,1.3; 2Sm 5,2) e restaurar o reino ideal de seu pai.

Notemos, em segundo lugar, a referência a uma estrela que apareceu no céu por esta altura e que conduziu os “magos” para Belém. A interpretação desta referência como histórica levou alguém a cálculos astronómicos complicados para concluir que, no ano 6 a.C., uma conjunção de planetas explicaria o fenómeno luminoso da estrela refulgente mencionada por Mateus; outros andaram à procura de um cometa que, por esta época, devia ter sulcado os céus do antigo Médio Oriente… Na realidade, é inútil procurar nos céus a estrela ou cometa em causa pois, como vimos, Mateus não está a narrar factos históricos. Mateus está, simplesmente, a dizer-nos que o Menino de Belém é essa “estrela de Jacob” de que falava o anúncio profético de Balaão (cf. Nm 24,17) e que, com o seu nascimento, se concretiza a chegada daquela “luz salvadora” de que falava a primeira leitura, que vai brilhar sobre Jerusalém e atrair à cidade santa povos de toda a terra.

Temos ainda as figuras dos “magos”. A palavra “Magos” (que parece ser de origem persa) abarca um vasto leque de significados e é aplicada a personagens muito diversas: mágicos, feiticeiros, charlatães, sacerdotes persas, propagandistas religiosos… Aqui, poderia designar astrólogos mesopotâmios, em contacto com o messianismo judaico. Seja como for, esses “magos” representam, na catequese de Mateus, esses povos estrangeiros de que falava a primeira leitura (cf. Is 60,1-6), que se põem a caminho de Jerusalém com as suas riquezas (ouro e incenso) para encontrar a luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade santa. Jesus é, na opinião de Mateus e da catequese da Igreja primitiva, essa “luz”.

Além de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma paradigmática, duas atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o Povo de Israel rejeita Jesus, enquanto os “magos” do oriente (que são pagãos) O adoram; Herodes e Jerusalém “ficam perturbados” diante da notícia do nascimento do menino e planeiam a sua morte, enquanto os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem em Jesus o seu salvador.

Mateus anuncia, desta forma, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu Povo; mas vai ser acolhido pelos pagãos, que entrarão a fazer parte do novo Povo de Deus. O itinerário seguido pelos “magos” reflete a caminhada que os pagãos percorreram para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais (estrela), percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para O encontrar, perguntam aos judeus – que conhecem as Escrituras – o que fazer, encontram Jesus e adoram-n’O como “o Senhor”. É muito possível que um grande número de pagano-cristãos da comunidade de Mateus descobrisse neste relato as etapas do seu próprio caminho em direção a Jesus. in Dehonianos.

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Com o Tempo de Natal continuamos um novo Ano Litúrgico – Ano C – onde seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Tendo em vista a formação bíblica dos fiéis e a importância do conhecimento da Sagrada Escritura como Palavra que ilumina a vida dos batizados, o contexto do início do Ano Litúrgico pode ser uma oportunidade para um encontro ou até vários encontros, sobre o Evangelista deste ano litúrgico.

Como se diz acima, durante todo este ano litúrgico – 2024/2025 -, acompanhamos o evangelista Lucas em grande parte das proclamações do Evangelho. Deste modo, como preparação complementar, poderá ser oportuna uma proposta de formação para todos os fiéis acerca do Evangelho de S. Lucas.

        E faremos isso….

        Em anexo à Liturgia da Palavra e, também, num separador próprio, da página da paróquia de Vilar de Andorinho, ficará disponível um texto sobre o evangelista Lucas. Poderão melhorar os conhecimentos bíblicos –Novo Testamento e Antigo Testamento – em https://paroquiavilarandorinho.pt/fbiblica/.Proporciona-se a todos os fiéis, um maior conhecimento deste precioso tesouro que é a Sagrada Escritura.

 

LEITURA I – Isaías 60,1-6

Levanta-te e resplandece, Jerusalém,
porque chegou a tua luz
e brilha sobre ti a glória do Senhor.
Vê como a noite cobre a terra,
e a escuridão os povos.
Mas sobre ti levanta-Se o Senhor,
e a sua glória te ilumina.
As nações caminharão à tua luz,
e os reis ao esplendor da tua aurora.
Olha ao redor e vê:
todos se reúnem e vêm ao teu encontro;
os teus filhos vão chegar de longe
e as tuas filhas são trazidas nos braços.
Quando o vires ficarás radiante,
palpitará e dilatar-se-á o teu coração,
pois a ti afluirão os tesouros do mar,
a ti virão ter as riquezas das nações.
Invadir-te-á uma multidão de camelos,
de dromedários de Madiã e Efá.
Virão todos os de Sabá,
trazendo ouro e incenso
e proclamando as glórias do Senhor.

CONTEXTO

Os capítulos 56-66 do Livro de Isaías apresentam um conjunto de profecias cuja proveniência não é, entre os estudiosos da Bíblia, totalmente consensual… Para alguns, são textos de um profeta anónimo, pós-exílico, que exerceu o seu ministério em Jerusalém após o regresso dos exilados da Babilónia, nos anos 537/520 a.C.; para a maioria, trata-se de textos que provêm de diversos autores pós-exílicos e que foram redigidos ao longo de um arco de tempo relativamente longo (provavelmente, entre os sécs. VI e V a.C.).

Em geral, estas profecias situam-nos em Jerusalém, a cidade que os Babilónios deixaram em ruínas, em 586 a.C., e que agora começa a reerguer-se. As marcas do passado ainda se notam nas pedras calcinadas da cidade; os filhos e filhas de Jerusalém que regressaram do exílio na Babilónia são ainda em número reduzido; a pobreza geral obriga a que a reconstrução seja lenta e muito modesta; os inimigos estão à espreita e a população está desanimada… Sonha-se, no entanto, com o dia em que Deus vai voltar à sua cidade para trazer a salvação definitiva ao seu Povo. Então, Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa, o Templo será reconstruído e Deus habitará para sempre no meio do seu Povo.

O texto que nos é proposto é uma glorificação de Jerusalém, a cidade da luz, a “cidade dos dois sóis” (o sol nascente e o sol poente: pela sua situação geográfica, no alto das montanhas da Judeia, a cidade é iluminada desde o nascer do dia, até ao pôr do sol). in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • É bela esta imagem de Deus como uma luz que se acende nas nossas vidas e nas nossas cidades, iluminando os caminhos que temos de percorrer, aquecendo os nossos corações cansados e abatidos e transformando o nosso pessimismo e derrotismo em esperança e vida nova. Às vezes temos a sensação de que este mundo onde peregrinamos se tornou um lugar sombrio e triste, onde o ódio pode mais do que o amor, a guerra se impõe aos esforços pela paz, o egoísmo é mais apreciado do que a comunhão… Mas a verdade é que, quando parecemos perdidos em becos sem saída, a luz de Deus vem iluminar o mapa dos caminhos que devemos andar para encontrar Vida. Não vivamos de olhos postos no chão, afogados numa escuridão que nos rouba a esperança; ousemos, mesmo em momentos complicados da história do mundo e da nossa história pessoal, levantar os olhos e perceber a presença desse Deus que nunca desistirá de iluminar todos os passos do nosso caminho rumo à Vida.
  • Podemos, naturalmente, ligar a chegada da “luz” salvadora de Deus a Jerusalém (anunciada pelo profeta) com o nascimento de Jesus. O projeto de libertação que Jesus veio apresentar aos homens será a luz que vence as trevas do pecado e da opressão e que dá ao mundo um rosto mais brilhante de vida e de esperança. Reconhecemos em Jesus a “luz” libertadora de Deus? Estamos dispostos a aceitar que essa “luz” nos fale, nos aponte caminhos de vida nova e nos liberte das trevas do egoísmo, do orgulho e do pecado? Estamos disponíveis para dar testemunho dessa luz junto dos irmãos que compartilham o caminho connosco?
  • Na catequese cristã dos primeiros tempos, esta Jerusalém nova, que já “não necessita de sol nem de lua para a iluminar, porque é iluminada pela glória de Deus”, é a Igreja – a comunidade dos que aderiram a Jesus e acolheram a luz salvadora que Ele veio trazer (cf. Ap 21,10-14.23-25). Será que nas nossas comunidades cristãs e religiosas brilha a luz libertadora de Jesus? Elas são, pelo seu brilho, uma luz que atrai os homens? As nossas desavenças e conflitos, a nossa falta de amor e de partilha, os nossos ciúmes e rivalidades, a nossa passividade e conformismo não contribuirão para embaciar o brilho dessa luz de Deus que devíamos refletir?
  • Será que na nossa comunidade cristã há espaço e voz para todos os que buscam a luz libertadora de Deus? Os irmãos cuja vida é considerada irregular ou pouco condizente com a visão oficial são acolhidos, respeitados e amados? As diferenças próprias da diversidade de culturas são vistas como uma riqueza que importa preservar, ou são rejeitadas porque ameaçam a uniformidade? A nossa comunidade cristã é o “hospital” onde “todos, todos, todos” podem curar as feridas que a vida lhes infligiu? in Dehonianos.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 71 (72)

Refrão: Virão adorar-Vos, Senhor, todos os povos da terra.

 

Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar
e a vossa justiça ao filho do rei.
Ele governará o vosso povo com justiça
e os vossos pobres com equidade.

Florescerá a justiça nos seus dias
e uma grande paz até ao fim dos tempos.
Ele dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra.

Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes,
os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas.
Prostrar-se-ão diante dele todos os reis,
todos os povos o hão de servir.

Socorrerá o pobre que pede auxílio
e o miserável que não tem amparo.
Terá compaixão dos fracos e dos pobres
e defenderá a vida dos oprimidos.

 

LEITURA II Efésios 3,2-3a.5-6

Irmãos:
Certamente já ouvistes falar
da graça que Deus me confiou a vosso favor:
por uma revelação,
foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo.
Nas gerações passadas,
ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens
como agora foi revelado pelo Espírito Santo
aos seus santos apóstolos e profetas:
os gentios recebem a mesma herança que os judeus,
pertencem ao mesmo corpo
e participam da mesma promessa,
em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.

 

CONTEXTO

A Carta aos Efésios apresenta-se como uma “carta de cativeiro”, escrita por Paulo da prisão (os que aceitam a autoria paulina desta carta discutem qual o lugar onde Paulo está preso, nesta altura, embora a maioria ligue a carta ao cativeiro de Paulo em Roma entre 61/63).

É, de qualquer forma, uma apresentação sólida de uma catequese bem elaborada e amadurecida. A carta, talvez uma “carta circular” enviada a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor, parece apresentar uma espécie de síntese do pensamento paulino.

O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo que o autor chama “o mistério”: trata-se do projeto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, oculto durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos “últimos tempos”, tornado presente no mundo pela Igreja.

Na parte dogmática da carta (cf. Ef 1,3-3,19), Paulo apresenta a sua catequese sobre “o mistério”: depois de um hino que celebra a ação do Pai, do Filho e do Espírito Santo na obra da salvação (cf. Ef 1,3-14), o autor fala da soberania de Cristo sobre os poderes angélicos e do seu papel como cabeça da Igreja (cf. Ef 1,15-23); depois, reflete sobre a situação universal do homem, mergulhado no pecado, e afirma a iniciativa salvadora e gratuita de Deus em favor do homem (cf. Ef 2,1-10); expõe ainda como é que Cristo – realizando “o mistério” – levou a cabo a reconciliação de judeus e pagãos num só corpo, que é a Igreja (cf. Ef 2,11-22)… O texto que nos é proposto vem nesta sequência: nele, Paulo apresenta-se como testemunha do “mistério” diante dos judeus e diante dos pagãos (cf. Ef 3,1-13). in Dehonianos

 

INTERPELAÇÕES

  • Segundo Paulo, a salvação oferecida por Deus e revelada em Jesus não se destina apenas “a Jerusalém” (ao mundo judaico), mas é para todos os povos, sem distinção de raça, de cor, de cultura ou de estatuto social. Todos os homens e mulheres são filhos e filhas queridos de Deus. A todos Deus ama, todos fazem parte de uma família universal. Será que conseguimos ver em cada pessoa, independentemente das diferenças e particularismos que apresenta, um irmão ou uma irmã? Conseguimos apreciar devidamente a beleza de pertencer a uma família onde as diferenças não dividem, mas são um bem acrescentado que a todos enriquece?
  • A fraternidade implica o amor sem limites, a partilha, a solidariedade…. Sentimo-nos solidários com todos os irmãos que partilham connosco esta vasta casa que é o mundo? Sentimo-nos responsáveis pela sorte de todos os nossos irmãos, mesmo aqueles que estão separados de nós pela geografia, pela diversidade de culturas e de raças?
  • A Igreja, “corpo de Cristo”, é a comunidade daqueles que acolheram “o mistério”. Esta comunidade é um espaço privilegiado onde se revela o projeto salvador que Deus tem para oferecer a todos os homens. É isso que, de facto, acontece? Na vida das nossas comunidades transparece realmente o amor de Deus? As nossas comunidades são verdadeiras comunidades fraternas, onde todos se amam sem distinção de raça, de cor, de estatuto social, ou de história de vida? in Dehonianos.

EVANGELHO Mateus 2,1-12
Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia,
nos dias do rei Herodes,
quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente.
«Onde está – perguntaram eles –
o rei dos judeus que acaba de nascer?
Nós vimos a sua estrela no Oriente
e viemos adorá-l’O».
Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado,
e, com ele, toda a cidade de Jerusalém.
Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo
e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias.
Eles responderam:
«Em Belém da Judeia,
porque assim está escrito pelo profeta:
‘Tu, Belém, terra de Judá,
não és de modo nenhum a menor
entre as principais cidades de Judá,
pois de ti sairá um chefe,
que será o Pastor de Israel, meu povo’».
Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos
e pediu-lhes informações precisas
sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela.
Depois enviou-os a Belém e disse-lhes:
«Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino;
e, quando O encontrardes, avisai-me,
para que também eu vá adorá-l’O».
Ouvido o rei, puseram-se a caminho.
E eis que a estrela que tinham visto no Oriente
seguia à sua frente
e parou sobre o lugar onde estava o Menino.
Ao ver a estrela, sentiram grande alegria.
Entraram na casa,
viram o Menino com Maria, sua Mãe,
e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O.
Depois, abrindo os seus tesouros,
ofereceram-Lhe presentes:
ouro, incenso e mirra.
E, avisados em sonhos
para não voltarem à presença de Herodes,
regressaram à sua terra por outro caminho.

CONTEXTO

O episódio da visita dos magos ao Menino de Belém, narrado no evangelho de Mateus, é um episódio de grande beleza, que rapidamente se tornou muito popular entre os cristãos. Ao longo dos séculos a piedade popular não cessou de o embelezar com acrescentos que, na maior parte dos casos, não encontram eco no texto de Mateus.

Os biblistas estão de acordo em que este relato se encaixa na categoria do midrash haggádico, um método de leitura e de exploração do texto bíblico muito utilizado pelos rabis de Israel, que incluía o recurso a histórias fantasiosas para ilustrar um ensinamento. Na verdade, Mateus não pretende descrever uma visita de personagens importantes ao Menino do presépio, mas sim apresentar Jesus como o enviado de Deus Pai, que vem oferecer a salvação de Deus aos homens de toda a terra.

Na base da inspiração de Mateus pode estar a crença generalizada, na região do Crescente Fértil, de que cada criança que nascia tinha a sua própria estrela e de que uma nova estrela anunciava um acontecimento que iria mudar a história humana. É provável também que Mateus se tenha inspirado, para construir esta bonita narrativa, num texto do livro dos Números onde um profeta chamado Balaão, “o homem de olhar penetrante” (Nm 24,15), anuncia “uma estrela que sai de Jacob e um cetro flamejante que surge do seio de Israel” (Nm 24,27). Esse anúncio teve sempre, para os teólogos de Israel, um claro sabor messiânico.

Finalmente, o relato de Mateus faz uma referência ao rei que governava a Palestina na altura do nascimento de Jesus: Herodes, chamado “o Grande”, falecido no ano 4 a.C., cerca de dois anos após o nascimento de Jesus. Embora se tenha distinguido pelas grandes obras que levou a cabo, foi um rei cruel e despótico, sempre pronto a matar para defender o seu trono. in Dehonianos

INTERPELAÇÕES

  • Em primeiro lugar, atentemos nas atitudes das várias personagens que Mateus nos apresenta em confronto com Jesus: os “magos”, Herodes, os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo… Diante de Jesus, a “luz salvadora” enviada por Deus, estes distintos personagens assumem atitudes diversas, que vão desde a adoração (os “magos”), até à rejeição total (Herodes), passando pela indiferença (os sacerdotes e os escribas: nenhum deles se preocupou em ir ao encontro desse Messias que eles conheciam bem dos textos sagrados). Com qual destes grupos nos identificamos? Será possível sermos “cristãos praticantes”, andarmos envolvidos nas atividades da comunidade cristã e, simultaneamente, passarmos ao lado das propostas de Jesus? Nós, os que conhecemos as Escrituras, levámo-las a sério quando elas nos desafiam à conversão, ao compromisso, à opção clara pelos valores do Evangelho?
  • Os “magos” são os “homens dos sinais”, que sabem ver na “estrela” o sinal da chegada da luz libertadora de Deus. Talvez hoje, com toda a pressão que a vida nos coloca, não consigamos ter tempo para olhar para o céu, à procura dos sinais de Deus; talvez a vida nos obrigue a andar de olhos no chão, ocupados em coisas bem rasteiras e materiais… Mas a aventura da existência terá mais cor se arranjarmos tempo para parar, para meditar, para falar com Deus, para escutar as suas indicações, para tentar ler os sinais que Ele vai colocando ao longo do nosso caminho… Talvez a nossa peregrinação pela terra tenha mais sentido se aprendermos a ler os acontecimentos da nossa história e da nossa vida à luz de Deus. Vale a pena pensar nisto…
  • O relato de Mateus sublinha, por outro lado, a “desinstalação” dos “magos”: eles descobriram a “estrela” e, imediatamente, deixaram tudo para procurar Jesus. O risco da viagem, a incomodidade do caminho, o confronto com o desconhecido, nada os impediu de partir. Somos capazes da mesma atitude de desinstalação, ou estamos demasiado agarrados ao nosso sofá, ao nosso colchão especial, ao nosso comando da televisão, ao nosso computador, à nossa zona de conforto, à nossa segurança, ao nosso comodismo? Somos capazes de deixar tudo para responder aos apelos que Jesus nos faz, muitas vezes através dos irmãos que necessitam da nossa ajuda e do nosso cuidado?
  • Os “magos” representam os homens de todo o mundo que vão ao encontro de Cristo, que acolhem a proposta libertadora que Ele traz e que se prostram diante d’Ele. É a imagem da Igreja – essa família de irmãos, constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O reconhecem como o seu Senhor. Estamos bem conscientes de que Jesus é o centro para o qual todos convergimos e do qual irradia a luz salvadora que ilumina a nossa vida e a vida do mundo? E, quando olhamos para os irmãos e irmãs que connosco se reúnem à volta de Jesus, sentimos a comunhão, a fraternidade, os laços de família que a todos nos ligam?
  • Os “magos”, depois de se encontrarem com Jesus e de o reconhecerem como “o Senhor”, “regressaram ao seu país por outro caminho”. O encontro com o Menino do presépio tem sido, nestes dias, um momento de confronto que nos leva a reequacionar a nossa vida, os nossos valores e opções, e a enveredar por um caminho novo, mais simples, mais humilde, mais fraterno, mais humano? in Dehonianos

 

Para os leitores:

I Leitura: (ver anexo)

II Leitura: (ver anexo)

ANEXOS:

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